Quando por Sua graça Cristo nos chama, não só devíamos lembrar o que somos, mas também devíamos pensar no que Ele pode fazer de nós: "Vinde após mim, e eu vos farei." Devemos arrepender-nos do que fomos, mas alegrar-nos pelo que podemos ser.
O texto não diz: "Vinde após mim pelo que já sois". Nem dá: "Vinde após mim, porque podeis fazer algo de vós próprios". O que diz é: "Vinde após mim por aquilo que farei de vós". Na verdade eu poderia dizer de cada um de nós, logo depois da nossa conversão: "Ainda não é manifestado o que havemos de ser".
Não parecia nada provável que humildes pescadores viessem a tornar-se apóstolos, que homens hábeis na manejo das redes viessem a sentir-se igualmente bem na pregação de sermões e na instrução dos convertidos.
Alguém poderia ter dito: "Como pode ser isto? Não se podem produzir fundadores de igrejas de simples camponeses da Galiléia". Mas foi exatamente isso o que Cristo fez. E quando nos sentirmos humilhados diante de Deus pelo senso da nossa indignidade, podemos animar-nos a segar Jesus pelo que Ele pode fazer de nós.
Que disse a mulher de espírito angustiado quando elevou seu cântico? "Ele levanta o pobre do pó, e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes".
Não podemos dizer o que Deus fará de nós na nova criação, como teria sido inteiramente impossível predizer o que Ele fez do caos na antiga criação. Quem poderia ter imaginado as belas coisas que surgiram das trevas e da desordem mediante aquele mandado: "Haja luz"? E quem poderá dizer quão formosas demonstrações de tudo o que é divinamente belo podem ainda surgir na vida antes sombria de alguém, quando a graça de Deus lhe tiver dito: "Haja luz"? Oh! vocês que no presente nada vêem em si de desejável, venham após Cristo pelo que Ele pode fazer de vocês! Não ouvem Sua doce voz a chamá-los, dizendo: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens"?
A seguir, notem que, quando acabam de nos pescar, não somos logo transformados em tudo que haveremos de ser, nem em tudo que deveríamos desejar ser. Isso é o que a graça de Deus faz por nós de início; mas não é tudo. Somos como os peixes; e assim como eles estão em seu elemento quando na água, fazemos do pecado o nosso elemento. O amoroso Senhor vem, e nos apanha com a rede do Evangelho e nos livra da vida pecaminosa e do amor ao pecado. Mas, ao fazê-lo, não fez tudo quanto pode fazer por nós e conosco, nem tudo quanto gostaríamos que fizesse. Pois há um milagre mais elevado, o de fazer de nós, os peixes apanhados, pescadores – fazer dos salvos salvadores, dos convertidos promotores da conversão, dos recebedores do Evangelho transmissores desse mesmo Evangelho a outros.
Acho que posso dizer a cada pessoa a quem me dirijo: Se você é salvo, a obra estará feita pela metade em você enquanto não for usado para levar outros a Cristo. É como se estivesse apenas meio formado à imagem do seu Senhor. Não terá atraído o pleno desenvolvimento da vida de Cristo em você enquanto não tiver começado a falar a outros da graça de Deus. E confio em que seus pés estarão inquietos enquanto você não servir de instrumento para conduzir muitos àquele bendito Salvador, que engloba toda a sua confiança e esperança. Sua palavra é "Vinde após Mim", não simplesmente para que possam ser salvos, nem mesmo para que possam ser santificados; mas, sim: "Vinde após Mim, e eu vos farei pescadores de homens". Sigam a Cristo com esta intenção e propósito, e receiem não estar a segui-Lo perfeitamente, anão ser que em alguma medida Ele os esteja utilizando como pescadores de homens. O fato é que cada um de nós deve fazer a tarefa de caçador de homens. Se Cristo nos capturou, devemos capturar outros. Se fomos presos por Ele, precisamos ser Seus policiais, a fim de prender em Seu nome outros rebeldes. Peçamos-Lhe graça para que possamos ir pescar, e de tal forma lancemos as redes que peguemos uma enorme quantidade de peixes. Oxalá o Espírito Santo levante dentre nós alguns pescadores de primeira categoria que naveguem com seus barcos por muitos mares e aprisionem grandes cardumes.
O meu ensino desta vez é muito simples, mas espero que seja eminentemente prático. Sim, pois o meu desejo é que nem um só de vocês, que amam o Senhor, fique para trás no serviço a Ele. Que diz o livro Cantares de Salomão de certas ovelhas que sobem do lavadouro? "Todas produzem gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas." Que assim seja com todos os membros desta igreja, e com todos os cristãos que ouçam ou leiam este sermão! O fato é que o dia está deveras escuro. Está sob o teto dos céus, carregado de nuvens borrascosas. Os homens nem sonham com as terríveis tempestades que logo assolarão esta cidade e toda a estrutura social desta terra, chegando até a provocar bancarrota na sociedade. A noite pode escurecer-se tanto, que as estrelas parecerão cair como frutas podres. Os tempos são maus. Mais que nunca todo vaga-lume deve luzir. É preciso que vocês tirem sua pequena candeia de sob o alqueire e a coloquem no velador. Todos são necessários.
