58 FIDELIDADE A TODA PROVA

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Mark Finley


A Torre de Londres, atrás de mim, é provavelmente a prisão mais famosa do mundo. Originalmente serviu como forte e palácio real. Todos os monarcas britânicos, de William, o Conquistador, a Henrique VIII, viveram aqui. Mas, eventualmente, tornou-se uma prisão, e cena de muitas execuções.


Sir Walter Raleigh passou 13 longos anos atrás destas paredes. Até Ana Bolena passou tempo aqui quando perdeu o favor de Henrique VIII. E a mulher que se tornaria Elizabeth Primeira, ficou presa aqui enquanto sua irmã, Mary reinava.


Uma razão porque tantas pessoas ilustres passaram tempo aqui é que era muito difícil saber a quem dedicar fidelidade. Às vezes era difícil saber até qual era o dever de um cidadão leal. Havia tantas conspirações e tramas, alianças e traições. Com a morte de um rei, pessoas que estavam no poder num dia, podiam ser os inimigos do estado no dia seguinte.


E o mais trágico de tudo, é que a fidelidade religiosa podia tornar-se algo muito perigoso também. Católicos fiéis de repente se viram em maus lençóis quando Henrique VIII decidiu abraçar algumas crenças da reforma.


Mais tarde, quando sua filha, Mary, subiu ao trono, inverteu-se a situação. Ela perseguiu os protestantes sem piedade. Com sua morte, Elizabeth tornou-se rainha. E, de repente eram os católicos que tinham que esconder suas crenças e fugir do país.


Mas hoje, quero falar de algumas pessoas quase desconhecidas na História, que conseguiram encontrar uma forma de expressar fidelidade incondicional, uma fidelidade que permaneceria sempre a mesma. Eles conseguiram ficar firmes mesmo contra a corrente e o fluxo da política, da alta e da queda de facções religiosas.


Gostaria de lhes contar a impressionante história da Sra. John Traske, uma mulher que passou muitos anos aqui na Prisão de Gatehouse, em Londres.


No início do século 17, a Sra. Traske dirigia uma escola preparatória para crianças em Londres, ensinando-as a ler. Era uma professora muito conhecida. Havia uma longa lista de alunos que esperavam para entrar em sua escola. Mas a espera valia à pena. Como escreveu um pai: "Dificilmente se encontraria alguém que poderia igualar-se a ela, tão rápido era o aprendizado das crianças."


Esta mulher também era admirada por sua bondade; conta-se que ela tinha "muitas virtudes especiais." Muitas vezes ela devolvia uma parte da mensalidade escolar aos pais que estavam com dificuldades financeiras.


A Sra. Traske e seu marido, John, eram puritanos. Eles, e muitos outros no século 17, acreditavam que a Igreja da Inglaterra precisava ser purificada e levada de volta às raízes do Novo Testamento. Em seus esforços para pautar suas vidas de acordo com os claros princípios da Bíblia, o casal Traske descobriu o mandamento bíblico a respeito da guarda do sábado.


Ficaram estupefatos ao ler estes versos de Êxodo, capítulo 20, palavras que falaram ao âmago de suas convicções de seguir a Bíblia. Êxodo, capítulo 20, versos 8 a onze:


"Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho... porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou."


No Jardim do Éden, Deus instituíra o sábado como dia de descanso. Ele permaneceu como um sinal entre Deus e Seu povo. E no Novo Testamento, Jesus e seus discípulos guardavam o sábado.


Veja o que está em Lucas, capítulo 4, verso 16:


"Indo [está falando de Jesus] para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, [ou seja, a igreja] segundo o seu costume, e levantou-se para ler."


O que o casal Traske deveria fazer a respeito disso? Quase todos os cristãos guardavam o domingo e observavam-no como dia de culto.


Mas este casal prontamente decidiu reorganizar suas vidas de acordo com este claro mandamento bíblico. A Sra. Traske passou a fechar a escola aos sábados. Afinal, Deus explicitamente pedira que homens e mulheres cessassem seus trabalhos naquele dia. Que mais ela poderia fazer?


É claro que os pais quiseram saber o porquê. A Sra. Traske explicou suas convicções. E foi aí que as autoridades começaram a investigar. Por que esta mulher não estava observando o domingo como todas as outras pessoas? Era algum tipo de encrenqueira? Estava sendo desleal à igreja do estado ou à autoridade britânica, de alguma forma?


