11 VIDA E OBRA DO CONQUISTADOR DE ALMAS

Conquistador de almas


Parece-me que há maior alegria em contemplar um corpo de crentes, do que a que resulta de simplesmente considerá-los como salvos. Inegavelmente há uma grande alegria na salvação, alegria capaz de fazer vibrar as harpas angélicas. 


Pensem na agonia do Salvador no resgate de cada um dos Seus remidos, pensem na obra do Espírito Santo em cada coração renovado, pensem no amor do Pai pousando em cada um dos regenerados. 


Ainda que eu continuasse a minha parábola durante um mês, não poderia expor todo o acúmulo de alegria que sentimos ao ver uma multidão de crentes em Cristo, se tão-somente consideramos o que Deus fez por eles, prometeu a eles e cumprirá neles. 


Mas existe um campo de pensamento ainda mais amplo, e minha mente esteve a percorrê-lo durante todo o dia de hoje – a idéia da imensa capacidade de serviço contida em um numeroso contingente de cristãos, as possibilidades de abençoar a outros ocultas no coração das pessoas regeneradas. 


Não devemos pensar demais no que já somos, a ponto de esquecer o que o Senhor pode realizar por nosso intermédio em beneficio de outros. Eis aqui os carvões em brasa, mas quem poderá descrever o incêndio que eles podem causar? 

Não devemos considerar a igreja cristã como uma luxuosa hospedaria onde os cristãos podem hospedar-se tranqüilamente, cada um em suas próprias acomodações; mas, sim, como um acampamento em que os soldados se reúnem para exercitar-se e receber treinamento para a guerra. Devemos considerar a igreja cristã, não como uma associação para mútua admiração e consolo recíproco, mas como um exército com os seus estandartes marchando para a batalha, a fim de obter vitórias para Cristo, destruir as fortificações do inimigo e acrescentar província após província ao reino do Redentor. Podemos visualizar as pessoas convertidas e que já se tornaram membros da igreja, como igual porção de trigo no celeiro. Graças sejam dadas a Deus porque esse fruto está ali e porque a colheita foi tão compensadora para o semeador. Muito mais inspiradora é, porém, a consideração de cada um daqueles cristãos como sendo passível de ser transformado em um centro vivo para a propagação do reino de Jesus, pois então os veremos todos a semear os férteis vales da nossa terra, prometendo produzir logo, uns a trinta, outros a quarenta, outros a cinqüenta, e outros a cento por um. 

A capacidade da vida é enorme; um torna-se mil em pouco tempo. Dentro de curto espaço de tempo, poucos grãos de trigo bastarão para semear o mundo inteiro, e uns poucos salvos fiéis poderiam ser suficientes para a conversão de todas as nações. É só tomar aquilo que se produziu em um ano, armazená-lo bem, semeá-lo outra vez, tornar a estocá-lo no ano seguinte, depois voltar a semeá-lo, e a multiplicação quase excederá a capacidade de contagem. Oh, se cada cristão fosse assim, ano após ano, a semente do Senhor! Se todo o trigo do mundo fenecesse, exceto um único grão, não levaria muitos anos a encher a terra de novo, semeando campos e planícies. Em tempo mais curto ainda, no poder do Espírito Santo, um Paulo ou um Pedro poderia evangelizar todos os países. Vejam-se a si mesmos como grãos de trigo predestinados a semear o mundo. Vive com grandeza o homem que tem tanto zelo como se a própria existência do cristianismo dependesse dele, e está decidido a que todos os homens a seu alcance sejam levados a conhecer as inescrutáveis riquezas de Cristo. 

Se nós, a quem Cristo se apraz era utilizar como semente da Sua Seara, fôssemos simplesmente espalhados e semeados como devíamos, e germinássemos e produzíssemos a folha verde e o trigo na espiga, que colheita haveria! De novo seriam cumpridas as palavras: "Será lançado um punhado de grãos na terra, nos cumes dos montes"; – lugar difícil para isto – "o seu fruto tremerá como o Líbano, e os da cidade florescerão como a relva da terra." Queira Deus fazer-nos sentir em algum grau o poder vivificante do Espírito Santo enquanto conversamos, não tanto sobre o que Deus fez por nós, como sobre o que Deus pode fazer por meio de nós, e até que ponto podemos colocar-nos na posição certa para sermos utilizados por Ele! 

Provérbios 11:30 diz: "O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas sábio é". As duas sentenças que compõem o texto distinguem com clareza estas duas coisas: A primeira é: a vida do servo de Deus está, ou devia estar, repleta de bênçãos para as almas. "O fruto do justo é árvore de vida," Em segundo lugar, o objetivo visado pelo cristão deve ser sempre a conquista de almas. "O que ganha almas sábio é." A segunda é quase a mesma coisa que a primeira, só que a primeira parte expõe nossa influência inconsciente, e a segunda os esforços que fazemos com o fim expresso de ganhar almas para Cristo. 

