15 INCENTIVO AOS CONQUISTADORES DE ALMAS

Conquistador de almas


Em Tiago 5:19, 20 lemos: "Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.".


Tiago é eminentemente prático. Se de fato se trata do Tiago chamado "o Justo", posso compreender como recebeu o titulo, pois esse traço distintivo do seu caráter patenteia-se na epístola. Se o escritor é "o irmão do Senhor", fez bem em demonstrar tão forte semelhança com a seu grande Parente e Senhor, que começou a Seu ministério com o prático Sermão do Monte. 


Devemos ser agradecidos ao fato de termos, nas Sagradas Escrituras, alimento para toda sorte de crentes, e emprego para todos os talentos dos salvos. Conviria que os contemplativos fossem supridos de abundantes temas para o exercício do pensamento. Paulo os forneceu. 


Deu-nos sã doutrina, disposta na simetria característica da ordem exata. Deu-nos pensamentos elevados e ensinamentos profundos. Pôs a descoberto verdades grandiosas pertencentes a Deus. Ninguém que seja propenso à reflexão e à meditação ficará sem nutrição enquanto existirem as epístolas paulinas. Ele alimenta a alma com maná sagrado.


Para aqueles cujas afetos e imaginação predominantes os inclinam a temas de natureza mais místicas, João escreveu frases de ardente devoção e inflamadas de amor. Temos as suas epístolas singelas mas sublimes – epístolas que, à primeira vista, parecem escritas para crianças. Entretanto, bem examinadas, vê-se que o seu sentido é tão sublime, que mesmo os homens mais desenvoltos são incapazes de captá-lo plenamente. Desse mesmo apóstolo de olhos e vôo de águia temos as portentosas visões do livro de Apocalipse, onde o assombro, a devoção e a imaginação podem estender vôo e encontrar amplitude para circunvoluções mais completas.

Contudo, sempre haverá uma classe de pessoas mais práticas que contemplativas, e foi demonstração de sabedoria que houvesse um Tiago, cujo principal objetivo seria despertar-lhes a mente limpa por meio de exortações, e ajudá-las a perseverar nos dons práticos do Espírito Santo. O texto de que estamos tratando é talvez a declaração mais prática da epístola. (Tiago 5: 19, 20) A epístola inteira arde em chamas, mas esta passagem sobe ao céu em labaredas. É o ponto culminante da carta, bem como a conclusão. Não se pode dispensar uma palavra destes dois versículos. São como uma espada nua, desprovida de sua bainha ornada de jóias, a apresentada de modo que só se lhe pode notar o gume dado. Eu gostaria de poder pregar segundo o padrão do texto. Se não puder, pelo menos orarei no sentido de que vocês sejam habilitados por Deus a agir segundo esse padrão. O que lamentavelmente falta em muitos lugares é o viver inteiramente dedicado ao Senhor Jesus! Temos bastantes ornamentos cristãos, mas o de que precisamos é trabalho sólido, diário e concreto a serviço de Deus. Bom será que as nossas vidas, por mais despojadas que sejam dos louros de conquistas literárias ou outras finas realizações, produzam frutos para Deus em forma de almas convertidas por meio dos nossos esforços. Assim, poderão apresentar-se diante de Deus com a beleza da oliveira, beleza que consiste em sua produtividade.

Chamo encarecidamente a sua atenção para três pontos importantes. Primeiro, temos aqui um caso especial considerado. "Se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter." Enquanto trata desse caso especifico, o apóstolo declara uma verdade geral: "Aquele que converter o pecador do seu caminho errado, salvará da morte a alma dele, e cobrirá uma multidão de pecados". Ao falar destes dois pontos pretendo, em terceiro lugar, fazer uma aplicação particular do texto – não pretendida pelo apóstolo, mas creio que vigorosamente justificada – aplicação no sentido de incentivar crescente esforço em prol da conversão de crianças.


1. Tomemos, pois, em primeiro lugar, UM CASO ESPECIAL CONSIDERADO. Leiam o versículo, e observarão que só pode referir-se a um apóstata da igreja visível de Deus. As palavras "se algum entre vós" referem-se necessariamente a um cristão professo. O extraviado fora chamado pelo nome de Jesus, e por algum tempo seguira a verdade. Mas em má hora fora seduzido por erros doutrinários e se desviara da verdade. Não aconteceu apenas que tivesse caído em equívoco sobre questões secundárias, comparáveis às fimbrias do Evangelho, mas tinha cometido erro quanto a alguma doutrina vital; desviara-se da verdade em seus pontos fundamentais. Há algumas verdades em que devemos crer. São elementos essenciais da salvação. Se a pessoa não as aceitar de coração, irá perder sua alma. O apóstata referido no texto fora declaradamente ortodoxo, mas veio a desviar-se da verdade num ponto essencial. Ora, naqueles dias os salvos não diziam como os pretensos salvos de hoje: "Devemos ser extremamente caridosos e deixar este irmão com as suas próprias idéias. Ele vê a verdade numa perspectiva diferente, e seu entendimento da verdade é bem diferente, mas as suas opiniões são tão boas quanto as nossas, e não devemos dizer que ele está errado". Atualmente é essa a maneira em voga de amesquinhar a verdade divina e de tornar as coisas agradáveis a todos. Assim se degrada o Evangelho; e "outro evangelho" se propaga.

