Perguntas e respostas sobre a graça e a lei

graca e lei bible

- Como me criticavam por ter perguntas “longas” decidi fazer perguntas curtinhas apenas de duas ou três linhas em novo questionário apologético sobre o tema da lei divina. E facilito as coisas dando as RESPOSTAS DEVIDAS. 

PERGUNTA 1

* À luz de Gên. 3:15, faz sentido a alegação de muitos dispensacionalistas de que a graça é só de Cristo para cá, com base em 1 João 1:17?

RESPOSTA: Para muitos aprendizes das teses da teologia novidadeira do dispensacionalismo, sobretudo em seu viés dianenhumista, a “dispensação da graça” teria suplantado a “dispensação da lei” desde Cristo, iniciando-se novo regime nas relações do homem para com Deus.

Se João 1:17 diz que “a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Cristo” devemos entender que antes de Moisés havia tanto lei (Gên. 4:7; 26:5; 39:9) quanto graça (Gên. 3:15— o “protoevangelho”—, livramento de Ló e família de Sodoma e Gomorra—condenadas pela óbvia violação da lei moral de Deus existente antes de Moisés—e libertação de Israel do Egito [Êxo. 20:1 e 2]. 

Todos esses são atos de graça divina). Além disso, em Rom. 4:3-9 Paulo fala sobre a justificação pela fé de Abraão e cita o Sal. 32:1,2, onde Davi trata desse meio salvífico de graça, dentro da suposta e mal rotulada “dispensação da lei”. Lembrando que “pecado é a transgressão da lei” (1 João 3:4) em todos os tempos.

Depois da morte de Cristo continuou a haver tanto graça quanto lei. Nem é necessário apresentar dados sobre a graça, mas sobre a lei, acentue-se Luc. 23:56; Rom. 3:31; 13:8-10; Efé. 6:1-3). E, logicamente, VERDADE existia antes de Cristo também, ou será que não?!

Logo, a compreensão correta de João 1:17 é que a lei formalmente outorgada como base do pacto divino com Israel veio por meio de Moisés, a graça, oferecida desde a Queda do homem originalmente e proclamada na promessa do Libertador (que feriria a cabeça da serpente até esta ser esmagada – Gên. 3:15, cf. Rom. 16:20), veio ao mundo em sua formalização plena com Cristo. Ele é o cumprimento do gracioso oferecimento do Libertador por Deus desde o princípio.

Aliás, os dispensacionalistas em geral se atrapalham com a pergunta, “como se salvavam os pecadores ao tempo do Antigo Testamento?” Dada a sua incorreta compreensão do tema, até alegam que eram salvos pela lei, mas desde Cristo a salvação é por graça. 

Errado, nunca houve quem obtivesse méritos por cumprir plenamente a lei. Os heróis de Hebreus 11 foram todos salvos pela fé, a parte humana na “transação salvífica”, nenhum sendo salvo por suas obras.

A graça, pois, é primeiro oferecida ao homem já após sua queda, com Deus indicando a saída para o dilema criado pelo pecado com o oferecimento do Libertador, como sempre reconheceram os crentes conservadores na interpretação de Gên. 3:15. Este texto é conhecido como o “protoevangelho”—a primeira pregação do evangelho no mundo, por Deus.

PERGUNTA 2


* Se o “cumprir” a lei em Mat. 5:17-19 significa isentar-nos de obedecê-la, por que isso não se aplica a cumprir o batismo (Mat. 3:15)?

RESPOSTA: O contexto nada trata de ficar sem a lei como regra de conduta cristã, e sim o contrário. A ênfase de Cristo quando do INÍCIO do Seu ministério é o respeito aos mínimos dos preceitos e o ensino disso aos homens. No vs. 20 Ele diz de modo insofismável que a justiça dos Seus ouvintes devia exceder a dos escribas e fariseus. 

No FIM do Seu ministério (último discurso público—Mat. 23:1-3) Ele reforça “às multidões” e aos discípulos (continuadores de Sua obra) o que disse no INÍCIO, no Sermão do Monte. A ênfase é a MESMA de Mat. 5:17-20. Certamente que “cumprir a lei de Cristo” em Gál. 6:2 não é o mesmo que dar fim a tal lei!

PERGUNTA 3


* Se a “lei e os profetas duraram até João” como depois dele havia ainda lei (Mat. 19:17; Rom. 3:31; Efé. 6:1-3) e profetas (Atos 11:27; 13:1, etc.)?

