Enviar
O próprio fato de Deus ter "enviado" o Filho prova que este era outro ser, distinto do Pai, porque ninguém envia a si próprio.
Se lermos, com espírito despreconcebido, a revelação escriturística, só podemos entender que, na ocorrência incidental do plano da salvação, o Pai enviou o Filho para ser a propiciação pelo pecado, e o Filho regressou para a glória que tinha junto do Pai antes que o mundo existisse, e após esse regresso, Ele (o Filho) enviou também o Espírito Santo com a missão de aplicar a redenção aos homens.
Contudo, este enviar, rigorosamente de acordo com o original é uma saída (gr. exelthon). Esta saída, convém acentuar bem, não foi apenas da presença de Deus (gr. apó, como está em S. João 16:30), ou da comunhão de Deus (gr. pará, como está em S. João 16:17), mas uma saída do próprio Deus (gr, ek, como está em S. João 8:42; 16:28). Afirmando que Seu lar eterno é junto de Deus, na intimidade do Ser Divino, revela que é um em substância com o Pai.
"Eu Hoje te Gerei"
Refere-se a Cristo, mas não no sentido de uma criação, ou de geração espiritual ocorrida por ocasião de Seu batismo. Notemos que as Escrituras aplicam a frase a vários eventos da vida de nosso Salvador.
1. À Sua Encarnação. Heb. 1:5 e 6. Leiam-se os versos juntos e o contexto.
2. À Sua Ressurreição. Atos 13:32 e 33. Ler junto a Rom. 1:3 e 4.
3. Ao Seu Sacerdócio. Heb. 5:5 e 6.
Convém notar que há expositores que vêem na expressão "Eu hoje Te gerei" uma aplicação clara ao Segundo Advento de Cristo. Por exemplo. N. E. Vine, Expository Dictionary of the New Testament, vol. 4, p. 49, diz:
"[Em Heb. 1:6, a palavra palin, 'novamente'] é empregada corretamente no Revised Version, que assim verte: 'Quando Ele novamente introduzir o Primogênito no mundo'. Isto aponta para o Seu Segundo Advento, que é posto em contraste com o primeiro quando Deus pela primeira vez manifestou Seu Primogênito ao mundo".
Aliás, Rotherham, tradutor muito citado pelos jeovistas, assim transpõe Heb. 1:6: "Mas quando quer Ele introduzir novamente o Primogênito na Terra habitável".
E Weymouth assim verte o mesmo passo:
"Mas falando de um tempo em que Ele mais uma vez manifestar Seu Primogênito ao mundo".
Pensemos nisto: Se, neste texto, a palavra grega, palin (que quer dizer 'de novo, outra vez') está empregada em relação a eisagage (que quer dizer "introduzir") então não há dúvida de que a referência é mesmo à Segunda Vinda de nosso Senhor.
Mas – dirá algum leitor – e a referência ao batismo?
Sim, podemos também extrair uma inferência ao batismo. Não uma afirmação direta. Em S. Luc. 3:22 lemos: "Tu és Meu Filho amado, em Ti me tenho comprazido". A Revised Standard Version traz um rodapé com esta indicação: "Eu hoje te gerei". Os principais códices não trazem esta frase, exceção feita ao Códice de Beza. E alguns Pais da Igreja a ele se referem, como Justino (Diálogo com Trifo, cap. 103), e Clemente da Alexandria (Instrutor, cap. 6). Convenhamos que são bases muito precárias.
Atenção para este fato: os jeovistas rejeitam a legitimidade do texto de I S. João 5:7 pelo fato de não estar em códices antigos. A mesma precariedade ocorre com a inclusão de "Eu hoje te gerei", em S. Luc. 3:22. E ainda que a expressão se aplique ao batismo, não é exclusiva do batismo, nem prova uma "geração espiritual". Esta é a verdade!