 Gostaria de pergunta aos eclesiásticos modernistas se existe alguma classe de doutrina pela qual valha a pena morrer queimado ou ficar na prisão. Não creio que pudessem responder-me bem, pois, se o modernismo deles estiver certo, os mártires cristãos foram tolos de primeira grandeza. Por aquilo que vejo nos seus escritos e nos seus ensinos, parece-me que os pensadores modernos tratam todo o conjunto da verdade revelada em total indiferença. E embora talvez se entristeçam que alguns mais extraviados vão longe demais no seu livre pensamento, preferindo quem sabe que fossem mais moderados; contudo, é tão grande a sua liberalidade, que não estão suficientemente seguros de nada para  poderem condenar o ponto de vista aposto como erro fatal. Para eles, branco e preto são termos que podem ser aplicados à mesma cor, segundo o ângulo de que são observados. O sim e o não são para eles verdades equivalentes. Sua teologia muda como areia movediça, e consideram toda firmeza como intolerância. Erros e verdades são coisas igualmente compreensíveis dentro do âmbito da sua caridade.

Não era assim que os apóstolos consideravam o erro. Não receitavam magnânima tolerância para com a falsidade, nem consideravam o errado como homem de pensamentos profundos, cujas idéias fossem "animadoramente originais". Muito menos afirmavam qualquer perversa tolice sobre a probabilidade de existir maior fé na dúvida sincera do que em grande parte dos credos. Os apóstolos não criam na justificação pela dúvida, como crêem os nossos teólogos. Os apóstolos procuravam conseguir a conversão do extraviado. Tratavam-no como alguém que precisava da conversão e o viam como alguém que, se não se convertesse, sofreria a morte da sua alma e ficaria coberto por uma multidão de pecados. Não eram complacentes no sentido da complacência dos nossos ilustrados amigos na escola do "pensamento moderno", que finalmente aprenderam que se pode negar a divindade de Cristo, ignorar o ministério do Espírito Santo, rejeitar a inspiração da Escritura, descrer da obra expiatória de Jesus Cristo, dispensar a regeneração e, todavia, o homem que se enquadra em tudo isso pode ser tão bom cristão como o crente mais consagrado! Ó Deus, livra-nos dessa traiçoeira infidelidade que, ao mesmo tempo em que prejudica o extraviado, impedindo muitas vezes a sua recuperação, faz ainda maior dano aos nossos corações, ao ensinar-nos que a verdade é sem importância e a falsidade em nada influi, destruindo assim a nossa fidelidade ao Deus da verdade e nos fazendo traidores, em vez de leais súditos do Rei dos reis!

O texto dá-nos a entender que esse homem, tendo-se desviado da verdade, seguiu as conseqüências lógicas do erro doutrinário, e errou também em sua vida; pois o versículo vinte, que naturalmente se deve ler junto com o dezenove, fala dele como "um pecador" que se há de fazer "converter do erro do seu caminho". Errou no caminho depois de errar no pensamento. Não se pode desviar da verdade sem logo desviar-se de algum modo da prática da justiça. O homem desviou-se do reto agir porque se desviara da crença reta. Suponhamos que alguém absorva uma doutrina que o leve a ter Cristo em pouca conta; depressa será pouca a sua fé nEle, como também pouca será a sua obediência a Ele, e assim, logo descambará ou para o farisaísmo da justiça própria ou para a licenciosidade. Se tiver superficial conceito do castigo do pecado, é natural que cometa pecado sentindo-se menos compungido, e que rompa todas as restrições. Se negar a necessidade da expiação do pecado, o resultado será igualmente danoso, se agir de acordo com sua crença. Todo erro tem seu próprio resultado, como toda podridão tem seu próprio bolor. É vão imaginar que a santidade seja produto imediato, tanto de doutrinas errôneas como das doutrinas verdadeiras. Porventura se colhem uvas dos abrolhos e figos dos espinheiros? Os fatos da história provam que não. Quando a verdade domina, a moralidade e a santidade crescem abundantemente. Quando, porém, o erro toma a vanguarda, a vida piedosa faz vergonhosa retirada.

