13 A SALVAÇÃO DAS ALMAS É A NOSSA ATIVIDADE ABSORVENTE

Conquistador de almas


É coisa estupenda ver alguém totalmente possuído por uma paixão dominadora. Tudo concorre para que um homem assim seja forte, e se o principio que o domina for excelente, seguramente ele o será também. O homem de um só objetivo é de fato homem. 


Vidas dedicadas a muitos alvos são como água que segue numerosos cursos, nenhum destes suficientemente largo e fundo para permitir que flutue sequer um minúsculo barco. Mas a vida que tem somente um objetivo é como um caudaloso rio que segue entre as suas margens levando para o mar uma multidão de navios e fertilizando as terras de ambos os lados. 


Dêem-me um homem, não apenas com um grande objetivo na alma, mas completamente dominado por ele, com todas as suas faculdades concentradas nisso, e ele próprio inflamado de veemente zelo por seu supremo ideal, e terão posto diante de mim uma das maiores fontes de poder que o mundo pode produzir. 


Dêem-me um homem com o seu coração absorvido pelo amor, com sua mente dominada por algum soberbo pensamento celestial, e ele. será conhecido onde quer que lhe caiba servir, e me aventuro a profetizar que o seu nome será relembrado muito tempo depois de ter caído no esquecimento o local da sua sepultura.

Paulo era assim. Não chego a colocá-lo num pedestal, para que o contemplem e o admirem, e muito menos para que se ajoelhem e o cultuem como a um santo. Menciono Paulo porque ele foi o que cada um de nós deveria ser. E apesar de que não partilhamos do seu oficio apostólico, e apesar de que não partilhamos dos seus talentos e da sua inspiração, devemos estar possuídos do mesmo espírito que atuava nele e, permitam-me acrescentar, possuídos dele no mesmo grau. Vocês se opõem a isto? Que havia em Paulo, pela graça de Deus, que não possa haver em vocês? Que fez Jesus por Paulo que vá além do que fez por vocês? Foi divinamente transformado; também vocês o foram, se passaram das trevas para a maravilhosa luz. Muito lhe foi perdoado; vocês também foram plenamente perdoados. Ele foi redimido pelo sangue do Filho de Deus; vocês também - pelo menos é o que professam. Ele foi cheio do Espírito de Deus; assim se dá com vocês, se é que a sua vida corresponde à sua profissão de fé.

Devendo, pais, a sua salvação a Cristo, sendo devedores ao precioso sangue de Jesus, e vivificados pelo Espírito santo, pergunto-lhes por que não haveria de provir o mesmo fruto da mesma semeadura. Por que não há de resultar o mesmo efeito da mesma causa? Não me digam que o apóstolo era uma exceção, não servindo de regra ou modelo para a gente comum, pois terei de dizer-lhes que precisamos ser como Paulo foi, se esperamos chegar onde Paulo está. Paulo não achava que já o havia alcançado, nem que já era perfeito. Havemos de considerá-lo tal? Vamos pensar que ele era de tal vulto que o consideramos inimitável e nos damos por satisfeitos sendo menos do que ele? Certamente que não.

Seja, porém, a nossa oração incessante, como crentes em Cristo, no sentido de que sejamos capacitados a imitá-lo como ele imitou a Cristo, e onde ele deixou de pôr os pés nas pegadas do seu Senhor o sobrepujemos, sendo mais zelosos e mais devotados a Cristo do que o próprio apóstolo dos gentios. Quem nos dera que o Espírito Santo nos levasse a sermos semelhantes ao nosso Senhor Jesus!

Cabe-me nesta ocasião falar-lhes do grande objetivo da vida de Paulo. Diz-nos ele que era "salvar alguns". Sondaremos, depois, o coração de Paulo para ver e expor algumas das grandes razões por que ele achava tão importante que ao menos alguns fossem salvos. Finalmente, em terceiro lugar, indicaremos alguns meios empregados pelo apóstolo para atingir aquele fim. E trataremos disso tudo visando a que vocês, diletos ouvintes, procurem "salvar alguns". Que o procurem movidos por poderosas razões a que não podem resistir; e que o procurem aplicando métodos sábios que os levem ao sucesso.

1. Primeiramente, pois, diletos irmãos, vejamos 

QUAL FOI O GRANDE OBJETIVO DE PAULO, EM SUA VIDA DIÁRIA E EM SEU MINISTÉRIO.


Diz ele que era "salvar alguns". Nesta hora estão aqui presentes ministros de Cristo, juntamente com missionários urbanos, mulheres biblicamente treinadas, professores da escola dominical, e outros obreiros da vinha do meu senhor, e tomo a liberdade de perguntar a cada um: É este o seu objetivo em todo o seu serviço cristão? Visam acima de todas as coisas à salvação das almas? Temo que alguns tenham esquecido este grande objetivo. Entretanto. caros amigos, qualquer coisa menos que isso não é digna de constituir a grande finalidade da vida do cristão.