Há autores credenciados que aplicam Heb. 1:6 também à Investidura e Coroação de Jesus, na restauração de todas as coisas
"O Primogênito de Toda a Criação"
Retornamos ao tema de Col. 1:15 para esclarecimentos suplementares. Primogênito gr. prototokos) nunca significou exclusivamente o "primeiro nascido", mas, em virtude das implicações de ordem jurídica advindas do privilégio da primogenitura, passou a designar pessoa eminente, dotada, respeitável, digna de atenção especial, e isso já nos velhos tempos bíblicos. Exemplos:
a) Êxo. 4:22 – "Israel é Meu filho, Meu primogênito" Contudo Esaú nasce antes de Jacó (Israel). Referindo-se ao povo israelita o sentido é de predileção. Não se trata de primogenitura física.
b) Jer. 31:9 – "Efraim é Meu primogênito". Contudo Manassés nasceu antes de Efraim. A referência de novo é de predileção.
c) Sal. 89:20, 27 – "Encontrei Davi, Meu servo. (...) Fá-lo-ei por isso, Meu primogênito". No entanto, Davi era o último filho de Jessé. Houve sete antes dele. Por que, então, se tornaria primogênito? Evidentemente o sentido não é de descendência.
d) I Crôn. 26:10 – "Sinri, a quem o pai constituiu chefe, ainda que não era o primogênito". Por onde se vê que prototokos tem significado mais amplo do que descendência física. No caso de Efraim, por exemplo, que foi considerado primogênito sem sê-lo fisicamente, o sentida nos é dado, de modo irrefutável, em Jer. 31:20, onde lemos: "Efraim, meu precioso filho". Predileção, honra especial, isto é o que significa.
e) I Crôn. 5:2. José foi considerado primogênito, embora fosse o undécimo filho. Dirão que a primogenitura pode perder-se por indignidade. Então mais uma razão para não se firmar numa base precária para aplicá-la com exclusividade a Cristo.
f) Notemos que o próprio Salomão embora não fosse o primeiro filho, teve as prerrogativas da primogenitura e foi escolhido sucessor de Davi.
Estabeleçamos uma comparação da primogenitura, seus privilégios e Cristo, para melhor compreendermos a razão por que Cristo é designado como "o primogênito".
PRIMOGENITURA CRISTO
1. O Primogênito gozava o direito 1. O domínio pertence ao Messias.
de dominação, autoridade igual a Gên. 49:10; Rom. 8:29.
do Pai sobre os irmãos. Gên. 25:23;
27:29.
2. O primogênito tinha o privilégio 2. Cristo é sacerdote. Sal. 110:4;
do sacerdócio. Núm. 3:12, 13; 8:18. Heb. 5:6; 7:21; 4:14.
3. O primogênito era herdeiro 3 Cristo é herdeiro de todas as
preferencial, com porção coisas. Heb. 1:2; Rum. 8:17.
superior aos demais. Deut. 21:17.
Em Cristo se reúnem TODOS os privilégios da primogenitura. O domínio, a porção dupla da herança, respeitabilidade, sacerdócio, tudo isso foi atribuído a Jesus num sentido muito mais amplo e completo. Mas não que fosse primeiro filho.
Convém lembrar que a palavra "primeiro." nos veio do latim "primus", (através de "primarium") e ela mesma, além de ser um número ordinal, tem também o sentido de eminência, distinção, privilégio, favorecimento, prestígio. O primeiro aluno da classe é o mais distinto, aplicado e sábio. O chefe de gabinete nos regimes parlamentaristas é chamado Primeiro Ministro. Quantos primeiros ministros houve, por exemplo, na Inglaterra? E ainda hoje, se elegerem um, continuará sendo chamado Primeiro Ministro, porque a palavra primeiro indica preeminência, sua função importante, sua autoridade, sem nenhum caráter ordinal.
Que no latim "primus" tem sentido de importante, se comprova na expressão primus inter pares (o mais destacado entre os iguais).
A expressão grega de Col. 1:15: "prototokos pares Ktiseis", PODE SER CORRETAMENTE TRADUZIDA: "O Senhor de toda a Criação", ou ainda "O Originador de toda a Criação", como a traduziu Erasmo (original: bringer forth). Isto é, primeiro autor, "produtor original".
