Inventaram os jeovistas uma doutrina extravagante a respeito do sábado que tendo, segundo eles, a duração de 7.000 anos a partir do sexto dia da Criação, está em plena vigência, ainda não terminou.
Pretendem que o "'repouso de Deus" haja começado há mais de 4.000 anos antes de Cristo. Nos dias de Davi – afirmam – já haviam decorrido 3.000 anos.
Presentemente decorreram praticamente 6.000 anos do sábado da Criação, e antes de 1984* ferir-se-á o dantesco Armagedom, e terá início o milênio de Cristo, que serão os 1.000 anos finais, engavetados nos mesmos 7.000 anos de duração do sábado.
Qual o fundamento destas ilações tão descabidas? Não há nenhum fundamento sério, a não ser que isto vem a calhar com sua esdrúxula escatologia. Mediante uma interpretação deformada de Heb. 3:13 a 4:11, assim dogmatizam:
a) que Deus jurou no ano 1.500 A.C, ao tempo de Josué, que os israelitas não entrariam no "repouso divino";
b) que Davi, no ano 1.077 AC fala do "repouso" como ainda não atingido;
c) e se Paulo diz que ainda resta um "repouso" para o povo de Deus, é porque ninguém ainda entrou nele. Isto quer dizer – argumentam – que o "repouso" está no futuro, e este futuro tem que ser o sábado por duas razões: primeiro porque etimologicamente significa "descanso", e segundo porque consta lá em Hebreus, cap. 4. E como o sábado semanal não calha com a interpretação, então tem que ser dado novo sentido ao sábado.
Finalmente para harmonizar tudo isto, de maneira simplista e dogmática para combinar com os acontecimentos finais, elaboraram o dogma dos dias de 7.000 anos de duração. Eureka! O sábado da Criação transcorre em nossos dias e acabará desembocando no milênio, isto é, será ele nos seus últimos mil anos o sábado antitípico do Reino de Jesus! É o sábado milenial! Torre de Vigia locuta est, causa finita est!
Estamos diante de uma tremenda falsidade!
Antes de entrarmos no mérito deste absurdo, convém ter em mente as razões apresentadas no capítulo anterior, em que pulverizamos a interpretação do "dia" de 7.000 anos, e isto é o bastante para fazer ruir por terra a tese do milênio sabático. Nem haveria necessidade de existir este capítulo, mas como o tema enseja interessante estudo bíblico, apresentaremos a correta interpretação de Heb. 3:13 a 4:11.
Começaremos formulando esta pergunta: Que é descanso? Sossego, tranqüilidade, repouso, alívio, afrouxamento de tensão, recriação emocional, refazimento da fadiga, despreocupação, paz, desopressão, calma, segurança, serenidade, um estada de beatitude, um estado de graça, um estado de bem-estar e de prazer íntimo, refrigério espiritual, e coisas análogas a estas.
Agora, outra pergunta: Quantos "descansos" ou "repousos"' se mencionam na Bíblia?
1. O "descanso" do dia de sábado, instituído por Deus em beneficio do homem. Não é preciso citar textos. É um descanso literal, caracterizado pela cessação dos trabalhos e preocupações da vida, e pela adoração a Deus e o exercício de atividades espirituais e benemerentes. Segundo a Bíblia é um sinal de santificação.
2. Um "descanso" acidental e histórico, de tempo indeterminado, que consistia no estabelecimento dos israelitas em Canaã. Descanso afinal após penosa e longa peregrinação; descanso dos embates com os inimigos; descanso das lutas indormidas através do deserto, sem um teto fixo e sem tranqüilidade. Eis os textos que o provam:
Deut. 3:20 – "até que o Senhor dê descanso a vossos irmãos (...) para que ocupem a terra (...) dalém da Jordão"
Deut. 12:9, 10 – "até agora não entrastes no descanso e na herança que vos dá o Senhor vosso Deus (...) Passareis o Jordão (...) e vos dará descanso de todas os vossos inimigos, e morareis seguros".
Jos. 21:44 – falando da geração nascida no deserto, que entrou em Canaã: "O Senhor lhes deu repouso (. .)".
Jos. 23:1 – "passado muito tempo depois que o Senhor dera repouso a Israel (...) e sendo Josué já velho (...)".
Atente-se bem para o fato de que esse "repouso" é denominado "repouso (...) de Deus" em Deut. 12:9. A geração rebelde que saiu do Egito NÃO ENTROU nesse "repouso" (...) de Deus. Repouso e herança que Deus lhes daria como os deu aos outros.
