NOTA-SE em vários pontos do livro, como o autor foi enganado por Canright, ao endossar-lhe certas argumentos e informações atinentes aos adventistas e suas crenças. Algumas delas são de dar pena.
O Sábado e as Hostes Angelicais
Cita-se à pág. 59 o seguinte trecho da Sra. White: "Eu vi que o sábado nunca será removido, mas que os santos remidos, e todas as hostes angelicais o observarão por toda a eternidade em honra ao grande Criador."
Temos aqui uma das raríssimas citações exatas que o oponente faz. Efetivamente, a serva do Senhor escreveu estas palavras, e constam de fato em Spiritual Gifts, Vol. 1, pág. 113. O opositor teve, contudo, o cuidado de pôr em grifo a expressão "e todas as hostes angelicais."
Cremos nisso. Admitimos que os anjos, na nova ardem de coisas, quando a maldição for removida da Terra, compartilharão da ventura perene dos remidos, e da adoração especial periódica que estes tributarão a Deus. Notemos que no parágrafo citado o verbo está no futuro "observarão." –Sim, isto terá lugar na Nova Terra, na Nova Jerusalém.
Referindo-se à Nova Terra, dia a Bíblia: "E de mês em mês (*), e de sábado em sábado, toda a carne (toda a humanidade) virá prostrar-se perante Mim, e Me adorarão, diz o Senhor." Isa. 66:23 (Tradução do P. Matos Soares). Ali, sem dúvida, o sábado, como nos tempos edênicos, voltará a ter caráter mais brilhante, o sabor original, num ambiente puro, sem a eiva do pecado. Os anjos terão prazer nessa observância. A lei moral de Deus é imperecível, e o sábado está vinculado a ela.
O artigo "Reflexos do Decálogo" estampado no "Jornal Batista," de 6-12-1928, conclui: "Passará o mundo, mas o Decálogo ficará e no Céu ele há de ser louvado, rebrilhando os seus fulgores por entre as jerarquias angelicais resumindo o amor de Deus." (Grifos nossos.) Tudo, no entanto, se refere a um tempo futuro.
Mas o quê o autor pretende é subtilmente fazer desta declaração da Sra. White um contexto a fim de armar uma acusação contra nós. Mas perdeu o tempo e o latim, como se verá adiante.
Urias Smith e o "Mesmo Período"
E agora um fato grave. Gravíssimo! Na mesma página o oponente cita a seguinte frase atribuída ao pioneiro Urias Smith: "Nós inferimos que as ordens superiores em inteligência guardam também o sábado.... O sábado de cada uma das suas criaturas será também o de todo o resto, de maneira que todos observarão juntos o mesmo período com o mesmo propósito (Biblical Institute, pág. 145)." O acusador pôs em grifo a expressão "todos a observarão juntos," e versais em "mesmo período," que não sabemos se são do oponente ou do suposto Urias Smith.
O autor aqui constrói sua dialética sobre o vácuo, por duas razões: 1ª.) a citação é apócrifa, e 2ª.) ainda que fosse autêntica, a expressão "mesmo período" não significa necessariamente a mesma medida de tempo. O shabbath é, antes de tudo, um período sagrado de adoração e cessação de atividade, instituído por Deus. Para nós, para o mundo em que vivemos, tem ele a duração de um dia, feito para o nosso benefício, e assim nos cumpre observá-lo. O próprio Deus, o Autor da sábado, Aquela para quem não há tempo nem espaço, repousou no sábado. (Gên. 2:2.) Se o Criador o fez, por que não o poderão fazer as criaturas celestiais? E cremos que, de futuro, os remidos, com as hostes celestiais, o observarão como um período especial de adoração. Estamos, porém, vivendo no presente, e aqui ele é o inconfundível sétimo dia e tem a duração que Deus lhe deu – quer queiram ou não os seus opositores. Mas a aplicação do repouso sabático planetário no presente, corre por conta dos nossos acusadores.