Receio que alguns preguem com o fim de divertir as pessoas. Contanto que haja grandes reuniões, e se dirijam lisonjas aos ouvidos das pessoas presentes de modo que se retirem contentes com o que escutaram, o orador sente-se feliz, cruza os braços e vai para cada satisfeito. Paulo, porém, não se dispunha a agradar o público e a reunir multidões. Se não conseguia levá-las à salvação, considerava inútil interessá-las. A menos que a verdade penetrasse o coração dos ouvintes e influenciasse as suas vidas, fazendo deles homens novos, Paulo voltaria para casa bradando: "Senhor, quem deu credito na nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?"

Hoje em dia parece que a opinião de muitos é a de que o objetivo dos esforços cristãos deveria ser o de educar os homens. Concedo que a educação é em si mesma muitíssimo valiosa, tão valiosa que estou certo de que toda a igreja cristã se regozija grandemente com o fato de que por fim temos um sistema nacional de educação que, se tão somente for posto em prática cuidadosamente, todas as crianças desta terra terão nas mãos as chaves do conhecimento. Ainda que outros dêem alto valor á ignorância, somos promotores do saber e, quanto mais se difunda, mais satisfeitos ficaremos. Mas se a igreja de Deus acha que foi enviada ao mundo apenas para desenvolver as faculdades mentais, engana-se redondamente. O objetivo do cristianismo não é instruir os homens para as suas vocações seculares, nem adestrá-los nas mais belas artes ou nas profissões mais distintas, e tão pouco habilitá-los a desfrutar as belezas da natureza ou os encantos da poesia. Jesus Cristo não veio ao mundo para nenhuma dessas coisas, mas veio para buscar e salvar o perdido, e com a mesma missão enviou a sua igreja ao mundo. Ela será traidora do Senhor que a enviou se se deixar seduzir pelos encantos do bom gosto e das artes, e se esquecer que pregar a Cristo, e este crucificado, é o único objetivo para o qual ela existe entre os filhos dos homens.

A tarefa da igreja é a salvação. O ministro deve empregar todos os meios para salvar alguns; e se este não for o desejo dominante do seu coração, não é ministro de Cristo. Os missionários ficam muito abaixo da sua posição quando se contentam em civilizar. Seu objetivo principal é salvar. A mesma coisa é válida para o professor da escola dominical, e para todos os obreiros cristãos que trabalham com crianças. Se se limitam a ensinar a criança a ler, a cantar hinos e coisas assim, ainda não chegaram perto da sua verdadeira vocação. É preciso agir no sentido de que as crianças sejam salvas. Temos que bater nesta tecla insistentemente – "para por todos os meios chegar a salvar alguns", pois não teremos feito coisa alguma, a menos que alguns sejam salvos.

Tão pouco Paulo diz que pretendia moralizar os homens. O Evangelho é que promove melhor a moralidade. Quando alguém é salvo, eleva-se moralmente, cresce em santidade. Mas visar primeiro a moralidade é errar totalmente o alvo. E ainda que o atingíssemos – o que nos é impossível – não teríamos atingido aquilo para o que fomos enviados ao mundo. A experiência do Dr. Chalmers é de grande utilidade para aqueles que crêem que o ministro cristão deve pregar unicamente moralidade. Diz ele que em seu primeiro pastorado pregou moralidade e não viu surgir beneficio nenhum das suas exortações. Todavia, tão logo começou a pregar a Cristo crucificado, houve murmúrio, agitação e muita oposição, mas a graça prevaleceu. Quem quer aspirar aromas deve cultivar flores. Quem quer promover moralidade deve tratar de conseguir a salvação dos homens. Quem deseja que um cadáver se mova deve antes procurar que tenha vida, e quem deseja ver uma vida bem ordenada, primeiro deve desejar a renovação interior operada pelo Espírito Santo. Não devemos contentar-nos em ensinar aos homens os seus deveres para com os seus semelhantes, ou mesmo os seus deveres para com Deus. Isto poderia ser suficiente para Moisés, não porém para Cristo.

A lei veio por Moisés, mas a graça e a verdade por Jesus Cristo. Ensinamos aos homens o que devem ser, mas vamos muito além disso. Pelo poder do Evangelho, aplicado pelo Espírito Santo, fazemos com que sejam o que devem ser pelo poder do Espírito de Deus. Não colocamos diante dos cegos as coisas que eles deviam ver, mas abrimos os seus olhos em nome de Jesus. Não diremos aos cativos quão livres deviam ser, mas abrimos diante deles a porta e arrancamos os seus grilhões. Não nos contentamos em dizer aos homens o que eles devem ser, mas lhes mostramos como se pode obter este caráter, e como Jesus Cristo dá de graça tudo que é necessário para a vida eterna a todos os que venham a Ele e nEle ponham a sua confiança.

