Deus é vindicado no livro de Jó

lições mais importantes do livro de Jó

O livro de Jó oferece um pronunciamento profundo sobre a questão da teodicéia (a justiça de Deus diante do sofrimento humano). Mas o modo de conceber o problema da teodicéia e a solução oferecida é caracteristicamente israelita.

A pergunta formulada pela teodicéia no pensamento grego e no conceito ocidental posterior tem sido:

"Como a Justiça de um Deus onipotente pode ser definida na presença do mal, sobretudo do sofrimento humano - e, de modo ainda mais específico, do sofrimento dos inocentes?"

POR QUE EXISTE O MAL


Nessa formulação da pergunta, são deixadas abertas três suposições possíveis:

1) Deus não é onipotente;

2) Deus não é justo;

3) O homem talvez seja inocente.

No Israel antigo, porém, era inquestionável o fato de Deus ser onipotente, e perfeitamente justo, e de nenhum ser humano ser de todo inocente diante de seus olhos.

Essas três suposição eram fundamentais na teologia de Jó e de seus amigos. A lógica simples, no entanto, ditava a conclusão: o sofrimento de cada pessoa indica a medida de sua culpa aos olhos de Deus. Em sua forma abstrata essa conclusão parecia inescapável, logicamente imperativa e teologicamente satisfatória.

Portanto no âmbito dessa teologia, a teodicéia não era problema, por que sua solução ficava evidenciada pela própria natureza.

Entretanto, o que era tão óbvio e inatacável de uma perspectiva teológica e abstrata entrava muitas vezes, como no caso de Jó, em tensão radical com a experiência humana na realidade do dia dia. existem pessoas cuja piedade religiosa era genuína, cujo caráter moral era reto e, embora não estivessem isentas do pecado, tinham-se mantido livres das grandes transgressões, sem por isso, porém,  deixarem de ser submetidas a sofrimentos dolorosos.

Para elas a teologia tão evidente não oferecia consolo nem orientação, somente dava origem a um grande enigma. E o próprio Deus, a quem o sofredor se acostumava a recorrer nos momentos de necessidade e de aflição, passava a ser o enigma ensoberbecedor.

AMIGOS EQUIVOCADOS


Nos discursos dos capítulos de 3 a 37 ouvimos, por um lado, a lógica impecável acompanhada pelos golpes dolorosos dos que insistiam na teologia ortodoxa e, por outro lado, o contorcer em agonia da alma do sofredor justo que se vê a braços com o grande enigma. Além disso sofre com as feridas feitas nele pelos amigos bem-intencionados. 

Aqui, portanto, temos um retrato bem delineado de forma incomparável do problema da teodicéia conforme é experimentado pelo sofredor justo dentro do Israel ortodoxo.

A 'solução' oferecida é também exclusivamente israelita - e Bíblica. O relacionamento entre Deus e o homem não é exclusivo e fechado. Existe a intrusão de uma terceira parte: Satanás, o grande adversário (Capítulos 1 e 2). 

Incapaz de lutar contra Deus de modo frontal, como potência lançada contra potência, sua função é frustar o empreendimento que Deus incorporou na criação e centra-se no relacionamento entre Deus e o homem. Como tentador, procura afastar o homem de Deus (Ver Gn. 3 e Mt. 4). Como acusador (a palavra Satanás é a transliteração do termo 'acusador' no hebraico) procura afastar Deus do homem (Ver Ap. 12). Seu propósito total, que consome todas as suas energias, é colocar uma cunha irremovível entre Deus e o homem, para produzir afastamento irreconciliável.

CONFLITO CÓSMICO


Na história de Jó, o autor, que presumi-se ser Moisés que também é autor do Salmo 91, retrata o adversário no seu ataque mais ousado e radical contra Deus e o homem piedoso, justamente contra o relacionamento especial e maus íntimo, que é o mais precioso para ambos. Quando Deus relembra o nome de Jó diante do acusador e dá testemunho da retidão desse homem na terra - Desse em que Deus se deleita - Satanás tenta, com um só golpe sutil, atacar o amado de Deus e também fazer Deus de tolo.

Seguindo à letra um dos seus modos típicos de operar, acusa Jó diante de Deus. Faz a acusação de que a piedade religiosa de Jó é iniquidade. A própria justiça de Jó, em que Deus se deleita, é destituída de toda integridade, e que o mesmo só o serve por interesse, um pecado terrível.

A piedade de Jó é em proveito próprio, é justo, mas só por que lucra com isso. Se Deus tão somente permitir que Satanás tente a Jó, rompendo o elo entre a justiça e a benção, o homem justo será desmascarado, revelando ser o pecador que realmente é.

É o desafio supremo do adversário. Se então a piedade do homem mais consagrado, em quem Deus se deleita, puder ser demonstrada como pecado terrível de fato, logo existirá entre eles um abismo intransponível de separação. Nesse caso a própria redenção se tornaria inviável, pois o mais piedoso dos homens seria desmascarado e caracterizado como o mais ímpio.

