O "Espírito" de Moisés no Monte
À PÁGINA 104, mencionando a cena da transfiguração de Jesus, afirma que era "o espírito" de Moisés que lá aparecera e não seu corpo glorificado, como sustentamos.
A Bíblia não diz que era o espírito de Moisés que lá estava. Isto é uma conclusão gratuita. Dizem os evangelhos que Moisés e Elias lá apareceram ao lado do Mestre, em pessoa, glorificados como o seremos algum dia se permanecermos fiéis até ao fim. Dizer que o texto alude a espírito é ir "além do que está escrito". Consideremos o seguinte:
1. Cristo lá se achava corporalmente, porém transfigurado num ser resplandecente sem perder, contudo, Suas características pessoais.
2. Elias – que não provara a morte – também ali se achava corporalmente. Ou teria ele deixado o corpo inanimado ou tombado em algum canto do Céu, enquanto o espírito descera ao monte da transfiguração? Elias fora arrebatado vivo, e ao ingressar no Céu, sem dúvida, seu corpo fora transformado, fora glorificado, pois "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus", "nem a corrupção herdar a incorrupção." Mas, lemos em S. Lucas 9:31 que Moisés e Elias "apareceram com glória." Jesus também, pois toda a cena era uma antecipação da glória futura do reino.
3. Se os dois personagens acima citados lá se achavam com corpos glorificados, porque só Moisés lá estaria em espírito? Seria uma "alma" visível, conversando com pessoas corporalmente presentes? Diz S. Marcos que ambos (Moisés e Elias) falavam com Jesus. Logo, não eram espíritos. Tão real era a cena ali no monte que Pedro propôs construir três tendas. "Uma para Ti [para Cristo], outra para Moisés, e outra para Elias." S. Mar. 17:4.
É inadmissível construir tenda para um espírito. Não se tratava de visão, sonho ou alucinação de Pedro, porque, quase quarenta anos depois, bem lúcido ainda, referia-se ao fato: "nós vimos a Sua glória" (II S. Ped. 1:16-18). Vira a Pessoa de Jesus, a pessoa de Elias e a pessoa de Moisés.
O fato de os dois personagens desaparecerem depois não prova que eram espíritos, pois o corpo glorificado também tem esta propriedade. Jesus, ressurreto, penetrou num cômodo completamente trancado. S. João 20:19.
4. Que Moisés ressuscitara é fato que aceitamos, inclusive por outras evidências bíblicas. Lemos que, de fato, Moisés fora sepultado na terra de Moabe, no entanto, ninguém soube o local de sua sepultura. Deut. 34:6. Havia nisso um desígnio da parte de Deus. Todos os que morrem, são contados como prisioneiros de Satanás, no sentido de estarem na sepultura, retidos, inativos, vencidos. Lemos, porém, em Heb. 2:14, que Jesus, "pela Sua morte aniquilou o que tinha o império da morte, isto é, o diabo." Pois bem, cremos que Moisés escapou da prisão da morte.
a) Em Judas 9, lemos que houve disputa entre Miguel, o arcanjo e o diabo acerca DO CORPO de Moisés. A disputa não era sobre a sepultura, mas sobre o corpo do servo de Deus. Satanás reclamava Moisés como seu cativo, porém Miguel (que cremos ser Cristo, Dan. 10:21; 12:1; S. João 5:28; Dan. 12:2; 1 Tess. 4:16) também o reclamava para si. Não seria admissível que houvesse uma disputa sobre a corpo de Moisés, a não ser que se tratasse da ressurreição desse corpo. A ambição maior do inimigo é manter mortos PARA SEMPRE todas os que são filhos de Deus, e dormem nos seus túmulos.
b) Lendo-se as ressurreições ocorridas na Bíblia, antes da de Cristo, costuma-se citar a do filho da viúva de Sarepta (I Reis 17) como a mais antiga. Temos, contado, em Romanos 4:14, essa espantosa revelação: "No entanto, a morte reinou desde Adão ATÉ MOISÉS ..." Notemos o verbo reinar, que quer dizer, dominar, prevalecer. Ora, depois de Moisés os homens continuaram morrendo, mas o texto acima nos diz que a morte teve domínio indiscutível sobre os mortais ATÉ MOISÉS. Em outras palavras, até Moisés ninguém se levantou do túmulo para provar que é possível reviver. Nisso o diabo viu seu império abalado. Vemos nisso evidência clara à ressurreição de Moisés.
c) Muitos comentadores não adventistas também admitem a ressurreição de Moisés. Olshausen entende que a narrativa da transfiguração é literal, e no seu comentário sobre o passo, afirma:
"Porque se admitimos a realidade da ressurreição do corpo e sua glorificação – verdades que indubitavelmente fazem parte da doutrina cristã – toda a ocorrência no monte não apresenta grandes dificuldades. A aparição de Moisés e Elias, que é tida por muitos como ponto assaz incompreensível, é facilmente concebida como possível, se aceitarmos a sua glorificação corporal."
