Há um texto da autoria do apóstolo S. Paulo, que exalta a soberania de Cristo como agente da Criação, proclamando-Lhe, de modo inequívoco, a Divindade:
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Col. 1:15-17.
É exatamente o que diz a Bíblia, nem mais nem menos. Como, porém, vamos lidar com uma grosseira falsificação, reproduzamos o texto original grego, com tradução interlinear ad litetam:
hos estin eikon tou theon tou asratou, prototokos pasés
o qual é imagem do Deus do invisível, primogênito de toda
ktiseos, hoti én auto ektisthe ta panta én tois ouranos
criação porque nEle criaram-se as todas as coisas em os céus
kai epi tes ges ... Ta panta di autou kai eis autún
e sobre a terra ... as todas as coisas por meio dele e para Ele
ektistai. Kai autós estin pró panton. Kai ta
se criaram. E Ele é antes de todas as coisas. E as
panta én auto unesteken.
todas as coisas em Ele subsistem.
Pois bem, com o objetivo de forçar o texto a dizer o que não diz e amparar suas heresias, as chamadas "testemunhas de Jeová" não se pejaram de ACRESCENTAR nele palavras apócrifas, que absolutamente não existem no original, e isto não constitui apenas violência ao texto e perversão das Escrituras, mas uma falsificação pura e simples. Vamos primeiramente citar o mesmo texto como se encontra na Tradução Novo Mundo, em inglês:
"Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, porque por meio dEle todas as outras coisas foram criadas nos céus e sobre a terra... Todas as outras coisas têm sido formadas por meio dele e para Ele. Também Ele é antes de todas as outras coisas e por meio dEle todas as outras coisas foram tornadas existentes".
Neste trecho, a palavra "outras", que não consta do original, foi inserida quatro vezes sem nenhuma justificação. É uma excrescência, um acréscimo indevido, uma interpolação. Sem nenhum sentido, a não ser sugerir a errônea cristologia ariana. Na "traduçãozinha" Novo Mundo, Edição Brasileira, a palavra outras vem entre colchetes:
"Também, Ele é antes de todas as [outras] coisas e todas as [outras] coisas vieram a existir par meio dEle".
Procurando justificar esse disparate, a Tradução Novo Mundo em inglês traz um rodapé, assinalado com um (a) cada emprego da palavra "outras", indicando ao leitor que leia S. Luc. 13:2, 4, "e em outros lugares" em busca de apoio para essa tradução anti-gramatical. Contudo, lendo-se os textos indicados no grego verifica-se que também não consta a palavra "outras", embora algumas versões o consignem. Admitir-se-ia neste último caso, em que Jesus contrasta certos galileus com outros galileus; mas jamais seria admissível em Col. 1:15-17 inserir-se palavras apenas para provar ponto doutrinário, nem se trata aí de comparação de espécie alguma. É totalmente incabível, e não se pode citar o testemunho de nenhuma autoridade no grego para abonar um desconchavo tão gritante. Além do mais, todo o contexto é uma descrição exaltada e superlativa de Jesus como imagem do Deus invisível. Leia-se também S. João 1:3 e Heb. 1:3, e ter-se-á o sentido exato do que S. Paulo afirma.
Portanto, a inclusão da palavra "outras", mesmo entre colchetes, só tem o objetivo de referir-se a Jesus como igual às demais coisas criadas. A Bíblia comina uma praga apocalíptica para os que acrescentam palavras à Palavra de Deus. Apoc. 22:18. No caso em tela, se S. Paulo quisesse dizer "outras", teria escrito "(ta) alla", mas não o fez. E é em pilares como este que escoram suas doutrinas.
Desmascarada mais essa fraude jeovista, convém determo-nos um pouco sobre duas expressões por eles muito exploradas no deliberado intuito de justificarem a doutrina de que Cristo, em Sua existência pré-terrestre, foi "criado" por Deus, o Pai. A primeira encontra-se no texto em causa: "o primogênito de toda a criação" (Col. 1:15); a segunda, em Apoc. 3:14: "o princípio da criação de Deus". Procurando ligar estes dois textos com S. João 1:1, deturpado, concluem que Cristo foi "criado" e "teve um princípio".