O que se buscava, quanto a esse pecador em pensamentos e atos, era a sua conversão – fazê-lo dar meia-volta, conduzi-lo ao correto modo de pensar e de agir. É pena, mas acho que muitos cristãos professos não vêem assim os transviados, nem os consideram como pessoas para as quais lis esperança de conversão. Conheci alguém que se extraviou, e que foi perseguido como se fosse um lobo feroz. Errara de fato em certa medida, mas agravaram o seu erro importunando-o a ponto de sentir-se acossado e provocado, vindo a rebelar-se. Os ferozes ataques sofridos só serviram para aumentar sua falta, transformando-a em erro  dobrado. A varonilidade do faltoso tomou o partido do seu erro por haver sido tratado com tanta dureza. O homem foi compelido, pecaminosamente admito, a tomar posição extrema e a aprofundar-se no mal porque não pôde suportar que o ameaçassem em vez de arrazoar com ele. Quando alguém está em falta, sucede com freqüência que sua culpa se propaga, repetida e aumentada de boca em boca, até o pobre faltoso sentir-se desmoralizado e, tendo perdido o respeito próprio, passar a cometer pecados ainda mais horríveis. Parece que o objetivo de alguns que professam a religião é amputar o membro doente em vez de curá-lo. Reina a justiça em vez da misericórdia. Fora com ele! É demasiado imundo para ser lavado, demasiado enorme para ser curado. 

Isto não está de acordo com a mente de Cristo, nem com o modelo das igrejas apostólicas. Nos dias de Tiago, se alguém se desviava da verdade e da santidade, havia irmãos que procuravam a recuperação do faltoso. A alegria desses irmãos estava, pois, em salvar da morte uma alma e era cobrir uma multidão de pecados. Há algo muito significativo na expressão: "Irmãos, se alguém de entre vós se tem desviado da verdade". Ela é bem ligada à outra que diz: "Guarda-te para que não sejas também tentado", bem como esta exortação: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia". Aquele que se desviou era um de vocês. Participava com vocês na Ceia do Senhor; dele recebiam cordiais conselhos. Deixou-se enganar. Foi engodado pela sutileza de Satanás. Não o julguem com dureza. Sobretudo, não deixem que pereça sem receber nenhuma demonstração de misericórdia. Se uma vez foi salvo, continua sendo seu irmão, e lhes compete trazer de volta o pródigo, e assim alegrar o coração do seu Pai. Apesar de todos os deslizes, é um dos filhos de Deus. Sigam os passos dele, e não descansem enquanto não o levarem de volta para Deus.

E se não for um filho de Deus, se a sua profissão de fé foi feita por engano ou por fingimento, se ele apenas fez profissão de fé, sem possuir a piedade vital, sigam-no assim mesmo, com a mesma importunação do amor, lembrando-lhe quão terrível será a sua sentença por atrever-se a desempenhar o papei de hipócritas e profanar coisas santas com suas mãos iníquas. Chorem ainda mais por ele, se se sentirem forçados a suspeitar que seu engano foi intencional, pois nesse caso há razão para chorar mais do que nunca. Se não puderem repelir a idéia de que ele nunca foi sincero, e que se introduziu na igreja sob a capa de uma falsa profissão de fé, torno a dizer-lhes: chorem mais ainda por ele, pois sua sentença será certamente terrível, e maior deverá ser a comiseração que sintam por ele. Continuem lutando por sua conversão.

O texto dá-nos claras indicações com referência às pessoas que devem lutar pela conversão dos irmãos extraviados. Diz ele: "Se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter". Quem será esse alguém? Um ministro? Não; algum dentre os demais irmãos. Se um ministro for instrumento para a restauração de um extraviado, alegre-se, pois praticou uma boa ação. Mas aqui não se diz nada que se refira a pregadores ou pastores, nem se nota na passagem a mais ligeira insinuação disso. Refere-se a qualquer membro da igreja. Creio que se pode inferir que cada membro da igreja, ao ver um irmão desviar-se da verdade, ou ter mau comportamento, deve, no poder do Espírito Santo, lançar-se à tarefa de fazer converter-se esse pecador do erro do seu caminho. Cuidem por todos os meios dos de fora, mas não negligenciem os seus irmãos. Não é responsabilidade apenas de certos oficiais eleitos para esse fim, mas de todos e cada um dos membros do corpo de Jesus Cristo, procurar o bem-estar de todos os demais membros.

Todavia, há certos membros da igreja para os quais, em determinado caso, esse dever é mais imperativo. No caso de um jovem crente, por exemplo, se seus pais são crentes em Cristo, têm muito mais obrigação de lutar pela conversão do filho extraviado. Na caso de um marido, ninguém deve ser tão zeloso por sua recuperação quanto sua esposa, valendo a mesma norma se for a mulher que se desviar da verdade. Igualmente, se as relações forem de amizade, aquele de quem vocês foram amigos chegados deve estar mais junto do seu coração. E quando perceberem que se afastou, mais do que todos os demais vocês devem atuar como pastor para com ele, com carinhoso zelo. Estão obrigadas a proceder assim para com todos os seus irmãos na fé, mas a obrigação é dobrada se se trata de pessoas sobre as quais têm alguma influência, obtida por anterior intimidade, por parentesco ou por  quaisquer outros meios. Rogo-lhes, pois, que velem uns pelos outros no Senhor, e quando virem um irmão apanhado em alguma falta, como diz o apóstolo: "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão". Eis o seu dever, não deixem de cumpri-lo.

