TODO o capítulo XI é uma tessitura de fantasias que, a rigor, nem mereceria uma confutação, passo por passo; contudo vamos ligeiramente mostrar certos equívocos, e reiterar as características bíblicas da besta. A Bíblia faz uma roupa sob medida que se ajusta perfeitamente neste poder político-religioso, e basta um pouco de acuidade para o descobrir.
1°. Engano: A localização cronológica do aparecimento da besta, que o autor insiste que será no fim do mundo, baseando-se erroneamente nas palavras de fecho do livro de Daniel: "encerra as palavras e sela o livro até ao tempo do fim." Dan. 12:4.
Ora, isto se refere ao fato de as profecias de Daniel serem entendidas no tempo do fim e a outros fatos que ocorreriam nesse tempo. Nunca porém o surgimento do anticristo, porque ele tem sua origem no quarto animal (Dan. 7:19). Aí está o ponto de partida dos eventos que gerariam o poder. E o quarto animal, com características estranhas, definido em Dan. 7:7 na ordem dos animais que desfilam na capítulo, significa o império romano, que sucedeu respectivamente a Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia.
O quarto animal seria o quarto reino (Dan. 7:23), o qual é necessariamente Roma. Desse império romano saía o poder político religioso que a Bíblia denomina de besta. E saiu no fim da época em que Roma imperava. A divisão do império romano, em dez reinos, completou-se em 476 A. D. O poder político-religioso deveria surgir depois dessa data. É o assunto dos reinos, e do surgimento deste poder é um assunto distinto de outros. "Aqui terminou o assunto" (verso 28). Esta é a interpretação correta, da escola histórica de interpretação profética.
2°. Engano: Diz à pág. 121 que ensinamos ter o papado surgido em 538 e ACABADO em 1790. Cremos que o oponente ouviu cantar o galo mas não sabe onde, pois nem o papado acabou em 1790, como jamais, em tempo algum afirmamos esse disparate!
Aliás, essa data de 1790 está errada, erradíssima. Desconhecemo-la totalmente. Deve ser 1798, como está em nossos livros, mas não se refere ao fim do papado. Ensinamos o seguinte:
O período que vai de 538 a 1798 refere-se a 1260 anos da supremacia papal. Diz a História que em 538, a derrota dos ostrogodos liquidou o poder ariano na Itália e deu início à supremacia do bispo de Roma. No decorrer desses 1260 anos, a igreja dos fiéis sofreu toda sorte de perseguições. Em 1798, em pleno regime de terror da Revolução Francesa, o catolicismo enfraqueceu-se, foi instituído o culto da razão, o papa foi aprisionado pelo Gal. Berthier e morreu no exílio. Este é o período de 1260 anos. Além dessa exata contextura histórica, temos as profecias desse período de 1260 anos de perseguição aos fiéis. Consoante o princípio interpretativo do dia-ano (Núm. 14:34; Ezeq. 4:6), temos três predições que se harmonizam e se completam. Ei-las:
Dan. 7:25: "um tempo, tempos e metade de um tempo", ou seja um ano, dois anos, e meio ano. O ano biblicamente era de 360 dias.
Então, temos 360 + 720 + 180 = 1.260 dias (ou anos)
Apoc. 13:5: "quarenta e dois meses." sendo o mês de 30 dias, temos 42 x 30=1.260 dias (ou anos).
Apoc. 12:6, remata claramente 1.260 dias (ou anos).
Tudo concorre para a exatidão da época que durou a supremacia do poder perseguidor. Como surgiria no fim?
3°. Engano. Perfilhando a escola futurista de interpretação e rejeitando a escola histórica que é a correta, o autor coloca o Anticristo no futuro, admitindo apenas "protótipos" dele, como Antíoco Epífano..." e mesmo os papas." Não, o Anticristo emergiu das dez divisões do quarto reino (Roma), e prosperou durante a Idade Média. Antíoco Epífano não cumpre com exatidão as especificações proféticas, entre muitas pelas seguintes razões:
1ª. Os quatro chifres do bode (Dan. 8:8) eram reinos (verso 22). Logicamente a ponta pequena também deve ser um reino. Ora, Antíoco era apenas um rei do império selêucida, portanto uma parte de uma ponta. Necessariamente não podia ser outro chifre completo.
