O mistério da encarnação de Jesus na Bíblia

Misterio encarnação cristo

Esse é chamado o mistério de todos os mistérios. “A Encarnação de Cristo é o mistério de todos os mistérios” SDABC, VI:1082

Embora a encarnação seja o “mistério dos mistérios”, ou o “mistério insondável” (Ibid., V:1130), somos incentivados a meditar nesse tema, “que bem pode ocupar nossos pensamentos por toda a existência.” “...eis um tema para o mais profundo pensamento e o mais concentrado estudo.” Mensagens aos Jovens, 255

“Os que procuram a justiça de Cristo... meditam sobre a encarnação...” T. Ministros., 87, 88

“A encarnação de Cristo” é um dos “temas vitais do Cris-tianismo...” Cons. Prof., Pais, Est., 385

MAIS CITAÇÕES


“...explorando as minas da verdade, os homens seriam enobrecidos. O mistério da salvação, a encarnação de Cristo... não seriam, como o são agora, noções vagas em nossa mente. Não somente seriam mais bem compreendidos, como infinitamente mais apreciados ... Este é o conhecimento obtido pela investigação da Palavra de Deus. Este tesouro pode ser achado por toda alma que der tudo para alcançá-lo.” Parábolas de Jesus, 114

“...o estudo da encarnação de Cristo é campo frutífero, que recompensará o pesquisador que cave fundo em busca de verdades ocultas.” Mensagens Escolhidas, I:244

“Quando abordamos este assunto [a encarnação], bem faremos em tomar a peito as palavras dirigidas por Cristo a Moisés na sarça ardente: ‘tira as sandálias dos pés, por-que o lugar em que estás é terra santa.’ (Êxo. 3:5). 

“Devemos aproximar-nos deste estudo com a humildade de um discípulo, de coração contrito.” Mensag. Escolhidas, I:244

A ENCARNAÇÃO DE JESUS


A origem de Jesus é singular, isto é, ela é distinta da origem de qualquer outro ser humano, inclusive Adão.

Todos os seres humanos surgem em resultado de um ato de geração por intercurso sexual.

Mas Jesus é o resultado de um ato miraculoso direto de Deus.

A origem de Adão se deveu a um ato divino de criação plena.

Enquanto a origem de Jesus se deveu a um ato divino de geração por criação.

Geração por criação significa um ato divino criativo que gera uma criança.

A Encarnação se efetiva por dois grandes milagres:


MILAGRE 1


O Espírito Santo criou o elemento próprio para fecundar um óvulo de Maria, em substituição à célula natural masculina.

Isso é chamado geração do Espírito:  “Maria se achou ter concebido do Espírito Santo”

“O que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1:18,20)

A preposição “de”, nestes dois versos, é decisiva para se compreender o sentido do que está sendo declarado.

Esta preposição é a tradução do grego ek, que indica fonte, origem, procedência, proveniência, causa.

O anjo estava afirmando a José, ao lhe explicar a gravidez de Maria, que o que nela fora gerado procedia do Espírito Santo.

Devemos nos precaver aqui quanto a um equívoco geralmente cometido:

Maria contribuiu para a natureza humana de Jesus, mas o Espírito Santo foi responsável pela natureza divina de Jesus.

O correto é que o Espírito santo  Maria contribuíram para a natureza humana de Jesus.

É um homem, e não um Deus, que foi gerado em Maria. Deus não pode ser submetido a um processo de geração humana  

Isso é próprio da criatura; não do Criador.

A natureza divina de Jesus não é dependente do Espírito Santo, pois ela pro-cede da eternidade, e antecede, assim, a encarnação.

Por isso, é também questionável afirmar que Maria é mãe de Deus.

Ela, sim, é mãe do homem chamado Jesus Cristo!

RESUMINDO


O Espírito Santo e Maria concorreram, ambos, para a formação da natureza humana de Jesus

ESPÍRITO SANTO - CRIA elemento sem mácula, sem pecado, e, por isso, sem as limitações, fragilidade e tendências, impostas pelo pecado.  

MARIA - Óvulo maculado - presença do pecado com suas implicações = fragilidade, limitações, tendência para o mal, pecaminosidade, etc.

A junção é = natureza humana de Jesus

Portanto, diferente do procedimento com Adão, Deus, para trazer Jesus ao mundo, valeu-Se de um elemento poluído pelo pecado: O organismo de Maria!