Agora observem, irmãos; se algum de nós ou todos nós passarmos a vida simplesmente divertindo ou educando ou moralizando os homens, quando tivermos que prestar contas no último dia, estaremos em péssima condição, e teremos um lamentável relatório para apresentar. Pois, que vale ser instruído e condenado? Que beneficio há para aquele que recebeu diversão, quando soar a trombeta, tremerem céus e terra, e o abismo abrir as suas mandíbulas de fogo e tragar a alma não remida? De que vale mesmo ter moralizado um homem, se ele permanece à esquerda do Juiz, cabendo-lhe por sorte ouvir: "Apartai-vos de mim, malditos"? Os cristãos professos terão as vestes manchadas pelo sangue do assassínio espiritual cometido contra os homens, a menos que o curso, o fim e o objetivo de todo o seu trabalho seja "salvar alguns". 

Suplico-lhes, principalmente a vocês, caros amigos, que trabalham nas escolas dominicais e nas escolas para os desamparados, e onde mais for: não pensem que terão feito alguma coisa de valor, se as crianças não forem levadas á salvação. Ponham na cabeça que isto constitui a base e o fim do seu trabalho e, em nome de Cristo e pelo poder do Espírito Eterno, lancem-se de corpo e alma a este objetivo – para que, por todos os meios, salvem alguns, levando-os a Jesus para serem libertos da ira vindoura.

O que Paulo quis dizer ao afirmar que desejava "salvar" alguns? Que é ser salvo? Paulo não quis dizer senão isto: que alguns nasçam de novo. Pois ninguém é salvo enquanto não é feito nova criatura em Cristo Jesus. A velha natureza não pode salvar-se. É corrupta e está morta. O melhor que se pode fazer com ela é deixar que seja crucificada e sepultada no túmulo de Cristo. É preciso que haja uma nova natureza implantada em nós pelo poder do Espírito Santo. Do contrário, não podemos ser salvos. Precisamos ser exatamente como novas criações, como se jamais tivéssemos existido. Precisamos sair pela segunda vez das mãos do Deus Eterno, tão novos como se fôssemos moldados pela sabedoria divina hoje, como o foi Adão no paraíso. As palavras do grandiosa Mestre são: "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito". "Se alguém não nascer de novo (do alto), não pode ver o reino de Deus." Portanto, o que Paulo quis dizer é isto: que os homens têm que ser novas criaturas em Cristo Jesus. Que jamais descansemos até ver esta transformação operada neles. Este é que deve ser o objetivo do nosso ensino, da nossa oração na verdade, o objetivo da nossa vida: que "alguns" venham a ser regenerados.

Além disso, Paulo quis dizer: para que alguns sejam purificados da sua iniqüidade passada, pelas méritos do sacrifício expiatório do Filho de Deus. Ninguém pode ser salvo do seu pecado, a não ser por meio da expiação. Sob a lei judaica estava escrito: "Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las". Essa maldição nunca foi anulada. O único meio de escapar dela é este: Jesus Cristo se fez maldição em nosso lugar, porque está escrito: "Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro". Pois bem, aquele que crê em Jesus, que põe sua mão sobre a cabeça de Jesus de Nazaré, o Bode Expiatório do Seu povo, já não tem os seus pecados. Sua fé é prova segura de que as suas iniqüidades foram de há muito lançadas sobre a cabeça do grande Substituto. O Senhor Jesus Cristo foi castigado em nosso lugar, e não mais provocamos a ira de Deus. Eis que Aquele que é o sacrifício de expiação pelo pecado foi morto, foi oferecido no altar, e o Senhor O aceitou, e Sua satisfação foi tal, que Ele declarou que todo o que crê em Jesus está plenamente, eternamente perdoado.

Ora, ansiamos por ver os homens igualmente perdoados. Nossa aspiração é levar o pródigo a reclinar a cabeça no seio do Pai, a ovelha extraviada para os ombros do Bom Pastor, a moeda perdida para as mãos do Dono. E enquanto não se fizer isto, nada se fez. Quero dizer, irmãos, nada se fez espiritualmente, nada se fez eternamente, nada que seja digno da agonia da vida do cristão, nada que se deva considerar que mereça que um espírito imortal gaste nisso toda a sua munição. Senhor, nossa alma suspira por ver Jesus recompensado pela salvação daqueles que foram adquiridos a preço de sangue! Ajuda-nos com Tua graça eficaz a levar almas a Ele.

Ainda mais, quando o apóstolo disse que desejava poder salvar alguns, quis dizer que, sendo regenerados e perdoados, fossem também purificados e santificados, pois o homem não é salvo enquanto vive no pecado. Diga o homem o que quiser, não poderá ser salvo do pecado enquanto for seu escravo. Como pode o ébrio salvar-se do alcoolismo enquanto se entregar ao vicio? Como poderão vocês dizer que o blasfemo está salvo da blasfêmia enquanto ele permanecer profano? As palavras devem ser usadas no seu sentido verdadeiro. Ora, o grande objetivo da obra cristã deve ser que alguns sejam salvos dos seus pecados, purificados e limpos, e transformados em exemplos de integridade, castidade, honestidade e justiça, como o fruto do Espírito de Deus. E quando não for este o caso, significa que trabalhamos em vão, e gastamos nossas energias para nada. 

