A Igreja Adventista do Sétimo Dia advoga o dom de profecia como válido nestes últimos dias e defende sua legítima manifestação como sendo uma das características da igreja remanescente. Um estudo sobre este tema poderá esclarecer se tal afirmação tem apoio Bíblico escriturístico.
Primeiramente analisar-se-á de maneira sucinta o contexto histórico, bem como o desenvolvimento do dom de profecia em toda a Bíblia. Posteriormente estudar-se-á os textos que abordam especificamente a manifestação da orientação profética na igreja nestes últimos dias.
É relevante que se estude este tema, sobretudo por causa das implicações para o tempo presente da atuação do dom profético e sua relação com a igreja remanescente.
O estudo compõe-se de três partes, introdução, um capítulo com subdivisões e, por fim o resumo e conclusões. O presente trabalho será realizado com base em concordâncias, dicionários e comentários bíblicos, além de léxicos, periódicos e demais fontes teológicas.
BASE BÍBLICA PARA O DOM PROFÉTICO NA IASD
A compreensão da permanência neotestamentária do dom profético, sua validade pós-cruz e sua manifestação nos últimos dias é de suma importância para comprovar a validade do dom de profecia manifestado na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Por outro lado, essa manifestação é contestada por diversos estudiosos da Bíblia e alguns chamados “cessacionistas”.
Por isso faz-se necessário um cuidadoso estudo baseado na Bíblia, para analisar se há ou não alguma especificação bíblica de que o dom de profecia é válido para a igreja nos últimos dias, ou se a sua atuação limitou-se apenas ao período vétero-testamentário.
Como Deus Se Comunica Com o Homem
Antes do pecado, Deus se comunicava face a face com o homem (Gn 3:8) . Mas o pecado trouxe uma ruptura no relacionamento entre o Criador e Suas criaturas (Is 59:2).
No entanto, a sabedoria divina proveu outros meios pelos quais a divindade pudesse comunicar Sua vontade ao homem. Pode-se citar como exemplo: a consciência (Rm 2:15), os anjos (Hb 1:14) e o testemunho através das coisas criadas (Rm 1:20; At 14:17; Sl 19:1, 2); os patriarcas: Noé (Gn 5-9), Abraão (Gn12-24), Isaque (Gn 26:2-5) e Jacó (Gn 32:24-30).
Moisés foi um ilustre exemplo de ser humano com quem Deus conversava face a face (Ex 3; 33:11). Deus também se comunicava com os sacerdotes, fazendo conhecida a Sua vontade por meio de Urim e Tumim (Ex 28:30; Lv 8:8; Nm 27:21; 1Sm 22:10; 28:6).
Através de sonhos como os de José (Gn 37), os sonhos do carpinteiro e do padeiro de Faraó (Gn 40), o sonho de Faraó (Gn 41), o sonho do Soldado Midianita (Jz 7) e os sonhos de Nabucodonosor (Dn 2 e 4). Através dos profetas (Am 3:7; 2Cr 36:15), e a revelação de Jesus Cristo (Hb 1:1 e 2; Jo 14:9).
O Ministério Dos Profetas
Na história do povo de Deus é comum ver a atuação dos profetas. Segundo Herbert E. Douglass “Embora Deus tenha empregado muitos métodos, o ‘profeta’ foi a forma mais reconhecida de comunicação divina” e também “Os profetas têm sido os canais mais visíveis do sistema divino de comunicação”.
O desprezo para com os profetas traria calamidades e sua rejeição era a rejeição da própria palavra de Deus (2Cr 36:16). Champlin declara que: “O simples fato de que a palavra ‘profeta’ ocorre por mais de trezentas vezes no Antigo Testamento mostra-nos a importância da função naquele contexto”.
A Linhagem Dos Profetas
A iniciativa do chamado de alguém para o ofício profético depende de Deus, e, às vezes sem consultar as conveniências do profeta (Ex 3:1 – 4:17; Is 6; Jr 1:4-19; Ez 1-3; Os 1:2; Am 7:14,15) e é somente o profeta falso que ousa arrogar-se ao ofício (Jr 14:14; 23:21).