Ló era uma pobre criatura. Era um tipo de crente muitíssimo fraco. Contudo, poderia ter sido uma grande bênção para Sodoma, se tivesse orado por ela como devia. E como receio que muitos e muitos cristãos são por demais fracos, começo a valorizar mais cada alma verdadeiramente convertida nestes dias maus, e a orar no sentido de que cada uma glorifique o Senhor. Minha oração é que todo justo, aflito pelos maus costumes dos ímpios, seja mais que nunca importuno na oração, e se volte para Deus, obtendo mais vida espiritual, e seja assim uma bênção para os que estão perecendo ao seu redor. Portanto, dirijo-me a vocês em primeiro lugar sobre este pensamento. Oxalá o Espírito de Deus faça que cada um de vocês anta a sua responsabilidade pessoal!
Primeiramente, eis o que os crentes em Cristo devem fazer para serem úteis: "Vinde após mim". Em segundo lugar, porém, eis algo que há de ser feito por seu grandioso Senhor e Mestre: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens". Vocês não poderão por si mesmos tornar-se pescadores de homens, mas é o que Jesus fará por vocês, se tão-somente O seguirem. Por último, eis no texto uma boa ilustração, empregada de acordo com o costume do nosso grande Mestre; pois raramente falava ao povo sem usar parábolas. Dá-nos uma ilustração daquilo que todos os cristãos deviam ser: pescadores de homens. Tiremos dela algumas lições proveitosas, que rogo ao Espírito Santo abençoar em nosso favor.
1. Em primeiro lugar, pois, terei como líquido e certo que todos os cristãos aqui presentes desejam ser úteis. Se alguém não o deseja, me faz levantar a dúvida se se trata de um verdadeiro crente em Cristo. Daí, se quiserem ser de fato úteis, eis aqui ALGO PARA FAZEREM COM ESSE FIM. "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens."
Como se pode ser pregador eficiente? Alguém dirá: "Jovem, vá ao seminário teológico". Cristo diz: "Jovem, vem após Mim, e eu te farei pescador de homens". Como se pode ser útil? "Façam um curso de capacitação", dirá alguém. Certo. Mas há uma resposta mais correta: Sigam a Jesus, e Ele os fará pescadores de homens. A grande escola de treinamento prático dos obreiros cristãos tem Cristo como Diretor. E Ele a dirige rifo apenas como Professor, mas como Guia. Devemos não só aprender dEle pelo estudo, mas segui-lo na ação. "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens." A ordem é bastante definida e clara, e creio que exclusiva, de modo que ninguém pode tornar-se pescador de homens por outro meio. Este processo talvez pareça demasiado simples, mas é com certeza o mais eficiente. O Senhor Jesus Cristo, sabedor de tudo o que se refere à pesca de homens, foi quem firmou a regra: "Sigam-me, se querem ser pescadores de homens. Se pretendem ser úteis, sigam minhas pegadas".
Primeiro entendo esta regra na sentido de ser separado para Cristo. Os homens a quem ditou a norma tinham que deixar as suas ocupações; tinham que deixar os amigos; de fato, deviam abandonar o mundo para que, em nome do seu Mestre, tivessem como única atividade a pesca de homens. Nós mesmos não somos chamados a abandonar as nossas ocupações diárias, ou a deixar nossas famílias. Isso talvez significasse abandonar a pesca em vez de trabalhar nela em nome de Deus. Somos, porém, chamados de maneira definida para sairmos do meio dos ímpios, separar-nos, e não tocarmos coisa impura. Não poderemos ser pescadores de homens se permanecermos entre eles e em seu próprio elemento. O peixe não será pescador. O pecador não converterá pecadores. O ímpio não converterá ímpios. E mais importante do que tudo, o cristão mundano não converterá o mundo. Se vocês são do mundo, sem dúvida o mundo amará o que é dele; mas vocês não poderão salvar o mundo. Se são trevas, e pertencem ao reino das trevas, não poderão eliminar as trevas. Se marcham nas fileiras do maligno, não poderão derrotá-lo. Creio que uma razão pela qual a igreja de Deus tem no presente pouca influência sobre o mundo é que o mundo tem grande influência sobre ela.
Hoje em dia ouvimos certos cristãos, não-conformistas, alegrarem que podem fazer isto e aquilo – coisas pelas quais os seus antepassados, os puritanos, prefeririam morrer na estaca, antes que tolerá-las. Argumentam que o cristão pode viver como os mundanos, e minha triste resposta quando suplicam por essas liberdade é: "Ajam assim, se se atrevem. Pode ser que não lhes cause muito dano, visto que vocês já são demasiado maus. Os seus desejos mostram como são corruptos as seus corações. Se cobiçam comida de cães, avante, cães, é comam esse lixo! As diversões mundanas são alimento apropriado para impostores e hipócritas. Se fossem filhos de Deus, aborreceriam até o simples pensamento dos iníquas alegrias do mundo, e não levantariam questões como esta: "Até que ponto podemos ser como o mundo?", mas o seu único clamor seria: "A que distância poderemos afastar-nos do mundo?" Até que ponto podemos separar-nos dele? Em tempos como estes em que vivemos, a sua tentação deveria ser a de se torturem inflexivelmente severos e ultrapuritanos em sua separação do pecado, e não a de perguntarem: "Como poderei assemelhar-me aos outros homens e agir como eles?"