Irmãos, deveria alegrar-nos saber que o esforço para fazer converter aquele que se desviou da verdade, é promissor. Pode-se esperar o sucesso de tal esforço, sucesso sempre caracterizado por verdadeiro júbilo quando alcançado. Na verdade, é grande alegria capturar o pecador que vagueia em sua condição de ímpio, mas a alegria das alegrias é achar a ovelha perdida que uma vez pertencera ao rebanho e lamentavelmente se extraviou. É uma grande coisa transformar bronze em prata, mas para a pobre mulher da parábola bastava encontrar a moeda que já era de prata e tinha estampada a imagem do rei, mas que estivera perdida por algum tempo. Adotar como filho um estrangeiro desconhecido dá motivo para festa. Mas a mais alegre festa e as canções mais entusiásticas são dedicadas ao filho que sempre o fora, mas se fizera pródigo; perdera-se, mas foi achado; morrera, mas reviveu. É o que digo: repiquem os sinos sem parar pela recuperação ao extraviado; toquem-nos até que a torre trema e cambaleie. Regozijem-se sobremaneira por aquele que se extraviou, esteve prestes a perecer, mas agora foi recuperado.

João alegrou-se ao encontrar a Pedro, desviado mas choroso, depois de haver este negado ao seu Senhor. Animou-o, consolou-o e lhe fez companhia, até que o próprio Senhor Jesus lhe disse : "Simão, filho de Jonas, amas-me?" Levar de volta um extraviado talvez não pareça uma ação tão brilhante como a de recuperar uma prostituta ou um beberrão. Contudo, aos olhas de Deus não é pequeno milagre da graça, e a quem serviu de instrumento para que fosse realizado, não é pequena consolação. Portanto, meus irmãos, procurem aqueles que eram dos nossos e de nós se afastaram. Vão em busca daqueles que, continuando na igreja, causaram-lhe desonra, e merecidamente foram afastados da comunhão, porque não pudemos tolerar a sua impureza. Busquem-nos com orações, lágrimas e súplicas, para que Deus porventura lhes conceda arrependimento para a salvação.

Neste ponto quero dizer aos desviados aqui presentes: alegrem-se com esta passagem bíblica, se desejam voltar para Deus. Voltem, filhos extraviados, pois o Senhor mandou os seus servos à sua procura. Se Ele não tivesse cuidado de vocês. não nos teria mandado buscá-los. Foi o que fez, porém. Incumbiu o seu povo de ir após aqueles que se desviam da fé. Sendo assim, há uma porta aberta diante de vocês. À entrada estão centenas, a postos ali, como porteiros, prontos para lhes dar as boas vindas. Retornem a Deus, a quem vocês abandonaram. E se jamais O conheceram, oh!, que hoje mesmo o Espírito Santo quebrante os seus corações e os leve ao verdadeiro arrependimento, de modo que realmente sejam salvos! Deus os abençoe, pobres transviados; se Cristo não os salvar, uma multidão de pecados os cobrirá, e vocês morrerão eternamente. Deus tenha misericórdia de vocês, por amar a Cristo.


2. Havendo iniciado com o caso especial, consideremos agora uma VERDADE GERAL. Esta verdade geral é importante. Temos a dever de dar-lhe especial atenção, visto que vem precedida da palavra: "Saiba". Se alguém dentre vocês foi instrumento para levar de volta um transviado, é-lhe dito: "Saiba". Isto é, pense neste fato, esteja certo dele, sinta-se consolado, fortalecido e estimulado por ele. "Saiba", e jamais o ponha em dúvida. Não se limitem a ouvi-lo, caros companheiros de trabalho, mas façam-no aprofundar-se em seu coração. Quando um apóstolo inspirado pelo Espírito Santo diz: "Saiba", advirto-os: não permitam que nenhuma preguiça mental ou espiritual os impeça de avaliar todo a peso da verdade.

Que é que devem saber? "Que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma." E algo que vale a pena saber, não é? Salvar da morte uma alma não é coisa insignificante. Pois bem, há alguns entre nós a quem damos honra cada vez que lançamos o olhar sobre eles, porque salvaram muitas vidas preciosas. Manejaram o bote salva-vidas, ou se atiraram ao rio para resgatar das águas alguém que se afogava. Mostraram-se dispostos a arriscar a própria vida em terríveis incêndios para arrebatar alguém que estava para perecer nas chamas. Verdadeiros heróis, estes! Muito mais dignos de renome do que os guerreiros manchados de sangue. Deus abençoe os bravos corações! Oxalá nunca faltem neste país homens dignos que tornem famosa a pátria pelo espírito humanitário por eles demonstrado! Quando vemos um nosso semelhante exposto ao perigo, acelera-se o nosso pulso e ficamos comovidos e ansiosos para salvá-lo. Não é assim?

Entretanto, salvar da morte eterna uma alma é tarefa muitíssimo mais grandiosa. Pensemos em que consiste a morte. Não é apenas não-existência. Creio que eu não moveria nem um dedo para salvar os meus semelhantes da simples não-existência. Não vejo grande prejuízo na aniquilação; certamente nada que me pudesse alarmar como castigo do pecado. Como não vejo grande alegria na simples existência eterna, se esse fosse todo o significado da vida eterna, assim também não posso perceber nenhum horror no deixar de existir. Melhor seria não existir, se a escolha fosse entre uma existência incolor e a não-existência. Mas, "vida eterna" significa na Escritura coisa bem diversa de existência eterna. Significa existir com todas as faculdades desenvolvidas em plenitude de alegria. Não é existir, como a erva seca, mas, sim, como a flor em toda a sua beleza.

