Gnosticismo – Século II – Egito
O corpo é corrupto, então é preciso denegri-lo com a prática de libertinagens.
Os cainitas formavam uma influente seita gnóstica cristã do segundo século depois de Cristo.
Eles veneravam Caim como o filho de uma Potestade Superior. Caim teria sido a primeira vítima inocente do Demiurgo, uma divindade inferior a Deus, e que havia criado o mundo material.
Os cainitas professavam serem da mesma estirpe de Esaú, Coré, Datã, Sodomitas e dos demais que foram atacados pelo criador deste mundo – Demiurgo – porém, este não conseguiu fazer-lhes nenhum mal.
O Deus do Antigo Testamento não é o mesmo Deus proclamado por Jesus Cristo. Pois, enquanto este último seria piedoso, benevolente, amoroso, aquele seria malévolo, ciumento, vingativo e cruel.
Mais tarde essas ideias influenciariam outras seitas, especialmente o Marcionismo.
As informações existentes sobre os cainitas encontram-se registradas nos livros dos pais apostólicos.
Porém, na década de setenta foi descoberto no deserto egípcio, perto de El Minya, um texto apócrifo atribuído à seita dos cainitas: o “Evangelho de Judas”, a quem teria sido confiada a missão suprema de libertar o Cristo de sua envoltura humana.
Irineu de Lyon (130-202) escreveu que os cainitas “dizem que Judas o traidor foi o único que conheceu exatamente todas estas coisas, porque só ele entre todos conheceu a verdade para levar a cabo o mistério da traição, pela qual ficaram destruídos todos os seres terrenos e celestiais.
Para isso, mostram um livro de sua invenção que chamam o ‘Evangelho de Judas’”.
O texto apócrifo intitulado “Apocalipse Copta de Paulo” foi mencionado por Epifânio de Salamina (320-403) como sendo um trabalho da seita dos cainitas, que veneravam Caim como sendo o verdadeiro Messias.
Os cainitas acreditavam que a indulgência no pecado era a chave para a salvação da alma, pois o corpo e intrinsecamente mau, então é preciso denegri-lo com atitudes libertinas.
Segundo Irineu de Lyon, para os cainitas “um anjo está ajudando os seres humanos quando cometem qualquer ato torpe e pecaminoso, o qual faz levar a cabo toda ação atrevida e impura, de maneira que este anjo é o responsável de todas estas obras, como eles o invocam:
‘Oh tu, anjo, eu cumpro tua ação; oh tu, potestade, eu levo a cabo tua obra’.
E dizem que nisto consiste a gnose perfeita: entregar-se, sem vergonha alguma, a tais ações, cujo nome nem sequer é lícito pronunciar”.
A crença cainita era baseada no princípio de que o mundo material é imperfeito porque não foi criado pelo Deus Supremo, mas sim por uma inteligência inferior, a do Demiurgo.
Os cainitas acreditavam que Caim, Judas e outras pessoas tidas como ímpias foram na verdade heróis da fé que resistiram ao criador malvado, Demiurgo e cumpriram o propósito do Deus Supremo.
Clique AQUI para acessar os outros temas.