Pois bem, declaro alto e bom som a todos vocês que nesta casa de oração nunca procurei outra coisa que a conversão de pecadores Convoco os céus e a terra como testemunhas, como também as suas consciências, de que jamais trabalhei por coisa nenhuma, exceto isto: levar vocês a Cristo para afinal poder apresentá-los a Deus, "agradáveis a si no Amado". Não tenho procurado agradar apetites depravados introduzindo novidades doutrinárias ou cerimônias. Antes, tenho mantido a simplicidade do Evangelho. Não lhes ocultei parte nenhuma da preciosidade da Palavra de Deus. Antes, esforcei-me para entregar-lhes todo o conselho de Deus, Não tenho procurado refinamentos de oratória. Antes, lhes tenho falado com clareza, indo diretamente aos seus corações e consciências. E se vocês não estão salvos, lamento amargamente diante de Deus que até hoje, embora havendo-lhes pregado centenas de vezes, tenha pregado em vão. Se vocês não se uniram a Cristo, se não foram lavados na fonte de sangue, são terrenos assolados que ainda não renderam nenhuma colheita.

Talvez me digam que, vindo aqui, foram resguardados de muitas pecados graves e aprenderam muitas verdades importantes. Até aí, muito bem. Mas poderia eu permitir-me viver só para isso, somente para ensinar-lhes certas verdades ou para mantê-los livres de pecados patentes? Como é que isso poderia satisfazer-me, sabendo que, apesar de tudo, continuariam sem a salvação e que, portanto, depois da morte, seriam lançados nas chamas do inferno? Não, amados, perante o Senhor, não considero digno da vida, da alma e da energia do seu pastor nenhum trabalho, senão o de ganhá-los para Cristo. Nada, exceto a sua salvação, pode fazer com que sinta que foi cumprido o desejo do meu coração.

Rogo a cada obreiro aqui presente que cuide disto: que jamais deixe de atirar neste alvo, e bem no centro dele, a saber, no alvo de conquistar almas para Cristo e vê-las nascidas para Deus, redimidas pelo sangue do Cordeiro. Doam e chorem os corações dos obreiras, e elevem suas vozes até enrouquecerem. Entretanto, considere que não fizeram absolutamente nada, enquanto não forem realmente salvas pelo menos algumas pessoas. Como o pescador anseia por pegar na rede o peixe, como o caçador almeja levar para casa a presa, como a mãe deseja estreitar ao seio o filho que se perdera, assim também nós nos consumimos pela salvação das almas. E quase morremos de pesar, se não conquistamos almas para Cristo! Salva-as, Senhor, salva-as por amor de Jesua Cristo!

Mas agora nos compete deixar este ponto e passar para outro.


2. PODEROSAS RAZÕES TINHA O APÓSTOLO PARA ESCOLHER ESTE OBJETIVO NA VIDA.


Se ele estivesse aqui, acho que nos diria que suas razões eram mais  ou menos estas: Primeira, salvar almas! Quanta desonra para Deus, se não forem salvas! Nunca pensaram na enormidade da afronta que se faz ao Senhor nosso Deus em nossa cidade a toda hora? Tomem, se quiserem, esta hora em que nos reunimos aqui com o fim expresso de orar. Se fosse passível conhecer os pensamentos desta grande assembléia, quantas pessoas aqui presentes estariam desonrando o Altíssimo! Mas fora das casas de oração, fora de todo tipo de lugar de culto, pensem nos milhares, miríades, e centenas de milhares que no dia de hoje negligenciaram tudo que lembra o culto ao Deus que os fez e que os mantém vivos! Pensem em quantas vezes a porta do bar girou sabre os sena gonzos durante esta hora santa, quantas vezes o nome de Deus está sendo blasfemado lá! Há coisas piores do que estas, se possível, mas não tirarei o véu que as encobre. Transfiram o pensamento para uma hora mais tarde, quando tenha descida o véu da escuridão. A vergonha não nos permite nem pensar em como sofre desonra o nome de Deus naqueles cujo primeiro pai foi feito à imagem de Deus, mas que se corrompem para serem escravos de Satanás e presa de cobiças bestiais! Ai, ai desta cidade! Está cheia das abominações de que fala o apóstolo: "O que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha".

Irmãos e irmã em Cristo, nada senão o Evangelho pode varrer o mal da sociedade. Os vícios são como víboras, e somente a voz de Jesus pode expulsá-los do país. O Evangelho é a grande vassoura com que limpar as imundícias desta cidade; nenhuma outra coisa servirá para isso. Por amor a Deus, cujo nome é profanado todo dia, não querem vocês procurar salvar alguns? Se ampliarem os seus pensamentos e induzirem neles todas as grandes capitais do continente e, mais ainda, tomarem todos os idólatras que há no mundo, os cultuadores do falso profeta e do anticristo, que massa imensa de provocações verão! Que fumaça horrível há de ser para as narinas de Jeová essa falsa adoração! Quantas vezes é levado a empunhar a Sua espada, como que dizendo: "Ah! consolar-me-ei acerca dos meus adversários". Mas os suporta com paciência. Não sejamos indiferentes face à Sua longanimidade, antes clamemos dia e noite a Ele, e trabalhemos diariamente para Ele, a fim de que, por todos os meios, cheguemos a salvar alguns por amor da Sua glória.