Esse primeiro grande milagre implica dois fatos prodigiosos que se efetivaram da seguinte forma: No processo da fecundação, ocorreu uma interferência recíproca partindo de um elemento para o outro.

Isto é: Houve um movimento de atuação que partiu do elemento imaculado, criado pelo Espírito Santo, em direção ao óvulo de Maria.

Simultaneamente, houve também um movimento de atuação partindo do óvulo de Maria em direção ao elemento imaculado, criado pelo Espírito Santo.

Esta atuação exerceu um efeito recíproco simultâneo nos elementos, acarretando os seguintes resultados:

Primeiro Fato Prodigioso

Imacularidade do elemento pro-vido pelo Espírito Santo neutra-lizou a mácula do pecado no óvulo de Maria.

O zigoto se originou imaculado

Segundo Fato Prodigioso: 

Conseqüências do pecado, em termos de mortalidade, fragilidade, limitações, etc., pro-vindas do óvulo de Maria, neutralizaram o vigor pleno do elemento masculino.

O zigoto se originou com as debilidades impostas pelo pecado

Isso encontra um paralelo biológico no seguinte fato:

No processo da fecundação um fator genético predominante suplanta outro de igual categoria, não predominante.

Por exemplo, uma criança  possui olhos escuros como os da mãe, e não olhos claros como os do pai, porque o fator genético/hereditário a este respeito é predominante no lote dos 23 cromossomos herdados dela pela criança 

Por exemplo, uma criança  possui olhos escuros como os da mãe, e não olhos claros como os do pai, porque o fator genético/hereditário a este respeito é predominante no lote dos 23 cromossomos herdados dela pela criança.

Transferindo este conceito biológico para o milagre da encarnação...

Não surpreende que o “fator genético/hereditário” de imacularidade dos 23 cromossomos da célula masculina criada diretamente pelo Espírito Santo tenha sido predominante...

...e tenha neutralizado o fator  “genético/hereditário”  de macularidade dos 23 cromossomos do óvulo de Maria...

...aquilo que é per-feito deve suplantar o que é imperfeito, e pecaminoso

Mas que a perfeição tenha cedido lugar àquilo que é imperfeito, frágil e mortal é por demais maravilhoso.

De fato, o Espírito Santo criou uma célula masculina com 23 cromossomos dotados de carga genética não pre-dominante no que tange às conseqüências do pecado...

Aqui o predomínio pertenceu à “carga genética” dos 23 cromossomos da célula de Maria!

Esses dois fatos prodigiosos foram providenciais para que Cristo tivesse condição de se tornar o salvador, assumindo a culpa e a condenação de todos os perdidos!!!

Assumisse Ele uma natureza humana com vigor pleno, isto é, idêntica à de Adão antes da queda, e não poderia morrer por nós e pagar o preço de nossa dívida (pois “o salário do pecado é a morte”).

Em qualquer das duas hipóteses, Ele  não poderia ser o nosso Salvador!

Uma vez formado o zi-goto nesta dupla circunstância, o caminho estava aberto para ocorrer o segundo grande milagre no processo da encarnação

MILAGRE 2


O Verbo Eterno se ligou ao zigoto formado pela atuação do Espírito Santo em Maria, permanecendo no íntimo dela durante todo o processo de gestação.

Creio ser esse o mo-mento em que a natureza divina se vinculou à humana, pois em to-do o tempo Jesus foi um SER

Durante os nove meses de gestação, nos diferentes estágios ...de zigoto a embrião, de embrião a feto, e, então, até o momento da criança nascer... 

A segunda Pessoa da Trindade conviveu com o ente humano, formando com ele um único ser

Na verdade, a se-gunda pessoa da Divindade se uniu àquele ente humano para nunca mais se separar dele É aí, quando forma- do o zigoto sujeito às conseqüências do pecado, que Jesus passa a arrostar a pena por nossas culpas...

Num processo contínuo de dar-Se, que alcançou a plena culminação no ato do Calvário!

Isto tem um nome: É amor que se dá em total condescendência pelas carências e misérias da raça humana

“Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10:45)

5 DISTORÇÕES


1 - Maria foi responsável pela natureza humana de Jesus, enquanto o Espírito Santo o foi pela natureza divina 

2 - Jesus assumiu uma natureza humana totalmente igual à nossa; Ele possuía a mesma pecaminosidade que nós possuímos

Como visto, tal não é verdade! Jesus assumiu uma constituição física marcada pelas conseqüências do pecado. Contudo, Ele era moralmente imaculado!