Irmãos, a utilidade da igreja no mundo é a de ser como sal em meio à putrefação. Mas se o sal for insípido, qual o seu valor? Se fosse possível o sal apodrecer, somente serviria para aumentar e elevar o nível de putrefação geral. O pior dia que o mundo jamais viu foi aquele em que os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens. Depois disso veio o dilúvio. Pois a única barreira que poupa este mundo de um dilúvio de vingança é a separação do santo e do pecador. Seu dever, como cristãos, é permanecer em seus postos e defender a causa de Deus, "detestando até mesmo a roupa contaminada pela carne", decididos, como o antigo servo de Deus, a servir ao Senhor, vocês e suas casas, deixando que os outros façam o que quiserem.
Venham vocês, filhos de Deus. É preciso que se alinhem ao lado do Senhor, fora do acampamento. Jesus os chama hoje, e lhes diz: "Vinde após Mim". Via-se Jesus no teatro? Freqüentava os hipódromos? Crêem que Jesus seria encontrado em alguma das diversões da corte herodiana? Ele não! Jesus era "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores". Num sentido ninguém se misturou tão completamente com os pecadores, como Ele o fez quando, como um médico, esteve entre eles curando os Seus pacientes. Noutro sentido, porém, havia um imenso abismo entre os homens do mundo e o Salvador, abismo que Ele jamais pensou em cruzar, e que os homens não podiam atravessar para profanar o Senhor.
A primeira lição que a igreja precisa aprender é esta: Sigam a Jesus, acompanhando-O naquele estado de separação, e Ele os fará pescadores de homens. A menos que tomem a sua cruz e protestem contra o mundo ímpio, não podem esperar que o santo Jesus os faça pescadores de homens.
A segunda verdade do texto que estamos considerando é óbvia. É a seguinte: Permaneçam com Cristo, e serão feitos pescadores de homens. Os discípulos que Cristo chamou tinham que acompanhá-Lo e viver com Ele. Deviam tomar parte com Ele em tudo dia após dia. Haveriam de ouvi-Lo ensinar publicamente o evangelho eterno e, em acréscimo a isto, haveriam de receber em particular as explicações da Palavra anunciada por Ele. Seriam os Seus servos de confiança e os Seus amigos chegados. Veriam os Seus milagres e ouviriam as Suas orações. E, melhor ainda, estariam com Ele e se uniriam a Ele em Seu santo labor.
Foi-lhes dado sentar-se à mesa com Ele, e até mesmo ter os seus pés lavados por Ele. Muitos deles cumpriram aquela palavra: "Onde quer que pousares, ali povoarei eu". Estiveram com Ele nas aflições e perseguições que padeceu. Testemunharam Suas agonias secretas, viram Suas lágrimas copiosas, observaram a paixão e a compaixão da Sua alma, e desta maneira, na medida das suas capacidades, apreenderam o Seu espírito, e aprenderam a ser pescadores de homens.
Aos pés de Jesus é que havemos de aprender a arte e os segredos da conquista de almas. Viver com Cristo é o melhor treinamento para nos tornarmos úteis. É de enorme benefício para qualquer pessoa associar-se com um ministro cristão cujo coração arda em chamas. O melhor preparo para um jovem é aquele que os pastores valdenses costumavam dar. Consistia nisto: Cada ancião tomava consigo um jovem, que subia com ele a montanha sempre que ia pregar, morava na mesma casa, prestava atenção nas suas orações e observava a sua piedade diária. Era um excelente curso de preparação, não acham? Mas não se compara com o que os apóstolos tiveram, convivendo com o próprio Senhor Jesus e sendo Seus companheiras todo dia. O treino dos doze foi inigualável. Não admira que tenham sido o que foram, com semelhante Professor celestial a saturá-los do Seu próprio espírito.
Não contamos agora com a Sua presença física. Mas o Seu poder espiritual talvez nos seja mais plenamente conhecido do que a foi aos apóstolos durante aqueles dois ou três anos de presença corporal do Senhor. Para alguns de nós, Jesus está intimamente próximo. Sabemos mais dele do que do mais querido amigo terreno. Jamais pudemos ler bem o coração do amigo em todos os seus meandros, mas o coração do Amado conhecemos. Reclinamos sobre a Seu peito as nossas cabeças e fruímos comunhão com Ele, como jamais poderíamos fruir com um parente. Este é o meio mais seguro de aprender a fazer o bem. Vivam com Jesus, sigam-no, e Ele os fará pescadores de homens. Vejam como Ele trabalha, e aprenderão assim a fazê-lo. O cristão deve ser bom aprendiz de Jesus, para aprender a profissão do Salvador. Jamais poderemos salvar pecadores pela oferta de redenção, porquanto não a temos para oferecer; mas podemos aprender a salvá-los, exortando-os a fugirem da ira vindoura e apresentando-lhes o grande e único remédio eficaz. Vejam como Jesus salva, e aprenderão como o faz. Não há nenhuma outra forma de aprendê-lo. Vivam em comunhão com Cristo, e haverá a seu redor uma atmosfera e um modo de ser como de alguém que na mente e no coração foi feito apto para ensinar, e sábio para ganhar almas.
