Muitas religiões cristãs acreditam em um lugar de tormento
eterno onde os pecadores são enviados após a morte, comumente chamado de "inferno”.
Essa crença é extremamente comum e já faz parte da cultura popular, o que é
estranho, porque a evidência para o castigo eterno na bíblia sagrada é
praticamente inexistente.
1 PASSAGENS BÍBLICAS CLARAS
Em 2 Tessalonicenses 1:9 é dito que a punição para aqueles que
forem considerados ímpios não é tortura no fogo, mas a destruição. João 3:36 afirma
que os maus serão "afastados da presença do Senhor e da glória do seu
poder." declarando que os pecadores "não vão ter vida eterna".
Enquanto isso, Judas 1: 7 menciona "fogo eterno", mas apenas no
contexto de Sodoma e Gomorra, que foram literalmente destruídas pelo fogo
eterno da ira de Deus. E por último Apocalipse 20:9 afirma que os pecadores
serão consumidos.
2 SERIA INJUSTO
Em uma perspectiva cristã, a ideia de inferno não é apenas
cruel e incomum, mas totalmente excessiva e ABSURDA.
Será que um Deus descrito na Bíblia como "um Deus de
verdade e sem iniquidade, justo e reto" (Deuteronômio 32:4) poderia punir
alguém num inferno sem fim e ainda assim ser justo e correto? com certeza não.
Em 1 João 4:8 é dito que Deus é o próprio conceito de amor.
Eu garanto que você não é tão amoroso quanto Deus nem quanto Jesus.
Pense o seguinte: você seria capaz de torturar eternamente seu filho mesmo que ele tenha feito algo seriamente errado? Imagine Deus que é o próprio amor?
Deuteronômio 19:21 afirma: "olho por olho", esse
conceito parece exagerado para muitos, no entanto seria o que mais se aproxima
da justiça por promover uma igualdade da sanção, mas ainda é fora de sincronia
com a ideia de tormento eterno literal como retribuição pelos pecados de uma
vida.
O inferno de fogo permeia a imaginação popular e parece ainda mais duro depois de considerar Jeremias 07:31: "Eles construíram os altos de Tofete no Vale de Ben Hinom, para queimarem seus filhos e filhas no fogo, algo que eu nunca ordenei, nem me passou pela mente”. Se a ideia de seres humanos serem queimados em sacrifício é tão desagradável a Deus que nunca sequer entrou em Seus pensamentos, imagine queimar eternamente?
3 TRADIÇÕES E PARADIGMAS
A Bíblia na versão corrigida fiel, afirma sobre o profeta
Jonas: “Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do
inferno gritei, e tu ouviste a minha voz", enquanto Davi insiste em que
Deus estaria com ele mesmo no inferno (Ver Salmos 139:8 ACF). Isto, obviamente,
não faz sentido. Se o Inferno é a separação de Deus por que Davi estava tão
certo de que Deus estaria com ele lá?
Na verdade, se Deus está com Davi, por que ele estaria no
inferno?
A resposta é que existem protuberâncias e um monte de
diferentes palavras gregas e hebraicas em conjunto sob o termo "Inferno".
As palavras em questão são Hades, Sheol, Tártaro e Geena, e
elas podem ter significados muito diferentes em seu contexto original.
Hades e Sheol são os equivalentes em grego e hebraico para sepultura. Elas não podem ser traduzidas como "lugar de tormento", que é o que a palavra "Inferno" geralmente se aplica. E não apenas os ímpios vão para o inferno, mas todas as almas irão para o Sheol após a morte.
A Nova Versão Internacional se refere ao inferno 15 vezes, em comparação com as 57 menções na Corrigida Fiel. Outras versões tentam evitar tais problemas por completo, simplesmente deixando "sepultura" e "Hades" não traduzida, embora isto não desfaça nada.
A simples transliteração destas palavras dos tradutores nas edições revisadas da Bíblia não foi suficiente para sensivelmente esclarecer essa confusão e equívoco.
'Geena’ é controversa, o "Hades" e
"Sheol" não correspondem à percepção moderna do Inferno, "Tártaro"
é traduzido como "inferno", mas só aparece uma vez na Bíblia (2 Pedro
2:4), e não tem qualquer relação com seres humanos, por isso tem relevância
limitada aqui.