Na Escritura, e como efeito na linguagem comum, "morrer" não é deixar de existir. A diferença entre as palavras "morrer" e "ser aniquilado" é muito grande. Com relação à primeira morte, morrer é a alma separar-se do corpo; é a dissolução dos laços que unem os dois elementos componentes da nossa natureza. Com relação à segunda morte, é separar o ser humano – corpo e alma – de Deus, o qual é a vida e a felicidade da nossa condição humana. É a destruição eterna que é o corte da presença do Senhor, reto Juiz, e da glória do Seu poder. É a destruição do palácio da natureza humana e sua transformação numa desolada ruína, destinada a ter como herança eterna o ululante dragão do remorso e o soturno piar do mocho do desespero.

As descrições dadas pela Escritura Sagrada da segunda morte são as mais terríveis. Ela fala de "bicho que não morre e fogo que nunca se apaga", da '"presença espantosa do Senhor" e do ficar "em pedaços", do "fumo do seu tormento" que "sobe pelos séculos dos séculos" e do "poço do abismo". Não pretendo reunir agora todas essas coisas terríveis, mas na Escritura há expressões que, se recebessem a devida atenção, fariam arrepiar a pele e poriam o cabelo de pé, à simples idéia do juízo vindouro. Nossa alegria é que, se algum de nós for usado por Deus como instrumento para converter alguém do erro do seu caminho, terá salvo dessa morte eterna uma alma. O salvo não conhecerá aquele inferno horrível, não sentirá sobre si aquela ira, nem lhe acontecerá jamais aquele banimento da presença de Deus.

Não há nisso tudo uma alegria que vale o mundo inteiro? Lembrem-se do complemento da figura. Se você salvar da morte uma alma, introduzi-la-á na vida eterna. Pela misericordiosa graça de Deus, haverá mais um cantor entre as multidões vestidas de branco, que cantam louvores a Jeová, mais um para tocar eternamente as harpas da gratidão dos adoradores do Rei dos reis, mais um pecador salvo para recompensar o Redentor por Sua paixão vicária. Incomparável felicidade, a de salvar da morte eterna uma alma!

Além disso, se for esse o caso, você cobrirá multidão de pecados. Segundo nosso entendimento, isto significa que o resultado da conversão de qualquer pecador será que todos os seus pecados ficarão cobertos pelo sangue expiatório de Jesus. Ninguém pode dizer quantos são os pecados que existem em cada caso. Mas se alguém for convertido do erro da seu caminho, todo o volume dos seus pecados se afogará no Mar Vermelho do sangue de Jesus, que o removerá para sempre. Lembrem-se então que o nosso Salvador veio a este mundo com dois objetivos: destruir a morte e tirar o pecado. Se vocês fizerem converter do erro da seu caminho um pecador, tornar-se-ão semelhantes a Cristo naquelas duas ações. A seu modo, no poder do Espírito de Deus, vencerão a morte, arrancando da segunda morte uma alma; e tirarão de diante de Deus o pecado, ocultando uma multidão de pecados sob a propiciação do Senhor Jesus Cristo.

Observem que o apóstolo não oferece aos conquistadores de almas nenhum outro incentivo. Não diz: "Se você fizer converter do erro do seu caminho um pecador, terá honra". A verdadeira filantropia despreza esse tipo de motivo. Também não diz: "Se você fizer converter do erro do seu caminho um pecador, será respeitado pela igreja e terá a amizade do individuo". É o que geralmente ocorre, mas somos movidos por motivos mais nobres. A alegria de fazer o bem acha-se no bem propriamente dito. A recompensa de um ato praticado por amar acha-se naquilo que dele resulta. Se salvamos da morte uma alma e cobrimos uma multidão de pecados, este é pagamento suficiente, ainda que nenhum ouvido ouça falar do feito, e nenhuma pena o registre.

Contanto que o bem seja praticado, não importa que esqueçam que fomos nós os instrumentos. Isso nos causará alegria, ainda que o nosso esforço não seja apreciado, e que sejamos abandonados na fria sombra do esquecimento. Sim, se outros levam as honras do benefício que Deus realizou por nosso intermédio, não murmuraremos. Será recompensa suficiente saber que uma alma foi salva da morte, e que uma multidão de pecados foi coberta.