RESPOSTA: “Duraram” não consta do texto original, tanto que em muitas Bíblias o termo vem em itálico (forma de indicar palavra acrescidas pelos tradutores). Mat. 11:13 explica—“A lei e os profetas PROFETIZARAM até João”.

A expressão “lei e profetas” [“e salmos”—ver Luc. 24:44] significa os escritos sagrados hoje chamados de Velho Testamento. João Batista foi o último profeta messiânico. Daí, as profecias messiânicas duraram até João, pois a partir dele o Messias era chegado.

PERGUNTA 4


* Se a lei foi dada 430 anos depois de Abraão (Gál. 3:17), significa que não havia a lei divina antes desse Patriarca?

Se não houvesse a Lei Moral de Deus ao tempo de Abraão, ele poderia cultuar imagens, falar o nome de Deus em vão, cobiçar coisas e mulher alheia, roubar. Mas a Bíblia diz que Abraão obedeceu os mandamentos, ordenanças, estatutos e leis de Deus (Gên. 26:5). Paulo diz neste texto que o sistema legal ordenado por Deus no Sinai não substituiria nem alteraria as condições do pacto feito com Abraão. 

A lei” formalmente dada como base do concerto divino com Israel não proporcionou um meio novo e específico de salvação; não estabeleceu um sistema de justificação por meio de obras para ocupar o lugar da promessa de justificação pela fé no Messias vindouro, ou para competir com essa promessa (vers. 6-8, 14). Assim, confirma-se que os seres humanos foram salvos pela fé do Sinai até a cruz.

PERGUNTA 5


* Se Paulo declara que “os gentios . . . não têm lei” (Rom. 2:14), por que recomenda a gentios o 5º. Mandamento do Decálogo (Efé. 6:1-3)?

RESPOSTA: Em Rom. 2:14 e contexto Paulo contrasta o conhecimento histórico da lei pelos judeus com o seu desconhecimento pelos gentios, acentuando que TODOS igualmente eram culpáveis diante de Deus, “pois todos pecaram” (Rom. 3:23). Não faz sentido usar tal texto para alegar que os gentios não têm que obedecer à lei, porque daí se poderia aceitar qualquer pecado da parte deles, e a definição bíblica de pecado é “transgressão da lei” (1 João 3:4).

PERGUNTA 6


* Gál. 3:24 alude à lei como um aio que nos conduz a Cristo, daí ficando livres do aio. Mas como tal aio serviu depois a Paulo em Rom. 7:7,8?

RESPOSTA: Em Gálatas Paulo trata da lei como um sistema global para a nação de Israel. Em Rom. 9:30-32 mostra que a falha daquele povo foi buscar justiça na lei, o que nunca representou a sua função. 

Em Rom. 7:7, 8 (escrito DEPOIS de Gálatas) ele fala da lei em termos individuais—que aponta ao pecado (Rom. 3:20) para levar o pecador a reconhecê-lo e buscar solução em Cristo. 

Destarte, ela lhe serviu individualmente de “aio”, apontando ao pecado, definido biblicamente como “transgressão da lei” (1 João 3:4), o que se aplicará a qualquer cristão ao longo do tempo (ver 1 João 1:8-10 e 2:1).

PERGUNTA 7


* Se “o fim da lei é Cristo” (Rom. 10:4) significa o seu fim como norma de conduta cristã, pode-se agora matar, roubar, mentir, adulterar?

RESPOSTA: Alegar que não—pois agora o cristão está sob a “lei de Cristo” (1 Cor. 9:21, cf. Gál. 6:2)—não resolve pois é a MESMA da “regra áurea”—de amar a Deus de todo o coração e amar ao próximo como a si mesmo (Mat. 22:36-40). 

Jesus ressalta que “destes dois mandamentos dependem TODA A LEI e os profetas”. Não diz que na expressão TODA A LEI qualquer preceito do Decálogo seja excluído.

PERGUNTA 8


* Se Rom. 10:4 ensina o fim da lei como norma de conduta cristã, como em Rom. 3:31 Paulo diz que a fé confirma a lei, e não a anula?

RESPOSTA: A chave para entender as discussões paulinas sobre a lei é Rom. 9:30-32—a falha de Israel em buscar justiça na lei, o que nunca foi o seu objetivo. 