Comecemos do principio, porque não é possível levar adiante o segundo ponto sem o primeiro. Sem plenitude de vida interior, não pode haver transbordamento de vida para os demais. De nada servirá a nenhum de vocês pretender ser conquistadores de almas se não estiverem dando fruto em suas vidas. Como poderão servir ao Senhor com os lábios, se não O servem com a vida? Como poderão pregar o Seu Evangelho com a língua, quando com as mãos, os pés e o coração estão pregando o evangelho do diabo e estruturando um anticristo por praticarem a impiedade? Primeiro precisamos ter vida e dar fruto pessoal para a glória divirta, e depois, do nosso exemplo brotará a conversão de outros. Vamos à fonte, e vejamos como a vida do cristão é essencial para que ele seja proveitoso para outros. 


1. A VIDA DO CRISTÃO DEVE ESTAR REPLETA DE BÊNÇÃOS PARA ALMAS


Consideremos esta verdade mediante algumas observações que nascem do próprio texto. Primeiramente, notemos que a vida exterior do cristão provém dele na qualidade de fruto. É importante esta observação. "O fruto do justo" – isto é, sua vida – não é uma coisa atada a ele, mas é algo que provém dele. Não se trata de uma peça do vestuário que ele veste e despe, mas é algo inseparável do seu ser. A religião do homem sincero é o homem mesmo, não uma máscara que o esconde. A verdadeira piedade é o produto normal de uma natureza renovada, e não o crescimento forçado pelo calor artificial de uma estufa religiosa. Não é natural que a videira dê cachos de uvas, e que a tamareira dê tâmaras? Por certo é tão natural como a maçã de Sodoma achar-se nas árvores de Sodoma, e plantas daninhas darem bagas venenosas. 

Quando Deus dá uma nova natureza a Seu povo, a vida que dela procede surge espontaneamente. A pessoa cuja religião não faz parte integrante do seu ser, mais cedo ou mais tarde descobrirá que ela lhe é mais do que inútil. Quem usa a sua religiosidade como uma máscara de carnaval, de modo que, quando chega em casa, transforma-se de santo em selvagem, de anjo em demônio, de João em Judas, de benfeitor em tirano – quem age assim, digo eu, sabe muito bem o que o formalismo e a hipocrisia podem fazer com ele, mas não tem vestígio nenhum da verdadeira religião, Os pés de trigo não dão figos em certos dias e espinhos noutras épocas, pois são fiéis à sua natureza em todas as estações. 

Os que acham que piedade é questão de vestimenta e está intimamente ligada ao azul, ao escarlate a ao linho fino, são coerentes se guardam a sua religião até o tempo próprio para o uso de suas pompas sagradas. Mas aquele que descobriu o que o cristianismo é, sabe que é muito mais vida do que atos, forma ou profissão. Por mais que eu ame, como amo, o credo cristão, estou pronto para dizer que cristianismo é muito mús vida do que credo. É credo, e tem as suas cerimônias, mas é principalmente vida. É uma divina centelha das próprias chamas do céu, centelha que cai no interior do ser humano e ali arde, consumindo muita coisa que jaz oculta na alma e depois, finalmente, flameja como vida celeste de molde a ser vista e sentida pelos circunstantes. Sob o poder permanente do Espírito Santo, um ser humano regenerado torna-se como aquela sarça em Horebe, totalmente inflamada pela Divindade. Deus no seu interior o faz brilhar de modo tal que o lugar à sua volta fica sendo terra santa, e os que olham para ele sentem o poder de sua vida santificada. 

Diletos irmãos, devemos ter cuidado de que a nossa religião seja cada vez mais algo proveniente das nossas almas. Muitos confessos se vêem limitados por frases como esta: "Não devem fazer isto ou aquilo", e impelidos por outras deste tipo: "É seu dever fazer isto e aquilo". Há, porém, uma doutrina, demasiado deturpada e que, não obstante, é uma bendita verdade que deve habitar os nossos corações. "Não estais sob a lei, mas sob a graça". Daí, vocês não obedecem à vontade de Deus porque esperam ganhar o céu com isso, ou porque sonham com a idéia de escapar da ira divina por meio dos seus feitos, mas porque em vocês há vida que procura seguir aquilo que é santo, puro, reto e verdadeiro, e não pode suportar aquilo que é mau. Vocês são cuidadosos na prática constante de boas obras, não por esperanças nem temores baseados na lei, mas porque há algo santo dentro de vocês, algo nascido de Deus e que procura, de acordo com a sua natureza, fazer o que é agradável a Deus. Vigiem para que a sua religião seja cada vez mais real, verdadeira, espontânea, vital – não artificial, constrangida, superficial, uma coisa que consiste de tempos, dias e lugares, um fungo produzido pela excitação, uma fermentação gerada por reuniões e estimulada pela oratória. 

Todos nós precisamos de uma religião que possa viver tanto no deserto como no meio da multidão; religião que se mostre em cada passo da vida e seja qual for a companhia. Dêem-me a piedade que se vê em casa, especialmente ao pé da lareira, pois nunca é mais bela do que ali; que se vê na luta e no afã dos negócios comuns, no meio dos escarnecedores e dos adversários, bem como no meio de cristãos. Mostrem-me a fé capaz de desafiar os olhos de lince do mundo, e ande destemidamente onde todos ficam carrancudos, com os olhos enfurecidos pelo ódio, como também onde há observadores que simpatizam conosco e amigos que nos julgam com indulgência. Oxalá vocês sejam enchidos com a vida do Espírito, e todo o seu comportamento e a sua conversação sejam o espontâneo e bendito resultado dessa habitação do Espírito nos seus corações. 