Em Sal. 95:11 Davi reporta-se a este fato (e não a um sábado esdrúxulo de 7.000 anos que no seu tempo já estaria pela metade). Leia-se o contexto do salmo, e ver-se-á que a referência é ao repouso literal dos israelitas em Canaã. Contudo – e este é o ponto alto deste assunto – no mesmo salmo, versículos 7 e 8, Davi faz aos israelitas de seus dias um apelo para que entrem num OUTRO DESCANSO, num descanso espiritual com Deus. É o que veremos no item que segue:
3. Há um "descanso espiritual", especial, que Deus proveu para Seu povo. Originalmente, designara-o para os israelitas como Nação. Consistia esse descanso numa condição de Israel, como povo escolhido, integrar-se na graça divina, cumprir a missão de ser a luz para o mundo, identificar-se com Deus, levar a salvação de Jeová aos demais povos. Israel, caiu na modorra espiritual, não cumprira esta parte, desdenhara esta gloriosa missão, e assim não entrara neste "descanso" divino nos dias de Josué. Mesmo nos dias de Davi não haviam entrado neste singular descanso, e então, o salmista reformula o convite para que o façam naquela ocasião. É o tema do Salmo 95. Mas ao longo de sua história, Israel foi uma reiterada rebeldia e, assim como Deus impedira a geração rebelde de Cades-Barnéia de entrar na Canaã literal, também não lhes permitiu mais desempenharem o papel de povo escolhido. "O reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos". S. Mat. 21:43.
Por intermédio de Davi, com a mensagem "Hoje se ouvirdes a Sua voz não endureçais os vossos corações". Deus renovou o convite a Seu povo. Inutilmente, porém. O povo não correspondeu, o que prova o fracasso de Israel em entrar no "descanso espiritual", tanto nos dias de Josué como posteriormente. Contudo mesmo nos dias de Davi Deus ainda não desistira de Seu propósito com Israel COMO NAÇÃO. Josué, é óbvio, não dera a Israel o "descanso" espiritual. Dera-lhe apenas o descanso do êxodo, ou seja o estabelecimento na terra, da geração nascida no deserto.
Deus não muda. Quando Se propõe a realizar uma coisa, ELE A REALIZA, a despeito dos fracassos humanos. O convite e a promessa divinos não deixam de estar em vigor, e uma vez que o então chamado "povo de Deus" (Israel) não entrou no Seu "descanso", logicamente "RESTA UM REPOUSO PARA O POVO DE DEUS" (Heb. 4:9), e este povo são os cristãos. A conclusão do autor da carta aos Hebreus é a de que os cristãos podem entrar nesse "repouso", porque podem "chegar confiantemente ao trono da graça" (Heb. 4:16) onde Cristo ministra como "o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão" (Heb. 3:1). Eles acharão Alguém que se compadece deles e lhes dá socorro em tempo oportuno. Fazendo isso, entrarão como um povo, no "descanso de Deus", tornam-se Sua propriedade particular, povo escolhido, nação eleita, sacerdócio real. É a conclusão no final do capítulo 4, e isto significa que a experiência que os israelitas deixaram de ter há séculos, torna-se hoje privilégio dos cristãos fiéis (Heb. 3:13, 15).
Esse "descanso espiritual" opera-se em pleno reino da graça, e se obtém pela fé (Heb. 4:2). É o refrigério da alma rendida a Cristo, regozijando-se na salvação. O "descanso" no qual tanto os cristãos como os judeus conversos entram hoje é o mesmo "descanso espiritual" no qual Deus convidou o antigo Israel a entrar, como nação. É a alma integrar-se no eterno propósito de Deus. Eis os textos que o confirmam:
Êxo. 34:14 – "(...) a Minha presença irá contigo, e Eu te darei descanso".
Sal. 91:1 – "(...) à sombra do Onipotente descansará".
Isa. 30:15 – "Em vos converterdes e em terdes descanso está a vossa salvação".
Jer. 6:16 – "(...) Perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas".
S. Mat. 11:29 - "(...) aprendei de Mim (...) e achareis DESCANSO para as vossas almas".
Bem, depois destas definições que a própria Bíblia estabelece, a que "descanso" se referem Heb. 3 e 4? A este último descanso, o "descanso espiritual de Deus". Contudo, os outros dois "descansos" são também mencionados para uma comparação. A esta altura, bastará ao leitor ler, com isenção de ânimo, os capítulos 3 e 4 da carta aos Hebreus, e ficará surpreendido de ver como tudo parece claro e lógico.
Segundo a Bíblia, o sábado da Criação (não os descansos festivais), de modo algum é "sombra de coisas futuras", nem do milênio. Segundo a Bíblia, o sábado é memorial de um fato passado: a Criação. O mandamento que nos lembra a sua observância reporta-se aos dias da Criação, e ao sétimo dia que foi o "descanso", fato consumado no passado.
Segundo a Bíblia, o milênio é passado no Céu, e no seu transcurso se processa o julgamento dos ímpios. Só depois desce a Nova Jerusalém.
