20 SERIA O SÁBADO CERIMONIAL?

SUBTILEZAS DO ERRO


VAMOS pulverizar a segunda tese anti-sabática alinhada pelo autor. Quem lhe disse que o quarto mandamento do decálogo tem uma parte moral e outra cerimonial? Sem dúvida, foi Canright no Seventh-Day Adventism Renounced, pág. 166. Portanto, invenção humana e de origem suspeita. Conclusão leviana, improvável e absurda. A Bíblia nem sequer poderia sugerir coisa tão absurda: um mandamento de natureza dúplice. 


Além disso, seria ignorar elementarmente a razão de ser de um mandamento cerimonial. É primário que todos os preceitos cerimoniais foram introduzidas após a Queda do homem, como sombras que apontavam para a Redenção, ou a restauração do homem em sua glória original. 

Ora, se o sábado tivesse algum traço cerimonial, certamente teria ele sido estabelecido após a entrada do pecado no mundo e forçosamente seria um tipo de Cristo em algum sentido. Teria que ver com a expiação. Isto já liqüida a pretensão de atribuir-se ao sábado qualquer caráter cerimonial. 


Por que, então é moral? Simplesmente porque, quando foi feita (S. Mar. 2:27) o foi no ambiente da original perfeição edênica, em que o homem, sem a jaça do pecado, privava com o seu Pai celestial. Somente apôs a queda, precisou ser instituído o cerimonialismo, para tipificar o Redentor do homem caído, o Remédio para o pecado, mas quando se instituiu o sábado, não havia necessidade de Redentor nem de coisa alguma que O tipificasse. À vista desta verdade, o sábado do Decálogo não tem nenhum sentido cerimonial. É INTEGRALMENTE MORAL. 

O estudioso Adam Clarke, numa profunda análise dos preceitos do decálogo, assim remata: 

"É digno de nota que nenhum destes mandamentos, OU PARTE DELES, pode... ser considerado cerimonial. Todos são morais e, conseqüentemente, de eterna obrigação." (1) (Grifos e versais nossos). 

O erudito comentador batista Broadus também defende a moralidade do sábado nestas palavras: 

"O sábado parece ter sida ordenado aos nossos pais logo que foram criados; e juntamente com a instituição do casamento constituem as únicas relíquias que nos restam da vida sem pecado no Paraíso. O mandamento de santificá-lo foi incluído entre os Dez Mandamentos, a LEI MORAL, que é de obrigação perpétua." (2) (Grifos nossos). 

E também Strong – o príncipe dos teólogos batistas – é incisivo: "O sábado é de obrigação perpétua.... A sua instituição antedata a Decálogo e forma uma parte DA LEI MORAL." (3) (versais nossos). 

Tenhamos presentes mais os seguintes fatos: 

a) Sábados cerimoniais, como ficou demonstrado num capítulo anterior, eram os dias anuais de festa judaica e que de modo algum podiam ser confundidos com o sábado do sétimo dia. Este não tem o menor resquício cerimonial; é moral em sua integridade. Não há nele o hibridismo pretendido pelo oponente; não é feriado judaico. 

b) O sábado, como foi dito e reiteramos, antedata o pecado e fora dado antes da Queda, portanto antes que o homem necessitasse de Redenção. Por conseguinte, nada tem de típico e não aponta para a expiação. Se não tivesse havido a tragédia da Queda, o que aconteceria com o sábado? Continuaria a ser observado pelo homem no Éden, com o privilégio da companhia de Deus. Mas não há dúvida que continuaria a ser observado. E tanto isto é verdade que, na Restauração de todas as coisas quando enfim a maldição for removida desta Terra e tudo voltar à prístina pureza edênica e o homem à glória original, o sábado continuará a ser observado e para sempre, segundo lemos em Isa. 66:22. Portanto, o sábado é a única instituição que associa os três fundamentos basilares da fé cristã: Criação, Queda e Redenção. E adiante voltaremos a considerar este texto para demonstrar as arengas cavilosas do autor em relação às luas novas. 

c) O sábado – como todos os preceitos morais – aplica-se igualmente a todas as nações, terras e tempos, pois todas as leis morais são de aplicação universal, não se restringem a um povo e não sofrem mudança por nenhumas circunstâncias. Por isso, é moral. 

d) Deveres morais são os que emanam dos atributos de Deus. O poder criador é um atributo divino, um atributo distinto e exclusivo do Deus vivo, e o sábado emana diretamente deste atributo na Criação do mundo. É, pois, um preceito nitidamente moral. Pode-se acrescentar que o dever de o homem amar e obedecer a Deus repousa principalmente no fato de que o Senhor criou todas as coisas, e o sábado é um memorial deste fato, trazendo sempre a consciência deste fato. Outro dia não poderia fazê-lo, pois não teria este característico, este sentido e esta finalidade. O sábado é totalmente e inequivocamente moral. 