Observe-se, em seguida, que o fruto proveniente do cristão corresponde ao seu caráter. "O fruto do justo é árvore de vida." Cada árvore produz o seu fruto peculiar, e por este é conhecida. O justo dá fruto justo. Não nos deixemos enganar em nada irmãos, nem caiamos em nenhum erro quanto a isto. "Aquele que pratica a justiça é justo" e "todo aquele que não pratica a justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu irmão." Estamos preparados, espero, para morrer pela doutrina da justificação pela fé, e para afirmar diante de todos os adversários que a salvação não é pelas obras. Mas também confessamos que somos justificados por uma fé que produz obras, e se alguém tem fé que não produz boas obras, é fé igual à dos demônios. A fé salvadora apropria-se da obra consumada pelo Senhor Jesus, e assim ela basta como meio de salvação, pois somos justificados somente pela fé, sem obras. Mas a fé sem obras não pode trazer salvação a ninguém. Somos salvos pela fé sem obras, mas não por uma fé que não produz obras, pois a verdadeira fé que salva a alma opera pelo amor e purifica o caráter. 

Se vocês fazem trapaças detrás do balcão, sua esperança do céu também é fraude. Ainda que orem lindamente como ninguém, e pratiquem atos de religiosidade externa como qualquer hipócrita, enganam-se se crêem que serão aprovados afinal. Se como servos são preguiçosos, falsos e negligentes, ou se como amos são duros, tiranos e anticristãos com a sua gente, os seus frutos mostram que vocês são árvores do pomar de Satanás e produzem maçãs do gosto dele. Se vocês podem trapacear nos negócios, se podem mentir – e quantos mentem todo dia sobre os seus vizinhos e sobre os seus bens! – podem falar quanto quiserem da sua justificação pela fé, mas todos os mentirosos terão sua parte no lago que arde com fogo e enxofre, e entre os maiores mentirosos estarão vocês, pois serão culpados da mentira de dizer "sou cristão", não o sendo. Uma falsa profissão de fé é uma das piores mentiras, visto que traz a maior desonra a Cristo e a Seu povo. O fruto do justo é a justiça. A figueira não dará espinhos, nem colheremos uvas do espinheiro. Por seu fruto se conhece a árvore, e se não podemos julgar o coração dos homens, e não devemos tentar fazê-lo, podemos julgar a sua vida. E rogo a Deus que nos capacite a julgar as nossas próprias vidas, e a ver se produzimos o fruto da justiça porque, caso contrário, não somos homens justos. 

Contudo, não nos esqueçamos de que o fruto do justo, conquanto provenha naturalmente dele, pois a sua natureza renascida produz o doce fruto da obediência, é sempre o resultado da graça, e dom de Deus. Nenhuma verdade deveria ser mais lembrada do que esta: "De Mim será achado o teu fruto". Nenhum fruto poderemos produzir, a não ser que permaneçamos em Cristo. O justo florescerá como um ramo, e somente como um ramo. Como floresce o ramo? Por sua ligação com o tronco, e o conseqüente influxo da seiva. Assim, embora as ações justas do homem justo sejam dele mesmo, são sempre produzidas pela graça infundida nele, e este jamais ousa reclamar para si nenhum crédito por elas, mas canta: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória". Se o justo falha, culpa-se a si próprio; se triunfa, glorifica a Deus. Imitem o seu exemplo. Assumam a responsabilidade por todas as suas faltas, fraquezas e deficiências; e se em qualquer aspecto lhes faltar perfeição – e é certo que lhes faltará – atribuam tudo a si mesmos, e não procurem excusar-se. Se houver, porém, alguma virtude, algum louvor, algum desejo legítimo, alguma oração real, alguma coisa de bom, atribuam tudo ao Espírito de Deus. Lembrem-se, o justo não seria justo, a menos que Deus o fizesse justo, e o fruto da justiça jamais brotaria dele, a menos que a seiva divina em seu interior produzisse aquele fruto desejável. Somente a Deus seja toda a honra e glória. 

A principal lição da passagem é que este surgimento da vida proveniente do cristão, esta conseqüência da vida que há nele, este fruto da sua alma, vem a ser uma bênção para os demais. Como uma árvore, dá sombra e sustento aos que o rodeiam. É árvore de vida, ilustração que não sou capaz de explicar como gostaria, pois existe um mundo de instruções concentradas nesse exemplo. Aquilo que para o próprio cristão é fruto, para outros torna-se árvore. É uma singular metáfora, mas de modo algum inaplicável. Do filho de Deus cai o fruto do santo viver, como a bolota cai do carvalho. Esta vida santa torna-se influente e produz os melhores resultados noutras pessoas, como a bolota vem a ser carvalho e empresta sua sombra às aves do céu. A santidade do cristão transforma-se em árvore de vida. Para mim, isto significa árvore que vive, árvore destinada a dar vida a outros e a sustentá-la neles. O fruto vira árvore! Árvore de vida! Que resultado maravilhoso! Cristo estando no cristão, produz um caráter que se torna árvore de vida. O caráter externo é fruto da vida interna. Esta vida exterior desenvolve-se de um fruto numa árvore, e como árvore, dá fruto em outros, para o louvor e glória de Deus. 