Pensem também, queridos irmãos, na imensa miséria da espécie humana. Seria uma coisa terrível se pudessem fazer idéia da miséria que se acumula neste momento nos hospitais e asilos desta cidade. E não direi uma palavra contra a pobreza; onde quer que aparece é amarga enfermidade. Mas, se observarem atentamente, veria que, embora alguns são pobres devido a circunstâncias inevitáveis, grande parte da pobreza local é o puro e simples resultado do desperdício, da imprevidência, da ociosidade e, pior que tudo, da embriaguez. Ah! a embriaguez! É o mal dos males. Se pudéssemos acabar com o vicio de beber, com certeza poderíamos vencer o próprio diabo. A embriaguez criada por esses infernais antros de bebidas alcoólicas que praguejam por toda parte nesta enorme cidade, é aterradora. Não, não falei precipitadamente, nem deixei escapar palavras impensadas. Muitas dessas casas de bebidas não são nada menos do que infernais. Era alguns aspectos são piores ainda, porque o inferno tem a sua serventia como protesto contra o pecado, ao passo que, quanto a esses antros, não há nada que dizer a seu favor.

Os vícios de nossa época ocasionam três quartos de toda a pobreza. Se vocês pudessem ver os lares – lares infelizes em que as mulheres tremem quando ouvem o ruído dos passos do marido chegando em casa, em que as crianças se encolhem de medo em seu monte de palhas porque o selvagem que se apelida a si mesmo de "homem" entra cambaleando em casa, voltando do lugar onde esteve entregue aos seus apetites – se pudessem observar tais quadros, e lhes recordo que se repetirão dez mil vezes durante esta noite, creio que vocês exclamariam: "Deus nos ajude por todos os meios a salvar alguns!" Desde que o grande machado que jaz à raiz da árvore mortífera é o Evangelho de Cristo, queira Deus ajudar-nos a manter o machado ali, e a trabalhar perseverantemente com ele, até o enorme tronco da árvore venenosa começar a balançar para lá e para cá e finalmente cair a nossos golpes – e esta cidade seja salva, e o mundo seja salvo das desgraças e misérias que agora gotejam de cada ramo!

Ademais, diletos amigos, o cristão tem outras razões para procurar salvar alguns. Principalmente por causa do terrível futuro das almas impenitentes. Nem todos podem penetrar o véu que pende diante de mim, mas aquele cujos olhos foram tocados pelo colírio celeste vê além desse véu, e o que vê? Miríades e miríades de espíritos em aterradora procissão, saindo dos seus corpos e passando – para onde? Não salvos, não regenerados, não lavadas na sangue precioso, vemo-los chegarem ao tribunal solene donde vem a sentença em silêncio, e são banidos da presença de Deus, banidos para horrores indescritíveis e inimagináveis. Só isto já basta para causar-nos aflição dia e noite. Esta decisão do destino vem envolta era terrível solenidade. 

Eis, porém, que soa a trombeta da ressurreição. Aqueles espíritos saem da sua prisão. Vejo-os retornando à terra, surgindo do abismo para reassumir os corpos em que tinham vivido. E os vejo – multidões, multidões e mais multidões – no Vale da Decisão. E se vê a Rei ocupando o grande trono branco, usando a coroa real e tendo os livros diante de Si. Os prisioneiros ali estão no tribunal. Minha visão os capta bem. Como tremem! Como estremecem, quais folhas de faia no vendaval! Para onde poderão fugir? As rochas não podem escondê-los, e as montanhas não podem abrir suas entranhas para ocultá-los! Que será deles? O temível anjo pega a foice e os sega, como o ceifeiro corta o joio para o fumo. Junta-os e os lança onde o desespero será o seu tormento eterno. Ai de mim! Meu coração se confrange quando vejo a perdição deles e ouço os tremendos gritos do seu despertar tardio. Cristãos, salvem alguns! Por todos os meios, salvem alguns! Pelas chamas do além, pelas trevas exteriores, pelo choro e ranger de dentes, procurem salvar alguns! Seja este, como foi para o apóstolo, o objetivo grandioso a governar as suas vidas: que por todos os meios cheguem a salvar alguns.

Sim, pois, se forem salvos, observem o contraste. Os seus espíritos subirão ao céu e, depois da ressurreição os corpos subirão também, e lá os remidos louvam o amor que redime. Não há dedos mais ágeis que os deles nas cordas das harpas. Não há notas maviosas como as deles, quando cantam: "Àquele que nos ama, e em seu sangue nas lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai: a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém. Que bênção ver os que outrora foram rebeldes, levados de volta para Deus; os herdeiros da ira transformados em possuidores do céu! Tudo isso está envolvido na salvação. Oxalá miríades venham a desfrutar este estado de bem-aventurança! "Salvar alguns" – salvem alguns, ao menos. Esforcem-se para que alguns posam estar nessa glória. Olhem para o seu Senhor e Mestre. Ele é o seu modelo. Deixou o céu para salvar alguns. Foi até a cruz, desceu ao sepulcro, para "salvar alguns". Foi este o grande objetivo da Sua vida, entregar Sua vida por Suas ovelhas. Amou a Sua igreja e deu Sua vida por ela, para resgatá-la para Si mesmo. Imitem o seu Mestre. Aprendam a Sua abnegação e a Sua bendita consagração, para poderem por todos os meios salvar alguns.