Isso deixa "Geena" como o termo mais frequentemente traduzido por "inferno".
Por exemplo, a Nova Versão Internacional de Mateus 5:30 afirma: "Se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a fora. É melhor perder uma parte do teu corpo do que todo o teu corpo ir para o ‘Geena’” Assustador, não é?
Tudo se resume à controvérsia sobre o significado exato de
"inferno". A palavra em si é uma tradução grega dos termos hebraicos
ge-Hinnom e ge-ben-Hinom, que significa "vale dos filhos de Hinom" e
se referem a um vale real que ficava fora da Jerusalém antiga.
O vale aparece pela primeira vez no Antigo Testamento como a localização de sacrifícios de fogo onde os pagãos queimavam crianças, isso até 2 Reis 23:10, que descreve como Josias devastou o lugar para "Que ninguém mais fizesse passar seu filho ou a sua filha no fogo a Moloque novamente”.
Na época de Jesus, o termo foi aparentemente usado
metaforicamente para se referir a um lugar de destruição de fogo, e Jesus usa-o
11 vezes neste contexto.
É interessante notar que o hebraico não tem nenhuma palavra que traduza tal conceito, e Jesus aparentemente não sentiu necessidade de introduzir um, preferindo fazer alusões históricas.
O vale da Geena tinha sido essencialmente um incinerador de
Jerusalém na época de Cristo. Ele apresentava incêndios constantemente a queimar,
que consumia o lixo da cidade e os corpos de criminosos desonrados, porém nenhuma
das referências de Cristo a Geena sugere qualquer tipo de tormento eterno até
mesmo por que o lugar nem existe mais.
Certamente, os fogos de Geena são descritos como eternos, mas Jesus avisa especificamente que eles serão usados para "destruir a alma e o corpo." Removendo os injustos da existência e não no intento de torturá-los para sempre. Esse segundo significado só pode ser inferido por leitores que já tenham esse conceito do Inferno impregnado na mente.
5 JESUS NÃO INVENTOU PARÁBOLAS
Na parábola do rico e Lázaro, conforme registrado em Lucas
16: 19-31 Jesus conta a história de um homem rico que vivia ignorando um
mendigo, chamado Lázaro, mas ambos experimentaram uma inversão de papéis
dramáticos após suas mortes, quando Lázaro é levado pelos anjos para uma
existência feliz no seio de Abraão, enquanto o homem rico se vê atormentado em
um fogo ardente.
O homem rico implora para Lázaro ter pena dele e trazer-lhe um pouco de água, mas Abraão ressalta que o homem rico teve muita prosperidade e nunca teve pena de Lázaro. Abraão também se recusa a ressuscitar Lázaro para avisar a família do homem rico para mudar suas maneiras, argumentando que eles podem optar por seguir os profetas ou não, tendo em vista que testemunhar um milagre não vai de repente torná-las boas pessoas.
Este é provavelmente o cenário mais próximo que a Bíblia apresenta sobre a concepção moderna do Inferno. No entanto, é importante notar que a Bíblia não afirma que essa seja uma história verdadeira ou um exemplo de como será na vida após a morte.
Parábolas de Cristo são claramente histórias fictícias
destinadas a transmitir uma mensagem.
Perceba que esse trecho é imediatamente precedido pela parábola do mordomo infiel, onde um servo defrauda seu mestre e é recompensado por isso. Se você ignorar o significado mais profundo das parábolas, irá concluir que Jesus sugeriu que roubar de seu chefe foi ótimo.
A estória de um mendigo ser recompensado após a morte, enquanto um homem rico é punido vem de um conto egípcio que se tornou popular com os instrutores religiosos judeus, a própria literatura judaica primitiva contém pelo menos sete versões desse conto.
No relato de Lucas, Jesus usa uma das próprias histórias
favoritas dos fariseus para demonstrar a sua hipocrisia. Com este contexto, é
difícil ver a parábola como um modelo da realidade pós-vida.
