Há muito tempo, ouvi
falar de um trapaceiro que vendia terrenos na lua, e mesmo assim conseguiu
enganar a alguns incautos. Mais recentemente soube de uma pessoa nos Estados
Unidos que ao morrer, deixou uma fabulosa herança para o gato – não o namorado,
mas o animal de estimação! Enquanto hoje muitos morrem de fome, outros, morrem
de tanto comer.
De acordo com alguns especialistas, o excesso de proteínas na
alimentação do homem moderno estaria diretamente relacionado com o declínio da
longevidade e a diminuição da massa óssea [Thrash, Calvin e Agatha, Nutrição
Para Vegetarianos, pág. 28, 29, 73-84. Editora Vector Type, 1996].
OSTENTAÇÃO
Já o desejo
de ostentar, tem levado muitos a comprar antes de ganhar, invertendo a antiga
ordem natural: primeiro o dever, depois o prazer. Alguns economistas têm
chegado a afirmar que a falta de critérios para o consumo é com certeza a maior
causa para a crise financeira, não só mundial mas também a familiar.
Mas quem é que
estabelece estes critérios? Para o cristão, todos os critérios vêm de Deus. E
para compreendermos estes critérios, precisamos entender um pouco do concerto,
do pacto que Ele quer fazer conosco, seres humanos. Tudo começou no Jardim do
Éden, quando Deus criou todas as coisas e as colocou nas mãos de Adão e Eva
para cuidar. Não havia falta de nada.
Na verdade, eles não eram donos, e sim
uma parte da propriedade de Deus – a principal parte! Sendo parte da propriedade,
foram colocados como zeladores de si mesmos e do restante da propriedade de
Deus no jardim. Todo um equilíbrio ecológico dependia da confiança que este
casal depositava em Deus e de como se relacionava com Ele.
A natureza então,
vivia regida única exclusivamente pelas leis de Deus – amor, bondade e
misericórdia. Mas quando por ocasião da tentação e queda, o casal passou a
confiar em Lúcifer (acreditaram mais em suas próprias percepções e no que ele
dizia do que na voz de Deus), toda a natureza, inclusive o homem, perdeu o
equilíbrio, pois as leis naturais passaram a sofrer a influência do mal.
Toda a
terra foi assim subjugada por Satanás e seus critérios. O sustento passou a ser
difícil, penoso mesmo.
“Com o suor do teu rosto comerás do teu pão” (Gen. 3:19), disse Deus.
A terra passou a produzir espinhos e cardos; pragas e enxames de
animais passaram a dizimar plantações, e o homem passou a preocupar-se com o
sustento, coisa que nem lhe passava pela cabeça no Édem.
Então veio Jesus e
disse:
“Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir... Portanto não vos inquieteis… porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai Celeste sabe que necessitais de todas elas” Mat. 6:25, 31 e 32.
Nunca foi plano
de Deus que seus filhos vivessem preocupados ou ansiosos pela vida. Se ele é o
dono de tudo, e nós somos Seus filhos, somos também herdeiros.
Todas as
riquezas do Céu e da terra estão nas mãos daquele que nos criou. De acordo com
Jesus, preocupação ou ansiedade para com o sustento, é um sinal de falha em
nosso relacionamento com o Pai.
A preocupação com o sustento é típica dos pais,
e não dos filhos. Pessoas que vivem preocupadas quanto ao seu sustento
demonstram que tem problemas quanto à compreensão de sua filiação.
Aliás, de
acordo com Jesus, este tipo de reação seria típico dos “gentios”, isto é,
incrédulos. E gente assim, pode inclusive estar na Igreja. Podem conhecer muito
bem a igreja, as doutrinas, a instituição, mas não conhecem ao Pai, seu
Criador.
Por isso o conselho de
Jesus foi no sentido de que existe a necessidade de uma mudança de foco. Em vez
de estarmos preocupados com o sustento, deveríamos estar preocupados com outra
coisa, porque esta, já é uma preocupação de Deus. Qual então deveria ser nossa
primeira preocupação?
“Buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas”, aconselhou Jesus (Mat. 6:33).
Aqueles que, todo o dia, começam a buscar a Deus pela manhã (em primeiro
lugar), antes do início de suas atividades, aqueles que lhe entregam sua vida e
andam com Ele por todo o dia, passam a ser adotados como filhos de Deus. E como
filhos, passam a ser herdeiros do Criador e Dono do Universo.