Importante: dizem as Escrituras em S. João 1:3: "Todas as coisas foram feitas por Ele [Cristo] e sem Ele NADA do que foi feito se fez". Vamos destacar esta última parte: "sem Ele [Cristo] NADA do que foi feito se fez". Vamos notar bem: "NADA se fez". "NADA FOI CRIADO sem Cristo". Então Ele mesmo NÃO FOI CRIADO, porque Ele criou tudo quanto foi criado, sem exceção de coisa alguma, de nada. Nada se fez sem Ele". A não ser que Ele Se criasse a Si próprio. Mas Deus é incriado; assim o Filho.
A Bíblia diz em vários lugares "O unigênito Filho de Deus", mas em lugar algum diz "O primogênito Filho de Deus". Isso é importante, e destrói a infeliz e sacrílega tese jeovista.
Para finalizar, em Rom. 8:29 aparece "primogênito" aplicada a Cristo, demonstrando de maneira inequívoca Sua preeminência e nunca, nem remotamente, a idéia de ser a primeira criatura feita por Jeová Deus. "A fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". Não diz "dos irmãos", mas "entre muitos irmãos". Pode-se interpretar que Jesus é o primeiro nascido entre muitos irmãos?
Meditem nisto, os sinceros!
"O Princípio da Criação de Deus"
Diremos agora mais sobre Apoc. 3:14 que, no grego está: "e arche tes ktiseos tou Theou". Querem os jeovistas que "Arche" signifique um começo. No entanto, eles próprios, na primeira edição "New World Translation of the Christian Greek Scriptures", assim verteram S. João 1:1 – "Originalmente era a Palavra". "Arche" significa "origem", e o texto em lide porte ser corretamente traduzido "A origem da criação de Deus".
A palavra grega "arche" também significa "autoridade, principado" em S. Luc. 2:20; "governo" em Tito 3:1 (forma verbal); "governadores" em S. Luc. 12:11. Não estaria errada também a tradução: "O autor da criação de Deus".
Outra observação importante: a palavra grega "ktisis", traduzida por criação, tem nas Escrituras outros sentidos. Em II Cor. 5:17 e Gál. 6:15, por exemplo, refere-se à "criação espiritual", ao "novo homem" convertido, gerado pelo Espirito Santo através de Cristo. Com base neste fato, há intérpretes que afirmam que Apoc. 3:14 não se refere à criação original de todas as coisas, mas sim à restauração da criação de Deus pela obra redentora realizada pelo divino Filho encarnado.
De qualquer modo, nem remotamente se deve inferir ser Cristo uma criatura, a primeira. Isto é perverter as Escrituras!
Inferioridade do Filho
"Cristo é inferior ao Pai, pois disse: 'Meu Pai é maior do que Eu'. Isto prova que não podem ser iguais em essência."
O mesmo Jesus que disse: "(...) o Pai é maior do que Eu" também disse: "Eu e o Pai somos um". Se Cristo merece crédito quando faz a primeira declaração, também o merece quando faz a segunda. E o problema não se resolve pela negação de uma delas. Os jeovistas aceitam a primeira e distorcem a segunda, negando-a.
Liminarmente diremos que estamos diante de um texto que fala da subordinação do Filho. E antes de prosseguirmos convém acentuar que a Divindade tem, por assim dizer, Sua economia própria, Seu governo, e nesta economia, também por assim dizer, Deus Pai representa o "chefe". Isto em certo sentido. Ele é que manda ou envia o Filho, e ordena ao Espírito Santo. Ora, estas palavras, ou ordens, digamos, são maneiras de dizer COISAS DIVINAS em palavras humanas. São modos de administrar que só podemos entender por comparação.