Logo, ficaria comprovado que todo o empreendimento de Deus na criação e na redenção estaria cheio de falhas radicais e irremediáveis, e a única solução para Deus seria eliminar tudo num ato de castigo, por ser imperfeito. O que comprometeria seu caráter perante o universo, comprovando as alegações audaciosas de seu arqui-inimigo.

A acusação, uma vez levantada, não pode ser anulada, nem sequer mediante a destruição do acusador (isso só causaria mais dúvida). Deus, portanto, deixa o adversário aplicar a Jó o plano proposto (dentro de certos limites), de modo que Deus e o justo Jó possam ser vindicados e seja silenciado o grande acusador. E é a partir daí que surge a angústia de Jó, destituído até do mínimo sinal do favor divino, de modo que o próprio Deus passa a ser para ele o grande enigma.  

Pior ainda: sua justiça é atacada na terra mediante a teologia 'ortodoxa' de seus amigos. Agoniza só. Mesmo assim, sabe no íntimo que a sua piedade sempre fora autêntica, e chegará algum dia a ser vindicado. E, a despeito de tudo, embora possa chegar a amaldiçoar o dia de seu nascimento (Cap. 3) e reclamar que Deus o tratou com injustiça (9:28-35) - o grito impensado de um espírito aflito -, não chega a amaldiçoar a Deus, como a esposa o propõe, a mais próxima do seu coração, (O verbo hebraico é 'bendizer' possivelmente dito em forma de sarcasmo). Pelo contrário, é justamente o fato de Deus parecer afastado dele que lhe provoca a maior dor.

Uma outra alegação que o acusador levantaria com o desfecho da história favorável a Deus e a Jó, seria acusar Deus do mal infligido a Jó. Esse tem sido o ponto central em que ele investe todos os pontos, tendo em vista que foi derrotado nos outros.

Uma vez que Deus permitiu que Jó sofresse injustamente, então ele é mal. Esse argumento de Satanás só parece ter lógica na mente de quem não se aprofundou no contexto para entender as raízes da problemática gerada. Uma vez que o próprio acusador foi o insigador e executor do mal sobre Jó, sendo com isso, desmascarado no livro e cujas ações estão patentes para quem quiser ver.

Esse é se não, o suspiro final do perdedor que foi exposto e aniquilado no diálogo.


DEUS É VINDICADO


No fim, seu adversário é forçado a se calar. E os teólogos astutos, os amigos de Jó, também são silenciados, tendo que pedir clemência ao mesmo perante Deus. O próprio Jó também silencia, mas Deus não se cala. E, quando fala, é a Jó que se dirige, produzindo neste o silencio do arrependimento pelas palavras apressadas ditas nos dias de seu sofrimento.

Além disso, Deus, como amigo celestial de Jó, atende à intercessão dele em favor dos colegas, restaurando sua bem-aventurança em dobro.

7 LIÇÕES E CURIOSIDADES


1 Satanás ataca Jó diante de Deus, no éden ele ataca Deus diante do homem.

2 Os filhos de Deus que se apresentaram a ele no começo do livro eram possíveis representantes dos mundos habitados, Satanás pretende ser o da terra.

3 Quando Satanás afirma que 'passeava' pela terra, estava querendo dizer que ali ele tem o domínio.

4 Quando Deus diz: 'observaste o meu servo Jó?' na verdade estava questionando essa alegação do acusador por que mesmo num lugar onde ele pretendia ter domínio, havia um que não o reconhecia como tal, Jó.

5 Moisés escreveu o livro de Jó, possivelmente quando peregrinava em Midiã, após fugir do Egito. Assim como também o de Gênesis.

6 No capítulo 32 verso 3, alguns originais antigos da Bíblia dizem que Eliú, um quarto amigo de Jó, revoltou-se com os outros três por que não souberam responder a Jó e 'condenaram a Deus'.

7 Jó não pecou, mas proferiu palavras pesadas e revoltas amargas, muito pouco diante do que sofreu, basta comparar com quem sofre hoje.

No fim da vida, recebeu tudo em dobro, teve mais 10 filhos, o que na ressurreição computará 20, com os 10 que morreram.

TROFÉU NAS MÃOS DE DEUS


Essa é uma série de pregações onde o Pastor Ranieri Sales mostra com detalhes as valiosos experiências e lições extraídas do livro de Jó:



CONCLUSÃO


A palavra que o autor de Jó procura transmitir a quem ler o livro é que a justiça de Jó, e de quem seguir seu exemplo tem valor tão supremo, que Deus estima acima de todas as coisas. E o grande adversário sabe que, para frustar os propósitos de Deus, precisa atacar a justiça do homem, esse adversário é extremamente legalista.

O que está em jogo no sofrimento dos justos é o resultado da luta no céu entre Deus e Lúcifer, envolvendo o propósito divino que abrange tudo. Portanto esse sofrimento tem relevância e valor proporcional à luta de dimensões cósmicas em todas as eras.

"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,  sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes." (Tg. 1:2,3)

Fonte: Bíblia de Estudo NVI

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