Deus escolhe para atuar como profetas homens e mulheres, sem fazer qualquer distinção entre ambos, concedendo-lhes a mesma autoridade e prerrogativa. “Por todo os dois Testamentos ‘profetisa’ é a palavra usada em sentido tão largo para as mulheres como a palavra ‘profetas’ é usada em relação aos homens”.
Exemplos de profetisas em ambos os testamentos: Miriã (Ex 15:20); Débora (Jz 1:7; 4:4); Hulda (2Rs 22:14); a esposa de Isaias (Is 8:3); Ana (Lc 2:36); as filhas de Filipe (At 21:9).
Paulo refere-se ao ofício profético em Corinto exercido por homens e mulheres (1Co 11:4). O derramamento do Espírito Santo nos últimos dias, que traz consigo o exercício profético, não faz distinção de sexo (Jl 2:28; At 2:16).
Em um sentido, os primeiros profetas foram os patriarcas, desde Adão até Moisés. Abraão foi a primeira pessoa a ser chamada de profeta na Bíblia (Gn 20:7), embora Judas, em sua epístola, fale da profecia de Enoque “o sétimo depois de Adão” (Jd 1:14). Moisés foi o primeiro profeta nacional de Israel (Dt 18:15-19).
Profetas Em o Novo Testamento
A profecia e os profetas formam a maior linhagem de continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. A linguagem profética não terminou com Malaquias, ele mesmo encerra seus escritos com a predição de que enviaria “o profeta Elias” antes que viesse o “grande e terrível Dia do Senhor” (Ml 4:5).
Segundo Jesus esta profecia cumpriu-se com João Batista (Mt 11:14). O ensino expresso pelo Nosso Senhor é que o meio divino de comunicação profética transpôs o Antigo Testamento e chegou em o Novo Testamento por meio de João Batista, ou seja, houve uma continuação da linhagem profética (Mt 11:10-14).
Com respeito a isso, assim se expressa Matyer: “A costumeira divisão em dois testamentos, obscura infelizmente essa maravilhosa unidade do programa revelatório de Deus, porém a linhagem tem continuação desde Moisés até João Batista”.
Profetas no Primeiro Século da Era Cristã
Vê-se em João Batista, como de fato em seu pai Zacarias (Lc 1:67-79), a repetição do padrão de profecia do Antigo Testamento. Os evangelhos mencionam outros profetas como: Ana, filha de Fanuel (Lc 2:36); Simeão (Lc 2:25-35) e o próprio Jesus também era declarado “profeta” (Mt 21:11; Lc 7:16). Ele referia-Se a Si mesmo como profeta (Lc 24:19; Mt 13:57 e 58).
O Ministério do Espírito Santo e o Dom de Profecia
No Antigo Testamento existem cerca de 18 passagens que associam a inspiração profética com a atividade do Espírito Santo: Nm 24:2; 11:29; 1Sm 10:6-10; 19:20-23; 1Rs 22:24; Jl 2:28, 29; Os 9:7; Ne 9:30; Zc 7:12; Mq 3:8; 1Cr 12:18; 2Cr 15:1; 20:14; 24:20; Ne 9:20 e Ez 11:5. O Espírito Santo é o representante do nosso Senhor.
Ele revela Jesus à humanidade. Ele é o “Auxiliador” e o “Espírito da verdade” (Jo 14:16); Ele conduz a toda verdade acerca de Deus (Jo 14:17); Ele ensinaria e faria lembrar os ensinos de Cristo (Jo 14:26). O Espírito Santo dá testemunho de Jesus (Jo 15:26).
O Espírito não só ensinaria a verdade acerca de Deus, mas continuaria informando a igreja acerca da vontade de Cristo e comunicando constantemente esta mensagem à medida que Jesus a revelasse, bem como, anunciaria as coisas que estariam para acontecer (Jo 16:13-15).
Para tornar efetiva a revelação da vontade de Cristo para a igreja e aperfeiçoá-la como igreja de Cristo, o Espírito Santo concede dons à igreja (1Co 12:4 e 7). Um desses dons é o de “profecia” (1Co 12:10; Ef 4:11).
Por meio desse dom, o Espírito Santo liga-Se a determinados homens e mulheres para comunicarem a outros a verdade sobre Jesus, ou seja, o Espírito fala a respeito de Jesus, e comunica a vontade de Jesus para a Sua igreja, “por meio de pessoas dotadas com o dom de profecia”.