Cristo que deixara a glória do Céu, temporariamente, assumindo a forma de Servo, estava na Terra numa relação de subordinação e dependência do Pai. Disse: "O Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai". S. João 5:19. Ora, Jesus não fazia, não porque "não podia", mas "porque não devia, pois não buscava Sua vontade, mas a do Pai" (S. João 5:30), e Sua comida era fazer a vontade dAquele que O enviou (S. João 4:34), Ainda no Getsêmani pediu que, se fosse possível, passasse dEle o cálice, mas que se fizesse a vontade do Pai e não a Sua (S. Mat. 26:39). Podia fazer, mas não devia. Foi obediente até á morte, e morte de cruz.
Considerando-se bem o estado de humilhação de Cristo, na Terra, explicam-se os textos em que Ele parece ser inferior ao Pai ou Seu subordinado, Amas, no mesmo texto que estamos considerando, S. João 5:19, Cristo remata: "Porque tudo quanto Ele [o Pai] faz, O FILHO O FAZ IGUALMENTE". E nesta última afirmação Ele Se considera tão poderoso quanto o Pai. Por conseqüência, quando afirma que o Filho, por Si mesmo, não pode fazer coisa alguma, não quer dizer que "não possa", mis tão-somente que "não deve", porque Sua glória depende de Sua obediência e submissão à vontade do Pai no plano da redenção do homem.
Na condição de encarnado, Cristo era subordinado ao Pai, e esta relação entre ambos se pode ilustrar com o "disco solar" e seus "raios", ambos são da mesma essência, mas, num sentido, o disco solar é maior do que seus raios. Assim o Pai era "maior" do que o Filho. O disco solar e os raios são, por assim dizer, coisas separadas, mas que formam uma só coisa. O sentido de "maior" é apenas aparente, resultante da situação funcional e da perspetiva do disco e seus raios.
Corretamente entendida a expressão "Meu Pai é maior do que Eu", encerra uma alta significação, pois somente coisas da mesma ordem de magnitude ou homogêneas podem ser comparadas. Nenhum homem ou ser angelical jamais poderia dizer: "Deus é maior do que eu", porquanto os criados e os não-criados são de ordens diferentes! São heterogêneos! Somente Cristo, mesmo como servo, podia estabelecer comparação com o Pai.
Por este diapasão se aferem os demais textos relacionados com a subordinação ou humilhação do Filho, na Sua condição de homem.
Procedência do Filho
"A própria designação 'Filho DE Deus', 'Espírito DE Deus' indica procedência, derivação e, conseqüentemente, subalternidade. Por isso Filho e Espírito não podem ser Deus, porque derivam de Deus".
Isto é um argumento sibilino, baseado em postulações gramaticais ocidentais. As Escrituras empregam essas expressões no sentido semítico ou oriental de identidade de natureza ao invés de dependência ou subordinação, ou melhor, subalternidade.
O grande pesquisador, que foi Loraine Boettner, o confirma em A Trindade, página 64. Após exaustivas considerações de ordem filológica do espírito ocidental, conclui:
"É, sem dúvida, a consciência semítica que está por detrás da fraseologia das Escrituras, e sempre que as Escrituras chamam a Cristo 'Filho de Deus' AFIRMAM A SUA DIVINDADE VERDADEIRA E PRÓPRIA".
Para ser Filho de Deus é preciso que Deus seja Seu Pai. Lemos em S. João 5:18: "Por isso os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque também dizia que Deus em Seu próprio Pai, FAZENDO-SE IGUAL A DEUS". Quer dizer que a "filiação" significa "igualdade". Não subalternidade.
O mesmo autor, à página 65 do citado livro, afirma:
"Os judeus, de acordo com o uso hebraico da palavra, tiveram razão ao compreenderem que à pretensão de Jesus de ser o 'Filho DE Deus' era equivalente a afirmar que era igual a Deus, ou, simplesmente Deus".