Contudo, devemos ver um terceiro aspecto da verdade contida neste "Vinde após Mim". É o seguinte: "Obedeçam-me, e saberão o que fazer para salvar homens". Não devemos falir de nossa comunhão com Cristo. ou de nossa separação do mundo para servi-lo, a menos que O aceitemos de fato como nosso Mestre e Senhor em todas as coisas. Alguns professores públicos não são fiéis a todos as pontos das suas convicções; como podem esperar que Deus os abençoe? O cristão desejoso de ser útil deve esmerar-se em todos os pontos da obediência a seu Senhor. Não tenho dúvida alguma de que Deus abençoa as nossas igrejas mesmo quando são muito faltosas, pois a Sua misericórdia dura para sempre.
Quando há algum erro no ensino e algum engano na prática, Deus ainda pode condescender em servir-se do ministério, pois a Sua graça é sem limites. Entretanto, grandes porções da bênção divina terão necessariamente que ser retiradas de todo ensino consciente ou claramente errado. Deus pode apor o Seu selo à verdade que o ensino contenha, mas não ao erro que nele haja. De erros quanto às ordenanças cristãs e a outros pontos, especialmente erros aninhados no coração e no espírito, podem provir males que jamais procuramos. É possível que mesmo agora esses males estejam afetando a época atual, e talvez produzam danos piores nas gerações futuras.
Se como pescadores de homens desejamos que Deus nos utilize largamente, devemos imitar em tudo a nosso Senhor Jesus Cristo e ser-lhe obedientes em todos os pormenores. A falta de obediência pode levar ao fracasso. Cada um de nós, se quer ver os seus filhos salvos, ou a sua classe da escola dominical abençoada, ou os freqüentadores da sua igreja convertidos, deve assegurar-se de que, ao cuidar dos utensílios do Senhor, ele mesmo esteja limpo. Tudo quanto fizermos que entristeça o Espírito de Deus, forçosamente nos tirará parte do nosso poder para beneficiar outros. O Senhor é cheio de graça e de misericórdia. Todavia, é Deus zeloso. Às vezes é dolorosamente zeloso para com os membros do Seu povo que estejam negligenciando o dever que conhecem, ou que estejam partilhando da impiedade de gente impura aos olhos de Deus. Fará definhar o trabalho deles, debilitará as suas forças e os humilhará, até que afinal cada um deles diga: "Meu Senhor, resolvo-me enfim a seguir os Teus caminhos. Farei o que quiseres que eu faça, pois de outro modo não me aceitarás". O Senhor disse a Seus discípulos: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será alvo". E lhes prometeu que se seguiriam sinais, como de fato aconteceu, e continuará acontecendo.
Precisamos retornar à prática e ao ensino dos apóstolos. Precisamos pôr de lado os mandamentos dos homens e as fantasias das nossas mentes. Precisamos fazer o que Cristo nos diz, como Cristo diz e porque Ele no-lo diz. É definida e categoricamente necessário que ocupemos o lugar de servos. E se não quisermos fazer isso, não podemos esperar que Deus opere conosco e através de nós. Na medida de nossas luzes, estejamos determinados a ser tão fiéis à ordem do nosso Senhor e Mestre como a agulha ao pólo magnético, Jesus dá: "Vinde após Mim, e eu vos farei pescadores de homens". Com este ensino parece afirmar-nos: "Vão adiante de Mim, ou fiquem para trás, distantes de Mim, e lancem as redes. Mas será noite para vocês, e nessa noite nada apanharão. Quando fizerem o que lhes ordeno, lançarão a rede à direita do barco, e terão bom resultado".
Creio ademais que, na passagem que estamos analisando, há uma grande lição para aqueles que apregoam as suas próprias idéias, em vez de pregarem as de Cristo. Os discípulos deviam seguir a Cristo para poderem ouvi-lo, sim, escutar o que Ele tinha para dizer, abeberar-se dos Seus ensinamentos, e depois saírem a ensinar a que Ele lhes tinha ensinado. Seu Senhor lhe disse: "O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados". Se fossem fiéis portadores da mensagem de Cristo, Ele os faria "pescadores de homens". Mas vocês sabem que o jactancioso método empregado hoje em dia é este: "Não vou pregar este velhíssimo evangelho, esta rançosa doutrina dos puritanos. Vou sentar-me no meu escritório e queimar as pestanas até inventar urra nova teoria. Depois sairei com o meu pensamento novo em folha e o propagarei por toda parte".
Há muitos que, em lugar de seguirem a Cristo, seguem a si próprios. Destes bem poderá dizer o Senhor: "Verás que palavra há de prevalecer, a Minha ou a deles". Outros são perversamente prudentes, e acham melhor não divulgar certas verdades, não obstante serem evidentemente Palavra de Deus. Acham que não devemos ser rudes, e que só devemos profetizar coisas suaves. Nada de falar da punição do pecado e das penas eternas, pois estas doutrinas estão fora da moda. Talvez estejam ensinadas na Palavra de Deus, mas não se enquadram no espírito da nossa época. Precisamos podá-los, pois! Irmãos em Cristo, não tomo parte nisso! E vocês? Oxalá a minha alma não adentre os seus segredos! Nossa era iluminada descobriu algumas coisas não ensinadas na Escritura. O evolucionismo pode ser totalmente contrário aos ensinamentos de Gênesis; mas, que importa! Não interessa sermos crentes nas Escrituras, mas, sim, pensadores originais. Esta é a vaidosa ambição do período em que vivemos.