O notável comentarista Adão Clarke assim considera o texto de S. Mateus 17:3:
"Elias veio do Céu no mesmo corpo com que deixou a Terra, pois fora trasladado, e não viu a morte. (II Reis 2:11). E o corpo de Moisés fora provavelmente ressuscitado, como sinal ou penhor da ressurreição; e como Cristo está para vir a julgar os vivos e as mortos – porque nem todos morreremos, mas todos seremos transformados (I Coríntios 15:51) – Ele certamente deu plena representação deste fato na pessoa de Moisés, que morrera e então fora trazido à vida (ou aparecera naquele momento como aparecerá ressurreto no dia final), e na pessoa de Elias, que nunca provou a morte. Ambos os corpos (Moisés e Elias) apresentavam a mesma aparência, para mostrar que os corpos dos santos glorificados são os mesmos, quer a pessoa seja arrebatada (viva) ou ressuscitada (estando morta)."
d) Os judeus criam na ressurreição de Moisés. Havia entre eles um livro apócrifo intitulado "Assunção de Moisés." Crê-se geralmente que Judas 9 é nada menos que ama citação desse livro.
e) A maior prova, porém é o fato de Moisés aparecer glorificado no monte.
Cita ainda o Sr. Pitrowski I Cor. 15:20 para concluir que Cristo foi o primeiro a ser ressuscitado. Leiam-se, contudo, estas passagens: I Reis 17:17-22; II Reis 4:32-36; S. Mat. 27:52 e 53; S. Luc. 7:14; S. João 11:43 e 44; Heb. 11:35, além de outras. Mas ressurreição para a glória, a primeira foi a de Moisés.
Cristo, feito "as primícias dos que dormem," não significa que fosse a primeiro da ressurreição, pois em outro texto semelhante a Tradução Brasileira reza: "seria Ele o primeiro que, pela ressurreição dos mortos, havia de anunciar a luz ao povo e aos gentios." Atos 26:23.
E Boomfield, em seu comentário pondera:
"As palavras do texto podem ser traduzidas 'depois da ressurreição dos mortos' ou 'pela ressurreição,' sendo mais exata esta última."
Wakfield traduziu assim o passo:
"Cristo sofreria a morte, e seria o primeiro a proclamar a salvação a seu povo e aos gentios pela ressurreição dos mortos."
"Primícias" não está em relação com prioridade, mas como símbolo. Relaciona-se com o molho movido que o sacerdote erguia na festa dos asmos, na dedicação dos primeiras frutos da colheita. Cristo era o Antítipo dos molhos, do mesmo modo como é chamado Cordeiro por ser Antítipo dos cordeiros do sacrifício, no ritual do santuário. Houve muitos cordeiros sacrificados antes dEle. Como Antítipo, Cristo é as primícias dos que dormem. Leia-se S. Tia. 1:18 e ver-se-á que também somos primícias. Em Apoc. 14:4 se lê que os 144.000 são primícias também.
E assim se desmantela mais uma ficção imortalista.
As Almas Debaixo do Altar
Na mesma pág. 104, o oponente se refere às almas dos mártires debaixo do altar no Céu (Apoc. 6:9-11). E diz que são espíritos sem corpo. Antes de refutarmos, será bom repetir que c livro de Apocalipse é eminentemente simbólico, e o próprio opositor, à pág. 20 declara: "Ora, é fácil confundir e enganar alguém com interpretações plausíveis que se dêem a estes símbolos." E é precisamente isto que ele faz, na argumentação das "almas debaixo do altar" considerando coma um lato real aquilo que é simbólico. Ora, esta passagem não pode ser tomada em sentido literal. Além disso, é preciso considerar:
a) Se é verdade que as almas dos justas, ao morrerem eles, vão diretas para a glória, não ficariam acotoveladas debaixo do altar dos sacrifícios, sofrendo aflitas, clamando em altos bradas por vingança contra os inimigos Nem isto é do espírito cristão, que manda "amar os inimigos, e orar por eles."