Invoquemos ainda a abalizada opinião do erudito Dr. Warfield, em Bible Doctrines, página 163:
"Em linguagem bíblica, filiação é simplesmente semelhança: tudo quanto o Pai é, o Filtro o é igualmente. O termo 'Filho' afirma Sua igualdade com o Pai e não derivação. De igual modo, a designação 'Espírito de Deus' (...) é simplesmente o nome executivo de Deus, ou seja, a designação de Deus do ponto de vista de Sua atividade, o que importa em identidade com Deus. (...) Lemos em I Cor. 2:10, 11 '(...) o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus'. O Espírito é, pois, o substrato da autoconsciência de Deus. (...) Numa Palavra, Ele é o próprio Deus na essência mais íntima do Seu ser".
Poderoso e Todo-Poderoso
"Cristo era um poderoso deus, mas não o Poderoso Deus Jeová, porque em Isaías 9:6, no hebraico, não há o artigo diante na declaração "poderoso". Portanto, não se refere a Jeová".
Se isto fosse exato, o genial argumento dos jeovistas nos conduziria irremediavelmente ao biteísmo, ou seja, à existência de dois "poderosos deuses", o que seria o maior absurdo teológico. Porque:
a) Em Isaías 10:21 se lê: "Os restantes se converterão ao Deus forte, sim os restantes de Jacó". Neste texto também NÃO HÁ o artigo hebraico. E no entanto refere-se a Jeová. Sabemos que, conforme Êxo. 3:6, Jeová é o "Deus de Jacó", Portanto o Todo-poderoso. Pois bem, Isa. 10:21 é o mesmo caso de Isa. 9:6.
b) Em Jer. 32:18 se lê: "Tu és o grande, o poderoso Deus, cujo nome é Jeová dos Exércitos". Aqui há o artigo mas expressa a mesma idéia. Lemos em Miq. 5:2 que as origens de Cristo são DESDE OS DIAS DA ETERNIDADE.
e) Afirmar que Cristo era um deus poderoso e Jeová é um Deus Todo-poderoso, é puro biteísmo, pois o próprio texto vital da seita diz: "Antes de Mim NENHUM DEUS se formou, e depois de Mim NENHUM HAVERÁ". Isa. 43:10. Não pode mesmo haver dois deuses. Nem um Todo-poderoso ao lado de outro apenas poderoso. Nem coisa alguma! Um Deus maior, criando outro menor. É inaceitável!
d) Observe-se que em todos os textos citados, a palavra hebraica que designa "forte" ou "poderoso" é gibbor. El Gibbor, "Deus forte". Ora com artigo, ora sem ele, mas sempre designando o Deus de Jacó. A distinção que os jeovistas pretendem fazer não tem fundamento
A União Pai-Filho
Quando Jesus disse: "Eu e o Pai somos um", deu a entender que unidade não significa um em pessoa e substância, mas que Pai e Filho trabalham unidos em harmonia e unidade, que assim também os membros da igreja devem viver em unidade, isto é, que também "seja um".
Primeiramente o texto de S. João 10:30, em que Jesus afirma, "Eu e o Pai somos um", NÃO ESTÁ na contextuação forçada pelos jeovistas, nem Jesus aí faz comparação alguma com unidade de membros de igreja. Ao contrário, ao dizer Ele estas palavras, imediatamente os judeus entenderam que Jesus Se igualava ao Pai, e tomaram em pedras para O apedrejar, e depois explicam o motivo: "pela blasfêmia, porque sendo tu homem, TE FAZES DEUS A TI MESMO". (Verso 33).
Se Jesus aí "deu a entender" alguma foi precisamente o ser da mesma substância que a do Pai. É verdade que a palavra usada para designar "um" é, no grego, neutra, o que não pode significar ser Ele e o Pai uma única Pessoa. Nem dizemos nós que Cristo e o Pai são uma única Pessoa. São o mesmo Deus, mas duas Pessoas distintas. É verdade que, sendo integrante da Divindade, Jesus também afirmava Sua unidade com o Pai em vontade, propósito, objetivos, mas podemos dizer com segurança que o Pai Se achava detrás dos palavras e atos de Jesus, ou a recíproca, que Jesus Se achava à frente dos propósitos do Pai, e Ele reivindicou Sua Divindade. Pelo fato de em outra passagem das Escrituras, tratando de outro assunto, Jesus valer-Se da comparação de Sua unidade com o Pai para ilustrar a unidade dos discípulos, não se deve concluir que, no texto em tela, ocorra o mesmo. Isto é forçar as Escrituras a dizerem o que não dizem. Nem é honesta tal maneira de argumentar. A objeção, portanto, não procede.
