Um dia desses, um conhecido e copiado pregador neo-pestecostal da televisão disse mais uma de suas "pérolas" teológicas.Falando sobre Maria, mãe de Jesus, o pregador (que prefere não ser chamado de "pastor"), disse que Maria teve vários filhos além de Jesus, e apresentou o seguinte texto em apoio ao seu pensamento:"Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura" (Marcos 3:32).
De um modo geral, os evangélicos crêem que estes "irmãos e irmãs" eram mesmo filhos de Maria, sendo Jesus seu "primogênito".
Já os católicos, devido à "mariolatria", não aceitam esta tese e dizem que os "irmãos", na verdade, eram "primos" de Jesus. Para isso, fazem um malabarismo hermenêutico com o termo grego ADELPHOS.
Aliás, a igreja romana defende que Maria não só permaneceu virgem mesmo depois do parto de Jesus, mas que já era "imaculada" desde sua própria concepção, ou seja, que a avó materna de Jesus já concebeu Maria de forma miraculosa, e transmitiu uma "carne santa" àquela que seria a "Mãe de Deus", segundo os católicos.
Para completar o rol de tradições dogmáticas, os católicos agora também acreditam que Maria foi "assunta", em vida, ao Céu, e que de lá intercede em favor dos seus "filhos", como a "Mãe de Todos".
Para os Adventistas do 7º Dia, nenhuma destas explicações está correta, pois os "irmãos de Jesus" eram mesmo Seus irmãos, porém apenas por parte de José.
Ou seja, os Adventistas crêem que Maria teve apenas Jesus como filho (apesar de ela ter permanecido em relacionamento conjugal completo com José, seu esposo - cf. Mat. 1:25), e que os "irmãos e irmãs" do Senhor eram filhos de José, de relacionamento(s) anterior(es) ao casamento com Maria.
E de onde tiramos esta compreensão?
1. A maneira como os irmãos de Jesus O tratavam (cf. João 7:3-10).
Nesta conhecida ocasião, os Seus irmãos querem impor sobre Ele a maneira como deveria conduzir Seu ministério de pregação. Jesus prontamente rejeita as orientações deles, e determina que eles deveriam ir sozinhos à festa judaica.
Porém o texto mostra que Jesus estava querendo deixar claro que era Ele, e Ele apenas, que dava a direção à Sua missão, pois logo que Seus irmãos se retiram, Ele vai para a festa. É como se Ele dissesse: "Vou porque quero ir, e não porque vocês estão Me mandando ir".
Este comportamento dos irmãos de Jesus, e Sua maneira de confrontá-los neste episódio, demonstra que Ele não era o irmão mais velho da família, pois os irmãos menores, na cultura paternalista judaica, não tinham autoridade para darem ordens ao primogênito. O exemplo clássico desta manifestação cultural foi a reação que os irmãos de José (e seu próprio pai) tiveram aos seus sonhos (cf. Gên. 37:7-10).
2. A atitude de Jesus no momento da Cruz (cf. João 19:25-27).Se Maria tivesse outros filhos, de modo algum Jesus a teria deixado sob os cuidados de João, o discípulo amado.
O texto mostra claramente que Maria, agora viúva e sem seu único filho, ficaria desamparada na sociedade machista de sua época. Para protegê-la, Jesus pede que Seu apóstolo mais querido cuide dela, o que é prontamente atendido.
Também no Antigo Testamento encontramos diversos relatos que comprovam a determinação cultural de que um irmão deveria assumir as obrigações de outro que falecesse.
Caso Maria tivesse mesmo outros filhos além de Jesus, como defendem os evangélicos, então a preocupação de Jesus em Seus minutos finais teria sido totalmente infundada (cf. Gên. 38:8; Deut. 25:5-10).