Notem bem: na proporção em que se prega a teologia moderna, aumentam os males desta geração. Até certo ponto, atribuo a permissividade desta época à frouxidão da doutrina apregoada pelos seus mestres. Do púlpito ensinam ao povo que o pecado não passa de banalidade. Do púlpito esses traidores de Deus e do Seu Cristo ensinam ao povo que não há inferno que se tema. Um infernozinho talvez exista; mas o justo castigo do pecado é reduzido a nada! O precioso sacrifício expiatório de Cristo é ridicularizado e apresentado em termos falsos por aqueles que se haviam comprometido a pregá-lo. Dão ao povo o nome do evangelho, mas o evangelho em si evaporou-se nas tufos deles. De centenas de púlpitos o Evangelho desapareceu tão completamente como a extinta ave "dodô"* do seu antigo habitat. E tais pregadores usurpam a posição e o nome de ministros de Cristo. Bem, qual é o resultado disso? Ora, as suas igrejas vão ficando cada vez mais fracas. E assim tem que ser. Jesus diz: "Vinde após Mim, e eu vos farei pescadores de homens". Mas se vocês servem os seus próprios caminhos e usam as suas próprias redes, não conseguirão nada, e o Senhor não lhes garante nenhum auxilio. As orientações do Senhor fazem dEle nosso Guia e nosso Exemplo. Suas palavras são: "Vinde após Mim; vinde após Mim". Isto é : "Preguem o Meu Evangelho. Preguem o que Eu preguei. Ensinem o que Eu ensinei, e limitem-se a isso". Copiem a Cristo até em cada jota e til, com aquela submissão própria de quem só ambiciona ser imitador, sem pretender o papel de matriz. Façam isso, e Cristo os fará pescadores de homens. Se não o fizerem, lançarão as redes em vão.
Concluo esta divisão da minha mensagem dizendo que não seremos pescadores de homens, a menos que sigamos a Cristo em outro aspecto também, a saber: esforçando-nos para imitar em tudo a santidade do nosso Mestre e Senhor. A santidade é o mais genuíno poder que os homens e as mulheres podem possuir. Podemos pregar ortodoxia, mas também devemos vivê-la. Não permita Deus que preguemos qualquer outra coisa que a ortodoxia. Mas será inteiramente em vão, se não praticarmos aquilo que pregamos. Um pregador impuro pode tornar desprezível até mesmo a própria verdade. Na proporção em que nos afastarmos da santificação viva e zelosa, nos afastaremos da sede do poder. Nosso poder está nesta expressão: "Vinde após Mim". Sejam semelhantes a Jesus. Em tudo esforcem-se para pensar, falar e agir como o fazia Jesus, e Ele os fará pescadores de homens.
Isto requer abnegação. Temos que tomar dia a dá a nossa cruz. Pode ser que isto nos exija disposição para sacrificar a nossa reputação – prontidão para sermos tachados de loucos, idiotas e coisas parecidas, como os homens costumam chamar aos que se mantêm intimamente ligados ao seu Mestre. É preciso que haja uma alegre renúncia de tudo quanto pareça honra e glória pessoal, a fim de pertencermos totalmente a Cristo e glorificarmos o Seu nome. Devemos viver Sua vida e estar dispostos a morrer Sua morte, se for necessário. Ó irmãos e irmãs, se fizermos isso, pondo nossos pés nas pegadas deixadas por Seus perfurados pés, Ele nos fará pescadores de homens! Se Lhe aprouver que cheguemos a morrer sem reunir muitas almas em torno da cruz, dos túmulos falaremos. De um modo ou de outro, o Senhor fará com que uma vida santa seja uma vida de poderosa influência. Não é possível que uma vida de discipulado, seguindo sempre a Cristo, seja infrutífera aos olhos do Altíssimo. "Vinde após Mim", e se segue um "vos farei", que Deus jamais poderá retirar: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens".
Basta sobre o primeiro ponto. Há algo que nos cabe fazer: pela graça de Deus somos chamados a seguir a Jesus. Santo Espírito, guia-nos e faze-nos ir após o Filho de Deus!
2. Agora veremos resumidamente o segundo ponto:
HÁ ALGO QUE CABE AO SENHOR FAZER.
Quando os Seus amados servos O seguem, Ele diz: "Eu vos farei pescadores de homens". E nunca esqueçamos que é isso que faz com que O sigamos. Deste modo, se segui-lo é o passo inicial para fazer-nos pescadores de homens, ainda isso Ele nas dá. Tudo é feito por Seu Espírito. Falei sobre apreendermos o Seu espírito, permanecer nEle, obedecer-Lhe, ouvi-Lo, imitá-Lo; mas de nenhuma destas coisas somos capazes se Ele não as realizar em nós. "De mim é achado o teu fruto", é urra passagem que não devemos esquecer nem por um momento. Portanto, se nós O seguimos é porque Ele nos faz segui-Lo, e assim nos transforma em pescadores de homens.