Paulo diz que a fé NÃO ANULA a lei, e sim a CONFIRMA (Rom. 3:31), e que com a sua mente serve à lei de Deus (Rom. 7:25), a que traz o preceito “não cobiçarás”, sendo santa, justa, boa, espiritual (vs. 7, 8, 12, 14, 22). 

E dela recomenda naturalmente aos GENTIOS de Éfeso e Roma os seus 5o., 6o., 7o., 8o., 9o. e 10o. preceitos (Efé. 6:1-3; 4:24-31; Rom. 13:8-10).

Paulo não condenava a lei, mas o seu “uso ilegítimo” (1 Tim. 1:8)—tê-la erradamente por fonte de justiça. É o que causou o tropeço da nação. 

ROMANOS FOI ESCRITO APÓS GÁLATAS. Rom. 10:4 significa que o OBJETIVO da lei é Cristo para determinada coisa—“. . . a justificação de todo o que crê”. 

Tal interpretação é a de Wesley, Calvino, Bíblia de Genebra, eruditos batistas, metodistas, presbiterianos. . .

PERGUNTA 9


* Se em Rom. 7:6 Paulo fala que o cristão está “livre da lei”, como diz que esta É (não diz ‘era’) santa, justa, boa, espiritual, prazenteira em Rom. 7:12, 14, 22?

RESPOSTA: No contexto Paulo fala da lei como elemento que prende a pessoa a um “compromisso”, comparando-a à lei matrimonial. Quando um cônjuge morre o outro fica livre das obrigações matrimoniais quanto ao mesmo. 

Daí, pode se “casar” com o “novo marido” (simbolizando a Cristo), estando livre das imposições do pecado, apontado pela lei (vs. 5, cf. Rom. 3:20). Viverá, então, em “novidade de espírito”, ou seja, em novo compromisso com o novo marido, “tendo morrido para aquilo a que estávamos retidos”, ou seja—as imposições da vida de pecado do regime do “casamento” anterior. 

O “velho homem” simboliza a mulher em seu primeiro casamento, que passa a ser um “novo homem” [ou nova criatura] ao morrer o pecado em sua vida (cf. Rom. 6:1, 2) casando-se com um novo marido—Cristo. Neste sentido é que está “livre da lei”, “morto para o pecado”, definido biblicamente como “transgressão da lei”.

É digno de nota que os pregam “o fim da lei” sempre param suas análises no vs. 6. Deixam de continuar considerando o resto do capítulo onde Paulo diz ter a “lei de Deus” no coração e mente visando a respeitá-la, a despeito da contínua luta contra a “lei do pecado” (vs. 25), que é o próprio pecado retoricamente tido como uma lei concorrente. 

E ele identifica esta “lei de Deus” (santa, justa, boa, espiritual, prazerosa) como a que traz o preceito “não cobiçarás” (vs. 7 e 8).

PERGUNTA 10


* Se em Efé. 2:15 a lei abolida é o Decálogo, como Paulo recomenda naturalmente um preceito de tal lei aos próprios efésios (Efé. 6:1-3)?

RESPOSTA: O próprio texto diz que foi abolida a lei dos mandamentos “que consistia em ordenanças”. Ora, Paulo não precisaria dizer isso se fosse entendido que “a lei dos mandamentos” era o Decálogo. 

Sua própria explicação adicional o demonstra. Sem falar no absurdo de ter sido dado fim ao Decálogo como regra de conduta cristã, o que contraria outras passagens paulinas (como Efé. 6:1-3; Rom. 13:8-10) e o pensamento clássico, histórico e OFICIAL dos cristãos protestantes HÁ SÉCULOS. 

O próprio João Wesley assim explica tal texto: “Tendo abolido por Seu sofrimento na carne a causa da inimizade entre os judeus e gentios, ou seja, a lei de mandamentos cerimoniais, mediante seus decretos—o que oferece misericórdia a todos”. – “Wesley Bible Commentary”.

Nessa mesma linha de pensamento podem ser citados Albert Barnes, John Gill, Matthew Henry, o “Pulpit Commentary”, a Bíblia de Genebra, Paul Kreztmann, etc.

PERGUNTA 11


* Se o “ministério de morte” em 2ª. Cor 3:7 é o Decálogo, significa que Deus reuniu o Seu povo solenemente para lhe dar uma lei desse tipo?