6 VERSÍCULOS EM SEU CONTEXTO
Apocalipse 20:10-15 se refere a um "lago de fogo e
enxofre", onde seres são "atormentados dia e noite para todo o sempre”,
e menciona que entre esses seres estavam a morte e o inferno “Hades”, que não
são pessoas reais capazes de experimentar um sofrimento real. Em outras
palavras, isto é simbólico.
Assim como estas não são pessoas literais, nem o é também o
local a que são atribuídos.
Na história do julgamento final em Mateus 25:31-46, que
paira em algum lugar entre uma parábola e um sermão simples, Jesus parece falar
do Juízo Final, quando os pecadores serão banidos "para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos”.
Isto é bastante direto e claramente não parte de uma história de ficção como na do homem rico e Lázaro, e termina com uma aparente referência ao tormento sem fim: "Então [os injustos] irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna." Por essa razão, essa citação é geralmente considerada a passagem-chave na Bíblia por trás da concepção popular de inferno. No entanto, muitos teólogos argumentam que essa interpretação de ovelhas e bodes contradiz uma série de outros versículos da Bíblia, que explicam o destino dos ímpios no Juízo Final como a destruição de fogo através da "segunda morte."
Se os injustos são destruídos, eles não podem ser atormentados para sempre enquanto o fogo da punição é descrito como eterno, isso não significa que os ímpios serão punidos lá por toda a eternidade. Em vez disso, a punição é a destruição total do fogo sagrado, que sempre existiu. Em outras palavras, a punição eterna (grego: aionios kolasis) já dura para sempre, mas a própria punição é simplesmente destruição imediata.
Como a palavra kolasis deriva de um termo grego para poda de árvores, sugere-se que seria melhor traduzida por "cortar", "destruição", ou mesmo "morte." A última interpretação iria virar "aionios kolasis" em "morte eterna", tornando um perfeito contraste com a "vida eterna", prometida ao justo.
O significado de "podar árvores" invoca também João 15:6 "Quem não permanecer em mim, é como um ramo que é jogado fora e secará; tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados”. "kolasis só aparece duas vezes no Novo Testamento, mas o Velho Testamento em grego usa-a para se referir a punição em geral, e para a morte como uma forma de punição, sugerindo que “eterna punição” e “morte eterna" são a mesma coisa.
7 NA IGREJA PRIMITIVA
Como muitos confiam nos pais da igreja primitiva como a
autoridade em matéria de fé e doutrina, precisamos saber se eles concordavam sobre
a existência do inferno e, em caso afirmativo, o que realmente era.
Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Tertuliano e
Cipriano estavam entre aqueles que consideravam que o inferno era um lugar
literal de tormento ardente. Orígenes e Gregório de Nissa discordavam,
contrariando o inferno como simplesmente a separação de Deus.
Embora a ideia da condenação eterna de fogo possa ser encontrada no Apocalipse apócrifo de Pedro do século II, não parece ter-se tornado dominante no pensamento cristão até por volta do século V AD.
Ironicamente, essa visão foi fortemente inspirado por um
não-cristão, o filósofo e matemático grego Platão, a quem o historiador francês
Georges Minois credita como "a maior influência sobre as visões
tradicionais do Inferno" de todos os primeiros filósofos.
Platão apresenta uma vida futura em que os pecadores são punidos ou recompensados na proporção de suas más ações na vida. Seja qual for sua opinião sobre a existência do Inferno, as teorias de Platão definitivamente não têm apoio bíblico, mas as ideias do filósofo ainda podem ser detectadas em muitas versões populares da vida após a morte, e mais notavelmente na obra: “Inferno de Dante”.
8 A VERDADEIRA ORIGEM
Platão poderia ter tido o papel mais importante, mas as
influências não-abraâmicas no Inferno datam de antes dos gregos, pioneiros da
filosofia.
A religião egípcia antiga, por exemplo, contou sobre uma
caverna que contém um "lago de fogo" onde as almas dos ímpios foram
punidas por suas transgressões. Os primeiros mesopotâmios também acreditavam no
submundo subterrâneo, que embora seja um ambiente miserável, não é um lugar de
castigo eterno.