Prova? Lemos em Apoc. 20:4: "nos tronos" "assentaram-se os que têm autoridade de julgar". Quem são eles? Esclarece Paulo: "os santos hão de julgar o mundo". (I Cor. 6:2, 3). "Viveram e reinaram com Cristo durante mil anos". Apoc. 20:4. Isto só pode ser no Céu, pois para lá Cristo levou os santos, quando de Sua segunda vinda. "Quando Eu vier vos levarei para Mim mesmo". (S. João 14:3). Mais claro ainda é João na sua visão: "(...) olhei, e eis a multidão (...) estavam diante do trono, e perante o Cordeiro" (Apoc. 7:9), e o contexto, especialmente os versos 11 e 15 confirmam que estavam no Céu. Basta ler! O trono está no Céu. Apoc. 4:2, 5, 6. Outros tronos também lá foram vistos. Apoc. 4:4. O trono branco e o julgamento são mencionadas no Céu também em Apoc. 20:11. E só em Apoc. 21:2, depois de acabado o julgamento ocorrido durante o milênio é que se menciona a descida da Nova Jerusalém.
O "descanso" referido em Hebreus, caps. 3 e 4 não tem a mais remota ligação com o sábado, nem com um período de 7.000 anos, e muito menos com o milênio. Nada tem de escatológico.
Na verdade, o autor da carta aos Hebreus (cap. 4, verso 4 menciona o sétimo dia, o repouso da Criação, mas apenas como uma comparação com o "descanso"' no qual Deus quer que os cristãos entrem. É aí empregado para ilustrar. O dia sétimo da Criação foi o repouso de Deus e do homem. Visava mais o refrigério espiritual do homem, pois em seu benefício fora instituído. "O sábado foi FEITO por causa do homem", para seu bem-estar, para sua restauração física e espiritual. Sábado no original significa "descanso". NADA MAIS ADEQUADO à comparação ou à ilustração de um "repouso" do que o sábado, e no caso vertente, é de fato uma ilustração. O "descanso" é um refrigério espiritual.
Alguns procuram explorar o fato de o apóstolo ter empregado duas palavras gregas diferentes para designar "descanso": "katapausis" e "sabbatismos" (essa só ocorre em Heb. 4:9), mas o argumento não colhe, pois o que decide o sentido é a contexto, e ambas estas palavras são aí empregadas sinonimamente. Ambas dizem apenas "descanso".
Prova? Basta a leitura corrente dos textos.
a) Visto como Josué não pôde levar Israel a entrar no "descanso" espiritual ("katapausis", v. 8), resta para os cristãos um "descanso" ("sabbatismos" v. 9). A coerência exige que O QUE RESTA seja a mesma coisa que havia no princípio. Como de início não se tratara da descanso sabático, também a questão do "descanso" hoje não é a do descanso sabático. Muito menos de um sábado milenial, pois ele não estava na cogitação de Josué nem de Davi.
b) Tendo como contexto as versos 1 e 6 do cap. 4 de Hebreus, a conclusão é que o descanso que resta é um "katapausis", porque afirmar que o que resta para o "povo de Deus" é o sábado milenial, eqüivale a afirmar que Josué não conseguiu introduzir Israel ao sábado milenial!!! Absurdo! E acrescentamos: esse "descanso espiritual" ou "descanso de Deus" ao qual Josué não conseguiu levar o povo de Deus (na época os israelitas), é um "descanso" NO QUAL O POVO PODIA TER ENTRADO NAQUELE TEMPO. Não o fez por razões óbvias, por rebeldia espiritual, a ponto de o próprio Deus os impedir finamente de entrar. Nada de milenial.
c) Nos dias paulinos, o convite é ainda reformulado aos cristãos, vindos do judaísmo. Releva notar que a "Carta aos Hebreus" fora sem dúvida dirigida aos hebreus, aos judeus, aos israelitas nos tempos apostólicos, e seu autor não iria dizer-lhes que ainda resta um sábado para ser guardado. Ele próprio nos dá indicação clara de como entraremos no "descanso de Deus". Entramos nele:
quando "consideramos" Jesus (3:1)
quando "ouvimos a Sua voz" (3:7, 15; 4:7)
quando "expressamos fé nEle" (4:2, 3)
quando abandonamos nossos esforços para ganhar a salvação, "descansando das obras" (v. 10)
quando "retemos nossa confissão" (v. 14)
quando "nos aproximamos do trono da graça" (v. 16).
Ah, o bendito "descanso de Deus"! Ele se processa aqui, em pleno reino da graça, e não no reino da glória. Lá será o gozo permanente da vida eterna. Paulo entrou nesse '"descanso" e, sentindo-o, exclamou: "vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Todas as almas que fizeram seu concerto com Deus, em sinceridade e integridade, entraram nesse descanso. Todos quantos entram nesse descanso serão arrebatados quando Jesus voltar na Sua apoteose de glória e poder!
* Presentemente a data á 1975. [Hoje, ano 2000, já passou a data deles. – Nota do digitador.]