Voltemos à "citação" de Urias Smith. Este piedoso servo de Deus jamais escreveu semelhante coisa, e o oponente fica na obrigação de provar o que endossa de Canright. Conhecemos toda a bibliografia de Urias Smith, que consta das seguintes obras: Daniel and Revelation, Looking Unto Jesus, Here and Hereafter, Synopsis of Present Truth, Modern Spiritualism, Smith's Diagram and Parliamentary Rules, Poem on the Sabbath, The Nature and Destiny of Man, The United States in the Prophecy, e The Sanctuary, além de uma série de folhetos sobre pontos doutrinários controvertidos. Em nenhuma destas obras ou opúsculos, e também em todas as suas colaborações no "Present Truth" e na "Review and Herald" consta este trecho.
Mas o autor de O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus, escorado no inconseqüente Canright, indica um livro-fantasma: Biblical Institute. Que livro é esse? Obra de autoria de Urias Smith com esse nome não existe. Seria, talvez, alguma coletânea de estudos bíblicos em que figurasse um trabalho daquele pioneiro? Tratar-se-ia de colaboração a alguma revista? Se o fosse, só o poderia ser em livro ou revista denominacional adventista. Uma igreja batista, por exemplo, não aceitaria num seu jornal uma colaboração que defendesse o sábado, pois o considera herético. Confessamos honestamente que jamais nos constou a existência de um livro ou revista com tal nome. Verificamos os mais antigos catálogos das nossas editoras americanas. Nada consta. Há tempos que estamos familiarizados com a literatura adventista. Jamais encontramos qualquer referência a esse livro-fantasma, ou qualquer citação dele.
A esta altura surge necessariamente a pergunta: Teria Canright inventado a existência desse livro? Não é de duvidar-se. Cesteiro que já fez um cento... Uma coisa é certa: as nossas pesquisas não lograram localizá-lo, e aqui fica a nossa dúvida, até que se nos mostre o contrário. Fica o autor na obrigação de provar a existência do hipotético Biblical Institute. Muito embora isso não faça peso algum na argumentação, pois a expressão "mesmo período" nada prova em abono da tese oposicionista.
Dessa suposta expressão de Smith quer o autor concluir que "os sabatistas crêem que o sábado é observado por todos os seres vivos em todo o universo, inclusive o próprio Deus, no mesmo período de tempo." (Grifos nossos.) Ora, isso corre por conta do autor. Jamais ensinamos esse disparate. Esta história de que cremos que o sábado é observado nos outras planetas, com uma duração exata de vinte e quatro horas é uma balela engendrada por ele. Tece extensas e fantasiosas especulações, mescladas de ironia, tudo baseado num falso pressuposto, que não cremos nem ensinamos. Consulte nossa literatura, e aponte lá algum ensinamento neste sentido!
O Sábado num Mundo Esférico
Ensinamos, com base bíblica, que o dia de repouso deve ser guardado de um a outro pôr-do-sol. Não importa que aqui no Brasil ele comece hoje às dezoito horas, nem se esse tempo não seja o mesmo num país europeu. Diz o acusador gratuito: "Quando são 6 horas da manhã no sábado aqui no Rio, no Japão são 6 horas da tarde; isto significa que, quando os sabatistas aqui se levantam no sábado para guardá-lo, já os seus irmãos japoneses o acabaram de guardar..."
Isso mesmo! Exatamente! Esta é a realidade! Precisamente o que ensinamos. E o mesmo ocorre com as dominguistas. E nós, com mais exatidão, guardamos o dia que é delimitado pelos crepúsculos vespertinos. Esta história de o "mesmo período" significar um tempo simultâneo que transcorre em todo o mando é invenção dos antiadventistas.
Diz Francis D. Nichol, acatado líder adventista, em Answers to Objections, pág. 207: "O mandamento do sábado nada diz acerca de ocorrer a guarda do dia de repouso no mesmo espaço de tempo em todos os lugares. Simplesmente ordena guardar 'o sétimo dia.' E este sétimo dia acaso não chega em todas as partes da Terra? Sim."
Diz o oponente à pág. 61: "Se dois sabatistas saírem do Rio de Janeiro, um viajando para o Leste e outro para o Oeste, guardando ambos rigorosamente o sábado, o sétimo dia, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, segundo o lugar onde cada um estiver viajando, acontece que o que viaja para o Oeste ganha um dia, e o que viaja para Leste perde um dia."
