Muitas pessoas dizem que não precisam mais guardar a lei porque está escrito em Lucas 16:16 o seguinte:
“A Lei e os Profetas duraram até João”.
Como explicar esse verso?
No Novo Testamento, um dos textos que tem sido tema para muitas discussões é Lucas 16:16, que aparece na tradução de Almeida Revista e Corrigida: “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele”.
Esta frase pronunciada há quase dois mil anos, retirada do seu contexto, tem sido usada por alguns comentaristas, como uma das principais provas bíblicas, da abolição dos 10 Mandamentos com Cristo. Nada existe neste texto, que possa ser usado como prova da anulação da eterna, santa e imutável lei de Deus.
O contexto da passagem de Lucas 16:16 nos indica, que Cristo usou este verso num diálogo com os fariseus, que estavam ridicularizando ou minimizando as sublimes características messiânicas de Jesus. Foi para estes fariseus que Cristo declarou:
“A lei e os profetas vigoraram até João”, em outras palavras, eles ouviram a declaração do Mestre do cumprimento da lei e dos profetas em João.
Sua tradução literal será: A lei e os profetas até João.
Como ponto de partida para a boa compreensão deste verso, é necessário saber que as palavras “duraram”, “vigoraram” ou “existiram”, que aparecem em algumas versões não se encontraram no original. Um destes sinônimos foi introduzido como um acréscimo ou recurso usado pelo tradutor para complementação do sentido. Observe bem que na tradução de Almeida Revista e Corrigida “duraram” aparece em negrito, como prova de que não se encontra no grego.
Para uma adequada compreensão do seu sentido a passagem paralela de Mateus 11:13 deve ser colocada ao lado desta, porque diz a mesma coisa, mas com muito mais clareza. “Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João”.
Mateus nos esclarece de que Lucas jamais pretendeu declarar que a lei e os profetas terminaram nos dias de João, mas simplesmente afirma que eles profetizaram até aquele tempo a respeito de Cristo.
A Bíblia está repleta de provas de que a lei e os profetas continuaram depois de João.
1ª) A Lei
Como poderia o Senhor estar afirmando em Lucas 16:16 que a lei fora suprimida se no verso seguinte declara em alto e bom som:
“E é mais fácil passar o céu e a terra, do que cair um til sequer da lei”.
Mateus nos informa da lealdade de Cristo à lei:
“Não cuideis que vim destruir a lei e os profetas”. Mateus 5:17.
Na sua palestra com o jovem rico, nosso Salvador o advertiu:
“... Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos”.
2ª) Os Profetas
A Bíblia fala de muitos profetas nos tempos apostólicos.
Atos 2:17-18 “... e profetizarão”.
Atos 19:6 “... e ... profetizavam”.
Atos 21:7-9 “Filipe tinha quatro filhas donzelas, que profetizavam”.
I Cor. 14:29 “Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem”.
Nem Mateus nem Lucas estão discutindo os Dez Mandamentos.
Pelo contexto sabemos que muitos dos judeus eram descrentes da missão e do caráter de Cristo e do seu precursor.
Afirmavam sua crença em Moisés e em todos os profetas. Cristo procurou insistentemente provar-lhes que ele era aquele de quem os profetas falavam e que o reino de Deus lhes estava sendo pregado através de João Batista.
“A Lei e os Profetas” são escritos do Velho Testamento.
“Até João” – Esse João é João Batista.
“Até a pregação do “reino de Deus” por João, os sagrados escritos do Velho Testamento constituíam a orientação primária do homem para a Salvação.
A palavra “até” de maneira nenhuma implica que “a lei e os profetas”, as Escrituras do Velho Testamento, de algum modo perdeu seu valor ou força quando João começou a pregar. O que Jesus quer dizer aqui é que até o ministério de João “a lei e os profetas” eram tudo o que os homens tinham. Veio o evangelho, não para substituir ou anular o que Moisés e os profetas tinham escrito, mas antes suplementar, reforçar, confirmar aqueles escritos (vide Mat. 5:17-19). O evangelho não toma o lugar do Velho Testamento, mas é adicionado a ele.
No Sermão da Montanha Jesus deixou claro que Seus ensinos de modo algum punham de lado os do Velho Testamento. Ele declarou enfaticamente que não veio tirar das Escrituras do Velho Testamento o menor “jota” ou “til” (vide Mat. 5:18).
De conformidade com os ensinos de Cristo, a analogia das Escrituras, a comparação de passagens paralelas, e o contexto do verso, a única conclusão a que se chega é:
Uma melhor tradução da passagem seria: A lei e os profetas foram pregados até João.
À luz do que nos ensina claramente a Palavra de Deus, e apoiado no testemunho de abalizados comentaristas podemos concluir, sem nenhuma dúvida, que a lei de Deus permanece como disse Barclay: “inalterada e inalterável”.
A Lei dos Dez Mandamentos representa o caráter de Deus, portanto é tão eterna quanto Ele próprio. A afirmação de que o Velho Testamento foi proscrito juntamente com os profetas, nem encontra base nos ensinamentos de Cristo, nem nas declarações dos escritores do Novo Testamento. Veja Atos 26:22; 28:23.