Tivesse Ele uma natureza humana pecaminosa e seria pecador. Fosse Ele um pecador, e não poderia me salvar. Eu estaria totalmente perdido, pois um pecador não pode salvar outro pecador!

3 - Jesus era imaculado porque foi concebido sem a participa-ção masculina no ato de gerar ...não é só o varão que é responsável pela mácula do pecado em sua prole; a mulher o é igualmente 

A pecaminosidade reside no gene da célula masculina tanto quanto no gene da célula feminina!

4 - Jesus era imaculado porque Sua mãe era imaculada

Os ASD não acreditam no dogma católico da imaculada conceição, segundo o qual Deus, por um ato gracioso, isentou a virgem Maria da mácula do pecado original, para que Jesus nascesse imaculado.

Fosse isso verdade, Jesus teria vindo ao mundo em humanidade com vigor total, assim como Adão era antes de pecar.

A imacularidade de Jesus vem  do Espírito Santo, pois Deus não pode, Ele mesmo, criar algo maculado pelo pecado. Assim...

Se a célula masculina que fecundou o óvulo de Maria é criação direta de Deus, não contém, esta célula, a mácula do pecado 

Portanto, no aspecto da imacularidade moral, Jesus adotou a natureza humana não caída Mas de Maria, Jesus herdou a fragilidade imposta pelo pecado à raça, e assumiu, nesse aspecto, a natureza humana caída.

Isso não significa que Jesus Cristo possuísse duas naturezas humanas, uma caída e outra não caída.

Mas que Ele adotou uma só natureza humana com esses dois aspectos

A natureza humana de Cristo foi gerada, protegida e santificada pelo Espírito Santo no íntimo de Maria.

“...Ao entrar no mundo, diz: ‘Sacrifício e oferta não quiseste, antes corpo Me formaste” (Hb 2)

O Espírito Santo preparou e santificou a natureza humana tomada para ser com a natureza divina uma só e única pessoa: Nosso Senhor Jesus Cristo

Desde o ventre, Ele foi chamado “ENTE SANTO” (Lucas 1:35)

Assim, Ele herdou pelo Espírito Santo= Impecabilidade Absoluta, De Maria: As limitações próprias da natureza humana caída

Duas realidades, portanto, sobre Jesus: (1) substancialmente igual a qualquer um de nós

(2) em essência moral, diferente de todos nós

5 - Jesus, por não possuir uma natureza humana pecaminosa, sentiu menos o poder da tentação do que nós, quando somos tentados.

Os que abrigam esta ideia afirmam que Cris-to não poderia ser o nosso exemplo se Ele não possuísse as mesmas inclinações pecaminosas que possuímos

Como poderia ser Cristo tentado em todos os pontos em  que eu sou tentado, se Ele não tinha o que eu tenho, isto é, a propensão para o pecado?

Bem, este é um ponto capital do mistério dos mistérios

Vejam o que Ellen G. White afirma:

“É um mistério deixa-do sem explicação aos mortais que Cristo pu-desse ser tentado em to-dos os pontos como nós somos, e, não obstante, ser sem pecado.” (SDABC, 5:1128, 1129)

Embora a forma como Cristo sentiu a intensidade da tentação, sem que Ele possuísse a nossa pecaminosidade, não possa ser inteiramente compreendida por nós, podemos avançar no conhecimento daquilo que foi revelado a respeito.

Alguns aspectos básicos chamam a nossa atenção: Antes de tudo, eu não sou tentado em todos os pontos... Ele foi.

“Todos os pontos em que sou tentado” não esgotam o potencial da tentação. Para além de “todos os pontos em que sou tentado” existe um infinito de tentações das quais não faço a mínima ideia.

Mas Jesus conheceu esse infinito! Ele foi “tentado em todos os pontos.”

“A pressão que [as tentações] exerciam sobre Ele era tanto maior, quanto Seu caráter era superior ao nosso.” O Desejado de Todas as Nações, 82

Ele foi tentado não especificamente em todas as tentações, mas plenamente no princípio básico, essencial, de cada tentação!

Por exemplo, Ele não foi tentado a fumar, pois há dois mil anos não existia o cigarro.

Tampouco foi Ele submetido às tentações exclusivas da mulher; pois Ele era um homem. 

Mas  os princípios básicos destas e de todas as outras tentações se abateram sobre Ele com força total, levando-O a incorporar a experiência de toda a humanidade!