b) Afirmar que o altar estava no Céu é temerário, pois o único altar que lá existe, é a altar do incenso, e não o do sacrifício, e o dato de dizerem que queriam vingança "dos que habitam sobre a Terra" não indica que estivessem no Céu. Mesmo porque, segundo a melhor exegese, estas "almas" eram as pessoas vítimas da matança do cavaleiro chamado Morte, descrito no quarto selo. Queremos dizer que as "almas" que aparecem sob o quinto selo foram mortas sob o selo precedente, dezenas ou mesmo centenas de anos antes, portanto os seus perseguidores já estavam mortos, e ainda de conformidade com a teologia popular deveriam já estar no inferno, portanto já sofrendo a punição, sendo inócuo, pois, o clamor por vingança.
Com referência ao altar, Diz Adão Clarke:
"Foi-lhe apresentada uma visão simbólica, na qual ele viu um altar; e debaixo dele as almas dos que foram mortos por causa da Palavra de Deus – martirizados pela sua fidelidade ao cristianismo – são representadas coma sendo recentemente mortas, vítimas da idolatria e da superstição. O altar acha-se na Terra e não no Céu."
Portanto o clamor por vingança era simbólico. Diz-se que o sangue de Abel clamava a Deus. Gên. 4:9 e 10. O salário dos trabalhadores, retido por fraude, clamava, e seu clamor chegou aos ouvidos de Deus. S. Tia. 5:4. Houve, na visão, a mesma personificação atribuída ao rico e Lázaro. Nada mais.
Diz Alberto Barnes, em seu comentário sobre o passo:
"Não devemos supor que isto ocorreu literalmente, e que João viu de fato as almas dos mártires debaixo do altar, porque toda a representação é simbólica; tampouco devemos supor que os ofendidos e maltratados estejam de fato no Céu clamando por vingança contra aqueles que os maltrataram... Pode-se, contudo bem concluir que haverá uma lembrança dos sofrimento dos perseguidos tão real como se ali fosse feito semelhante clamor, e que os opressores têm tanto a temer da vingança divina como se aqueles a quem injuriaram clamassem no Céu ao Deus que ouve as orações e exerce vingança."
As visões dos selos referem-se a eventos históricos, passados na Terra. Essas "almas" (pessoas) por certo não estavam vivas quando João as viu sob o quinto selo, pois somente depois da ressurreição estariam vivas e fruiriam o milênio. Ler Apoc. 20:4.
Se fossem "espírito" como quer o oponente, como se concebe espíritos imponderáveis, fluídicos e abstratos vestindo roupagens brancas?
Não, tratava-se de uma visão. Tudo era simbólico. Como a reputação das mártires tivesse sido enegrecida, então se mostrou sua inocência pelo símbolo de vestiduras brancas. A passagem de modo algum se destina a ensinar a doutrina da consciência na morte. Nem a pessoa na glória pede vingança. Assim vai por terra mais um castelo de cartas...
Expressões de Paulo
II Cor. 5:1-8. O oponente fez uma confusão propositada visando a obscurecer a pensamento paulino. Diremos sucintamente que a expressão "nossa casa terrestre deste tabernáculo" refere-se ao corpo. Diz que aqui gememos no corpo, por isso aspirava ser revestido da habitação celestial (corpo glorificado). Queria que o mortal se revestisse da imortalidade (verso 4). Quando se dará isso? Ele mesmo nos diz que isso só ocorre na ressurreição, nunca antes. LER I COR. 15:51-54. Ler, reler e reter.
Assim se harmoniza o pensamento límpido de Paulo como que ele próprio escreveu, sem distorções grosseiras. "Enquanto no corpo, ausente do Senhor." Depois da ressurreição, presente com o Senhor, pois estaremos fora deste corpo, revestido do corpo imortal e glorificado. O texto invocado não diz quando se operará esta mudança, mas em I Cor. 15 nos é dito claramente. Na ressurreição. Por que fugir da verdade bíblica, apenas par um capricho?
