PROSSIGAMOS seguindo o oponente em seu refúgio pela seara patrística em busca de "provas" da observância do domingo, já que não as encontrou irrecorrivelmente nas Escrituras. Veremos tão frágeis castelos de cartas desmoronarem-se irremediavelmente.
O Inaceitável Barnabé
Diz-nos ele: "Barnabé, A. D. 120, diz: 'Nós guardamos o dia oitavo com alegria, no qual também Jesus ressurgiu dos mortos, e tendo aparecido ascendeu ao Céu."
É nulo, absolutamente nulo o valor desse testemunho. Quanto à idoneidade e credibilidade desse suposto Barnabé (quem teria sido?) veja-se o que dissemos no preâmbulo do artigo precedente.
E esta epístola equívoca, inçada de absurdos e futilidades, encontrada em 1844 pelo sábio alemão Tischendorf num convento ao sopé do monte Sinai, com muita benevolência da crítica foi datada de meados do século II, época em que a apostasia começara a infiltrar-se na igreja cristã, e o "festival da ressurreição" também ia sendo observado, como conseqüência da forte oposição aos judeus.
A "epístola" é absolutamente apócrifa e até pais da igreja como Eusébio, Jerônimo e Agostinho negam-lhe autoridade. Uma simples leitura de toda a epístola evidencia-lhe o caráter espúrio, a começar das absurdas alegorias que faz de fatos e festas do Velho Testamento. Coisa totalmente inaceitável. Ocupemo-nos da parte invocada pelo oponente, tangenciada com a observância do domingo.
O contexto do capítulo 15 nos informa que o citado Barnabé estabelece um paralelo inadmissível, ilógica e aberrante, querendo forçar um inexistente "oitavo dia" (a semana só tem sete) a ser uma continuação do princípio judaico da cerimônia da circuncisão e isto porque – na obtusa relação que esse hipotético Barnabé estabelece – aquele rito se fazia ao "oitavo" dia do nascimento do varão israelita.
É de pasmar! É de estarrecer! Salta aos olhos de qualquer pessoa a futilidade, a insanidade deste argumento (?), pois o corte do prepúcio ocorria uma só vez na vida do judeu, e o dia de guarda (como era ignorante esse Barnabé!) ocorre semanalmente. Tão arrevesada e descabida é essa idéia que nenhum comentarista dela toma conhecimento. E é nesse emaranhado de incoerências que se vai buscar "prova" para o que não se pode provar pela Palavra de Deus.
Justino Refere-se ao "Dia do Sol"
Escreve o grande advogado dominguista de O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus: "Justino Mártir, A. D. 140, disse: 'No dia chamado domingo há uma reunião num certa lugar de todos os que habitam nas cidades ou nos campos, e as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas são lidos... Domingo é o dia em que todos nós nos reunimos em comum, porque é o primeiro dia em que Deus fez o mundo, e porque no mesmo dia Jesus Cristo nosso Salvador levantou-Se dos mortos. Ele foi crucificado no dia anterior ao de Saturno (sábado) e no dia após o de Saturno, que é o dia do Sol (Domingo), tendo aparecido aos Seus apóstolos e discípulos, ensinou-lhes estas coisas as quais vos temos apresentado para a vossa consideração' (Apologia, cap. 67)."
Tendenciosa e infeliz esta citação. Tradução errada, porquanto a palavra domingo que aí consta três vezes ERA INTEIEAMENTE DESCONHECIDA naquele tempo (meados do segundo século). O original de Justino diz exatamente o seguinte:
"No dia chamada DO SOL, faz-se uma reunião de todos os que moram nas cidades e nos distritos rurais e se lêem as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas... No DIA Do SOL realizamos uma reunião em conjunto, no qual dia Deus, havendo mudado a obscuridade e a matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos no mesmo dia. Fora crucificado um dia antes ao [dia] de Saturno e no dia que segue ao [dia] de Saturno – o DIA DO SOL – tendo aparecido aos apóstolos e discípulos ensinou-lhes estas coisas que submetemos à vossa consideração." (Versais e grifos acrescentados.)
Note-se a diferença! A palavra domingo aí é pura invenção do oponente, porquanto o original menciona tão-somente dia do Sol – o feriado pagão vigente naqueles tempos. Justino vivia em meio ao surto expansionista do mitraísmo, culto de adoração solar que se implantara no Império. Esta Primeira Apologia endereçava-se a Antônio Pio e ao povo romano, e nela Justino refere-se aos mistérios de Mitra como coisa conhecidíssima de seus leitores. Em outro documento, o Diálogo com Trifo, Justino menciona claramente o mitraísmo por duas vezes.