e) A natureza do homem – física e mental – requer precisamente tal dia de repouso como o preceito do sábado exige, em consonância com o bem-estar moral e espiritual da criatura. Esta necessidade humana foi prevista e provida por Deus mesmo, associada ao culto, à reverência e à adoração. Por isso, o sábado é UM DEVER DO HOMEM PARA COM DEUS, como os demais preceitos que constam da primeira tábua do decálogo. Porém a moralidade do sábado reside precipuamente na relação do mandamento com o reside ato criativo de Deus e isto não pode ser preenchido por qualquer outro dia. A bênção colocada no dia do sábado jamais foi dele removida. É um mandamento moral. 

f) O casamento é uma instituição moral, defendida pelo sétimo mandamento. A instituição do sábado, tendo sido feita ao mesmo tempo, pela mesma Autoridade, para as mesmas pessoas e da mesma maneira, é logicamente moral, pelas mesmas razões. 

g) O próprio fato de Deus ter posto o mandamento do sábado no coração do decálogo – conhecido como o sumário de toda a lei moral –mostra inquestionavelmente o caráter moral do preceito. Fosse ele cerimonial, no todo ou em parte, não seria esculpido nas tábuas de pedra, mas sim escrito no livro de Moisés que continha todo o preceituário cerimonial judaico.  

h) Cristo mesmo diferenciou o sábado, de qualquer preceito cerimonial, quando declarou: "Se o homem recebe a circuncisão (rito cerimonial) no sábado (mandamento moral) para que a lei de Moisés (cerimonial) não seja quebrantada, indignais-vos contra Mim porque no sábado (mandamento moral) curei de todo um homem?" S. João 7:23. (Parêntesis e grifos nossos, para esclarecimento). 

Não tivesse o sábado o seu caráter exclusivamente moral, inconfundível, Cristo não teria o cuidado de dissociá-lo de práticas cerimoniais como a circuncisão, no caso em foco. Paulo também distingue preceito cerimonial, da lei moral quando diz: "A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus." 1 Cor. 7:19. Embora aludindo aos judeus e não judeus, ou aos que queriam impor o rito aos neoconversos na igreja nascente, Paulo distingue os mandamentos de Deus, de qualquer prática judaica. 

i) O sábado não pertence ao sistema expiatório, portanto não é cerimonial. 

É uma temeridade afirmar que o sábado tenha uma parte cerimonial e que esta era o "sétimo dia.". E temeridade maior é supor que a parte moral consistia simplesmente na guarda de um dia em sete. Arenga o opositor: "Para se conseguir isto qualquer dia daria o mesmo resultado."..."Pode-se mudar este dia por um outro...." 

Parece incrível que um ensinador religioso sustente a tese da anarquia divina que coloca sob o critério do homem a escolha de seu dia em sete. É ser mais realista do que o Rei. É inverter a ordem das coisas, para justificar o pecado. A Escritura não confere tais poderes ao homem. 

Desmantelemos agora o sofisma antibíblico, demonstrando claramente que "o sétimo dia" significa um dia ESPECÍFICO e não simplesmente "um dia em sete," o que seria genérico. 

a) Afirmar que o sábado significa "um dia em sete" é estabelecer a anarquia divina, como se Deus subordinasse ao critério de Suas criaturas frágeis e pecadoras, indignas e mortais, guardarem o seu dia, o dia que melhor atendesse às suas conveniências. Ora, isto é monstruoso, sem sentido, sem objetivo. Qual seria o sentido de um filho de Deus guardar uma terça-feira por exemplo? A teoria beócia da guarda de um dia em sete só tem um objetivo: justificar a guarda do "dia do Sol" dos pagãos, que a cristandade recebeu do paganismo que se infiltrava na igreja, nos primeiros séculos da nossa era. 

b) Se o que vale é "um dia em sete," porque os oponentes se agarram à observância do primeiro dia da semana, e irritam-se tanto com os adventistas do sétimo dia? 

c) A semana originou-se na Criação. Pois bem, naquela primeira semana do mundo, o sábado era apenas um dia em sete ou era o específico "sétimo dia?" Era o sétimo dia, a partir do primeiro, na ordem natural dos eventos da criação. Por que razão ele se tornaria menos específico e deixaria de ser o sétimo, na exata ordem, na sucessão das semanas, dos anos e dos séculos? Por que não o seria hoje? 

d) O quarto mandamento remete o leitor à semana da Criação (Êxo. 20:11), na qual o descanso foi no sétimo dia. Deus não repousou simplesmente num dia em sete, mas no sétimo dia. 