Querem os jeovistas que "primogênito" signifique unicamente e exclusivamente "criado primeiro", antes da criação geral. Ora, se fosse realmente assim, S. Paulo teria escrito PROTOKTISTOS que é a palavra grega a significar exatamente "criado primeiro". No entanto o apóstolo dos gentios escreveu PROTOTOKOS, que significa coisa bem diferente, significa "primogênito". Note-se que tem o elemento "primo" que se refere tanto à posição como ao tempo. Isto é importante. Assim S. Paulo refere-se não somente à prioridade de Cristo sobre toda a criação, mas também à SUA SOBERANIA SOBRE TODA A CRIAÇÃO. "Gerado" e não "criado"' é o que está implícito no vocábulo. É uma primazia sobre as coisas criadas.
Aliás o abalizado J. H. Thayer, no seu velho léxico grego-inglês declara que "protos" "é primeiro, o Eterno". Idéia de prioridade e exaltação.
Os textos de modo algum indicam que Cristo fora um ser criado, a não ser no sentido físico (S. João 1:14) por ocasião de Sua encarnação (S. Luc. 1:35).
Em Apoc. 3:14, temos: "O princípio da criação de Deus" (Grego: he archê tês ktiseos tou theou). Houve tempo em que os russelitas interpretavam esta expressão como Cristo Se referindo a Si mesmo como "criado por Deus", mas dada a insustentabilidade desta posição em face do artigo "tou" na forma genitiva (de), viram-se forçados a aceitar a versão clássica "criação de Deus" a assim consta também da traduçãozinha brasileira" Novo Mundo, pois não ousaram verter "por Deus". Se o sentido fosse realmente "criação por Deus", haveria obrigatoriamente a preposição ypó. Tal, porém, não se dá. E recuaram, derrotados no grego!
Além disso, a palavra archê pode ser corretamente traduzida por "origem", e o sentido exato seria "a origem da criação de Deus". Tanto é esse o sentido que os jeovistas, na sua versão inglesa Novo Mundo (edição 1950), traduzem S. João 1:1 assim: "Originariamente era o Verbo". Archê, como princípio, dá idéia de origem, fonte primária. Convém reler S. João 1:3 para confirmação.
Acrescentaríamos ainda que primogênito encerra, em muitos casos, a idéia de importância e não de prioridade. Por exemplo: Em Êxo. 4:22, Israel é chamado primogênito, mas Esaú nasceu antes dele. Em Jer. 31:9, Efraim é chamado primogênito, contudo Manassés nasceu antes dele. Evidentemente o sentido é de importância, dignidade, eminência, e não circunscrito a um acidente genetlíaco. A esta altura recomendaríamos aos jeovistas "buscarem a sabedoria", a exercerem "os olhos do entendimento"!
Diríamos ainda que, da mesma fonte etimológica, nos vem a palavra "primícias" que se traduz por "primeiros frutos". No entanto Jesus é chamado "primícias dos que dormem", não no sentido de prioridade de tempo, porque houve ressurreições antes da dEle. O sentido é de dignidade, exaltação, eminência, soberania. Poderíamos invocar autoridades lingüísticas em abono desta verdade.
Reafirmamos nossa crença trinitariana, bíblica e cristã: Cristo é Deus, a Segunda Pessoa da Trindade.
Sentido Real de "Unigênito"
Outra palavra bíblica de que abusam é unigênito. É tradução do grego "monoguenes". No seu inglório empenho de firmar a Cristologia ariana, as "testemunhas" agarram-se também a esta palavra, e, com astúcia, conseguem, por vezes, engodar pessoas não bem informarias, levando-as à conclusão de que "unigênito" significa e tão-só "único gerado", "único filho" nascido de Deus. Partindo desta idéia errônea, sugerem que, desde que esta palavra se aplica a Jesus Cristo cinco vezes no Novo Testamento, a conclusão irreversível é de que Ele é uma criatura. E gostam de citar o texto de S. João 1:18 como se acha no Códice Alexandrino: "O único Deus gerado".
