Jeremias 7:22 afirma: “Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que vos tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocausto ou sacrifício.”
Os capítulos 15 e 16 de Levítico apresentam detalhes sobre sacrifícios e holocaustos. Como, pois, conciliar isso com o verso de Jeremias?
Esta passagem parece negar o fato histórico de que Deus deu instruções específicas sobre sacrifícios e holocaustos, lá no Sinai. Trata-se, sem dúvida, de um dos textos difíceis da Bíblia, em contraste com afirmações claras e bem definidas de outras passagens.
Mas será que Jeremias estava negando a validade do sistema sacrifical?
Ele mesmo, nas seguintes passagens, afirmou: "E virão das cidades de Judá, e dos contornos de Jerusalém, e da terra de Benjamim, e das planícies, e das montanhas, e do sul, trazendo holocaustos e sacrifícios, e ofertas de manjares, e incenso, trazendo igualmente sacrifícios de louvores à casa do Senhor." (17:26).
"Porque assim diz o Senhor: Nunca faltará a Davi varão que se assente sobre o trono da casa de Israel; nem aos sacerdotes levíticos faltará varão diante de Mim, para que ofereça holocausto, e queime oferta de manjares, e faça sacrifício todos os dias." (33:17 e 18)
Estaria o profeta se contradizendo?
O Comentário Adventista diz que "Jeremias está empregando obviamente um recurso retórico pelo qual, numa comparação de duas idéias, a predominância de uma é salientada pela negação da outra". A Bíblia apresenta vários exemplos desses recursos retóricos, entre os quais, destacamos os seguintes:
1. Em Gênesis 45:8, José afirma que não foram seus irmãos que o levaram para o Egito, mas Deus. E todos nós sabemos do envolvimento de seus irmãos no caso.
2. Outro exemplo está em Êxodo 16:8 onde Moisés diz que as murmurações do povo de Israel não eram contra ele, mas contra Deus. O contexto é claro: Os israelitas clamaram diretamente contra Moisés.
3. Até mesmo Jesus empregou esse expediente. Lucas 14:26 diz: "Se alguém vier a Mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo." Seria um absurdo admitir que Jesus - sempre pronto a ressaltar a religião do amor - tivesse dado ordem para odiar os membros da própria família. Seus ensinos, e principalmente Seu exemplo, não dão margem para tal idéia. Na verdade, "Ele simplesmente procurou enfatizar que o amor a Deus deve superar o amor aos homens".
Voltando a Jeremias 7:22 fica claro que a obediência à lei moral está acima da obediência ao sistema cerimonial. Conhecemos bem o que Samuel afirmou ao povo, num período de religião mecânica e superficial: "Tem porventura o Senhor, tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor é do que a gordura de carneiros." (l Sam. 15:22; Salmo 51:16-17)
O fato é que Deus jamais falou, no Sinai, sobre o tipo de culto e sacrifícios que os compatriotas de Jeremias ofereciam ao Senhor: da boca para fora;não do coração.