“Somente Cristo teve experiência de todas as tristezas e tenta-ções que recaem sobre os seres humanos... 

“Jamais algum outro nascido de mulher foi tão terrivelmente assediado pela tentação; jamais algum outro arrostou com o fardo tão pesado dos pecados e das dores do mundo.” (Educação, 78)

“Da amargura que cabe em sorte à humanidade, não houve quinhão que Jesus não provasse... Tivesse admitido haver uma desculpa para o pecado, e Satanás triunfaria, fincando o mundo perdido. Foi por isso que o tentador trabalhou para tornar-Lhe a vida o mais probante possível, a fim de que fosse levado a pecar.”

“Todas as forças da apostasia se puseram a postos contra o Filho de Deus. Cristo se tornou o alvo de todas as armas do inferno.” (O Desejado, 81)

Ele foi provado ao extremo nas três áreas específicas em que to-dos somos tentados. O apóstolo a elas se refere, nestes termos: 

“Tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai...” I João 1:16

Qualquer tentação estará situada numa, ou em mais de uma, destas três áreas: 

1. Concupiscência da carne, 

2. Concupiscência dos olhos, 

3. Soberba da vida.

Mesmo seres santos, imaculados, podem se ver atraídos por estas áreas.

Exemplo: Eva no Éden, antes de desobedecer a Deus!

“Vendo a mulher que a árvore era... (Gênesis 3:6)

(1) boa  para se comer - concupiscência da carne 

(2) agradável aos olhos - concupiscência dos olhos

(3) desejável para dar en-tendimento” - soberba da vida

O ato seguinte foi a consumação do pecado:

“... tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido e ele comeu.”

É assim que Tiago descreve a efetivação do ato de pecar: “...cada um é tentado por sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado...” (1:14, 15)

Cristo também deparou estas três áreas nas quais o pecado se impõe.

Compare com Suas três tentações:

(1) “...faça destas pedras pães” - Concupiscência da carne

(2) “...tudo isto te darei” - Concupiscência dos olhos

(3) “...lança-te daqui abaixo” - Soberba da vida

É por isso que o escritor do terceiro Evangelho afirma que, com estas três tentações, Jesus foi tentado com todo o tipo de tentação:

“Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dEle o diabo...” (Lucas 4:13)

Em vista do fato de que ele era um ser teantrópico (Deus/homem), a maior pressão do inimigo ocorreu, naturalmente, na terceira das três áreas.

A Soberba da Vida

É claro que as tentações sobre Cristo não se limitaram às três ocorridas após o Seu batismo.

Este momento oportuno ocorreu em diferentes ocasiões. 

O inimigo espreitava em cada lance da vida e do ministério de Cristo a ver e aproveitar as oportunidades vantajosas criadas pelas circunstâncias, para assaltá-lo com as mais contundentes tentações...

...insistindo com Ele para que se valesse de Suas prerrogativas divinas para superar difíceis situações de conflito, ou para  Se impor como Messias, o Enviado de Deus, herdeiro de fato e de direito do trono de Davi.

Em outras palavras, o diabo insistia com Ele para que tomasse a obra de Deus em Suas pró-prias mãos, independente dEle, e por Seus próprios recursos divinos!

Isso desde a infância e a adolescência, e de, maneira especial, durante Seu ministério.

Infância e adolescência


“Enquanto criança, pensava e falava como criança; mas nenhum traço de pecado desfigurava nEle a imagem divina. Não ficou, no entanto, isento de tentação...  “Satanás era infatigável para vencer a Criança de Nazaré... Sua vida foi uma longa luta contra os poderes das trevas.

“Que houvesse de existir na ter-ra uma vida isenta de contaminação do mal, era uma ofensa e perplexidade para o príncipe das trevas. Não houve meio que não tentasse para enredar Jesus... Foi Cristo o único Ser livre de pecado, que já existiu na Terra...” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 49)

Seria próprio, de uma pessoa com natureza carnal / pecaminosa e com inclinação para o mal,...

...a inspiração afirmar ser ela uma criança que... não tinha “nenhum traço de pecado” vivia “uma vida isenta de contaminação” e era um “Ser livre de pecado”

Só poderia tratar-se de um Ser imaculado!

Vejam como Maria acompanhou o desenvolvimento de Jesus:

“Com profunda solicitude, observava a mãe de Jesus o desenvolvimento das faculdades da Criança, e contemplava o cunho de perfeição em Seu caráter. Era com deleite que pro-curava animar aquele espírito inteligente, de fácil apreensão” (DTN 47)

Como poderia uma criança ter perfeição de caráter se ela possuísse, em sua natureza, a mácula do pecado?