O anelo da minha alma é que possa pessoalmente "salvar alguns", mas meu desejo é na verdade mais amplo. Gostaria que cada um de vocês, meus caros amigos, que aqui se congregam, se tornasse pai espiritual de filhos para Deus. Oxalá cada um de vocês chegue a "salvar alguns"! Sim, venerados irmãos em Cristo, jamais estarão demasiado velhos para servir. Sim, meus jovens amigos, moços e moças, não são novas demais para servir como recrutas nas fileiras do Rei. Se o reino há de vir algum dia para a plena manifestação da soberania do Senhor – e virá – jamais virá por meio da pregação do evangelho feita por uns quantos ministros, missionários e evangelistas. Há de vir por meio da pregação de cada um de vocês – no emprego e no lar, ao andar e ao sentar-se. Vocês todos devem sempre estar empenhados em "salvar alguns". Gastaria de alistá-los de novo, esta noite, e de colocar-lhes de novo a insígnia do Rei. Gostaria que se enamorassem do meu Senhor e vivessem segunda vez o amor dos seus esponsais com Ele. Há um hino de Cooper que às vezes cantamos, e que diz:

"Oh! mais perto de Deus andar!"

Oxalá andemos mais perto dEle! Se o fizermos, sentiremos também um desejo mais intenso de engrandecer a Cristo na salvação dos pecadores.

Aos que são salvos gostaria de fazer a seguinte pergunta: Quantos vocês já levaram a Cristo? Sei que não podem fazer isso por si mesmos. Mas quero dizer: Quantos o Espírito de Deus levou a Cristo por seu intermédio? Disse quantos? Estarão certos de haver conduzido a Jesus sequer uma pessoa? Não se lembram de nenhuma? Tenho pena de vocês, então! Referindo-se a Jeconias, o Senhor disse a Jeremias: "Escrevi que este homem está privado de seus filhos". Isso era considerado como terrível maldição. Caros amigos, escreverei que vocês estão privados de filhos? Os seus filhos não estão salvos, a sua esposa não está salva, e vocês estão espiritualmente privados de filhos. Podem suportar esta idéia? Rogo-lhes que se despertem desta sonolência e peçam ao Senhor que os torne úteis. 

"Gostaria que os salvos cuidassem de nós, pecadores", disse um moço. "Pois eles cuidam de você", respondeu alguém, "cuidam muito de você." "Neste caso, por que não a demonstram?", disse ele, "muitas vezes desejei conversar sobre coisas nobres, mas meu amigo, que é membro da igreja, nunca aborda o tema, e parece planejar evitá-lo sempre que estou com ele." Não permitam que as pessoas falem assim. Falem com elas de Cristo e das realidades divinas. Tomem a resolução, todos vocês, de que se os homens hão de perecer, que não pereçam por falta de suas orações, nem por falta de suas ferventes e amorosas instruções. Deus lhes dê graça, a todos vocês, para que se decidam a, por todos os meios, salvar alguns, e a levar a cabo essa decisão!

Já que não me resta tempo, pelo que mencionarei, em último lugar:


3. IMPORTANTES MEIOS EMPREGADOS PELO APÓSTOLO PAULO.


Como agia aquele que tanto ansiava por "salvar alguns"? Pois bem, em primeiro lugar, simplesmente pregava o evangelho de Cristo. Não procurava produzir sensação mediante afirmações surpreendentes, nem pregava doutrinas errôneas com o fim de obter o assentimento da multidão. Temo que alguns evangelistas pregam coisas que bem sabem em sua mente que são falsas. Não divulgam certas doutrinas, não por serem falsas, mas porque destoam dos seus devaneios; e se põem a fazer afirmações vagas porque esperam alcançar mais numerosas mentes. Por mais zeloso que um homem seja pela salvação dos pecadores, não creio que tenha direito de fazer nenhuma afirmação que o seu bom senso não justifique. Creio que ouvi falar de coisas ditas e feitas em reuniões de avivamento que não estão de acordo com a sã doutrina, sempre justificadas, porém, "pela emoção do momento".

Sustento que não tenho direito algum de expor doutrinas falsas, mesmo que soubesse que com isso salvaria uma alma. Naturalmente esta hipótese é absurda, mas os ajuda a entender o que quero dizer. Meu trabalho é apresentar aos homens, não a falsidade, mas, sim, a verdade. E não haverá desculpas para mim, a nenhum pretexto, se defraudo o povo com alguma mentira. Estejam certos de que omitir qualquer parte do evangelho não é direito, nem o verdadeiro método para salvar os homens. Exponham ao pecador todas as doutrinas bíblicas. Se hão de defender a doutrina calvinista, como espero, não fiquem balbuciando nem gaguejando. Falem dela abertamente. Podem estar certos de que muitos avivamentos têm sido fugazes, dando em nada, por não ter sido proclamado o evangelho completo. Dêem ao povo toda a verdade, toda a verdade batizada em fogo santo, e cada verdade produzirá o seu efeito benéfico na mente.

