Quem vai a Jesus tem que aborrecer o pai e a mãe? Que significa isso?

Que Significa aborrecer pai e mãe

Jesus manda que amemos uns aos outros: 
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mtv22:39). 

Contudo, em Lucas 14:26, está escrito:

“Se alguém vem a Mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo.”

Como entender essa recomendação de Jesus para aborrecer os familiares? 

Realmente, essas palavras de Cristo, no texto de Lucas 14:26, soam estranhas, e ainda mais vindas dos lábios dAquele que nos pediu que amemos até nossos inimigos e oremos por aqueles que nos perseguem (Mt 5:44). Estaria Jesus Se contradizendo em Seus ensinamentos?


EXPLICANDO


Comecemos, então, com a análise do verbo “aborrecer”, no texto de Lucas 14:26, que no grego é miséo. Esse verbo tem os significados de “odiar”, “detestar”, “aborrecer”, e assim é empregado em vários textos bíblicos. Eis dois exemplos: 
“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (Mt 5:43); “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade” (Hb 1:9).

Reconhecemos que essas palavras de Cristo, relatadas por Lucas, são fortes. Mas assim acontecia quando um escritor bíblico desejava enfatizar sua mensagem. No entanto, esse “aborrecer” que aparece na recomendação de Cristo deve ser visto como um hebraísmo, entendido à luz de Deuteronômio 21:15-17, no sentido de “amar menos”: 

“Se um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem aborrece [senu’ah, no hebraico, e miséo, no grego da Septuaginta], e uma e outra lhe derem filhos, e o primogênito for da aborrecida [...] no dia em que fizer herdar a seus filhos [...] ao filho da aborrecida reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto possuir. [...]” 


Vê-se, por essa recomendação mosaica, que a mulher “aborrecida” era a “menos amada”, pois ninguém conseguiria viver sob o mesmo teto com alguém a quem se aborrece ou se odeia.

Faríamos bem em atentar para o texto paralelo a esse de Lucas 14:26, que se encontra em Mateus 10:37: 
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a Mim não é digno de Mim”. 

Podemos ver como esse texto de Mateus lança luz sobre o de Lucas. O que os dois textos bíblicos estão dizendo é que o cristão deve sempre dar o primeiro lugar a Deus e ao Reino do Céu. Nada, nem mesmo laços familiares, deve servir de empecilho para que alguém deixe de amar a Deus e ser Seu discípulo.

A verdade é que seguir a Cristo e praticar o que Ele pede exige abnegação, espírito de sacrifício e renúncia. É isso o que nos fala o contexto dessa passagem de Lucas: há uma cruz a ser levada (Lc 14:27), um cálculo de despesa a ser feito (versos 28-30), e uma avaliação da real situação da luta a ser travada (versos 31, 32). 

Veja como o último verso de Lucas 14 resume o assunto: 
“Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser Meu discípulo” (verso 33). 

Esse “renunciar a tudo” se traduz na atitude de priorizar as coisas de Deus. É buscar “em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça” (Mt 6:33).

CONCLUSÃO


Declaramos que Cristo jamais faria uma recomendação no sentido de aborrecer ou odiar alguém. Isso seria contrário à Sua natureza divina, pois “Deus é amor” (1 Jo 4:8), e o amor não se coaduna com o ódio. 

Além disso, “se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso” (1 Jo 4:20)e Jesus não recomendaria algo que tornasse alguém mentiroso.

Que Deus nos ajude a priorizar aquilo que realmente é prioritário: Sua Pessoa e as coisas referentes ao Seu Reino! 

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Créditos: Acervo Revista Adventista – Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no Salt Unasp-EC