Pois bem, desse Cristo imaculado e divino, é-nos dito que, em sua infância e adolescência,...

...não se valeu do “poder divino de que dispunha para aligeirar os próprios fardos ou diminuir a pró-pria lida.”  O Desejado, pág. 50

Em Seu Ministério


As tentações satânicas estiveram continuamente no encalço de Jesus. O inimigo fez de tu-do: usou os próprios familiares dEle, um de Seus mais íntimos discípulos, a multidão, mesmo o êxito de Seu ministério, enfim, tudo o que podia, a ver se O derrubava.

“O período do ministério pessoal de Cristo entre os homens foi o tempo de maior atividade das forças do reino das trevas... O príncipe do mal despertou para contender pela supremacia de seu reino. Satanás convocou todas as suas forças, e a cada passo combatia a obra de Cristo.” (DTN 186)

Tudo para desviá-lo do plano que o Pai tinha para Ele, e induzi-lo a tomar a Obra de Deus em Suas próprias mãos e realizá-la por Seus próprios recursos. 

Em diferentes ocasiões o inimigo impôs atalhos; pro-postas para facilitar e antecipar o alcance do grande propósito de Sua vida. Exemplos:

(1) A pressão da parte dos irmãos de Jesus para que Ele Se manifestasse ao mundo, aproveitando a festa dos tabernáculos em Jerusalém (João 7:4)

(2) A tentativa da multidão de fazê-lo rei, logo após a multiplicação dos pães (- João 6:15)

(3) Pedro, com sua proposta de que não ocorreria nada do que Jesus ha-via previsto acontecer-Lhe-ia em Jerusalém (Mateus 16:22)

(4) Conforme o momento culminante se aproximava, Jesus teve que se empenhar ao máximo em Sua determinação de ir para Jerusalém. (Lucas 9:51)

Intrépida resolução

(5) Então em Jerusalém, e já próximo da cruz, gentios demonstraram interesse por Jesus. Sem dúvida, a tentação para deixar a Palestina foi grande (- João 12:20, 21)

Esses atalhos, todavia, eram, de fato, desvios que levá-lo-iam a abortar inteiramente a missão de Sua vida Sobre a penúltima situação a-qui referida (Sua firme determinação de ir a Jerusalém), Ellen G. White afirma algo significativo aplicável também à última (gentios O procuram).

Ela declara que o diabo pressionou-o com a seguinte tentação: “Por que iria agora a Jerusalém, a uma morte certa? Por toda a parte, ao Seu redor, estavam almas famintas do pão da vida. Por todo o lado, almas sofredoras a esperar-Lhe a palavra de cura... 

“A obra a ser operada pelo evangelho de Sua graça ape-nas começara. E Ele se acha-va em pleno vigor da prima-vera da varonilidade. Por que não ir aos vastos campos do mundo com as palavras de Sua graça, o toque de Seu poder de curar?...

“Por que não se dar a Si mesmo a alegria de conceder luz e satisfação aos entenebreci-dos e sofredores milhões de criaturas?... Por que enfrentar a morte agora, e deixar a obra ainda em sua infância?” (DTN 364,365)

Em outras palavras, o diabo estava usando a própria obra de Deus, e o êxito de Jesus nela, para desviá-lo do cumpri-mento de Sua missão.

“Houvesse Jesus cedido por um instante, houvesse mudado Sua orientação no mínimo particular para Se salvar a Si mesmo, e os instrumentos de Satanás have-riam triunfado, ficando o mundo perdido.” (DTN 365)

Mas Jesus não tinha ouvidos para o enganador. Ele sabia que Sua obra de curar, de ensinar as lições do Reino, e mesmo de pregar o Evangelho, não seria de valor algum, se não morresse na cruz pelos perdidos.

Assim, sua resposta foi: “Minha alma está agora con-turbada. Que direi? Pai, salva-Me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que Eu vim.” (João 12:27 – Bíblia de Jerusalém)

Mas ainda o diabo não se deu por vencido. Ele pressionou Jesus até o último instante!

Já imaginamos a pressão mental, psicológica, emocional, que Jesus sentiu em Sua agonia no Getsêmani? 