2ª. Esta ponta, segundo a profecia, se desenvolveu em direção ao Sul, ao Oriente e à terra formosa da Palestina (verso 9). Ora, Antíoco avançou para o Egito, terminando em humilhação imposta pelos romanos. Os sucessos de Antíoco na Palestina foram de curta duração, e sua marcha para o Oriente foi cortada pelo seu falecimento. E sua política para dominar o helenismo ruiu completamente, e tampouco seus feitos lhe deram notável "prosperidade" (verso 12) que a profecia reclama.
3ª. Antíoco não atingiu o período final (verso 23) senão em meados da época em que o helenismo se dividia em reinos. Na verdade sua política foi mais pontilhada de fracassos do que de êxito. (Ler o verso 25). Ele não cumpre especificações na profecia.
4ª. Antíoco não se levantou contra o "Príncipe dos príncipes (v. 25). Também nesse particular carece ele de cumprimento.
5ª. Seu "lançar a verdade por terra" (verso 12) foi temporário e completamente inócuo, sem resultado, porque suscitou os judeus a defenderem sua fé contra a influência do helenismo.
6ª. Embora Antíoco proferisse palavras arrogantes, oprimisse os judeus e, por pouquíssimo tempo profanasse o Templo, é óbvia e flagrante a inadequação desse rei em preencher muitos pontos da profecia, os pontos mais importantes.
7ª. Para forçar Antíoco a ser a "ponta pequena" de Dan. 7, seria necessário reduzir os 2.300 dias proféticos (Dan. 8:14) a 1.150 dias literais (e não anos) pois só mediante este artifício se pode obter um período de 3 anos de devastação do Templo levada a efeito pelo rei invasor.
4º. Engano: não levar em conta, com isenção, as características dominantes do poder político-religioso. Eis as principais:
"Proferirá palavras contra o Altíssimo". Pediria ao opositor que lesse o II tomo, Vol. VI, págs. 26-29 da Prompta Biblioteca de Lucius Ferraris. Também o Acta Conciliorom, de P. Joannis Hardium, Vol. IX, pág. 1651.
"Magoará os santos da Altíssimo". O autor desconhece a história da inquisição, das perseguições aos valdenses e albigenses, atrocidades das matanças, notabilizando-se a da noite de S. Bartolomeu? Os tribunais do santa ofício, o "crê ou morre"? Apoc. 13:7; 18:24.
"Cuidará em mudar os tempos e a lei". Compare um catecismo com o decálogo bíblico. Ver-se-á a diferença.
"Um tempo, tempos e metade de um tempo", o mesmo que "quarenta e duas semanas" enfim os "1.260 dias". Os 1.260 anos da supremacia, tempo da perseguição, de 538 a 1798.
Quem os cumpriu? Dan. 8:11 e 12 refere-se a uma subversão da estrutura religiosa, e isto foi cumprido pelo poder em tela. Inclusive procurou usurpar prerrogativas do Príncipe dos príncipes, como "adoração", "autoridade de perdoar pecados", "títulos de exaltação" etc. Seria adorado. Apoc. 13:8.
Cores "púrpura e escarlata". Apoc. 17:4; 18:16.
Teria sede na "cidade de sete montes" Apoc. 17:9. Roma tinha as célebres sete colinas ou montes (Aventino, Esquilino, Capitolino, Palatino, Viminal, Quirinal e Céstio).
Exerceria domínio quase universal. Apoc. 17:15.
Aí estão algumas peças da roupa feita sob medida. Com isto reafirmamos nossa interpretação. E com a proclamada união das igrejas, com o predominante espírito de ecumenismo liderado por esse poder político-religioso, já nos Estados unidos começam a surgir as "leis azuis" que cominam punição aos que não guardam o domingo.