Se a citação de Justino Mártir prova alguma coisa, prova apenas isto: que nos meados da segundo século, os cristãos já estavam adotando práticas pagãs, em virtude da forte campanha antijudaica e também. começando a cortejar o Estado, fato que continuou com o episódio de Constantino. É isto o que provam as palavras acima de Justino. É isto o que os adventistas crêem e ensinam. É isto o que a História regista: a apostasia gradual. Tudo isto ocorreu sem a menor sanção escriturística – sem a mínima autoridade da Palavra de Deus. E esse primeiro dia da semana não era dia de guarda, pois após a reunião matinal, os cristãos retornavam ao trabalho.
Justino jamais chamou ao primeiro dia da semana "domingo" e muito menos de "dia do Senhor" – designação que posteriormente se ligaria ao dia espúrio. Sim Justino refere-se unicamente à "semana astrológica" do paganismo, e ao fato de o "festival da ressurreição" celebrar-se após o sábado bíblico, que ainda era o dia de guarda. Esse dia de reunião, chama-o de "dia do Sol." No mesmo trecho se menciona o sábado como "dia de Saturno," o sétimo dia da "semana astrológica." Por amor dos leitores menos cultos, daremos uma tabela dos dias da semana astrológica, e como o nome dos dias passou para algumas línguas: Ver pág. seguinte.
SEMANA PLANETÁRIA
Dias da
Semana
Corpos celestes que os presidiam
Nomes em grego
Nomes em latim
Nomes em inglês e sua origem
1º. dia
Sol
Helvoy (de Helios)
(Dies) Solis
Sunday (literalmente "dia do sol")
2º. dia
Lua
Selenes (de Selene)
(Dies) Lunae
Monday (de moon (day), ou "dia da Lua")
3º. dia
Marte
Areos (de Ares)
(Dies) Martis
Tuesday (do teutônico tiw, "Marte")
4º. dia
Mercúrio
Hermoy (de Hermes)
(Dies) Mercuris
Wednesday (do teutônico woden, "Mercúrio)
5º. dia
Júpiter
Dios (de Dis ou Zeus)
(Dies) Iovis
Thursday (do teutônico thor, "Júpiter")
6º. dia
Vênus
Aphrodites (de Afrodite)
(Dies) Veneris
Friday (do teutônico friga, "Vênus")
7º. dia
Saturno
Kronos (de Cronos)
(Dies) Saturni
Saturday (do teutônico seater, "Saturno")
Aí está a semana planetária do paganismo, que deu origem aos nomes dos dias da semana em quase todos os idiomas.
A título de informação e para robustecer o argumento, mencionamos ainda os dias semanais em algumas línguas de origem latina: o "dia do Sol" do mitraísmo passou posteriormente, com implantação do costume apóstata, a designar-se "dia do Senhor", e os cristãos também o fizeram relacionando-o com Cristo.
Dias da Semana
Em Espanhol
Em Francês
Em Italiano
Significado
Domingo
Segunda-feira
Terça-feira
Quarta-feira
Quinta-feira
Sexta-feira
Sábado
Domingo
Lunes
Martes
Miércoles
Jueves
Viernes
Sábado
Dimanche
Lundi
Mardi
Mercredi
Jeudi
Vendredi
Samedi
Domenica
Lunedi
Martedì
Mercoledi
Giovedi
Venerdi
Sabbato
Originário de "Dominica" que veio a pela designação que se passou a dar de "dia do Senhor", sem autorização das Escrituras.
Dia da Lua
Dia de Marte
Dia de Mercúrio
Dia de Júpiter
Dia de Vênus
De "shabbath", repouso
O Sol como "Senhor" do Império Romano
Sabemos que, no Império Romano, o deus-Sol Mitra era popularmente designado como o Sol Invictus (o Sol invencível) – ocorrem com certa freqüência expressões como "Sanc – que se designava o Sol, na verdade significava "Senhor." Nos almanaques chineses consta o "dia de Mih" (dia de Mitra) que se traduz por "dia do Senhor." Em inscrições romanas relacionadas com o mitraísmo – culto do Sol invencível – ocorrem com certa freqüência expressões como "Sancto Domino Invicto Mithrae" (o Santo Senhor Mitra Invencível), "Domino Soli" (o Senhor, o Sol) "Domino Soli Sacrum" (sagrado ao Senhor, o Sol), "Domino Soli Sacro" (ao Senhor, o Sol sagrado). O imperador Aureliano chegou a proclamar oficialmente o Sol como Sol Daminus Imperii Romano (o Sol, Senhor do Império Romano), e mandou cunhar a efígie do Sol em moedas.