Além disso, se seguirmos a Cristo, Ele nos fará pescadores de homens por meio da nossa experiência. Estou certo de que o homem realmente decidido a ser uma bênção para os outros, será ajudado nisso por tudo o que ele mesmo experimenta, principalmente por suas aflições. Muitas vezes dou graças a Deus por ter padecido terrível depressão de ânimo. Sei o que é estar à beira do desespero e a horrível margem daquele abismo de trevas para o qual meus pés quase escorregaram. Mas centenas de vezes pude estender a mão para socorrer irmãos e irmãs que estiveram nas mesmas condições, socorro que nunca poderia ter dado se não conhecesse por experiência própria o seu profundo abatimento. Assim, pois, creio que a mais trevosa e terrível experiência de um filho de Deus o ajudará a ser pescador de homens, contanto que siga a Cristo.
Mantenham-se junto do seu Senhor, e Ele fará de cada passo uma bênção. Se em Sua providência Deus os fizer ricos, Ele os habilitará a falarem aos ricos ignorantes e ímpios, tão numerosos nesta cidade, que freqüentemente são os causadores dos seus piores pecados. E se ao Senhor aprouver fazê-los pobres, poderão falar com os pobres que vivem na ignorância e na impiedade, os quais tantas vezes são causa de pecado nesta cidade, e que tanto precisam do Evangelho. Os ventos da providência os levarão aonde possam pescar homens. As rodas da providência estão cheias de olhos, todos os quais olharão por nós a fim de fazer-nos conquistadores de almas. Com freqüência vocês ficarão surpresos ao descobrirem como Deus esteve na casa que visitam. Antes de chegarem ali, a mão de Deus esteve agindo nos seus cômodos. Quando quiserem falar com dada pessoa, a providência divina já terá operado nela, preparando-a para receber justamente aquela palavra que lhe irão dizer, e que manguem mais além de vocês poderia dizer-lhe. Oh, sigam a Cristo, e verão que Ele, valendo-se de toda sorte de experiências pelas quais passam, fará de vocês pescadores de homens!
Ainda mais, se seguirem a Jesus, Ele os fará pescadores de homens mediante nítidas indicações em seu coração. Há muitos avisos dados pelo Espírito de Deus não percebidos pelos cristãos quando estão calejados. Mas quando o coração é reto para com Deus, e mantém vivida comunhão com Ele, tem-se uma santa sensibilidade, de modo que já não é necessário que o Senhor grite, pois podemos escutar os Seus mais leves sussurros. Na verdade não precisará nem sequer sussurrar. Seu olhar nos guiará. Quantos cristãos há tão cabeçudos que têm que ser retidos com freio e cabresto, e precisam receber chicotadas a toda hora! Mas a cristão que segue a seu Senhor será guiado com brandura.
Não afirmo que o Espírito de Deus virá dizer-lhes: "Chega-te, e ajunta-te a esse carro", ou que vocês ouvirão uma voz a falar-lhes aos ouvidos. Entretanto, de maneira tão definida como o Espírito disse a Filipe: "Chega-te, e ajunta-te a esse carro," ouvirão em sua alma a vontade do Senhor. Tão logo vejam alguém, passará por sua mente este pensamento: "Vá falar com aquela pessoa". Toda oportunidade de ser útil será um chamamento para vocês. Se estiverem preparados, a porta se abrirá diante de vocês, e ouvirão a impulsioná-los uma voz que lhes diz ; "Este é o caminho, andai nele". Se tiverem a graça de percorrer o carrinho certo, nunca ficarão muito tempo sem receber a indicação daquilo em que consiste o caminho certo. Esse caminho os levará ao rio ou ao mar, onde poderão lançar as suas redes e ser pescadores de homens.
Creio que o Senhor nos quer dizer também que daria aos Seus seguidores o Espírito Santo. Deveriam segui-Lo e, depois, quando O tivessem visto ascender ao santo lugar à destra do Altíssimo, deveriam permanecer em Jerusalém por algum tempo. E Espírito desceria sobre eles e os revestida de um poder misterioso. As palavras do texto em foco foram ditas a Pedro e André, e vocês sabem como se cumprira com relação a Pedro. Que tremenda quantidade de peixes levou para a praia da primeira vez que lançou a rede no poder do Espírito Santo! "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens."
Irmãos, não podemos fazer idéia do que Deus poderia realizar com este batalhão de crentes reunidos esta noite neste Tabernáculo. Se ficássemos agora cheios do Espírito Santo, há bastante gente aqui para evangelizar a cidade inteira. Há gente aqui suficiente para servir de instrumento para a salvação do mundo. Não é por poucos ou muitos que Deus salva. Procuremos tornar-nos bênçãos para os nossos semelhantes. E se o procuramos, escutemos esta voz orientadora: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens". Vocês, homens e mulheres que se assentam diante de mim, encontram-se na orla do imenso oceano da vida humana, fervilhante de almas. Vocês vivem em meio a milhões delas. Se, porém, seguirem a Jesus e Lhe forem fiéis, sinceras e obedientes, Ele os fará pescadores de homens.
