"E aconteceu que, no sábado segundo-primeiro, passou pelas searas, e os seus discípulos iam arrancando espigas, e, esfregando-as com as mãos comiam". Edição Revista e Corrigida.
Na Almeida Revista e Atualizada no Brasil não aparece o problema.
"Aconteceu que, num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos".
A expressão sábado segundo-primeiro que aparece em muitas traduções tem dado muito trabalho aos comentaristas. Pelo fato dos estudiosos estarem muito divididos em suas explicações até hoje não foi possível chegar a uma solução definitiva.
Russell Norman Champlin escreveu:
"Essas palavras têm deixado perplexos a muitos eruditos, e a verdade é que não parece existir um meio de explicá-las convenientemente. Não aparecem em nenhum dos manuscritos antigos, e muitos acreditam que não são autênticas no texto, tendo resultado de anotações feitas por escribas, em manuscritos posteriores. Uma explicação possível sobre a sua existência é a observação que Lucas mencionara as atividades de Jesus em outros dias de sábado, antes desta narrativa. (Ver Luc. 4:31,32). Assim, este seria o segundo sábado mencionado por Lucas, ao descrever as ações de Jesus. É possível, pois, que isso seja tudo quanto está envolvido nas palavras 'no segundo sábado depois do primeiro'."
Essas palavras aparecem, segundo ele, em alguns manuscritos unciais e em poucas traduções.
"A evidência textual favorece esmagadoramente a versão mais simples. É provável que algum escriba tenha feito essa adição, a fim de distinguir esse sábado dos outros dias de sábado, mencionados em narrativas próximas. Alguns editores têm defendido o texto mais longo, sobretudo porque é o texto mais difícil, podendo ter sido descontinuado de manuscritos mais antigos para efeito de simplificação do texto, posto que alguns podem ter deixado de compreender o sentido da observação". O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 2, pág. 60.
Adão Clarke se estende bastante em suas notas sobre Lucas 6:1 apresentando suas idéias e de outros estudiosos.
A essência do que ele escreveu seria o seguinte: Este sábado tinha que ver com os que estavam incluídos nos dias que iam da Páscoa ao Pentecostes. E assim este "sábado segundo-primeiro" era o segundo sábado, a começar com o segundo dia da festa dos pães asmos, que era o primeiro dia da semana. Outros comentaristas concordam em que os judeus tinham três primeiros sábados: o primeiro, no primeiro sábado depois da páscoa; o segundo no primeiro sábado depois do pentecostes; e o terceiro, no primeiro sábado depois da festa dos tabernáculos.
Em nosso livro História do Texto Bíblico apresentamos esta idéia: Sendo que esta expressão não aparece em outra parte, tem sido um problema exegético difícil de ser solucionado. Em virtude da palavra não constar nos melhores manuscritos, poder-se-ia afirmar que ela não se encontra no original, não fosse a suspeita de que algum copista a tivesse omitido por causa de sua obscuridade.
O princípio da probabilidade transcricional torna necessário explicar a sua inserção, se não é genuína. Meyer engenhosamente sugere que a palavra é simplesmente a fusão de duas notas marginais, opinião esta que foi adotada por W. H. e outros.
Como no versículo 6, está a expressão "noutro" (heteros) sábado, algum escriba pôs na margem do primeiro verso a nota "num primeiro" (proto). Mas a recordação de diversos incidentes, que se tinham dado em sábados anteriores, levou outro copista a acrescentar "num segundo" (deuteros) sobre a outra margem. Disto se originou o anômalo "deuteroproto" que algum copista posterior intercalou no texto para confusão dos comentaristas. Ou seja assim, ou não, o fato esclarece uma deturpação do texto original.