No entanto, por ignorância ou má fé, esquecem-se de que os mais autorizados léxicos e gramáticas, os quais, sem exceção, vertem "monogenes" por "só e único membro de uma raça ou espécie, daí ser único (mono)". Esta definição, a mais autorizada, foi extraída de Liddell and Scott Greek English Lexicon, Vol. 2, pág. 1.144.
Para reforçar a verdade dos fatos, citamos ainda os abalizados Moulton and Milligan, os quais, em seu vocabulário do grego do NT, páginas 416 e 417 traduzem:
"Monogenes: Um de uma espécie. Único. Singular".
Primogênito é no NT empregado no sentido da máxima exaltação de Cristo como Filho de Deus. Lemos em Rom. 8:29: "... a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos". E isto nada mais é do que uma ênfase à posição privilegiada e honradíssima de Cristo como o Irmão Mais Velho da família redimida por Ele. Não Se envergonha de nos chamar "irmãos". Heb. 2:11.
Há também a "igreja dos primogênitos", isto é, dos crentes que, por terem nascido de novo, formam a igreja invisível. A primogenitura indica sempre uma posição elevada. Pois bem, "unigênito" por seu turno, indica unicidade, singularidade, especialidade, alguém que é alvo de carinho especial. Tanto no grego clássico como no koiné (grego do NT) o termo monogenes traz a idéia de "único, solitário, só, único membro de uma família particular".
Convém notar a esta altura que a Septuaginta – tão do agrado dos jeovistas – também emprega a palavra "monoguenes" como equivalente ao adjetivo hebraico "yachid", que significa "solitário", e assim se acha em Salmo 68:6, por exemplo. Isto denota que os tradutores da Septuaginta viram em "monoguenes" o sentido de unicidade, daí o realce posto em "único", "só" ou "um" (mono) e não em genus.
Se as "testemunhas de Jeová" insistem que "unigênito" seja tão-só "único gerado", então como se arranjam com o texto de Heb. 11:17 que afirma ser Isaque o "unigênito" de Abraão? Pois a Bíblia regista que Abraão teve, pelo menos, 8 filhos: Ismael, o primeiro, nascida de Hagar; Isaque, nascido de Sara; e mais seis filhos nascidos de Quetura. Contudo, Isaque é denominado "unigênito", não por ser o único filho, o único gerado (que tal não é o caso), nem por ser o filho mais velho, mas por ser o filho dileto, o filho da promessa, e por isso Abraão o amava de modo especial.
"Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo". S. Mat. 3:17. "Eis o Meu servo, que escolhi, o Meu amado, em quem a Minha alma Se compraz". S. Mat. 12:18. Tal é o sentido de "unigênito".
Uma comprovação de peso é o insuspeito Thayer, por ser unitariano. No seu "Greek English Lexicon of the New Testament", página 417, declara:
"Monogenes: .. Único de sua espécie; único... (monos) aplicado a Cristo indica o único filho de Deus".
A insistência dos russelitas tem origem num fato que eles desconhecem, ou preferem ignorar: que monogenes (grego) não tem o mesmo sentido de unigenitus (latim).
A propósito, N. Klann, co-autor de "Jehovah of the Watchtower", naquela obra à página 417, faz a seguinte observação:
"Lamentavelmente, na literatura antiga a palavra monoguenes tornou-se indevidamente ligada ao temo latino unigenitus. No entanto, esta igualdade de sentido é basicamente incorreta e basta um sério estudo lexicográfico para a demonstrar".
Como já se disse e se reitera, o jeovismo é uma religião mais preocupada com nomenclatura do que com fatos.