Diletos irmãos e irmãs, conheço alguns santos de Deus que vivem bem perto dEle, e evidentemente são árvores de vida, pois a sua sombra é consoladora, refrescante e restauradora para muitas almas cansadas. Tenho visto o jovem, o sofrido e o marginalizado ir em busca deles, sentar-Se à sua sombra, despejar a história das suas aflições, e desfrutar rica bênção ao receber sua compaixão, ao ouvi-los falar da fidelidade do Senhor, e ao serem guiados no caminho da sabedoria. Há uns poucos homens bons neste mundo, conhecer os quais é ser rico. Estes homens são bibliotecas da verdade do Evangelho. São melhores do que os livros, porém, porque neles a verdade está escrita em páginas vivas. O seu caráter é uma árvore viva e verdadeira. Não é apenas um seco poste de doutrina, cuja inscrição se deteriora com o passar do tempo, mas, sim, algo vital, orgânico, frutífero – arvore do plantio da destra do senhor. 

Alguns santos não só dão consolo a outros seres humanos, como também os alimentam espiritualmente. Cristãos bem preparados há que passam a ser como pais e mães enfermeiros, que fortalecem os fracos e pensam as feridas dos quebrantados de coração. Assim também as ações praticadas com generosidade, coragem e vigor por cristãos magnânimos são grandemente benéficas para os seus irmãos na fé, e tendem a elevá-los a um nível mais alto. Revigora-nos vermos como eles agem: sua paciência no sofrimento, sua coragem no perigo, sua santa fé em Deus, seus rostos felizes em meio à provação – tudo isso nos dá forças para enfrentarmos os nossos próprios conflitos. De mil maneiras o exemplo do cristão consagrado atua como meio de cura e de consolo para os seus irmãos, e ajuda a levantá-los acima da ansiedade e da descrença. Assim como as folhas da árvore da vida são para a cura das nações, as palavras e os atos dos santos na terra servem de remédio para mil doenças. 

Portanto, que fruto – doce ao paladar dos piedosos – os cristãos bem instruídos produzem! Jamais podemos confiar nos homens como confiamos no Senhor, mas o Senhor pode fazer com que os membros do corpo de Cristo nos abençoem dentro dos seus limites, como a sua Cabeça está sempre pronta para fazê-lo. Somente Jesus é a Árvore da Vida, mas faz de alguns dos Seus servos instrumentos a nosso favor como pequenas árvores de vida, por meio dos quais Ele nos dá o fruto da mesma espécie daquele que Ele mesmo produz, porquanto os coloca ali, e está Ele próprio nos Seus santos, fazendo-os produzir excelentes maçãs de ouro, com as quais a nossa alma se alegra. Oxalá cada um de nós seja árvore frutífera como o nosso Senhor! Oxalá o fruto do Senhor penda dos nossos galhos! 

Temos sepultado muitos santos que adormeceram, e entre eles há alguns que não mencionarei particularmente nesta ocasião, cristãos cujas vidas, quando me volvo a olhá-las, continuam sendo uma árvore de vida para mim. Rogo a Deus que me capacite para ser como eles. Muitos de vocês os conheceram e, se tão-somente recordarem suas vidas santas e dedicadas, a influência que deixaram será ainda uma árvore de vida para vocês. Estando mortos, ainda falam. Ouçam as suas eloqüentes exortações! Mesmo em suas cinzas estão vivas as suas chamas costumeiras. Inflamem as suas almas com o seu calor. Seus nobres exemplos constituem os dotes da igreja. Os filhos desta se enobrecem e se enriquecem quando recordam o andar na fé e o serviço de amor daqueles. 

Amados, que cada um de nós seja verdadeira bênção para as igrejas em cujos jardins somos plantados. "Ah!", exclama alguém, "temo que não me pareço muito com uma árvore, pois me sinto fraco e insignificante." Se você tiver fé como um grão de mostarda, terá o princípio da árvore sob cujos ramos as aves do céu ainda acharão pousada. Os próprios pássaros que poderiam ter comido a minúscula semente vêm e encontram pauso na árvore que dela se desenvolveu. E pessoas que o desprezam e zombam de você, agora que é jovem principiante, um dia destes, se Deus o abençoar, terão prazer em receber consolo do seu exemplo e da sua experiência. 

Ainda um outro exemplo sobre este ponto. Lembrem-se de que a inteireza e o desenvolvimento da vida santa se verá no Alto. Há uma cidade da qual está escrito: "No meio da sua praça, e de uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida". A árvore da vida é planta celeste, e assim o fruto do cristão é digo do céu; embora não transplantada para a terra da glória, vai-se preparando para a sua habitação final. Que é santidade, sertão o céu na terra? Que é viver para Deus, senão a essência do céu? Que é retidão, integridade, semelhança com Cristo? Estas coisas não têm mais que ver com o céu do que as harpas, as palmas e as ruas de ouro puro? Santidade, pureza, beleza de caráter – estas coisas formam um céu dentro do nosso ser. E mesmo que não existisse nenhum lugar chamado céu, um coração assim teria uma felicidade celestial isenta de pecado e semelhante ao Senhor Jesus. Portanto, vejam, caros irmãos, como é importante que sejamos de fato justos diante de Deus, pois então o efeito dessa justiça será um fruto que, por sua vez, será árvore de vida para outros, e árvore de vida nos altos céus, no mundo sem fim. Ó bendito Espírito, faze isto, e terás todo o louvor! 