Por incrível que pareça, esta mulher piedosa, que apenas demonstrara bondade a todos ao seu redor, foi colocada na prisão; a prisão de Gatehouse, em Londres. Seu ato de guardar o sábado, ao invés do domingo, foi por alguma razão considerado um crime.


A Sra. Traske definhou naquela prisão durante 15 anos. Sem querer ser um peso para os que estavam do lado de fora, ela subsistiu quase todo o tempo só com pão, água, raízes e verduras.


Finalmente, esta mulher fiel e bondosa, presa dentro destas paredes cinzentas, ficou doente e morreu. Ela foi carregada para fora da Prisão Gatehouse e enterrada num campo.


Quando pensamos nos heróis da fé cristã, geralmente vemos grandes homens e mulheres defendendo as principais verdades do Novo Testamento: a salvação apenas em Cristo, a autoridade exclusiva da Bíblia, a justificação só pela fé. Pensamos em Martinho Lutero, e John Huss e William Tyndale.


Não costumamos pensar em pessoas como a Sra. Traske, esta mulher quase anônima, cujo primeiro nome nem sabemos. Não temos certeza o que pensar dela. Ela parece ser um tipo estranho de mártir. 


Afinal, por que alguém abriria mão de sua vida por causa de um dia santificado? Será que é tão importante assim? Eu acho que quando respondermos estas perguntas, descobriremos outro importante elemento da fé inabalável; compreenderemos melhor a fé que nos habilita a ficar firmes nos piores momentos. É por isto que viemos aqui para analisar estes heróis desconhecidos, que defenderam suas convicções sobre o sábado.


A Sra. Traske não estava de maneira alguma sozinha em sua fé. Muitos outros puritanos haviam redescoberto o que a Escritura dizia sobre o sétimo dia da semana. E o mais interessante é que este dia tornou-se um símbolo deles: um símbolo de sua fidelidade incondicional a Cristo. 


Era a maneira de expressarem lealdade a Seus mandamentos. Eles foram compelidos a seguir Seu exemplo... mesmo quando isto ia contra todas as convenções religiosas de sua época.


Exatamente como o sábado tornou-se um símbolo de fidelidade incondicional? Vamos voltar na história, muitos anos antes da Sra. Traske e dos puritanos, para descobrir. Surpreendentemente, vamos descobrir que a observância do sétimo dia tem uma longa tradição.


Vamos voltar às ruínas de Roma. Vamos voltar ao mundo medieval refletido aqui nestas ruínas romanas perto da Catedral de Santo Albano, cerca de 70 quilômetros de Londres. Estas ruínas estão entre os melhores exemplos de destacamentos romanos no mundo: mostram a vastidão e crescimento do Império Romano.


No sexto século, um jovem chamado Patrick ouviu a pregação do evangelho de Cristo na província romana da Gália. Ele aceitou isto como a verdade de Deus, e foi batizado. Logo, Patrick sentiu um desejo de contar as boas novas na Irlanda, onde passara alguns anos como escravo.


A poderosa pregação bíblica de Patrick levou milhares de pessoas a ajoelharem-se diante de um novo Senhor, Jesus Cristo. Eventualmente, o filho do rei, Conall, foi batizado. Seu bisneto, Columba, tornou-se outro grande pioneiro do cristianismo. Columba, assim como Patrick, apresentou a Bíblia como único fundamento da fé, e enfatizou a bênção de obedecer aos Dez Mandamentos, que ele chamou a "Lei de Cristo."


Por volta do ano 536 A.D., Columba foi de navio até a pequena ilha de Iona, perto da costa britânica. Lá ele fundou uma escola cristã e centro missionário. Foi um dos primeiros nesta parte do mundo. Teólogos acreditam que o próprio Columba copiou à mão o Novo Testamento, pelo menos 300 vezes, em seu esforço de espalhar o evangelho. Incrível!


Este homem também concluiu algo muito interessante: que a fidelidade incondicional à Palavra de Deus significava que deveria observar o sábado bíblico. De acordo com o biógrafo de Columba, isto foi o que ele disse no leito de morte: "Verdadeiramente este dia para mim é um sábado, porque é meu último dia nesta laboriosa vida presente. Nele, após lutas e trabalho, vou guardar o sábado..."