Sabem que tudo o
que têm veio das mãos de Deus, e não do salário, do emprego, dos clientes, ou
patrões. Estão conscientes para o fato de que Deus até pode usar elementos como
estes para providenciar seu sustento, mas poderia utilizar-se de outros, e
muitas vezes já o fez.
É por este motivo que
o cristão não tem mais medo do desemprego, das crises financeiras, ou de ser
assaltado. O ladrão pode até levar aquilo que Deus nos deu, mas O mesmo que deu
uma vez, pode dar outra.
“Muito mais tem Deus para dar do que o homem para tirar”, diz com razão o ditado popular. O filho de Deus sabe que se “o Senhor é o meu pastor, nada me faltará.” Sal. 23:1.
E nesta confiança, em paz se deita,
e logo pega no sono, porque aos seus amados, o Senhor dá o pão enquanto dormem
(Sal. 4:8 e 127:2).
Isto não significa que o cristão apenas queira dormir, e
não trabalhar, mas apenas que sua confiança quanto ao sustento não está no seu
trabalho, mas no Senhor. Ao passo que Deus nunca prometeu riquezas para seus
seguidores, afirmou que o pão e a água lhes seriam certos. (Isa. 33:16).
É este Deus que nos
convida a cada dia para experimentarmos descansar nEle. E muitas vezes, quando
não conseguimos compreender Seu poder quando vivemos na abundância, ele nos
conduz pelos caminhos da necessidade e da humilhação para o nosso bem, para que
aprendamos a confiar nEle. Foi o que aconteceu ao povo de Israel.
Deus os tirou
do Egito, onde eram escravos, mas segundo a Bíblia, tinham abundância de
alimento. Em uma crise no deserto sentiram saudade da comida dos egípcios:
“Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos.”. Núm. 11:5.
Mas em sua
incredulidade, não descansavam, não confiavam em Deus. Posteriormente,
comentando a peregrinação no deserto, Moisés afirmou que o Senhor os levara
para o deserto com o fim de os humilhar e provar (Deut. 8:2).
“Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná… para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor, disso viverá o homem.” Deut. 8:3.
De acordo com Moisés, nem as roupas envelheceram,
nem os calçados se gastaram durante os quarenta anos! Foi um período essencial
de preparo para a entrada na terra de Canaã.
Precisavam desesperadamente
aprender a confiar em Deus antes de possuir a terra. Neste aspecto, são
semelhantes a nós, que estamos prestes a entrar na Terra Prometida. O Senhor
espera que vivamos em estrita dependência dEle quanto ao sustento.
Para a maioria de nós,
se olharmos apenas para o salário, vamos temer pelo sustento. E tememos mais
ainda quando Deus ainda nos diz que precisamos tirar dez por cento como dízimo,
e outra porcentagem como ofertas voluntárias (Deut. 16:17).
Se o total já não
era suficiente, quanto mais se for dizimado! É nesse momento que o Senhor faz
conosco o que fez com o povo de Israel no deserto. Tira de nós toda a esperança
de auto-sustento para nos revelar o sustento do alto. Para mim, o
ato de dizimar é, pela fé, ir para o deserto e esperar pelo maná.
E em nossa
casa, temos visto que ele sempre cai. Mas a cada mês, ou a cada salário,
continua a existir dentro de nós uma luta travada entre o sustento pelas
próprias obras ou o sustento da fé – o sustento sobrenatural, pelas mãos de
Deus.
O sustento das obras é usar minha própria sabedoria ou raciocínio lógico
para me manter. O sustento da fé, é colocar, de maneira quase imprevidente ou inconsequente, diriam alguns, uma parte do sustento necessário (não do que
sobra) nas mãos de Deus, e esperar dEle o milagre! E cada mês ele acontece.
“Fui moço e já agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado, nem a sua descendência mendigar o pão”, disse Davi (Sal. 37:25).
“Aos que buscam ao Senhor, bem nenhum lhes faltará”, afirma ele em outro lugar (Sal. 34:10).
Nesta terra, como foi
no Éden, continuamos não possuindo nada nosso mesmo.
“Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” Sal. 24:1.