Dagon Também é Elohim
Se os trinitaristas argumentam que o uso de Elohim com verbo singular significa que há mais de uma pessoa implicada, então a mesma coisa deve ser verdade quanto a Dagon, o deus-peixe, pois a ele também as Escrituras designam por Elohim.
Já demonstramos a inexistência do chamado "'plural de majestade" na designação de Elohim, que é a forma plural de Elohá (Deus), mas a indicação de mais de uma Pessoa. A objeção acima não passa de argumento de fachada. Vamos pulverizar mais esta tolice.
1. É verdade que elohim, palavra hebraica, é empregada, embora raramente, em relação a ídolos – como no caso do bezerro de ouro – a deuses pagãos, ou mesmo a atribuições pessoais. Contudo é um fato irrecusável que as particularidades do emprega de uma palavra nada tem a ver com o seu sentido profundo e natural nas Escrituras. Por exemplo, o termo "homem" tanto se emprega em relação a um santo como a um demônio. Nem por isso perde o seu valor se a aplicarmos a Cristo que era a perfeição humana. Com relação a Elohim, pelo fato, de, esporadicamente, ser aplicado a coisas ou a seres inferiores, não destrói o fato de designar a Divindade.
Deus não repudiou este nome. Fica mal às "testemunhas" o quererem minimizar o termo Elohim, pois ele designa o próprio Jeová. Lemos em Deut. 6:4: "Jeová NOSSO ELOHIM é o único Jeová". Em outras termos, seja Elohim, seja Jeová, Deus é UM SÓ.
Pela lógica vesga das jeovistas, poderíamos devolver-lhes assim o "argumento": Se Dagon, o deus-peixe, chamado elohim é um ídolo, Jeová, por ser Elohim, também é um ídolo. Daqui não há fugir!
2. Embora em Gên. 1:1 se diga que "Elohim criou (bará) os céus e a Terra", lemos (v. 26) na criação do homem: "Disse Elohim: Façamos o homem à nossa imagem, à NOSSA SEMELHANÇA". Aqui o verbo aparece no plural, e no entanto a ação criadora era a mesma da do primeiro versículo do Gênesis. Ainda em Gên. 3:22, o mesmo Elohim diz: "Eis que o homem é como um de NÓS". Insistimos: por que este repetida pluralização de verbos e de pronomes?
Elohim, quando aplicado a Deus envolve pluralidade de pessoas, como plural de Elohá. É a revelação de Deus, e preferimos crer nela a aceitarmos as distorções dos jeovistas.
"No Princípio"
A expressão "no princípio", como é usada nas Escrituras, quer dizer "em um começo".
Aqui está outra tolice, que nem mereceria resposta. As "testemunhas" exploram muito a palavra "princípio". Querem que signifique um ponto de partida, e assim sendo, o Logos (Cristo) teve um começo, na época da Criação ou antes dela. Dizem que "o princípio da criação de Deus" se enquadra neste sentido. Já demonstramos o verdadeiro sentido dessa expressão, e se a analisarmos melhor veremos que o contexto apresenta um agente, o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira para testemunhar esta criação, o que dá a Cristo o sentido de Principiador ou "primeira causa" dessa Criação.
Para demonstrar a irrazoabilidade do argumento jeovista, basta atentar-se para o seguinte:
Em Apoc. 21:6 a palavra "princípio" se aplica ao próprio Deus, portanto é descabido concluir que "Deus teve um princípio".
