30 O “bode emissário” é um símbolo de Cristo ou de Satanás?

Respostas Pr Alberto Timm


30 O “bode emissário” de Levítico 16 é um símbolo de Cristo ou de Satanás?


por Alberto R. Timm


Uma análise detida de Levítico 16, à luz da tradição judaica, revela que o “bode emissário” (hebraico Azazel) é um símbolo de Satanás (e não de Cristo). 


Essa identificação é sugerida por Levítico 16:8, onde o bode “para Azazel” é mencionado em oposição ao bode “para o Senhor” (Bíblia de Jerusalém), e confirmada pela literatura pseudoepígrafa, onde Azazel é consistentemente descrito como um ser demoníaco e líder das forças do mal (I Enoque 8:1; 9:6; 10:4-8; 13:1; 54:5 e 6; 55:4; 69:2; Apocalipse de Abraão 13:6-14; 14:4-6; 20:5-7; 22:5; 23:11; 29:6 e 7; 31:5). 


Mesmo não aceitando essa literatura como inspirada, é interessante notarmos que I Enoque 54:4-6 fala sobre o futuro aprisionamento dos “exércitos de Azazel”, para serem lançados na fornalha de fogo do “grande dia do juízo”, em termos muito semelhantes ao relato do aprisionamento e castigo final de “Satanás” mencionado em Apocalipse 20.


Não é sem motivo que, de acordo com A. E. Cundall, “a maioria dos eruditos aceita que Azazel é o líder dos espíritos maus do deserto” (The Zondevon Pictorial Encyclopedia of the Bible, vol. 1, p. 426).


Embora, em sentido amplo, o próprio dia em que era realizada a purificação anual do santuário fosse chamado de “Dia da Expiação” (Levítico 23:27 e 28) e o “bode emissário” ser considerado como parte do abarcante processo expiatório (Levítico 16:10), não podemos atribuir a esse bode prerrogativas salvíficas e nem considerá-lo uma espécie de co-redentor com o outro bode. Levítico 16 é claro em afirmar 


(1) que uma expiação prévia por Arão “e pela sua casa” era efetuada pelo sacrifício de um “novilho” e pela aspersão do seu sangue (versos 11-14); 


(2) que a “expiação pelo santuário” era realizada pelo sacrifício do “bode da oferta pelo pecado” e pela aspersão do seu sangue (versos 15-19); 


(3) que o cerimonial envolvendo o bode emissário só iniciava após o término da “expiação pelo santuário, pela tenda da congregação e pelo altar” (versos 20-22); e 


(4) que outra “expiação” específica pelo sumo sacerdote “e pelo povo” ocorria através do oferecimento de holocaustos, após o bode emissário ser libertado vivo no deserto (versos 23-25). 


Uma vez que a expiação pelo pecado só ocorria através do “derramamento de sangue” (Hebreus 9:22; Levítico 17:11), e que o bode emissário não era sacrificado (Levítico 16:21 e 22), cremos que a função desse bode era simbolicamente punitiva e não redentiva.


Por outro lado, pretender que o “bode emissário” é um símbolo de Cristo significa desconhecer as funções distintas dos dois bodes mencionados em Levítico 16, bem como atribuir características nitidamente demoníacas a Cristo. 


Não podemos jamais esquecer de que Cristo é descrito nas Escrituras como havendo sido feito “pecado” apenas pelos seres humanos (I Coríntios 5:21), mas nunca por Satanás ou por qualquer dos demais anjos caídos (João 14:30; Judas 6).


Fonte: Sinais dos Tempos, outubro de 1998. p. 29 (usado com permissão)


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