Aí está um sofisma bem urdido, que não passa da coisa engraçada. Porque se fosse verdade que o que vai para o Oeste ganha um dia, e o outro em sentido contrário perde um dia, se estes hipotéticos sabatistas fossem irmãos gêmeos e comandantes de navios, e a rota de seus respectivos vapores os abrigasse a circundar o mundo continuamente nesta direção oposta, então, depois de um certo tempo um deles estaria tão velho que poderia ser o pai do outro!!! Aí está a subtileza do erro. Essa "perda" é apenas aparente.
Diz Nichol, no citado livro: "A qualquer país que cheguemos em nossas viagens, encontramos todas as pessoas dali – cientistas, leigos, judeus, cristãos e ateus – de perfeito acordo quanto aos dias da semana.... Perguntai-lhes individual ou coletivamente, quando chega o sétimo dia da semana, e todos darão a mesma resposta. Não importa se alguém está no pólo ou no equador, nem se viaja por mar ou por terra, nem se ela se dirige para o Oriente ou para o Ocidente; o dia é certo espaço de tempo absolutamente fixo em qualquer parte da superfície da Terra."
Este "raciocínio" do oponente não resiste a mais leve análise, parque a questão não é de ganho ou perda de tempo, mas de cômputo. São as revoluções da Terra que assinalam os dias, e não o número de vezes que se viaja ao redor dela!!! Não temos nenhum prazer em assinalar ignorância tão calva, mas o fazemos por amor da verdade.
E mesmo na terra do "Sol da meia-noite," pergunte-se a um explorador dos pólos e ele achará ridícula a idéia de não ter ali noção do dia, seu começo e fim. Os exploradores árticos mantêm a exata contagem dos dias e semanas em seus diários, relatando o que fizeram em determinados dias.
Eles dizem que naquela estranha e quase desabitada terra é possível notar a passagem dos dias durante os meses em que o Sol está acima do horizonte, pelas posições variáveis Sol, e durante os meses em que o Sol está abaixo do horizonte, pela vestígio perceptível do crepúsculo vespertino. E se um sabatista se encontrasse lá no pólo, e tivesse algum receio de perder a contagem das semanas, bastar-lhe-ia dirigir-se, por exemplo, a uma missão batista entre os esquimós, e lá obteria a informação do que deseja, pois os missionários sem dúvida saberiam quando é domingo para nele realizarem sua escola dominical... Certamente que eles não perderiam o ciclo semanal!!!
E para concluir este capitulo, mencionamos a canoa mais furada em que o autor embarcou: a afirmação de Canright de que, numa reunião de pastores adventistas, em Nova York, descobriram eles que a Terra era chata e estacionária e que o sistema geocêntrico é o certo, movendo-se as estrelas ao nosso redor.
Não, leitor, não se trata de brincadeira de mau gosto. No seu inglório "vale-tudo" para desmoralizar a denominação que abandonou, Canright escreveu essa barbaridade inominável. Isto, porém, se desmantela com dois golpes: 1°.) nos tempos em que Canright esteve na Obra (até 1888) jamais houve concílio de ministros adventistas em Nova York. A sede da Obra era em Battle Creek, e ali se realizavam as assembléias de alto bordo; 2°.) entre os pioneiros adventistas havia o Pastor José Bates, ex-comandante de navio, velho lobo do mar, grande conhecedor de astronomia que, com freqüência localizava corpos celestes para fins instrutivos (Ler o The Great Advent Movement, pág. 261). Bates era um líder e exerceu grande influência no espírito dos pastores. Falecido embora em 1872, instruía seus companheiros a respeito de assuntos planetários. Ora, nem como pilhéria, os pastores que o conheceram e receberam sua influência chegariam à ridícula conclusão de que a Terra deve ser chata e estacionária.
Mais ainda: a Sra. White, em algumas visões, pôde ver algo do sistema planetário, e fez descrições interessantes. Descreveu os satélites de Júpiter e os anéis de Saturno. Descreveu a constelação do Órion. E tudo em perfeita conformidade com a Ciência. Ora, seria curial admitir que uma afirmação boçal como esta de ser a Terra "chata e estacionária" fosse feita por gente nossa? E num tempo em que a Sra. White estava viva, e produzia seus testemunhos aos ministros?
Ponderem nisto os sinceros.
*Algumas versões consignam "de uma Lua nova à outra". Refere-se à reunião mensal dos remidos ao que se crê para participarem do fruto da árvore da vida que também é "produzido de mês em mês" Apoc. 22:2.