“Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco.” (Apocalipse 17:9-10; ARA)
De há uns anos a esta parte tem-se espalhado, cada vez mais, a noção de que estes sete reis mencionados neste capítulo profético do livro de Apocalipse correspondem literalmente a sete papas que exerceram o seu pontificado desde 1929, altura em que, pelo Tratado de Latrão, se formalizou a existência do estado do Vaticano como estado soberano, neutro e inviolável sob a autoridade do papa.
Assim como os privilégios de extraterritorialidade sobre o palácio de Castelgandolfo e das três basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros tendo, por outro lado, o Vaticano renunciado aos territórios que havia possuído desde a Idade Média e reconhecido Roma como capital da Itália.
FALSAS TEORIAS
Em 2002, quando tomei conhecimento desta teoria pela primeira vez, a versão então mais em voga da teoria supracitada, admitia que o papa João Paulo II iria renunciar ao seu pontificado, sendo substituído por um outro papa, este último iria também renunciar ou ser deposto das suas funções, e o papa João Paulo II iria reassumir o seu pontificado.
Com a morte de João Paulo II a 2 de abril de 2005, pensar-se-ia que a teoria acima mencionada teria igualmente morrido, mais eis que surgiu uma reinterpretação dizendo que o papa João Paulo II iria, aos olhos do mundo, ressuscitar (na realidade, seria um demónio ou o próprio diabo fazendo-se passar por ele) e suceder ao papa que lhe sucedeu (Bento XVI).
Independentemente dos factos históricos que já se deram e de outros que venham ainda a ocorrer, uma coisa é certa: esta teoria está FERIDA DE MORTE à partida, pela simples razão de que ela parte de uma PREMISSA FALSA: assume que os sete reis são sete papas, quando, em verdade, NUNCA, em linguagem profética, “reis” se refere a indivíduos, mas sim a reinos!
O livro de Daniel (do mesmo género literário do livro de Apocalipse) é claríssimo a esse respeito:
1º) “reis” são REINOS, não indivíduos (ver: Daniel 2:37-40, 44; 7:17, 23);
2º) “chifres” (ou “pontas”) também são REINOS, não indivíduos (ver: Daniel 7:24; 8:20-22).
Só duas pequenas explicações:
1ª) como é que um “chifre” (“rei”, em Daniel 7:24) poderia reinar durante “um tempo, dois tempos e metade dum tempo” (1260 anos) (Daniel 7:25), se fosse um indivíduo?
2ª) O “primeiro rei” mencionado em Daniel 8:21, não se refere a Alexandre Magno, como muitos afirmam, incorretamente, mas sim ao REINO do qual Alexandre Magno era o soberano! Parece um preciosismo de linguagem, mas não é, pois o versículo a seguir (v. 22) refere que “quatro REINOS se levantarão deste povo” (o povo simbolizado pelo “primeiro rei”).
Daniel também individualizou o seu discurso ao falar com Nabucodonosor, dizendo que “tu és a cabeça de ouro” (Daniel 2:38). Estava Daniel a referir-se ao rei como pessoa, ou ao REINO do qual ele era o monarca absoluto?
CONCLUSÃO
o aspeto, quanto a mim, mais perverso desta e de outras teorias semelhantes, é parecerem muito “ortodoxas”, e assim conseguirem seduzir sinceros estudantes da profecia bíblica!
Numa altura em que quase tudo o que é bíblico é posto em causa, aparecerem estas explicações tão “bíblicas”, é realmente sedutor! Mas, sendo-se mesmo bíblico, facilmente reconhecemos o espírito que está por detrás destas invencionices!
Mais do que nunca, a nossa única defesa é e deverá ser, a exemplo de Jesus: “Está escrito”! Que Deus e a Sua Palavra nos protejam (ver: Apocalipse 3:10).
FONTE: Paulo Cordeiro é pastor Adventista em Portugal