Eis a comparação: Col. 1:18 "Ele [Cristo] é o princípio (...)". Apoc. 21:5. 6: "Aquele que está assentado no trono [Deus, o Pai] disse-me: Eu sou (...) o princípio (...)".
E há mais ainda: Em Apoc. 21: 6, Deus afirma ser o princípio "e o fim". E Apoc. 22:13, Cristo também afirma ser o princípio "e o fim" Seria curial concluir que tanto Cristo como Deus, o Pai tiveram um começo e terão um fim? Porque, para sermos coerentes, se "princípio" está em relação ao tempo, também o "fim" deverá estar.
A expressão "no princípio", de S. João 1:1, não tem o sentido limitado que as "testemunhas" querem. En Archê (no grego) não tem artigo definido, contudo é definido no significado. E se aqui se empregasse o artigo, o sentido implicaria determinado espaço de tempo ou um princípio. Sem o artigo definido, porém, e em contexto com os versos de 1 a 3 a frase significa, sem dúvida, o mais remoto tempo que se possa imaginar, ou melhor, um tempo mesmo inimaginável, imensurável, não sujeito a uma época de fixação, mas antes da criação de todas as coisas (verso 3), antes de qualquer começo, isto é, o passado da eternidade, anterior mesmo ao "princípio" de Gên. 1:1, sem limite nessa precedência.
Houve Encarnação?
Não houve encarnação, mas mero nascimento carnal de Jesus. Para encarnar-Se não teria sido necessário nascer como criança, mas simplesmente assumir um corpo como o fez depois da ressurreição.
Cristo, na verdade poderia ter vindo de várias maneiras, ou mesmo assumido um corpo adulto, mas as Escrituras revelam que ele Se encarnou. Não era mero nascimento carnal, porque se declara que fora gerado do Espírito Santo.
E sobre a encarnação, diz a Bíblia em Heb. 1:5: "Pelo que, entrando no mundo, diz (...) CORPO ME PREPARASTE".
Negar que Jesus veio em carne decorre da ignorância do verdadeiro sentido da expiação bíblica. Para redimir o homem, era necessário que o Filho de Deus Se tornasse homem no sentido completo, passando pela completa experiência humana, desde o nascimento até à morte. Tinha que desenvolver-Se "em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens". Tinha de enfrentar as tentações, inclusive as da infância, da juventude e da adultez. Do contrário não seria uma Vítima humana perfeita no plano da Expiação.
A Palavra "Religião"
Não há na Bíblia a palavra "religião". A versão siríaca, em Tiago 1:26 e 27 verte "adoração" em lugar de "'religião". Foi Satanás que inventou a religião.
Isto denota crassa ignorância do assunto, pais em Tiago 1:26 e 27 aparecem no original de versões mais autorizadas do que a siríaca:
a) "therskos" – adj. Ocupado com observâncias religiosas. No NT, religioso, devoto, pio. (Harper's Analytical Greek Lexicon).
b) "threskeia" – subs. Religião, piedade.
Também em Atos 26:5 aparece threskeia no mesmo sentido de religião. Imaginem os leitores, neste último texto, se faria sentido dizer-se: "... conforme a seita mais severa da nossa adoração" Portanto, não tem cabimento afirmar que "threskeia" signifique adoração.
Em sua conhecida obra didática do grego do Novo Testamento, Taylor, em acurado estudo dos vocábulos, conclui, às páginas 264, 363 e 378:
"Threskos, threskeia (religiosus), de culto expressa em atos de ritual, cuidado em observar prescrições religiosas. Atos 26:5; Col. 2:18 e especialmente S. Tia. 1:26 e 27".
"Serviço religioso e sem mácula diante de Deus e Pai é este: visitar órfãos e viúvas".
"Threskeia é o termo geral de reverência pela piedade. (...) Em Atos 26.5 o culto externo se usa como nome de todo o sistema do judaísmo".
Para indicar "adoração" o termo apropriado, no grego, seria "latreia". Tal, porém, não se dá no texto mencionado!
