João na ilha de patmos e a visão do Apocalipse

Livro de apocalipse

“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação... Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta...”
O poder de Deus veio sobre João como veio em Elias, Eliseu e Daniel, e ele teve ali a visão do apocalipse.

Achar-se em espírito

Significa o mesmo que receber uma visão, a qual é um dom de Deus aos seus escolhidos para esse mister, isso é muito profundo, além da compreensão humana, é como se ele estivesse sonhando, só que, acordado, não quer dizer que seu espírito estivesse a desprender-se do corpo e viajasse até o local da visão, isso não; primeiro por que, assim João morreria (conforme Ec.12:7 e Sl. 146:4) e ao fim da visão teria de ser ressuscitado, o que ficaria difícil de entender e de ser verdadeiro, e ainda diante do fato que muitos profetas tiveram mais de mil visões; segundo, o espírito/fôlego do homem sozinho não tem a propriedade intelectual que o capacite a analisar, julgar ou mesmo ver algo, essa é uma das funções básicas e própria da alma, da pessoa em si, que tem percepção, consciência e desígnios.


O espírito é a centelha de vida colocada por Deus no barro que deu origem a alma humana, não é uma entidade pensante que tenha existência independente do corpo a ponte de presenciar algo fora deste e ainda de escrever, João achou-se em espírito e viu tudo verdadeiramente em sua alma, compreendendo com o cérebro feito com esse propósito.

Achar-se em espírito pode ser precisamente o oposto de achar-se na carne: “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.”(Rm.8:5)
“Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gl. 5:16, 17)

Estar na carne é estar submetido aos sentimentos carnais: egoísmo, avareza, prostituição, indiferença como o evangelho, inveja, bebedices, e por ai segue (Gl.5:19-21) e estar em espírito é achar-se completamente desligado das futilidades dessa terra e totalmente absorvido nas coisas do alto(Cl.3:1, 2) perseverando em oração, jejum, inteira consagração e profundo estudo da palavra, que dão origem aos frutos do Espírito(Gl.5:22-24), um exemplo clássico desse procedimento encontramos no testemunho de Daniel quando semelhantemente a João, recebeu uma visão, esta, no rio Tigre, da qual desejamos ensejar o seguinte trecho: “Só eu, Daniel, tive aquela visão; os homens que estavam comigo nada viram; não obstante, caiu sobre eles grande temor, e fugiram e se esconderam.

Fiquei, pois, eu só e contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma.” (Dn. 10:7-9)

É claro que para um profeta é bem mais natural “achar-se em espírito” do que a maioria das pessoas com seus empregos, estudos, família e ocupações, pois um profeta tipo Daniel, João, Isaías, Jeremias e outros, recebiam um chamado específico para essa função e não priorizavam mais nada, sendo, desde o ventre materno escolhidos para esse ministério (Jr.1:5), para eles, tanto andar, como achar-se em espírito era comum no que diz respeito a um contato muito mais próximo às revelações celestiais, mas Deus não deseja algo menor para nós, pessoas normais, mesmo que pudermos receber visões como um profeta, devemos também andar em espírito, e ainda que envolvidos em muitos empreendimentos e à procura do sustento diário, temos como prioridade buscar: “... em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt.6:33)

A escritura diz:
"... andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. (Gl. 5:16)"
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.(Mt.26:41)"
Entrementes, se ainda porventura entrarmos em tentação, oremos com mais instância para não cair nela (Mt.6:13)

“Achar-se em espírito” não quer dizer a subsistência de seu espírito desprendido do corpo e da alma, todavia, era um ofício do seu ministério profético, algo como: “estar em visão”, era o clímax da experiência profética em alto grau, era achar-se em plena ligação com o divino e contemplar um pouco do céu, privilégio ímpar para um pecador; inclusive na visão de (Dn. 10:7-9)

Pudemos constatar que os homens que estavam com ele nada viram, pois não tinham o dom profético e não podiam discernir as coisas de Deus, porém notaram que estava ocorrendo algo extraordinário, pois temeram (Vs.7) e devem ter notado também o semblante de Daniel e como ele ficou ali presente o tempo todo em corpo, alma e espírito; de fato, em todo lugar e a todo tempo há seres celestiais à nossa volta; espíritos ministradores (Hb. 1:14) como também espíritos enganadores(1Tm.4:1) que estão diretamente e constantemente envolvidos com nossas escolhas, influenciando-nos em todos os aspectos da vida, com os quais estamos em luta: “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” (Ef. 6:12)

Ainda com este argumento temos registrado o restante da história de Eli-seu com o rei da síria, que quando descobriu quem era o responsável pelas vitórias de Israel tratou de mandar prende-lo, e sabendo que ele(Eliseu) estava em Dotã procedeu assim: “Então, enviou para lá cavalos, carros e fortes tropas; chegaram de noite e cercaram a cidade. Tendo-se levantado muito cedo o moço do homem de Deus e saído, eis que tropas, cavalos e carros haviam cercado a cidade; então, o seu moço lhe disse: Ai! Meu senhor! Que faremos? Ele respondeu: Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. Orou Eliseu e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O SENHOR abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.”(2Re.6:14-17)

O moço não via, contudo, mais eram os que estavam com Eliseu do que os que estavam com os siros, e então comprovou depois da oração do homem de Deus.

Pergunta: apenas o espírito de Eliseu estava em visão? Ou ele como um todo, corpo, alma e espírito? Será que as tropas dos siros também viram os carros e cavalos de fogo? Creio que não, pois se os tivessem visto teriam recuado, não acha?

Um grande conflito cósmico se desenrola à nossa volta do modo como vimos com Eliseu, agentes invisíveis estiveram e estão em ação ferrenha, e ao “achar-se em espírito” o profeta pôde perceber e até ver os acontecimentos espirituais ao seu redor, sejam presentes, passados ou futuros, não é isso desligar-se do corpo, mas receber a percepção de Deus, se nos fosse permitido, enxergaríamos como as coisas realmente são à nossa volta.