Isto nos traz ao segundo ponto: 


2. O OBJETIVO DO CRISTÃO DEVE SER A CONQUISTA DE ALMAS PARA CRISTO.


Sim, pois "o que ganha almas sábio é". As duas coisas vêm justapostas – a vida primeiro, o esforço depois. O que Deus ajuntou não o separe o homem. O texto que estamos focalizando implica em que há almas que precisamos ganhar. 

Lástima! todas as almas são perdidas por natureza. Vocês podem percorrer as ruas de Londres e, entre suspiros e lágrimas, afirmar com relação às multidões que encontram nos passeios superlotados: "Perdidos, perdidos, perdidos! " Onde quer que não haja confiança em Cristo, e o Espírito não tenha criado novo coração, e a alma não tenha se aproximado do grandioso Pai, há um alma perdida. Eis aí, porém, a misericórdia – essas almas perdidas podem ser conquistadas. Não estão desesperadamente perdidas. Nem Deus determinou que permaneçam para sempre como estão. Ainda não se disse: "Quem está sujo, suje-se ainda" Estão na terra da esperança, onde a misericórdia pode alcançá-las, pois são descritas como tendo a possibilidade de serem conquistadas. Ainda podem ser libertas, mas a frase adverte que serão necessários todos os nossos esforços: "O que ganha almas". 

Que queremos dizer com essa palavra "ganhar"? No seu sentido de conquistar é usada com relação ao namoro. Falamos do noivo que conquista a noiva. E às vezes faz-se grande gasto de amor, muitas palavras de súplica, muitos galanteios, antes de o coração almejado tornar-se possessão total do pretendente. Emprego esta explicação porque em alguns aspectos é a melhor, pois é deste modo que as almas devem ser conquistadas para Cristo, para que sejam desposadas por Ele. Temos que conquistar amorosamente o pecador para Cristo. Assim é que se ganham corações para Ele. Jesus é o Noivo. Temos de falar por ele e descrever a Sua beleza. Como fez o servo de Abraão, quando foi procurar esposa para Isaque. Agiu como galanteador em lugar dele. 

Vocês nunca leram essa história? Pois procurem lê-la quando voltarem para casa, e vejam como ele falou acerca do seu senhor – os bens que possuía, como Isaque era o herdeiro de tudo, e assim por diante, e concluiu o seu discurso insistindo com Rebeca para acompanhá-lo. A família lhe perguntou: "Irás tu com este varão? " Assim, a função do ministro é recomendar o seu Senhor e as riquezas do seu Senhor, e depois dizer às almas: "Querem unir-se a Cristo em matrimônio?" Aquele que tiver êxito neste delicado labor é sábio. 

Também empregamos o termo em sentido militar. Falamos em conquistar uma cidade, um castelo, ou de ganhar uma batalha. Não obteremos vitórias se estivermos dormindo. Creiam-me, homens que estão somente meio despertos não conquistam castelos. Ganhar uma batalha requer a melhor habilidade, a maior resistência e a máxima coragem. Para romper fortalezas consideradas quase inexpugnável, os homens precisam empenhar-se até as horas tardias da noite, e estudar bem as táticas de ataque. E quando chega a hora do assalto, nem um só soldado pode ser lerdo, mas todas as forças da artilharia e da infantaria precisam concentrar-se no ponto visado. Tomar o coração humano pela grandiosa força da graça, capturá-lo, derrubar as trancas de bronze e fazer em pedaços as portas de ferro, requerem o exercício de uma habilidade que só Cristo pode dar. Avançar com os enormes aríetes, e abalar todas as pedras da consciência do pecador, fazer o seu coração agitar-se e tremer de medo da ira vindoura – numa palavra, atacar uma alma com toda a artilharia do Evangelho, exige alguém sábio e cheio de entusiasmo por seu trabalho. Içar a bandeira branca da misericórdia e, se isso for alvo de desprezo, usar o aríete da ameaça até conseguir abrir uma brecha e, então, empunhando a espada do Espírito, tomar a cidade, destruir a trevosa bandeira do pecado e hastear o estandarte da cruz, requerem todas as forças que o pregador mais seleto pode comandar, e ainda muito mais. Aqueles cujas almas são gélidas como as regiões árticas e cuja energia é reduzida, quase inexistente, não têm probabilidade de tomar a cidade da Alma-humana para o Príncipe Emanuel. Se vocês estão pensando em conquistar almas, têm que investir toda a sua alma em seu trabalho, como o guerreiro tem que entregar-se de corpo e alma à batalha. Caso contrário, não alcançarão a vitória. 