Agora veja o que o historiador Andrew Lang escreveu sobre a igreja celta, fundada por Columba e Patrick, ele disse o seguinte: "Eles trabalhavam nos domingos, mas guardavam o sábado como está na Bíblia."


Outro historiador, chamado Moffat, escreve: "Aparentemente era comum que as igrejas celtas dos tempos antigos, na Irlanda, bem como na Escócia, guardassem o sábado... como dia de descanso do trabalho. Eles obedeciam ao quarto mandamento literalmente, no sétimo dia da semana."


A palavra "literalmente" tem muito significado. Sugere um povo que seguia exatamente as palavras de Deus. Queriam obedece-Lo literalmente. E decidiram que era mais importante seguir Seus claros mandamentos que a tradição da igreja.


A Igreja de Santa Maria, aqui em Killig Grames, lembra-nos do legado religioso da Bretanha.


Isto nos leva de volta ao tempo dos puritanos. Os puritanos tiveram suas raízes religiosas na igreja celta. Acreditavam na Palavra de Deus. Acreditavam solidamente que a Palavra de Deus deveria ser obedecida incondicionalmente, e criam que a igreja do estado precisava ser purificada, levada de volta às raízes do Novo Testamento.


Muitos conhecidos puritanos acreditavam que esta reforma da religião deveria incluir uma volta ao sábado bíblico. Gostaria de lhes contar sobre alguns deles.


Em 1662, um ministro chamado Francis Bampfield chegou à prisão de Dorchester, condenado por suas crenças não conformistas. Bampfield, na verdade tinha se tornado um dos pregadores mais conhecidos do oeste da Inglaterra. Ele era um homem intelectual, generoso e devotado. Mas nada disso importava para as autoridades. Ele tinha que conformar-se à tradição da igreja do estado.


Enquanto estava na prisão, Bampfield convenceu-se da verdade do sábado. Afinal, os puritanos enfatizavam a importância da lei moral de Deus, os Dez Mandamentos. Não fazia nenhum sentido guardar todos os mandamentos exceto o quarto. Ou seja, acreditar que era errado cometer adultério, mas desrespeitar o sábado.


É interessante notar como Bampfield tentou persuadir seus irmãos puritanos. Muitos não queriam aceitar a mensagem do sábado porque acreditavam que era uma instituição judaica. Bampfield salientou que tanto o homem quanto o sábado foram criados na mesma semana. Acontecera no Jardim do Éden; isto foi muito antes do primeiro hebreu pisar sobre a terra.


Gênesis descreve isto como o coroamento da criação. Em Gênesis 2, verso 3, a Palavra de Deus diz:


"E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera."


Como resultado de textos bíblicos claros como este, Bampfield concluiu que "Enquanto existirem as semanas, eles (isto é, a raça humana e o sábado)  continuarão a existir juntos."


Os contemporâneos de Bampfield continuavam declarando que o domingo era o dia santo dos cristãos. Mas ele não conseguia encontrar um claro exemplo de Cristo. Bampfield havia pesquisado todo o Novo Testamento mas não conseguiu encontrar evidências de que Cristo guardara qualquer dia da semana exceto o sétimo dia.


Outro dissidente famoso que ficou convencido do sábado foi Theophilus Brabourne. Ele era pastor de uma igreja em 1650, que guardava o sábado. Brabourne tinha uma resposta para aqueles que rejeitavam o sábado. 


Uma resposta aos que diziam que isto era uma volta ao judaísmo. Ele lhes perguntava: "Vocês rejeitariam o evangelho porque foi primeiramente anunciado aos judeus? Então porque rejeitam o sábado porque foi dado primeiro aos judeus?


Os oponentes de Brabourne argumentavam que o sábado fora eliminado em favor do primeiro dia, para honrar a ressurreição de Cristo. Mas Brabourne indicava algo que Jesus dissera pouco antes de subir ao céu. Ele alertou os discípulos sobre um tempo em que teriam que fugir por causa de perseguições, e disse em Mateus, capítulo 24, verso 20: "Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado."


Brabourne só podia concluir que Cristo acreditava que Seus seguidores estariam observando o mesmo dia que Ele observara. Ele escreveu: "Cristo permitiu que o sábado fosse uma ordenança cristã na igreja de todos os tempos do evangelho após Sua morte..."