Não digam: "Quem salvará esta cidade?" O mais fraco será suficientemente forte. O pão de cevada de Gideão ferirá as tendas e as abaterá. Com a queixada de jumento atirada no solo, branqueando ao sol, Sansão baterá os filisteus. Não temam, nem se desanimem. Que as suas responsabilidades os aproximem mais do seu Senhor. Que horror pelo pecado prevalecente os leve a fitar o amado rosto do Senhor, que há muito tempo chorou sobre Jerusalém, e agora chora sobre esta cidade. Agarrem-se a Ele, e não O saltem nunca. Pelos fortes e vigorosos impulsos da vida divina no seu íntimo, sendo vocês dinamizados e ganhando maturidade graças ao Espírito de Deus, aprendam esta lição que nos vem dos próprios lábios do Senhor: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens". Vocês não são aptos para fazê-lo, mas Ele os capacitará. Não sabem lançar redes e arrastá-las cheias de peixes para a terra, mas Ele os ensinará. Basta que O sigam, e Ele os fará pescadores de homens.
Quisera de algum modo poder dizer estas coisas com voz de trovão, para que toda a igreja de Deus pudesse ouvi-las. Quisera poder escrever nas estrelas através dos céus: "Disse Jesus, Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens". Se esquecerem o preceito, a promessa jamais será sua. Se seguirem qualquer outro rastro, ou se seguirem qualquer outro guia, ser-lhes-á inútil pescar. Queira Deus capacitar-nos a crer plenamente que Jesus pode fazer grandes coisas em nós, e então, fazer grandes coisas por nosso intermédio para o bem dos nossos semelhantes!
3. O último ponto, vocês mesmos poderiam desenvolver completamente em suas meditações particulares, com grande proveito. Encontramo-nos diante de UMA FIGURA CHEIA DE INSTRUÇÃO. Exporei apenas dois ou três pensamento que vocês poderão utilizar. "Eu vos farei pescadores de homens." Vocês têm sido pescadores de peixes. Se Me seguirem, Eu os farei pescadores de homens.
O pescador depende de muitas coisas e precisa ser confiante. Não vê os peixes. Aquele que pesca no mar, precisa lançar as suas redes como que ao acaso. Pescar é um ato de fé. Vi muitas vezes, no Mediterrâneo, os homens adentrando o mar em seus barcos e cercando vastas extensões das águas com as suas redes enormes. Contudo, ao arrastarem as redes para a cesta, não tiveram mais resultado que uns poucas peixinhos prateados que caberiam na minha mão. Voltavam porém outras vezes no dia, aguardando melhor resultado, cheios de esperança.
Ninguém depende tanto de Deus como o ministro de Deus. Oh, a pesca que se faz do púlpito deste Tabernáculo! Que labor de fé! Não posso dizer que uma alma será levada a Deus por este meio. Não posso ter certeza se o meu sermão será adequado às pessoas aqui presentes, mas, creio que Deus me guiará no lançamento da rede. Espero confiante que Ele realize a obra de salvação, e fico na inteira dependência dEle. Amo esta dependência total. Se me fosse oferecido contar com certa medida de poder para pregar inteiramente à minha disposição e pelo qual pudesse salvar pecadores, pediria a Deus que não me permitisse tê-lo, pois é muito mais deleitável depender dEle por completo e o tempo todo. É bom ser tolo, se Cristo se faz sabedoria em nós. É uma venturosa bênção ser fraco, se Cristo se faz mais plenamente a nossa força. Portanto, lancem-se ao trabalho, vocês que querem ser pescadores de homens, mas tenham em mente a sua insuficiência. Vocês que não têm forças, empreendam este trabalho divino. Ver-se-á a força do seu Mestre e Senhor quando tenham esgotado a de vocês. O pescador é dependente. Toda vez que lança as redes, tem que elevar com esperança os olhos. Mas é alguém cheio de confiança e, portanto, lança as redes com alegria.
O pescador que vive da pesca é diligente e perseverante. Os pescadores estão de pé em plena madrugada. Quando irrompe o dia, os nossos pescadores já estão pescando, e continuam a pescaria até à tardinha. Enquanto as mãos agüentam, pescam. Oxalá o Senhor Jesus nos faça pescadores de homens, rijos no trabalho, perseverantes, incansáveis! "Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela."
Em sua profissão, o pescador é inteligente e vigilante. Ouso dizer que parece fácil ser pescador. Mas se você tornasse parte nisso de fato, veria que não é nenhuma brincadeira de crianças. É uma arte, desde o trabalho de remendar as redes, até o de arrastá-las para a terra. Quão diligente é o pescador parra impedir que o peixe escape da rede! Certa noite ouvi grande ruído no mar, como se um enorme tambor estivesse sendo tocado por um gigante. Olhei e vi que os pescadores de Mentone estavam golpeando as águas para fazer entrar na rede os peixes, ou para impedir que escapassem os que já tinham sido aprisionados. Pois bem, nós também temos que vigiar os cantos da rede do evangelho, para que não escapem os pecadores quase apanhados. São muito espertos esses peixes, e empregam a sua astúcia no esforço para evitar a salvação. Teremos de estar agindo sempre, e de exercitar todos os nossos talentos, e ainda mais que os nossos próprios talentos, para termos sucesso como pescadores de homens.