Também usamos a palavra "ganhar" com referência a fazer fortuna. Sabemos todos que o futuro milionário tem que levantar-se cedo e se deitar tarde, tem que comer o pão da preocupação, tem que afadigar e economizar muito, e não sei quanta coisa mais, para acumular riqueza imensa. Temos que avançar para a conquista de almas com o mesmo ardor e com a mestra concentração das nossas faculdades com que o velho Astor, de Nova Iorque, avançou para construir aquela fortuna de tantos milhões que acaba de deixar atrás. Na verdade, é uma corrida, e vocês sabem que ninguém ganha uma corrida se não forçar todos os músculos e nervos. "Os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio." E este é em geral o que tem mais força do que os demais. O certo é que, tenha mais força ou não, ele põe em ação toda a que tem – e nós não conquistaremos almas, anão ser que o imitemos nisto. 

No texto, Salomão declara que "o que, ganha almas sábio é". Esta declaração é muitíssimo mais valiosa porque vem de um sábio. Permitam-me mostrar-lhes por que o conquistador de almas é sábio. Primeiro, ele deve ser ensinado por Deus, antes de tentar essa conquista. O homem que ignora o que é ser cego e passar a ver, faria melhor se pensasse em sua cegueira antes de tentar guiar seus amigos pelo caminho certo. Se vocês não são salvos, não podem ser instrumentos para a salvação de outros. O que ganha almas, primeiro deve ser sábio para a sua própria salvação. 

Dando isto por líquido e certo, o conquistador de almas para Cristo é sábio ao escolher esse objetivo. Jovens, vocês escolheram um objetivo digno de ser o grande alvo da sua vida? Espero que exerçam o seu juízo com sabedoria e que escolham uma nobre ambição. Se Deus lhes deu grandes dons, espero que estes não sejam desperdiçados em algum objetivo inferior, sórdido ou egoísta. Suponhamos que agora eu me dirija a alguém dotado de grandes talentos, que tem oportunidade de ser o que deseja, de fazer parte do parlamento e ajudar na aprovação de importantes medidas, ou de dedicar-se aos negócios e tornar-se proeminente. Espero que pondere as reivindicações de Jesus e das almas imortais, além de ponderar os outros apelos. 

Deverei dedicar-me aos estudos? Ou aos negócios? Viajarei? Passarei o tempo desfrutando os prazeres da vida'! Haverei de tornar-me o maior caçador, do país? Empregarei todo o meu tempo na promoção de reformas políticas e sociais? Medite bem nisso tudo. Mas, caro amigo, se você é cristão, nada se igualará, em satisfação, em utilidade, em honra, e em duradoura recompensa, à entrega de sua própria pessoa em prol da conquista de almas para Jesus Cristo. Sim, é uma grande caçada, posso dizer-lhe, e supera todas as caçadas do mundo em emoção e alegria! Porventura não tenho ido, às vezes, saltando aos brados obstáculos e valas, atrás de algum pobre pecador, mantendo-me nos seus calcanhares em todas as suas mudanças de turno, até alcançá-lo pela graça de Deus, presenciar a sua "morte", e alegrar-me profundamente ao vê-lo capturado por meu Senhor? O Senhor Jesus chama a Seus discípulos pescadores, e nenhum outro pescador tem trabalho, tristeza e gozo como os que temos.

Que felicidade poderem vocês ganhar almas para Cristo, e fazê-lo mesmo permanecendo em suas vocações seculares! Alguns de vocês jamais conquistariam almas do púlpito. Seria grande lástima se o tentassem. Entretanto, podem ganhar almas para Cristo na oficina, na lavanderia, no hospital, e na sala de visitas. Nossos campos de caça estão em toda a parte: à beira do caminho, ao pé da lareira, na esquina, e no meio da multidão. Entre as pessoas comuns, Jesus é nossa tema, e entre os grandes, não temos outro tema. Meu irmão, você será sábio se o seu único e absorvente desejo for o de fazer com que os ímpios abandonem o erro dos seus caminhos. Haverá para você uma coroa refulgindo com muitas estrelas, que lançará aos pés de Jesus no dia da Sua manifestação.

Ademais, ser sábio não se restringe a fazer disso o alvo da sua vida, mas terão que ser sábios para terem sucesso nesse trabalho, porquanto as almas que devem ser conquistadas são muito diferentes umas das outras em sua constituição, sentimentos e condições, e vocês terão que se adaptar a todas elas, Os caçadores norte-americanos que usam armadilhas têm que descobrir os hábitos dos animais que pretendem capturar. Assim, vocês precisam aprender como lidar com todas as modalidades de casas. Alguns estão muito deprimidos, e vocês terão de consolá-los. Pode acontecer que lhes dêem consolo demais e os tomem incrédulos. Daí, é possível que, em vez de consolá-los muito, tenham às vezes de dizer-lhes palavras ásperas para curá-los do aborrecimento em que se afundaram.