Caros irmãos, lembremos que salvar almas da morte honra a Jesus, pois não há salvação de almas, a não ser por Seu trague. Quanto a mm e a vocês, que podemos fazer para ajudar na salvação de uma alma da morte? Por nós mesmos, não podemos fazer mais do que poderia fazer a pena que está nesta mesa para a produção do livro O Peregrino. Não obstante deixem que um Bunyan pegue a pena, e a inigualável obra será escrita. Assim, eu e vocês não podemos converter uma alma enquanto o Espírito de Deus não nos tomar em Suas mãos. Daí por diante, porém, Ele pode realizar maravilhas usando-nos como Seus instrumentos, e receber glória por nosso intermédia, enquanto que para nós será alegria suficiente saber que está sendo dada honra a Jesus, e que o Espírito Santo está sendo exaltado. Ninguém comenta a pena de Homero, ninguém a engastou em ouro, nem divulgou suas célebres realizações. Tampouco desejamos obter honra entre os homens. Basta-nos termos sido a pena usada pelo salvador para escrever a aliança da Sua graça nas tábuas de carne da coração humano. Este é o salário de ouro para aquele que verdadeiramente ama a seu Senhor – a glória de Jesus Cristo e a salvação dos pecadores.

Quero agora que notem particularmente que tudo o que o apóstolo dá nesta passagem bíblica refere-se à conversão de uma pessoa. "Se algum entre vós tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma. " 

Vocês nunca desejaram ser um Whitefield? Você, jovem, nunca teve no íntimo de sua alma a grande aspiração de ser outro McCheyne, ou Brainerd, ou Moffat? Cultive essa aspiração, mas, ao mesmo tempo, alegre-se por levar um pecador a Jesus Cristo, pois àquele que converte uma pessoa, é dado compreender que não foi pouco o que fez: porquanto salvou da morte uma alma e cobriu multidão de pecados.

E nada se diz no texto sobre a pessoa que serviu de instrumento para essa obra. Não se diz: "Se um ministro converter alguém, ou se um eloqüente e notável teólogo o fizer". Se esta ação for praticada pelo último dos pequeninos de nosso Israel, se um menino contar aos pais a história de Jesus, se uma empregada deixar cair um folheto onde uma pobre alma possa achá-lo e receber por esse meio a salvação, se o mais humilde pregador de praça pública atingir com a Palavra um ladrão ou uma prostituta, e estes forem salvos – saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, seja quem for, salvará da morte uma alma e cobrirá multidão de pecados. 

Diletos irmãos, que se deduz disto, senão estas sugestões? Desejamos ardentemente ser usados na conversão dos pecadores. Nesta passagem, Tiago não menciona o Espírito Santo, nem o Senhor Jesus Cristo, pois escreve àqueles que não deixariam de lembrar as importantes verdades acerca do Espírito e do Filho de Deus. Todavia, talvez convenha fazê-los recordar que não podemos realizar nenhum bem espiritual a favor de nossos semelhantes, se prescindirmos do Espírito de Deus, como tampouco podemos ser abençoados em nosso trabalho com eles, se não lhes pregarmos "a Jesus Cristo, e este crucificado". É preciso que Deus nos use. Mas, irmãos, seja nosso anelo sermos usados, oremos rogando-Lhe que nos use, desejemo-lo de todo o coração! 

Diletos irmãos e irmãs, purifiquemo-nos de tudo que possa impedir que o Senhor faça use de nós. Se há alguma coisa que estamos fazendo ou deixando de fazer, algum mal que estejamos abrigando, ou alguma graça que estejamos negligenciando – qualquer coisa que nos desqualifique para sermos empregados por Deus – oremos a Ele, suplicando-lhe que nas purifique, nos corrija e nos aperfeiçoe, até que nos tornemos vasos próprios para uso do Senhor. Fiquemos depois à espreita, em busca de oportunidades para sermos úteis. Saiamos pelo mundo, de olhos e ouvidos abertos, prontos para aproveitar todas as ocasiões que surjam para fazer o bem. Não nos demos por satisfeitos enquanto não formos úteis. Façamos disto o maior desejo e a ambição dominante da nossa vida. De um modo ou de outro, é necessário que levemos almas a Cristo, e oxalá o façamos de boa vontade! Como Raquel, quando clamou: "Dá-me filhos, ou se não, morro", nenhum de vocês deve contentar-se em ser estéril na família de Deus. Chorem e suspirem, até conseguirem tirar do fogo um tição, até levarem ao menos um pecador a Jesus Cristo, para que cada um de vocês também salve da morte uma alma e cubra multidão de pecados.


3. Passemos agora a considerar, por uns poucos minutos apenas, a questão que não consta do texto. Quero fazer UMA APLICAÇÃO PARTICULAR de todo este assunto à conversão de crianças.

Amados irmãos, espero que não se esqueçam da escola dominical. Não obstante, receio que muitos cristãos mal se dão conta da existência de coisas assim como a escola dominical. Conhecem-na por ouvir dizer, não porém por observação pessoal. É provável que, no transcurso de vinte anos, não a tenham visitado, nem se preocupado com ela. Ficariam contentes se ouvissem falar de algum êxito obtido, mas, conquanto não tenham escutado nada a respeito, seja em sentido positivo ou negativo, vivem muito satisfeitos. Na maior pane das igrejas, encontrarão um grupo de jovens cheios de entusiasmo e dedicados ao trabalho da escola dominical, Entretanto, há muitos outros que poderiam fortalecer grandemente a escola, e nunca fazem coisa alguma neste sentido. Poderiam escusar-se, caso se dedicassem a algum outro trabalho. Mas, lamentavelmente, não realizam nenhuma atividade piedosa. Matam o tempo, e nada mais. E enquanto isso, esta obra está ai, à mão, acessível, e exigindo a sua assistência, mas é inteiramente negligenciada. Não digo que haja aqui alguns ociosos desses, mas não posso acreditar que estamos completamente livres deles. Portanto, pedirei à consciência que faça o seu papel, agindo nos culpados.