Mas a grande verdade é a cruz, a verdade de que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a rida eterna." Irmão, atenha-se a isto. Esta é a sineta que você deve tocar. Toque-a, homem! Toque-a! E não pare de tocá-la. Faça soar essa nota em sua trombeta de prata. Ou mesmo que não passe de uma cometa de chifre de carneiro, faça-a soar, e como as muralhas de Jericó. Ai dos atavios dos nossas "cultos" teólogos modernos! Ouço-os bradar, reprovando o meu conselho antiquado. Dizem que falar de Cristo crucificado é arcaico, tradicional e obsoleto, e que de modo nenhum se ajusta ao refinamento desta era maravilhosa. É espantoso o grau de erudição que todos atingimos ultimamente. Estamos ficando tão sábios que receio que depressa vamos amadurecer como néscios, se é que já não chegamos a isso. Hoje era dia as pessoas exigem pensamento, é o que se diz. E os trabalhadores vão aonde a ciência é divinizada e o "pensamento" profundo é tido como relíquia sagrada. Tenho notado que, como regra geral, onde quer que o novo "pensamento" desaloje o velho evangelho, há mais aranhas do que gente, ao passo que onde é feita a simples pregação de Jesus Cristo, faz o lugar ficar superlotado. Fora a pregação de Jesus Cristo crucificado, nada conseguirá casas cheias de gente, por muito tempo.

Com relação a este assunto, seja popular ou não, temos opinião formada, e sem vacilação nenhuma. Não temos dúvida a levantar a respeito do caminho que seguimos. Se é insensatez pregar a expiação pelo sangue, insensatos seremos. E se é loucura manter-nos fiéis à antiga verdade, como Paulo a transmitiu, em toda a sua simplicidade, sem qualquer refinamento ou tentativa para melhorá-la, pretendemos manter-nos fiéis a ela. E isto, mesmo sejamos acusados de incapazes de acompanhar o progresso da época. Sim, pois estamos persuadidos de que esta "loucura da pregação" é uma determinação divina, e que a cruz de Cristo, pedra de tropeço para muitos, e ridicularizada por muitos mais, ainda é "poder de Deus e sabedoria de Deus". Sim, é justamente a esta ultrapassada verdade – se creres, serás salvo – que nos apegamos. E queira Deus abençoá-la segundo o Seu desígnio eterno! Não esperamos que esta pregação tenha popularidade, mas sabemos que Deus a justificará dentro em breve. Enquanto isso, não desfalecemos porque: 

"Como infantil pieguice e sonhos de delírio, 

da verdade que amamos o mundo escarnece. 

Não discerne o perigo, e nega que ele existe; 

do único remédio zomba, e então perece".

Além do que foi dito, Paulo empregava muita oração. O Evangelho sozinho não será abençoado; precisamos orar por nossa pregação. Perguntaram a um grande pintor com que misturava as cores. Respondeu que as misturava com o cérebro. Para um pintor fica bem esta resposta, mas, se se perguntasse a um pregador com que mistura os elementos da verdade, deveria ser capaz de responder: com oração, com muita oração.

Um homem modesto quebrava pedras à beira de uma estrada. Estava de joelhos aplicando os golpes. Passando por ali um ministro, disse-lhe: "Ah, meu amigo; aí está você em seu duro trabalho. Seu trabalho é parecido com o meu. Você tem de quebrar pedras; eu também". "Isso mesmo", disse o outro, "e se você tem que dar duro para romper corações de pedra, tem que fazer uso como eu: de joelhos." O homem estava certo. Ninguém pode manejar bem o martelo do Evangelho sem passar muito tempo de joelhos. Prevaleçam com Deus, e prevalecerão com os homens. Ao irmos do gabinete pastoral para o púlpito, vamos com a unção do Espírito de Deus recém-dada a nós. Repartamos alegremente em público o que recebemos em secreto. Nunca nos aventuremos a falar por Deus aos homens até que tenhamos falado pelos homens a Deus. Sim, caros ouvintes, se querem que o seu ensino na escola dominical, ou que qualquer outra forma de serviço cristão que prestem, seja abençoado por Deus, misturem-no com fervorosa intercessão.