Deus é Um Só
Deus é um ser solitário, pois as Escrituras dizem: "Ouve, ó Israel, Jeová, nosso Deus é o ÚNICO Jeová". Deut. 6:4. Não pode haver mais de UM Deus.
Certo. Certíssimo. Não pode haver mais de UM Deus, e nós cremos que só há UM Deus, ao passo que os senhores jeovistas afirmam haver DOIS deuses, um maior (Jeová) que criou um deus interior (Jesus). São, portanto, dois deuses, não importa a "categoria" que inventam. A divergência, no fundo, é a seguinte' as "testemunhas" afirmam que Deus é uma unidade solitária, ao passo que as Escrituras revelam a Deus como uma unidade completa. Proclamam e a escritura hebraica diz, de fato, em Deut. 6:4: "Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor" ou, segundo o original: "O Senhor é um", e o fazem visando a combater a Trindade.
Contudo, mais uma vez, o original desmascara a superficialidade deste recurso. No texto citado, a palavra "único, ou melhor "um' é echod, e NÃO INDICA uma "unidade absoluta" em muitas passagens através do Velho Testamento, e muitas vezes indica a "unidade composta", e isto constitui antes um argumento em favor da entidade da Divindade (Jeová).
Por exemplo, em, Gên. 2:24 está "deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne". No hebraico está bosor ECHOD. Por certo que isto não significa que no casamento os esposos se tornam uma pessoa, mas que se tornam um na unidade e, aos olhos de Deus, são considerados uma pessoa. Notemos bem que isto é verdadeira unidade, contudo não uma "unidade solitária", mas uma "unidade composta".
Citemos outro exemplo. Os doze espiões que Moisés enviara a Canaã, voltaram trazendo um enorme cacho de uvas (hebr. eschol ECHOD). Núm. 13:23. Ora, desde que haveria centenas de grãos de uva nesta única haste, par certo não se tratava de uma unidade solitária ou absoluta, contudo a palavra echod é aí empregada para descrever o cacho. É conclusivo que as uvas eram consideradas uma no sentido de serem da mesma origem, o que prova tratar-se de uma unidade composta.
Deus é uma "unidade composta". Lemos em Gênesis cap. 18 de que três varões visitaram Abraão na tenda sob os carvalhais de Manre. Dois deles eram anjos (Gên. 19:1), mas o terceiro se apresenta como Jeová Deus, nada menos de catorze vezes. Este terceiro visitante permaneceu e conversou com Abraão, e depois partiu. Mas com relação a Sodoma e Gomorra, diz: "Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até a Mim; e, se assim não é, sabê-lo-ei". Gên. 18:21. E no verso 33, lemos: "Tendo cessado de falar a Abraão, retirou-Se Jeová."
Abraão esteve face a face com Jeová, mas dizem as Escrituras (S. João 1:18): "Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito que está no seio do Pa [o Filho], é quem O revelou." Ninguém pode contemplar face a face o Pai, no seu resplendor, pois morreria fulminado, mas pode ver a Deus através da Segunda Pessoa da Trindade. Isto destrói a idéia da "unidade solitária". Com relação ao Pai, afirma Jesus: "Deus é espírito. (...) O adorem em espírito e verdade. (...) O Pai que me enviou (...) jamais tendes ouvido a Sua voz, nem vista a Sua forma". S. João 4:24; 5:37.
Quando lemos em Gên. 19:14: "Então Jeová fez chover enxofre e fogo DA PARTE DE JEOVÁ sobre Sodoma e Gomorra", a conclusão irreversível é esta: Deus, o Pai fez chover o fogo sobre as cidades, e Deus, o Filho, foi quem falou e comeu com Abraão e Sara. Duas pessoas, sendo ambas chamadas Jeová (Gên. 18:21; 19:24; conferir com Isa. 9:6 e Miq. 5:2) e ambas as Pessoas são UM (echod) com o Espírito Santo na "unidade composta": um só Deus. Deut. 6:4. É o que as Escrituras revelam.