Antiquíssima inscrição tumular encontrada em Catânia, ao pé do monte Etna, na Sicília, epitáfio para uma criança sepultada, diz: "Ele nasceu, ó Senhor das boas coisas, no décimo quinto dia antes das calendas de novembro, no dia de Saturno; viveu dez meses; e faleceu no décima dia antes das calendas de setembro, no dia do Senhor do Sol."
Aos que desejarem mais amplas informações históricas sobre o mitraísmo, recomendamos as abras Textes Figurés aux Mystères de Mithra, de F. Cumont, e Sunday in Roman Paganism, Robert Leo Odom, das quais extraímos os dados acima. São autores da maior idoneidade.
Ouçamos ainda alguns testemunhas:
"Os gentios constituíam um povo idólatra que adorava o Sol, e o domingo (ou dia do Sol) era o seu dia mais sagrado. Ora, a fim de conquistar o povo em seu novo campo, parecia se não natural ao menos necessário fazer do domingo o dia de repouso da igreja. Naquele tempo achava-se a igreja num dilema: ou adotar o dia dos gentios, ou fazer com que os gentios mudassem a seu dia de adoração. Impor a mudança do dia dos gentios teria sido uma ofensa e pedra de tropeço para eles. A Igreja podia naturalmente ganhá-los melhor, observando o dia em que eles repousavam. Assim não foi preciso causar ofensa desnecessária, desonrando o dia deles." – William Frederick, Three Prophetic Days, págs. 169 e 170.
"Os cristãos primitivos logo adotaram a semana astrológica. O domingo foi aceito como um dos dias santos da religião oficial romana. Assim a instituição pagã foi inserida no cristianismo." – Webster, Rest Days, págs. 220 e 221.
"A igreja tomou a filosofia pagã e fez dela o escudo da fé contra os pagãos. Ela tomou o dia do Sol dos pagãos e fez dele o domingo cristão." – The Catholic World, revista, março de 1894.
"As nações idólatras, em honra ao seu principal deus, o Sol, começava o seu dia ao aparecimento dele." "Dia do Sol (Sunday) era o dia em que os pagãos, em geral, consagravam culto e honra ao seu principal deus, o Sol, dia que, consoante nosso cômputo, era o primeiro da semana." – Jennings, Jewish Antiquities, livro 3, cap. I e III.
"Os mais antigos germanos, sendo pagãos costumavam dedicar sen primeiro dia da semana à especial adoração do Sol, razão por que aquele dia, em nosso idioma inglês, ainda conserva o nome de "Sunday" (dia do Sol). – Verstegan's Antiquities, pág. 11.
Tome-se, por exemplo, um dicionário autorizada, o de Webster (edição do ano 1925), e no verbete "Sunday" lemos essa frase:
"Sunday, ou dia do Sol, é assim chamado porque antigamente este dia era dedicado ao Sol, ou ao seu culto."
A autorizada enciclopédia Schaff-Herzog dá-nos interessante informação a respeito de como o dia do Sol entrou para o cristianismo, sem preceito bíblico, sem sanção divina, sem exemplo de Jesus ou recomendação apostólica. Ei-la:
"Domingo (Dies Solis do calendário romano; "Dia do Sol" porque era dedicado ao Sol), o primeiro dia da semana, foi adotado pelos primitivos cristãos como um dia de culto. O "Sol" de adoração latina era por eles [cristãos] interpretado como "o Sol da Justiça" ... Nenhum preceito para a Sua observância consta do Novo Testamento nem, na verdade, Sua observância é determinada." – Schaff-Herzog Encyclopedia, verbete "Sunday".
Conhecendo-se a verdade histórica quanto à apostasia gradual que culminaria mais tarde com o edito de Constantino na esfera civil, e decisões de alguns concílios na esfera religiosa, selando assim o domingo como dia de guarda, pode-se ver, em seu verdadeiro aspecto e sentido a declaração de Justino Mártir a respeito de reuniões que se faziam no DIA DO SOL. E assim se pulveriza a "prova" de Justino ...