“Agora viera o tentador para a derradeira e tremenda luta. Para isso se preparara ele durante os três anos de ministério de Cristo. Tudo estava em jogo para ele.” (DTN 514)

Ellen G. White pinta em cores bem vivas esta luta culminante!

“Satanás dizia-Lhe que, se Se tornasse o penhor de um mundo pecaminoso, seria eterna a separação [entre Ele e o Pai]. Ele se identificaria com o reino de Sata-nás, e nunca mais seria um com Deus...

“E que se lucraria com es-se sacrifício? Quão deses-peradas pareciam a culpa e a ingratidão humanas! Satanás apertava o Redentor, apresentando a situação justamente em seus piores aspectos... ‘A nação, que pretende a-char-se acima de todas as outras quanto às vantagens temporais e espirituais, rejeitou-Te. Procuram destruir a Ti, fundamento, centro e selo das promessas que lhes foram feitas como povo particular... ‘Um de Teus próprios discípulos,que tem ouvido Tuas instruções e sido um dos de mais destaque nas atividades da Igreja, trair-Te-á. Um de Teus mais zelosos seguidores Te há de negar. Todos Te abandonarão.” “Quão negra se Lhe afigurava a malignidade do peca-do! Terrível foi a tentação de deixar que a raça humana sofresse as conseqüências de sua própria culpa, e ficasse Ele inocente diante de Deus. “O tremendo momento chegara – aquele momento que decidiria o destino do mundo. Na balança oscilava a sorte da humanidade. Cristo ainda podia, mesmo então, recusar beber o cálice reservado ao homem culpado. Ainda não era demasiado tarde.” (DTN 514,515,517)

Graças a Deus Jesus não recuou, mas avançou até efetivar a nossa salvação.

Jesus, “tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13:1)

Cometemos uma injustiça ao supor que Cristo, pelo fato de não ter a propensão para o pecado, tinha uma vantagem sobre nós.

De fato: Cristo, face à tentação, estava numa situação de risco infinita-mente maior do que a nossa!

O diabo o pressionou nas raias do limite, pois a cartada com Ele era decisiva!

A nós o inimigo tenta para nos derrubar uma vez mais no pecado, e conseguir, se possível, nossa perdição eterna individual!

Mas a Cristo, o diabo tentou visando tornar-se vitorioso no grande conflito.

Um pequeno deslize da parte de Cristo era suficiente para que a vitória total fosse do inimigo.

“Pudesse Cristo ser vencido, e a Terra se tornaria para sempre o reino de Satanás; e a raça humana estaria, perpetuamente em seu poder.” (DTN 514)

Para Cristo não haveria per-dão, por mínimo que fosse o deslize. Ele foi nossa segunda e última chance! A raça humana seria, com Ele, vencedora ou vencida. Não ha-via uma terceira alternativa; estaria eternamente salva, ou eternamente perdida.

Como observamos, Sua natureza di-vina jamais deveria  ser usada. Mas estava ali, ao alcance da mão, à Sua disposição, quisesse Ele ser autônomo, e agir desvinculado do Pai. Daí a terrível tentação de Se impor como Deus, porque Deus Ele nunca deixou de ser.

Realmente, em Jesus não havia tendência para o mal. A tendência nEle era na direção oposta –:

TENDÊNCIA PARA O PODER ABSOLUTO DO BEM

“Jesus havia recebido honra nas cortes celestiais, e estava familiarizado com o poder absoluto. Foi tão difícil para Ele manter o nível de humanidade, quanto é para os homens se elevarem acima do baixo nível da natureza depravada." “Cristo deveria  ser submetido ao mais rigoroso teste, exigindo a força de todas as Suas faculdades para resistir à inclinação, quando em situ-ação de risco, de usar Seu poder para livrar-Se do perigo, e triunfar sobre o poder do príncipe das trevas.” "Sua imacularidade em vez de torna-lo invulnerável ao pecado, fazia-O extremamente sensível ao mal, “Sendo livre da mácula do pecado, as refinadas sensibilidades de Sua natureza santa faziam com que o contato com o mal fosse inexprimivelmente doloroso para Ele.” (Review and Herald, 08/11/1887)

O verdadeiro princípio de qualquer tentação transcende a simples sugestão de se fazer o que é errado, e se arraiga na auto-dependência, ou total independência de Deus. E é aí onde Jesus mais foi tentado. 

É verdade! Ele não foi tentado como nós somos tentados...

Ele foi tentado infinitamente mais do que nós somos!!!

Deus seja louvado!

FONTE: Dr. José Carlos Ramos