As crianças precisam da salvação. As crianças podem ser salvas. E devem ser salvas por nossa instrumentalidade. Podem ser salvas enquanto crianças. Aquele que diz: "Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus", jamais teve a intenção de que Sua igreja dissesse: "Iremos cuidar das crianças mais tarde quando tenham crescido e sejam moços e moças". Sua intenção era que a conversão de crianças a Deus, enquanto ainda crianças, constituísse objeto de oração e de ardoroso esforço.

A conversão de uma criança envolve a mesma obra da graça divina, e resulta nas mesmas conseqüências benditas que a conversão de um adulto, No caso de uma criança, salva-se da morte uma alma, encobre-se uma multidão de pecados e, além disso, acrescenta-se outro motivo de alegria: que na conversão de crianças e adolescentes realiza-se grande trabalho preventivo. A conversão livra a criança de uma multidão de pecados. Se a eterna misericórdia de Deus abençoar o ensino ministrado por vocês a um pequenino, quão feliz será a vida dele, comparada com a que seria se ele tivesse crescido na insensatez, no pecado e na vergonha, convertendo-se somente muito mais tarde na vida! Constitui a mais alta sabedoria e a mais autêntica prudência orar por nossas crianças, no sentido de que, enquanto ainda novos, dêem o coração ao Salvador.

"Livra-os de mil quedas e laços 

viver com Deus desde pequenos. 

A graça guarda-lhes os passos 

e na virtude os faz estrênuos." 

Recuperar o pródigo é bom, mas impedi-lo de ser pródigo é melhor. Levar de volta ao bom caminho o ladrão e o ébrio é ação louvável, mas agir de modo que o menino jamais se torne ladrão ou alcoólatra é muito melhor. Daí. a instrução dada pela escola dominical ocupa posição muito elevada na lista dos empreendimentos filantrópicos, e os cristãos deveriam mostrar o mais zeloso interesse por ela. Aquele que fizer converter do erro do seu caminho uma criança, impedirá uma multidão de pecados, além de cobri-los.

Além do que foi dito, a conversão de crianças dá à igreja a esperança de suprir-se dos melhores homens e mulheres. Os tipos semelhantes a Samuel e Salomão adquirem sabedoria na juventude. Davi e Josias eram tenros de coração quando eram de tenra idade. Leiam as biografias dos ministros mais eminentes, e em geral verão que começaram bem cedo a história cristã da sua vida. Embora não seja absolutamente necessário, é altamente propicio para o desenvolvimento bem orientado do caráter cristão, que o seu alicerce seja lançado sobre a base da religiosidade juvenil. Não espero que as igrejas de Jesus Cristo sejam como regra geral, edificadas por aqueles que levaram uma vida de pecado, mas, sim, graças ao crescimento em seu meio, no temor e na admoestação do Senhor, de moços e moças que venham a transformar-se em colunas na casa do nosso Deus. Se queremos cristãos fortes, deveremos dirigir o olhar para os que já eram cristãos na mocidade. As árvores devem ser plantadas nos átrios do Senhor enquanto são novas, para que tenham vida longa e floresçam bem.

Irmãos, creio ademais que a tarefa de ensinar os jovens tem nos dias presentes importância superior á que teve até agora. Sim, porque hoje em dia há por toda parte pessoas que se insinuam em nossas casas procuram iludir homens e mulheres com suas doutrinas falsas. Que os professores das escolas dominicais ensinem bem as nossas crianças. Que não ocupem o tempo somente com frases piedosas, mas, oxalá lhes ensinem o Evangelho todo, e as doutrinas da graça, de maneira inteligente. Também orem pelas crianças, e não se dêem por satisfeitos enquanto elas não se converterem ao Senhor Jesus Cristo e forem acrescentadas à igreja. Com isso, não haverá razão para temer o catolicismo romano.

Os sacerdotes papistas diziam antigamente que poderiam ter reconquistado a Inglaterra para Roma, não fosse a catequização das crianças. Deixamos de lado os catecismos, e por fraco motivo, eu acho. Em todo caso, se não usarmos catecismos piedosos, devemos retornar ao ensino simples, decisivo e claro, e é necessário que haja oração e súplica pela pronta conversão das crianças ao Senhor Jesus Cristo. O Espírito de Deus está em disponibilidade para ajudar-nos neste esforço. Está conosco, se estamos com Ele. Está pronto para abençoar o mais humilde professor, e mesmo as classes dos pequeninos não ficarão sem a Sua bênção. Ele pode dar-nos pensamentos e linguagem apropriados para a nosso auditório infantil. De tal forma pode abençoar-nos, que saberemos dizer palavras oportunas aos ouvidos juvenis.