Filip. 1:23. Também Paulo fala de seu desejo de estar com Cristo o que é melhor, e de fato o é. Este partir, significa, de fato, o fim da jornada. Mas, a inconsciência da morte, que para nós se conta por séculos ou milênios, é um ápice de tempo para os que dormem na tumba.
II Cor. 12:2-4. A experiência do arrebatamento de S. Paulo. Quer o opositor que a expressão "ausente do corpo" signifique que um "espírito" dele se evadiu. Na verdade, nos escritos paulinos a expressão "fora do corpo" requer outra interpretação. Em I Cor. 5:3 ele emprega expressão eqüivalente, para dizer que, embora ausente de Corinto desejava lá estar em espírito para resolver um casa de disciplina na igreja. Será que Paulo praticava o chamado "desdobramento em campo astral" dos esoteristas? Porque, na verdade em II Cor. 12:2 o original diz ektos toy somatos, que bem traduzido é "longe do corpo," e em I Cor. 5:3, está apon to somati, "ausente do corpo" que a tradução Revista e Atualizada de Almeida verte acertadamente por "ausente em pessoa".
O mesmo pensamento ocorre em Col. 2:5: "embora ausente quanto ao corpo, em espírito estou convosco". Nem de leve insinuou Paulo que se referia ao "corpo" e ao "espirito" no sentido de alma imponderável, etérea, esgazeada, uma fumacinha que se evade do corpo... E nesse texto a expressão ainda é mais forte no original, pois em vez de corpo, Paulo emprega sarki (sarkos) que é carne. Seria "longe da carne". Em II Cor. 12, Paulo teve um arrebatamento de sentidos como outros registrados em Atos 10:10; 11:5; Apoc. 1:10. Nada além disso. O mais é intriga da oposição religiosa.
Quanto ao "partir" de Paulo, como já se disse, indicava Sua morte, apenas isso. Mas não esperava, com a marte, receber imediatamente o galardão. Citemos apenas um texto para provar isso. "O tempo da minha partida é chegado ... a coroa da justiça me está guardada, a qual o senhor me dará NAQUELE DIA." II Tim. 4:6 e 8. Que dia, perguntaríamos. O próprio Paulo nos diz claramente: "a todos quantos amam a SUA VINDA." (verso 8, última parte). Prefiro crer em Paulo a crer em qualquer doutrinador humano.
Quanto a expressão dormir, largamente empregada na Bíblia, significa o estado de inconsciência dos mortos até o dia da ressurreição, quando os justas receberão a imortalidade. "Lázaro dorme, mas vou acordá-lo do seu sono" – disse Jesus (S. João 11:11). Pouco depois, "Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu" (verso14). O sono é a inconsciência da morte. Nada mais. Prefiro crer em Cristo a crer nos imortalistas e pagãos.
No final do cap. VIII, o autor demonstra sua completa ignorância da doutrina adventista sobre a vida futura. Tacha-a de "crasso materialismo," "que o homem morre como animal", que só "os ateus e os devassos" concordam que tudo "acaba na morte", e podem viver sem receio na maior devassidão. Deus é testemunha dessa acusação sem fundamento! Cremos que, por ocasião da volta gloriosa do Senhor, os justos serão arrebatados para fruírem a vida eternas no reino de Cristo. Terão a imortalidade, o gozo, a bem-aventurança eterna. Brilharão para sempre. Não morre ninguém "como animal" – isto é invenção do nosso descaridoso e grosseiro oponente.
Quanto aos ímpios, ressurgirão depois do milênio, sendo finalmente punidos, com fogo e enxofre, numa pena proporcional à culpa de cada um. Porque a justiça requer que a punição seja proporcional ao crime. O homem será julgado e punido "segundo as suas obras;" "segundo o fruto de suas ações"; "segundo o fruto das suas obras"; "segundo as suas obras"; "segundo a sua obra". S. Mat. 16:27; Jer. 17:10; 32:19; Rom. 2:6; Apoc. 22:12.
Repetimos: a destruição dos ímpios não é coisa momentânea, não é instantânea e terá duração proporcional à culpa de cada um. Alguns por mais tempo; outros por menos tempo; e outros ainda quase nada. Mas finalmente terão que ser destruídos, pois assim o exige a economia do Céu. A esperança dos adventistas centraliza-se em Cristo e na ressurreição. Mas o oponente ignora isso, e diz que ensinamos que, com a morte "tudo se acaba." Por que diz isso? Por que tão grosseira mentirá? Por quê?