Muitos sabatistas foram acusados de legalismo, de voltarem ao cerimonial da lei. Mas Brabourne declarou que guardar o sábado, o sétimo dia, não era mais legalista que guardar o domingo, primeiro dia da semana. Era possível observar um ou outro sábado ou o domingo, pelas razões erradas.


O que estes devotos puritanos acreditavam era que a fidelidade a Cristo,significava fidelidade ao dia que Ele mesmo criara e santificara. O dia que guardara. O dia em que adorara a Deus. O sábado era um símbolo de sua fidelidade incondicional a Ele. Estavam dispostos a ir contra as tradições da igreja, se isto fosse necessário.


As autoridades da igreja não simpatizaram com estas pessoas que se recusavam a submeter-se às convenções religiosas. O povo da época achava que tais não conformistas eram uma terrível ameaça para a sociedade.


Foi por isto que a Sra. Traske morreu na prisão. Foi por isto que outros sabatistas foram presos. E foi por isto que um homem chamado John James foi arrastado do púlpito num determinado sábado.


John James era um líder espiritual. Ele estabeleceu a Igreja Batista do Sétimo Dia em Whitechapel, em Londres. Podemos imaginar como era, comparando com esta aqui, a igreja de São Michaelis, ao norte de Londres. Foi fundada exatamente no mesmo período: anos 60 do século 17.


Num dia de sábado, 19 de outubro de 1661, durante o sermão de James, os oficiais da lei entraram na igreja, interrompendo o culto, e exigindo que o pregador saísse do púlpito.


James, entretanto, queria terminar seu sermão. Ele deve ter imaginado que seria seu último. Os guardas imediatamente o arrastaram da plataforma e o levaram do lado de fora, acusando-o de alta traição contra o rei.


James foi levado preso à Prisão Newgate. Um mês se passou, e ele foi levado perante os juizes de Westminster. O tribunal o condenou, sem evidências palpáveis, por tentar um golpe político, e por insultar o rei. Ele foi sentenciado ao enforcamento.


No dia 26 de novembro de 1661, o Pastor John James foi amarrado a um trenó e arrastado pelas ruas até o local de execução, em Tyburn.  Enquanto o carrasco preparava tudo, James começou a falar à multidão que juntara-se ali. Eles nunca mais esqueceriam suas palavras.


Ele falou com poder sobre sua esperança em Cristo; depois orou fervorosamente por todos os que estavam ali. Não havia qualquer traço de arrogância nele. As testemunhas mais tarde lembraram de quão gentis e amorosas pareciam suas palavras. Pareceram mais amorosas ainda por serem ditas num local de morte.


Como muitas das pessoas anônimas que foram enterradas na Inglaterra, John James não é um personagem que se destaca na História. Ele não fundou um movimento religioso. Não redescobriu as verdade centrais do evangelho como John Wycliffe ou Martinho Lutero. Ele é apenas mais um cristão que, à sua maneira, demonstrou fidelidade incondicional a Jesus Cristo.


Eles obedeceram as palavras de Cristo. Acreditaram literalmente. Decidiram que segui-Lo significava observar o dia que Ele santificara, sem importar-se com o que diria a tradição da igreja. O sábado era uma bandeira que levantaram para proclamar fidelidade ao Único Salvador.


Por que algumas pessoas continuam firmes mesmo nos piores momentos, enquanto outras vacilam? Por que a fé de alguns prova-se inabalável enquanto a fé de outros murcha quando chegam os problemas?


Parte da resposta está nesta qualidade demonstrada tão heroicamente pela Sra. John Traske e o Pastor John James. Sua fé provou-se inabalável porque estavam decididos a oferecer a Cristo uma fidelidade a toda prova, amigo. Não haveria desculpas, nem concessões, nem ajustes na hora da prova. Estavam determinados a cumprir a Sua palavra sempre.


Todos nós precisamos deste tipo de fé inabalável em nossas vidas. Todos nós precisamos algo sólido e confiável dentro de nós, quando os ventos dos problemas começam a soprar. Gostaria que você decidisse algo agora, em seu coração. Gostaria que você decidisse quão longe está dispostos a ir com Cristo. Decida que tipo de fidelidade vai oferecer a Ele.


Quando você coloca sua confiança e fé em Jesus Cristo, faça disso uma questão de fidelidade incondicional. Por favor decida que seguirá Sua Palavra, onde quer que o leve. Vamos dar este importante passo em direção a uma fé inabalável.


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