Observem outra coisa mais. Paulo sempre fazia o seu trabalho com grande compreensão empírica daqueles com quem lidava, empatia que o levava a adaptar-se a cada caso. Se falava com um judeu, não se precipitava a apresentar-se como o apóstolo dos gentios. Antes, dizia-se judeu, como judeu que era. Não levantava questões acerca de nacionalidades ou cerimônias. Seu desejo era falar ao judeu dAquele de quem Isaías dissera: "Era desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos", para que cresse em Jesus e fosse salvo. Se encontrava um gentio, o apóstolo dos gentios não demonstrava nenhum melindre, do tipo que se poderá esperar nele devido à sua educação judaica. Comia como gentio, bebia como este, sentava-se em sua companhia, conversava com ele. Era como se fosse um gentio com a gentio. Nunca levantava questões sobre a circuncisão ou a incircuncisão, mas desejava falar-lhe unicamente de Cristo, que veio ao mundo para salvar judeus e gentios e fazê-los um. Se Paulo se encontrava com um cita, falava-lhe na língua bárbara, e não no grego clássico. Se encontrava um grego, falava-lhe como o fez no Areópago, na linguagem própria do ateniense ilustrado. Ele se fazia "tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns".

Cristãos, sejam assina também. A sua única ocupação na vida é levar os homens a crerem em Jesus Cristo pelo poder do Espírito Santo. E tudo mais deve estar sujeito a esse objetivo único. Se tão-somente conseguirem salvá-los, todas as demais coisa virão no seu devido tempo. Hudson Taylor, apreciado homem de Deus que tem trabalhado muito na China Central, acha que é útil vestir-se como chinês e usar rabicho. Sempre se mescla com o povo e, tanto quanto possível, vive como ele. Parece-me um modo de agir verdadeiramente sábio. Posso entender que haveríamos de ganhar a atenção e respeito de uma congregação chinesa, fazendo-nos, quanto possível, chineses como eles. E se for este o caso, somos abrigados a fazer-nos chineses para salvar chineses. Não deveríamos evitar tomar-nos zulus para salvar zulus, embora devamos ter em mente que o faríamos num sentido diverso daquele em que Colenso o fez (pois vocês sabem que esse bispo se identificou politicamente com certos chefes zulus). Se nos nivelarmos com aqueles cujo bem procuramos, teremos maior probabilidade de conseguir nosso propósito, do que permanecendo alheios e estranhos, e nesta condição tentarmos falar de amor e união. Deixar-se afundar para salvar outros – esta é a idéia do apóstolo. Se desejamos propalar o reino de Deus, a sabedoria nos moverá a lançar fora todas as peculiaridades, e a renunciar a mil e um pontos de somenos importância, a fim de levar homens a Jesus. Que jamais algum capacho ou convencionalismo nosso impeça alguém de considerar o evangelho. Horrível coisa seria! Muito melhor é cedermos em relação a coisas triviais, do que retardar a rendição do pecador a Cristo devido a contendas por insignificâncias.

Se Jesus Cristo estivesse aqui hoje, tenho certeza de que Ele não vestiria os vistosos trapos que alguns ministros tanta apreciam. Não possa imaginar nosso Senhor Jesus Cristo trajado dessa maneira. Ora, o apóstolo recomenda às mulheres cristãs que se vistam com modéstia; não creio que Cristo queira que os Seus ministros sejam exemplos de tolices. Não obstante, com relação à indumentária podemos fazer algo baseados no princípio do texto de que estamos tratando. Quando Jesus esteve neste mundo, como se vestia? Vestir a roupa comum dos homens do campo, uma túnica tecida de alto a baixo, sem costura. Acredito que seu desejo é que os Seus ministros usem o vestuário de uso comum entre os seus ouvintes, associando-se assim com eles, até no vestir, e sendo um deles.

Sem dúvida Cristo quer que vocês, professores, se desejam salvar as crianças que estão a seus cuidados, falem com elas como crianças, e se façam como crianças, se possível. Vocês que pretendem alcançar o coração dos jovens, devem procurar ser jovens. Os que querem visitar os enfermos devem sentir-se como eles em sua enfermidade. Falem com eles como gostariam que falassem com vocês, se estivessem doentes. Abaixem-se até aqueles que não podem subir até onde vocês estão. Não podem tirar ninguém da água sem agachar-se para agarrá-lo. Se tiverem que lidar com homens de mau caráter, é preciso que se rebaixem a eles, não quanto ao seu pecado, mas em sua rudeza e em sua maneira de falar, para conseguirem apossar-se deles. Rogo a Deus para que possamos aprender a sagrada arte de conquistar almas para Cristo mediante a adaptação.

A capela de Whitefield, em Moorfields, tinha o apelido popular de "Arapuca de Almas". Whitefield deliciava-se com isso, e dizia que esperava que ela sempre fosse uma arapuca de almas. Oxalá todos os nossos locais de culto fossem arapucas ou redes para negar almas! Oxalá cada cristão fosse um pescador de homens, cada um fazendo o melhor que pudesse, como o bom pescador faz, empregando todo engenho e arte para apanha os peixes que quer pescar! Bem que podemos empregar todos os meios para ganhar como prêmio um espírito destinado à ventura ou desventura eterna. O mergulhador se aprofunda nas águas em busca de pérolas, e devemos aceitar qualquer trabalho e qualquer custo para conquistar uma alma. De pé, irmãos! Lancem-se a esta obra semelhante à de Deus. E que o Senhor os abençoe nesse labor!