Tudo pertence a Deus, inclusive nós mesmos. Paulo diz: “não sois de vós mesmos,
pois fostes comprados por preço”. Mas Ele nos empresta algumas coisas pelo
período em que estamos vivos, para ver se pode um dia nos confiar riquezas
eternas.
Tudo depende do uso que fazemos das coisas, dos bens que nos são
emprestados nesta vida (e nosso corpo é um destes bens…).
Se não sabemos usar
bem aquilo que Ele nos dá hoje, com certeza estamos nos desabilitando para a
vida futura. Os critérios que estaremos adotando, não são os critérios que
levam à vida; são impróprios para o Céu. Quando morremos, todas estas coisas,
menos nosso corpo, são transferidas imediatamente para as mãos de outras
pessoas.
Na parábola dos
talentos, além de verdades espirituais, Jesus nos revelou que Deus espera não
apenas que mantenhamos os bens que Ele nos tem confiado, mas que aumentemos
este capital.
Aos servos que dobraram o capital, Deus os chamou de “bons e
fiéis”. “Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei”, disse o
Senhor. É esta visão que o cristão precisa
ter ao gastar seu dinheiro. Ele deve saber que tudo pertence a Deus, e todo o
seu gasto deve ser feito na presença de Deus, e para sua honra e glória.
“Portanto quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. I Cor. 10:31.
Existem pessoas que se esquecem de que
mesmo a parte que fica depois de o dízimo e as ofertas terem sido devolvidas,
ainda pertence a Deus. Fazer compras na presença de Deus é levar em conta os
princípios de seu reino ao gastar.
É ajudar aos pobres, é manter o corpo
saudável, é investir na causa de Deus, e privilegiar sempre as necessidades em
lugar dos desejos. Pessoas que gastam apenas movidas pelos próprios desejos,
com certeza, um dia vão passar necessidade.
Colocar a Deus em
primeiro lugar é não gastar apenas com a satisfação dos desejos egoístas, com
prazeres inúteis, com a adoração ou exaltação do eu ou do próprio corpo.
Um dos
pecados deste século, é o consumismo, que faz com que os seres humanos
sacrifiquem no altar do prazer, da ostentação, do orgulho próprio e da exaltação
pessoal, recursos que poderiam estar sendo utilizados para fins muito mais
nobres.
Quanta gente compra um carro hoje em dia, não mais para se locomover,
mas como um mero símbolo de status. Roupas não mais servem apenas para proteger
das intempéries ou cobrir, mas para revelar o corpo de forma pecaminosa, e em
alguns casos, fazer com que o seu possuidor seja admirado.
A adoração que
deveria ter ido para Cristo, vai para o ser humano. Quanto dinheiro é gasto em
artigos chamados de alimentação, mas que em lugar de nutrir, apenas enfraquecem
o sistema imunológico, e despertam a intemperança e glutonaria.
Para muitos
hoje, comida não é mais alimento, mas diversão e passatempo. E não é de admirar
que existam tantas pessoas doentes por esta causa.
“Feliz é a terra cujo rei é filho de nobres e cujos príncipes se assentam à mesa a seu tempo, para refazer as forças, e não para a bebedice”. Ecl. 10:17.
A vida na cidade grande também
levou muitos a gastar o precioso dinheiro com diversões que se não desviam de
Deus, no mínimo são uma perda de tempo. E um dia daremos conta também de nosso
tempo a Deus. E o resultado do mau uso do dinheiro? Dívidas, preocupações
financeiras, e problemas familiares.
CONCLUSÃO
Mas como então o
cristão deveria gastar o seu dinheiro? Como um filho de Rei, pertencendo à
nobreza celestial, seus gastos deveriam sempre ter objetivos nobres.
Em seus
gastos, um cristão deveria estar sempre levando em conta o progresso físico,
material, espiritual e intelectual, seu e dos outros. Será que esta compra vai estar
melhorando a minha saúde, é um bom investimento, vai me ajudar a chegar mais
para perto de Deus ou a crescer no conhecimento útil?
Todas as compras ou os
gastos que de alguma maneira estejam atrapalhando o crescimento em alguma
destas áreas, deveriam ser descartados pelos cristãos. Fica assim valendo o
sábio conselho do apóstolo Paulo:
“Portanto quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. I Cor. 10:31.