Será uma pena se não for assim! Se não se acharem professores ou, se encontrados, não forem fiéis, veremos as crianças que hoje freqüentam as nossas escolas voltarem ao mundo, como os seus pais, odiando a religião pelo tédio das horas passadas na escola dominical. E produziremos uma raça de infiéis, ou uma geração de supersticiosos. A oportunidade de ouro estará perdida, e cairá sobre nós a mais tremenda responsabilidade! Rogo á igreja de Deus que pense com mais seriedade na escola dominical. Suplico a todos os que amam a nossa nação que orem pela escola dominical. Imploro a todos os que amam a Jesus Cristo, e que anseiam pela vinda do Seu reino, que mostrem grande ternura para com as crianças e adolescentes, e que orem para que os seus corações sejam ganhos para Jesus.

Não falei como gostaria de falar. Mas o tema está intimamente ligado ao meu coração. E o tema é tal, que deveria pesar sobre a consciência de todos nós. Devo deixá-lo, porém. Queira Deus guiar os seus pensamentos de modo que vocês se concentrem na salvação das crianças. vou mudar de assunto, mas, antes, farei as seguintes perguntas: O que cada um de vocês tem feito pela salvação das crianças? Que tem feito. pela salvação dos seus próprios filhos? São claras as suas idéias sobre esta questão? 

Você já pousou as mãos nos ombros do seu filho e orou por ele e com ele? Pai, você verá que tal gesto exercerá grande influência sobre o seu rapaz. Mãe, já falou com sua filhinha sobre Cristo, e Este crucificado? Nas mãos de Deus, você poderá ser a mãe espiritual de sua amada filha, além de mãe natural. E vocês, guardiões e mestres da juventude, que estão fazendo? Estão certos do que se passa com as almas juvenis? Vocês, professores da escola diária, e professores da escola dominical, estão fazendo tudo que podem para que os alunos e alunas sejam levados desde tenra idade a confessar o Senhor? Deixo isto com a sua consciência.

Receberão grande recompensa ao entrarem no céu, como espero que entrarão, pois encontrarão ali muitas crianças que lhe darão as boas-vindas. Encontrar ali seres celestiais que os saúdem como seu mestre, que os levou a Jesus, será acrescentar outro céu ao seu próprio céu. Não me agradaria ir sozinho para o céu. E a vocês? Eu não gostaria de ter a coroa da vida no céu sem uma estrela sequer incrustada nela, por nunca ter sido instrumento para a salvação de algum pecador. Vocês gostariam? Aí vai o sagrado rebanho de ovelhas compradas a preço de sangue. O "grande Pastor" as conduz. Muitas são seguidas por gêmeos; outras têm, cada qual, o seu cordeiro. Vocês gostariam de ser ovelhas estéreis do rebanho do "grande Pastor"?

Muda a cena. Ouçam o ruído dos passos de uma grande multidão. Ouço os seus cantos de guerra. Em meus ouvidos ressoam os seus cânticos de vitória. Os guerreiros voltam para casa, e cada um traz seu troféu nas ombros, para honrar o grande Capitão. A corrente humana atravessa o portal de pérolas. Marcha triunfante rumo ao capitólio celestial, percorrendo as ruas de ouro. Cada soldado leva consigo a sua porção dos despojos da conquista. Vocês estarão ali? Se estiverem, marcharão sem levar nenhum troféu, nada acrescentando à pompa da triunfo? Não levarão nada que tenham tomado na batalha, nada que hajam conquistado com sua espada e seu arco para Jesus?

De novo se descortina outra cena diante de mim. Ouço o grito: "Vem aí a festa após a colheita!" – e vejo os ceifeiros carregando os seus feixes. Alguns vão encurvados e felizes, sob o peso das pilhas de feixes em seus ombros. Haviam saído chorando, mas voltaram "com alegria, trazendo consigo os seus molhos". Ali vem um que traz um pequeno punhado de espigas, mas bem granadas, e do melhor trigo. Tivera a seu cargo terreno diminuto e pouca semente, mas ela se multiplicou bem segundo a regra de proporção. Você quererá estar ali sem uma espiga sequer? Sem ter arado nem semeado e, portanto, sem ter colhido nada? Se acontecer isso, cada grito dos ceifeiros será como um doloroso golpe em seu coração, ao recordar que não semeou, não podendo portanto colher nada. Se você não ama o meu Senhor, não professe que O ama. Se Ele jamais o comprou com a Seu sangue, não Lhe minta, nem se aproxime de Sua mesa dizendo que é Seu servo. Se, porém as Suas chagas o compraram, entregue-se a Ele. E se você O ama, apascente as Suas ovelhas e os Seus cordeiros.

Cristo está presente aqui, invisível aos meus olhos, mas reconhecido pela minha fé. Mostra-lhes os sinais das feridas de Suas mãos e de Seus pés, e lhes diz: "Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. E sabei que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados". Bom Mestre, ajuda-nos a servir-Te! Amém.