Uma comparação particularmente interessante pode ser feita
entre a ideia popular de inferno e Zoroastrismo, uma religião antiga originada
no que hoje é o Irã. Nos textos zoroastristas primeiros, as almas dos pecadores
são julgadas após a morte e condenadas a punição eterna no submundo, que o
Livro de Arda Viraf descreve como um poço cheio de fogo, fumaça e demônios.
As almas são torturadas de acordo com a gravidade de seus pecados em vida e toda a coisa é presidida por Angra Mainyu, o grande espírito do mal, que ridiculariza e escarnece dos ímpios no inferno por terem-no seguido ao em vez de seu deus criador. Isso soa muito parecido com o inferno da cultura pop moderna. E o que é tão notável é quantos desses detalhes não têm nenhuma base na Bíblia.
O inferno Zoroastro é composta por demônios e governado por uma figura do diabo, enquanto o Diabo cristão e seus seguidores não têm nenhum papel na vida após a morte e é o único grupo claramente destinado a punição no "Tártaro."
Não há nenhuma razão para acreditar que o inferno cristão faria a punição adequada ao crime, ao passo que os demônios do zoroastrismo parecem ter prazer em inventar torturas inventivas para cada pecado particular. Na verdade, o livro de Arda Viraf é claramente uma reminiscência do Inferno de Dante.
9 NADA NO ANTIGO TESTAMENTO
Em Jó 3: 11-18 sugere-se que a morte é simplesmente uma
cessação: "Por que eu não morri ao nascer ou antes de sair do útero? Por
agora estaria descansando em paz, dormindo e em repouso”.
Eclesiastes 03:19 soa ainda mais cético sobre a possibilidade de vida após a morte, com azedume observa que “o destino do homem é como a dos animais; o mesmo destino aguarda a ambos: como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego; o homem não tem vantagem sobre o animal. Tudo é sem sentido”.
Mesmo no início da Bíblia, em Gênesis 2:16-17. E 3:19, a
punição que Adão e Eva receberam por quebrar as instruções de Deus e comer do
fruto proibido não foi a ameaça do fogo do inferno, mas sim uma promessa de que
morreriam, "porquanto és pó e ao pó voltarás." Se Adão e Eva estavam
em risco de serem atormentados para sempre, não teriam sido avisados?
Será que Deus mentiu ao dizer-lhes que eles estavam indo de volta ao pó, por que ele ia mesmo era tortura-los no inferno?
10 ENGANO SATÂNICO
Não se pode negar que, ao longo da história, a ideia de
inferno tem sido usada como uma tática de intimidação para manter as pessoas na
linha, contudo tem servido mais de razão para revolta, ceticismo e aumento do
número de Ateus.
Um pregador do século 18 chamado Jonathan Edwards tornou-se famoso por seu sermão: "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado", onde advertiu que Deus poderia "lançar pecadores ao inferno a qualquer momento."
Tão terrível foi a sua representação do inferno que muitos saíram correndo e a congregação ficou perturbada.
Mesmo nos tempos modernos, o tema "ou você acredita ou
vai para o inferno" é comum, pastores gostam de usar expressões fortes
como ranger de dentes, os gritos dos condenados, e o odor de carne escaldante.
Escrevendo sobre o assunto, um autor descreve ter visto uma criança gritar na igreja, confessando que estava "com medo do inferno". Como todas as táticas de intimidação, a ideia do fogo do inferno pode exercer um aperto poderoso sobre os crentes. No entanto, as provas bíblicas para essa doutrina horrível é totalmente inexistente.
A própria parábola do rico e Lázaro, frequentemente citada
como prova bíblica da doutrina do Inferno, na verdade, tem uma mensagem oposta.
No final da parábola, Abraão recusa enviar Lázaro de volta à terra para
advertir os pecadores de seu destino terrível após a morte, argumentando que a
justiça só pode vir de crença, ao invés de medo de alguma punição sobrenatural.
Nota: A Bíblia ACF (Almeida Corrigida Fiel) é a versão das escrituras em português que foi traduzida do texto massorrético e receptus, manuscritos mais antigos encontrados, e que também originaram a versão King James em inglês. E no Brasil é publicada pela sociedade bíblica trinitariana.
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