Jesus atua por intermédio do Santo Espírito para revelar a verdade sobre Deus por meio do Seu profeta. O Espírito Santo sempre foi o agente motivador que inspira os profetas a contar a verdade sobre Jesus (1Pe 1:8-12). Paulo associou o ministério profético ao Espírito Santo (1Ts 5:19, 20).
O Dom de Profecia e a Formação da Igreja Primitiva
Assim como o ministério profético foi uma das características do povo de Deus no Antigo Testamento e dos primeiros anos da era cristã, também este estava presente na Igreja Primitiva:
O novo testamento concede ao dom de profecia um lugar proeminente entre os dons do Espírito Santo, colocando-o uma vez em primeiro lugar e duas vezes em segundo, entre os ministérios de maior utilidade para a igreja (veja Rom. 12:6; I Cor. 12:28; Efés. 4:11). Ela estimulou os crentes a desejar de modo especial o dom de profecia (I Cor. 14:1 e 39).
A palavra grega usada em o Novo Testamento para profeta é prophetes, esta aparece cerca de 144 vezes. O substantivo pode significar “aquele que proclama e expõe a revelação divina”.
Cristo disse que estava de acordo com a sabedoria de Deus enviar “profetas e apóstolos” (Lc 11:49).
O apóstolo Paulo declara que a família de Deus é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2:19, 20).
De fato, a igreja cristã sempre foi provida pelo dom profético. O derramamento do Espírito sobre toda carne traz consigo os seus próprios resultados: “profetizarão” (At 2:18).
Paulo exorta a igreja de Corinto que procurem com zelo os dons espirituais, “mas principalmente que profetizeis” (1Co 14:1). Como afirma Brown: “A igreja cristã primitiva tinha crentes que possuíam o dom da profecia. Eram considerados um sinal de que o Espírito estava presente na igreja”.
O Dom Profético nos Últimos Dias
A Bíblia indica que nos últimos dias o Espírito Santo será manifestado na igreja e trará consigo o dom de profecia (At 2:17, 18). O derramamento do Espírito Santo “com ‘poder’ no petecoste (At 1.8) – algo que continuará até o fim”. Jesus advertiu que nos últimos dias surgiriam falsos profetas como um dos sinais da segunda vinda, “isso implica que existiriam igualmente profetas verdadeiros”.
O apóstolo Paulo declara que os dons espirituais continuariam na igreja até sua perfeição (Ef 4:11-14) ou até “a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 1:7). A profecia indica que depois dos 1260 dias proféticos (Ap 12:6, 14) ficaria um remanescente que “que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17), que é explicitamente definido como o “espírito da profecia” (Ap 19:10).
Ellen White conclui dizendo:
Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de Seus profetas e apóstolos. Nestes dias ele lhes fala por meio dos testemunhos do Seu Espírito. Não houve ainda um tempo em que mais seriamente falasse ao Seu povo a respeito de Sua vontade e da conduta que este deve ter”.
Esse dom continua sendo usado como um meio de comunicação entre Deus e Seu povo e torna-se tão necessário hoje quanto foi em épocas anteriores na vida da igreja. Com respeito a isso Champlin acentua “Esse dom continuaria sendo útil se fosse genuíno, não-forçado, embora o ‘cânon’ das Escrituras estivesse já firmemente estabelecido”.
CONCLUSÃO
O dom profético, sendo um meio eficaz no sistema divino de comunicação, foi manifestado desde o dia em que o pecado separou a humanidade de Deus, havendo assim, uma necessidade da divindade se comunicar com o homem. Durante toda a história do povo de Deus sobre a terra, os profetas foram usados para instruir, exortar, consolar e mostrar ao homem a vontade soberana do Senhor.
Tal revelação é indispensável para a manutenção da igreja em todos os tempos. E não podia ser diferente nestes dias em que a igreja de Deus carece de orientação para transpor o paganismo de um mundo anticristão e para enfrentar a grave crise que enredará todo o mundo em um engano devastador.
É inevitável concluir que, o dom profético é tão importante hoje quanto foi em toda a história da igreja. E que a sua manifestação, segundo a Bíblia, constitui uma das características da igreja nos últimos dias.