RESPOSTA: No vs. 9 ele fala de “ministério de condenação”, e todo o contexto fala do Velho Concerto, não de alguma “velha lei”. A lei não devia permanecer apenas como regras sobre as tábuas de pedra, mas escrita no coração.

O problema na interpretação deste texto é haver muita gente que não sabe a diferença entre “lei” e “concerto”. O concerto tem por base a lei, mas não é a própria lei.

PERGUNTA 12


* A lei divina (no aspecto moral) a ser escrita nas “tábuas de carne” para Ezequiel (11:19, 20; 36:26, 27) teria nove ou dez mandamentos?

RESPOSTA: Ezequiel fala da escrita da lei toda, o que, logicamente, inclui seus aspectos cerimoniais também. Mas a promessa do Novo Concerto [Novo Testamento], dada em Heb. 8:6-10 e 10:16, é feita APÓS o véu do Templo ter-se rasgado de alto a baixo (Mat. 27:51), e tanto o autor de Hebreus quanto seus leitores primários sabiam que tudo quanto era cerimonial, prefigurativo na lei dada a Israel cessara na cruz, mas nenhum dos mandamento de caráter moral, como os do Decálogo. 

A igreja protestante/evangélica SEMPRE entendeu que todos os preceitos do Decálogo são de caráter MORAL e UNIVERSAL, todos!

PERGUNTA 13


* Paulo usaria a metáfora tábuas de pedra/tábuas de carne em 2 Coríntios 3 para 9 ou 10 preceitos a serem escritos no coração, cf. Heb. 10:16?

RESPOSTA: Para ser coerente com o teor de Heb. 8:6-10, à luz de Eze. 36:26, 27, também 11:19, 20 e Pro. 7:2, 3, ele falaria em 10 preceitos, não somente 9 a serem escritos no coração. Não há nenhuma informação de que ele pensasse em termos de eliminar qualquer dos preceitos do Decálogo ao empregar a metáfora (que até aprimora) a partir dos textos acima.

PERGUNTA 14


* Que “mudança da lei” é tratada em Heb. 7:12, algo a ver com o Decálogo, cerimônias ou o quê?

RESPOSTA: O contexto trata da questão da lei do sacerdócio, pela qual alguém só podia ser sacerdote se fosse da tribo de Levi, sendo Cristo da tribo de Judá. Portanto, nem de longe o tema da passagem é mudança no Decálogo no sentido de acomodar, seja outro dia de repouso (como o domingo), seja o “dianenhumismo”. 

Mas o autor de Hebreus trata disso apenas retoricamente, pois os judeus jamais aceitariam mudar a lei nesse sentido, pois se não aceitavam nem a messianidade de Cristo como aceitariam que fosse sacerdote; ainda mais, Sumo Sacerdote?!

PERGUNTA 15


* Por que na Nova Aliança a escrita nos corações e mentes não é da lei da fé, do amor, de Cristo, etc., mas das “Minhas leis” [de Deus]?

RESPOSTA: Ao falar das “superiores promessas” do Novo Concerto, que tem por base a mesma promessa feita a Israel no passado (ver Jer. 31:31-33), o autor de Hebreus acentua que Deus é quem escreve as Suas leis nos corações e mentes dos que aceitam tal promessa [Heb. 8:6-10]. 

Essas leis divinas já incluem o que seria “lei de Cristo”, “lei do amor”, “lei da fé”, “lei do Espírito”, “lei real” para os cristãos. Tais qualificativos da lei por diferentes autores bíblicos não visam a refletir a existência de diferentes leis, mas sim a MESMA, referida retoricamente por variados qualificativos.

PERGUNTA 16


* Onde, na promessa da Nova Aliança, é dito que Deus escreve as Suas leis nos corações deixando fora algum preceito do Decálogo [Heb. 10:16]?

RESPOSTA: Realmente não é dito que nesse processo de Deus escrever Suas leis nas mentes e corações, Ele deixa fora qualquer preceito do Decálogo, Sua Lei Moral (tal como sempre reconhecido pelos cristãos evangélicos conservadores ao longo dos séculos, e mais recentemente por obras de editoras pentecostais, como a CPAD). 

L
embrando que quando Hebreus foi escrito, tanto o seu autor como os seus leitores primários sabiam que o véu do Templo se havia rasgado de alto a baixo e o sentido disso—o fim de todas as leis cerimoniais de Israel.

Fonte: AZENILTO BRITO é editor aposentado da CPB