Outro talvez seja frívolo, e se lhe mostrarem cara séria, espantarão o pássaro! É preciso ser amável com eles, só deixando cair como que por acaso alguma palavra de admoestação. Outros, ainda, não os deixarão falar-lhes, mas lhes falarão. Mas vocês devem conhecer a arte de lançar das laterais alguma palavra. Precisarão ser muito sábios, e fazer-se todas as coisas para todos os homens, e o seu sucesso provará a sua sabedoria. As teorias sobre como tratar as almas podem parecer mui sábias, mas freqüentemente mostram-se inúteis quando postas em prática. Aquele que, pela graça de Deus, realiza este trabalho é sábio, embora talvez não conheça teoria nenhuma. Este labor requer todo o seu engenho e arte, e ainda não basta. Necessitarão clamar ao grande Conquistador de almas, dos altos céus, que lhes dê do Seu Santo Espírito.

Notem, porém, que aquele que ganha almas sábio é porque está engajado numa ocupação que torna mais sábios aqueles que a desempenham. No começo tropeçarão em erros, e muito provavelmente afastarão de Cristo pecadores que estariam tentando levar a Ele. Já me aconteceu tentar comover algumas almas, empenhando-me com todo o esforço por meio de certa passagem da Escritura, mas elas a tatuaram no sentido oposto ao que visava, e se foram na direção errada. É bem difícil saber como agir com os que se mostram desnorteados em suas perguntas. Com alguns, se vocês querem que vão para frente, terão que puxá-los para trás. Se querem que tomem a direita, precisarão insistir em que sigam à esquerda, e eles vão direto para a direita. É preciso que estejam preparados para essas loucuras da pobre natureza humana.

Conheci uma triste cristã idosa que fora filha de Deus durante cinqüenta anos, mas estava num estado de melancolia e aflição da qual ninguém conseguia tirá-la. Visitei-a várias vezes, procurando dar-lhe ânimo; mas geralmente, quando eu saía, estava pior que antes da minha visita. Sendo assim, fui vê-la outra vez e não lhe falei nada sobre Cristo, nem sobre religião. Logo ela mesma introduziu esses temas, e então lhe fiz saber que não ia conversar com ela sobre essas coisas santas porque nada sabia desses assuntos, visto que não cria em Cristo e sem dúvida fora uma hipócrita durante muitos anos. Rebelou-se então, afirmando em defesa própria que o Senhor a conhecia melhor do que eu, e que Ele era testemunha de que ela amava a Senhor Jesus Cristo. Depois, quase não pôde perdoar-se por havê-lo admitido, mas nunca mais lhe foi possível falar-me daquela maneira tão desesperada.

Os que amam verdadeiramente as almas humanas aprendem a arte de lidar com elas, e o Espírito Santo os faz peritos médicos da alma para Jesus. Não é que o homem tenha maior capacidade, nem tampouco maior medida de graça, mas é que o Senhor o capacita a amar intensamente aa almas, e isto lhe infunde certa habilidade secreta, uma vez que, na maior parte das vezes, o meio de levar pecadores a Cristo é atraí-los a Cristo pelo amor.

Diletos irmãos, repito que o que ganha almas, seja por que maneira for, é sábio. Alguns de vocês se obstinam em não admitir isso. "Bem", dirão, "anima-me a dizer que Fulano tem rido muito útil, mas sua maneira é muito rude." Que importa sua rudeza, se ele ganhar almas para Cristo? "Ah!", esclamará outra, "não me sinto edificado por ele." Por que vai ouvi-lo esperando ser edificado? Se o Senhor o enviou para demolir, deixe que o faça, e vá a outro lugar em busca de edificação. Mas não murmure contra ninguém que realiza um trabalho por não ser capaz de realizar outro. Somos todos mui capazes de pôr um ministro contra outro, e dizer: "Vocês deviam ouvir o meu ministro". Talvez devêssemos, mas seria melhor que você ouvisse aquele que o edifica, e deixasse os outros irem aonde recebam instrução também. "O que ganha almas sábio é." Não lhes pergunto como o fez. Talvez tenha apresentado o Evangelho cantando, e vocês não gostaram. Mas se ganhou almas, foi sábio. Todos os conquistadores de almas têm os seus próprios meios. E se os empregam, e ganham almas, são sábios. Dir-lhes-ei o que não é sábio, e que no final não será tido por sábio. É ir pelas igrejas sem fazer nada e falando mal de todos os úteis servos do Senhor.

Eis um querido irmão em seu leito de morte. Alimenta a doce pensamento de que a Senhor o fez capaz de levar muitas almas a Jesus, e está na expectativa de que, quando chegar aos portais do além, muitos espíritos irão ao seu encontro. Formarão multidão à entrada da Nova Jerusalém, e darão boas vindas àquele que os levara a Jesus. São monumentos imortais de seu trabalho. É sábio. Eis, porém, outro, que passou a vida interpretando profecias, a ponto de ver nos livros de Daniel e Apocalipse tudo quanto lia nos jornais. Dizem alguns que é sábio, mas eu preferiria ter passado todo o meu tempo conquistando almas. Eu desejaria antes levar um só pecador a Jesus Cristo do que desenredar todos os mistérios da Palavra de Deus, pois a salvação é aquilo pelo que devemos viver. Gostaria que Deus me desse compreender todos os mistérios, mas acima de todos eles, proclamaria a mistério da salvação das almas pela fé no sangue do Cordeiro. 