O pescador é muito trabalhador. Não é uma profissão cômoda. Não fica a pescar sentado numa confortável poltrona. Tem que arriscar-se mar adentro enfrentando o mau tempo. Se aquele que observa as nuvem não semeia, estou certo de que aquele que observa as nuvens nunca sairá para pescar Se somente lacemos algum serviço por Cristo quando nos sentimos em ótimas condições, não faremos grande coisa. Se achamos que não queremos orar porque não podemos, nunca oraremos. Se dissermos: "Não vou pregar hoje porque não creio que possa fazê-lo", nunca faremos nenhuma pregação que valha a pena. Precisamos estar agindo sempre, até cair exaustos, pondo toda a alma no trabalho, por amor a Cristo.
O pescador é ousado. Desafia o mar turbulento. Um pouco de água salgada no rosto não o molesta. Molha-se mil vezes, e não liga. Ao tornar-se pescador de águas profundas, não esperava ter vida sossegada. Assim o verdadeiro ministro de Cristo, pescador que é de almas, jamais se impressionará com pequenas riscos. Sentir-se-á obrigado a fazer ou dizer muita coisa deveras impopular. Alguns cristãos talvez julguem as suas afirmações demasiado severas. É-lhe necessário fazer e dizer aquilo que visa ao bem das almas. Não deve tomar em consideração o que outros pensam dele ou da sua doutrina. Ao contrário, em nome de Deus Todo-poderoso haverá de dizer a si próprio: "Ainda que brame o mal e a sua plenitude, à ordem do meu Senhor lançarei a rede".
Em último lugar, aquele a quem Custo faz pescador de homens alcança sucesso. "Mas", dirá alguém, "sempre ouvi dizer que os ministros de Cristo devem ser fiéis, mas que não podem ter certeza de que triunfarão." É isso mesmo. Também tenho ouvido esse ensinamento e, em certo aspecto, é verdadeiro; mas em outro, tenho minhas dúvidas. Aquele que é fiel, terá maior ou menor sucesso, ao modo de Deus e segundo o Seu critério. Tomemos por exemplo um irmão que se diz fiel. Naturalmente devemos acreditar nele. Contudo, nunca soube de um pecador salvo por seu intermédio. De fato devo pensar que o lugar mais seguro para a pessoa que não queira a salvação, é sob o ministério daquele cavalheiro, porquanto não prega nada que seja capaz de despertar, impressionar ou persuadir ninguém. Esse irmão é "fiel", como ele diz. Ora, se alguém lhes dissesse: "Sou pescador, mas nunca peguei nada" vocês se admirariam por ele dizer-se pescador. Merece o nome de agricultor aquele que nunca chega a colher trigo ou qualquer outro produto da terra? Quando Jesus Cristo diz: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens", Sua intenção é que vocês realmente apanhem homens, salvem alguns; pois quem nunca pegou peixe não é pescador. Quem nunca salvou um pecador, depois de anos de trabalho, não é ministro de Cristo. Se o resultado do labor da sua vida é nulo, enganou-se ao aplicar-se a ele. Caminhem com a tocha de Deus nas mãos. Arremessem-na entre os restolhos, e estes pegarão fogo. Estejam certos disso. saiam a semear a boa somente. Nem sempre cairá em solo fértil, mas alguma cairá. Estejam certos disso. Brilhem simplesmente, e um ou outro olhar será iluminado pela luz que vocês irradiarem. Hão de triunfar. Triunfarão mesmo. Lembrem-se de que esta é a palavra do Senhor: "Vinde após Mim, e eu vos farei pescadores de homens". Mantenham-se perto de Jesus, ajam como Jesus agia, com o Seu espírito, e Ele os fará pescadores de homens.
Talvez esteja falando a algum atento ouvinte que ainda não se converteu. Amigo, digo-lhe a mesma coisa. Também pode seguir a Cristo, e Ele o utilizará – sim, a você mesmo. Quem sabe se Ele o trouxe aqui para que você seja salvo e para que, daqui a alguns anos, Ele o capacite a falar do Seu nome e para a Sua glória. Recordem como o Senhor chamou a Saulo de Tarso e o fez o apóstolo dos gentios. Os ladrões de caça regenerados dão os melhores guardas florestais; e os pecadores salvos serão os mais competentes pregadores. Queira Deus que nesta noite você escape do seu antigo senhor sem dar-lhe aviso prévio de um minuto sequer, pois, caso contrário, ele o prenderá a si. Corra para Jesus, e diga-lhe: "Eis aqui um pobre escravo fugido. Meu senhor, ainda traga nos punhos os grilhões. Queres libertar-me e fazer-me Tua propriedade?"
Lembre-se, está escrito: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora". Jamais um escravo foragido foi a Cristo no meio da noite sem que Ele o recebesse! e jamais devolveu algum ao antigo dono! Se Jesus o libertar, será então verdadeiramente livre. Portanto, fuja de uma vez para Jesus. Que o Seu Espírito Santo o ajude. E com o tempo Ele o fará conquistador de almas para louvor da seu nome; Deus o abençoe! Amém.
* Ave columbiforme, rafídea, extinta quando o último espécime (Raphus cucculatus) foi morto em 1884, na Islândia. – Aurélio 2002. [Nota do digitalizador]