e) O tríplice milagre da queda do maná, no deserto ilustra bem o caráter original e não cardinal do sábado. Quando os israelitas foram colhê-lo no sétimo dia da semana, foram repreendidos, porque não se tratava de um dia em sete. Quando um homem transgrediu o mandamento, e foi colher lenha no sétimo dia, foi apedrejado e morto. Núm. 15:32-36. Ele o seria se o fizesse em qualquer dia em sete? Não, porque o mandamento é específico, e não genérico. Quando alguns ex-cativos de Babilônia profanavam o sábado, trazendo cargas para dentro de Jerusalém, foram denunciados e amaldiçoados e repreendidos energicamente por Neemias (Neem. 13.) Seriam amaldiçoados, se tivessem transgredido um dia em sete? Por certo que não. Haveria toda a tolerância, pois o "espírito" do preceito teria sido aceito com a guarda de um dia em sete. Era o glorioso "sétimo dia" que estava em vigor e movia o zelo dos profetas. Estes somente podiam apontar o quarto mandamento para basear as suas ardentes e ríspidas advertências para ser santificado o sétimo dia da semana. 

Sim, estes homens inspirados por Deus ENTENDERAM o "sétimo dia" do mandamento como sendo específico, ordinal, certo, inconfundível. Os pretensos teólogos dos nossos dias desejam discrepar dos profetas em interpretar com exatidão a significação dos mandamentos de Deus. Ora, não é parte do santo trabalho dos profetas esclarecer as nossas mentes sobre o sentido dos preceitos divinos? Acatemo-los, então. 

f) Todos crêem – inclusive os nossos amigos batistas – que nosso Senhor passou no sepulcro o sétimo dia da semana. E como o evangelista Lucas descreve esse dia mais de trinta anos depois da ressurreição do Mestre? Chamando-o de "o sábado conforme o mandamento" S. Luc. 24:56. Esta afirmação inspirada é suficiente por si para liqüidar a questão sobre o que quer dizer o mandamento, aliás o quarto, quando estabelece: "o sétimo dia é o sábado". Quer dizer que é o sétimo mesmo, específico, ordinal, sem dubiedades. Nada de "um dia em sete." 

g) Reconhecem os adversários que, os que viveram antes de Cristo, por força do quarto mandamento, guardavam o sétimo dia da semana. Damos um doce a quem nos provar que, até àquele tempo, alguém supunha que o mandamento permitisse a guarda de um dia em sete. O sábado era claro, exato, inquestionável quanto ao dia. Então seria racional admitir que, quando Cristo veio, aquele claro e inquestionável sentido do mandamento, se tornou de repente, vago, impreciso, não específico, duvidoso, genérico, passando a significar meramente "um dia em sete"? 

h) A própria frase "o sétimo" é clara e ordinal. O artigo definido "o" não deixa margem a dúvidas. Se dissermos a um amigo que moramos na sétima casa do quarteirão, que diríamos se ele nos procurasse na primeira casa? Se uma pessoa der sete passos, porventura começará do segundo? Se o que vale é um dia em sete, então os muçulmanos estão certos observando a sexta-feira. E se se procura justificar a guarda do primeiro dia, julgando ser a ressurreição de Cristo um grande evento, outros, com bem fundadas razões poderiam julgar a crucificação o maior evento do cristianismo, pais pelo Seu sangue ali derramado fomos salvos, e assim passariam a guardar a sexta-feira. Que diríamos do Natal, como evento de importância? Sem ele, não haveria o Cristo nem a Redenção! Posta nestes termos a questão do dia de guarda, ficaria na dependência de se comemorar eventos importantes segundo o arbítrio dos homens. Felizmente, o dia de guarda é coisa determinada por Deus. 

E, para finalizar, uma importante revelação. Esta esdrúxula interpretação de "um dia em sete," a par com a não menos esdrúxula denominação de "sábado cristão" aplicada ao domingo, surgiu em 1595 A. D. quando a questão do dia de guarda agitava a Inglaterra, provocando acesos debates entre os teólogos protestantes. E, segundo lemos em The Creeds of Christendom, de Philip Schaff, cap. 21, Vol. 1, pág. 762, foi NICHOLAS BOWND que, naquele ano, pela primeira vez, estabeleceu a tese de "um dia em sete." Ora, isto é importante. Quer dizer que ninguém ao tempo de Cristo ou por quase 1.000 anos depois pensou em fazer tão esquisita interpretação do mandamento divino!!! 

No tocante à tese de ser o sábado da Criação posto em pé de igualdade com as festas judaicas capituladas em Lev. 23, nada mais precisamos acrescentar ao que ficou dita em capítulo anterior, quando esclarecemos os sábados cerimoniais. Ali ficou pulverizada a tese em apreço. 


Referências: 


Clark's Commentary, Vol. 1, (sobre Êxo. 20). 

John A. Broadus, Comentário ao Evangelho de S. Mateus, Vol. 1, 344. 

A. H. Strong, Systematic Theology, pág. 408.