É relativamente pouco, um ministro ter sido durante a vida inteira um fiel defensor da ortodoxia e bom mantenedor dos muros da igreja. O interesse principal é a conquista de almas. É muito boa coisa contender zelosamente pela fé que uma vez foi dada aos santos. Mas não creio que me agradaria dizer em meu último relatório: "Senhor, vivi para combater o romanismo e a igreja estatal, e para pôr abaixo as várias seitas errôneas, mas nunca levei um pecador até à cruz". Não. Havemos de combater a bom combate da fé, mas a conquista de almas é mais importante, e quem cuida disso é sábio.

Outro irmão pregou a verdade, mas dava tanto polimento aos seus sermões que o evangelho ficava escondido. Achava que nenhum sermão estava pronto para ser pregado enquanto não o escrevesse uma dúzia de vezes para ver se cada sentença estava de acordo com as cânones de Cícero e Quintiliano: ia então pregar o evangelho como um grandioso discurso. Ser sábio é isso? Bem, é preciso ser sábio para ser um orador completo. Mas é melhor não ser orador, se o discurso de alta classe impede que você seja bem compreendido. Mande às favas a eloqüência, em vez de permitir que as almas se percam. O que queremos é ganhar almas, e não se ganham almas com discursos floreados. Temos que ter no coração a conquista de almas, e temos que ferver de zelo por sua salvação. Então, por mais que tropecemos na oratória, segundo os criticas, seremos contados entre aqueles aos quais a Senhor chama sábios.

Agora, irmãos e irmãs, quero que levem este assunto à prática e que se disponham a ver se conquistam uma alma esta noite mesma. Experimentem com quem estiver sentado ao seu lado, se não pensarem em ninguém mais. Tentem fazê-lo a caminho de casa; tentem com os seus filhos. Não lhes contei o que aconteceu certa noite de domingo? Em meu sermão, disse: "Agora, mães, vocês já oraram com cada um dos sena filhos, um por um, e instaram com eles que se apegassem a Cristo? Talvez a querida Janete esteja agora adormecida, e você, sua mãe, jamais tenha procurado persuadi-la quanto às realidades eternas. Vá para casa esta noite, acorde-a e diga-lhe: 'Janete, lamento nunca ter-lhe falado pessoalmente do Salvador, e nunca ter orado com você, mas quero fazê-la agora'. Desperte-a, apóie a cabeça dela nos seus braços e derrame com ela o coração a Deus." 

Pois bem, havia entre os ouvintes uma boa irmã na fé, que tinha uma filha chama a Janete. Que acham? Na segunda-feira ela trouxe a sua filha Janete para ver-me no gabinete pastoral, pois quando a despertara e começara a dizer-lhe : "Não conversei com você a respeito de Jesus", ou algo semelhante, Janete exclamou: 'Oh, mãe querida! Já faz seis meses que amo o Salvador, e me admirava de que não me falasse dEle!"; então houve beijos e grande alegria. Talvez vocês descubram ser esse o caso com um de seus filhos em casa. Não sendo assim, tanto maior razão para começar a falar-lhe logo. Vocês não conquistaram nem uma só alma para Jesus? Terão uma coroa no céu, mas sem jóias. Irão para o céu sem filhos; e vocês bem sabem como era na antiguidade, como as mulheres temiam a esterilidade. Seja assim com os cristãos. Tenham horror de ficar sem filhos espirituais.

Devemos ouvir o clamar daqueles que Deus fez nascer para Ele por nossa intermédio. Devemos ouvi-los ou, não podendo escutá-los, oraremos nós angustiados: "Senhor, dá-me conversões, ou morro!" Jovens e velhos, e irmãs de qualquer idade, se amam o Senhor, tenham paixão pelas almas. Não as vêem? Elas vão indo para o inferno aos milhares. A cada volta do ponteiro do relógio, o inferno devora multidões, alguns sem terem conhecido a Cristo, outros rejeitando-o conscientemente. O mundo jaz nas trevas. Esta grande cidade ainda suspira pela luz. Os seus amigos e parentes não são salvos, e poderão morrer antes do fim desta semana. Se têm um pouco de humanidade, para não dizer cristianismo, tendo achado o remédio, falem dele aos enfermos! Se acharam a vida, proclamem-na aos mortos! Se acharam liberdade, publiquem-na aos cativos! Se acharam Cristo, falem dEle aos demais!

Irmãos seminaristas, seja esta a sua principal atividade enquanto são estudantes, e seja este o único objetivo das suas vidas quando nos deixarem. Não se dêem por satisfeitos quando conseguirem uma igreja, mas labutem para conquistar almas. Agindo assim, Deus os abençoará. Quanto a nós, esperamos seguir pelo resto da vida Aquele que é O Conquistador de almas, e colocar-nos em Suas mãos para que faça de nós conquistadores de almas, de sorte que a nossa vida não seja uma demorada insensatez, mas, sim, que os resultados comprovem que foi dirigida pela sabedoria.

Ó vocês, almas ainda não ganhas para Jesus, lembrem-se de que a fé em Cristo as salva! Confiem nEle. Queira Deus que sejam levados a confiar nEle, por amor de Seu nome! Amém.