13 Pois até à Lei, havia pecado no mundo; o pecado, porém, não é levado em conta quando não existe lei.
14Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão, que é figura daquele que devia vir". – Bíblia de Jerusalém.
Muitas interpretações têm sido apresentadas para estes versos, mas o caminho mais fácil para uma solução de acordo com o que Paulo tencionava dizer, é estudá-los no contexto dos versos 12 a 21. Ele nos relata que Adão através de seu pecado trouxe a morte para todos os homens, mesmo àqueles que não pecaram a sua semelhança.
Adão, o primeiro homem, é um tipo de Cristo, que Paulo chama de "segundo homem" ou "o último Adão". I Cor. 15:45, 47. É digno de menção que o único vulto do Velho Testamento a ser chamado expressamente de tipo de Cristo é Adão. (Há personagens do Velho Testamento que implicitamente são tratados como "tipos" de Cristo, sendo talvez o mais notável Melquisedeque).
A frase de Thomas Goodwin, presidente do Magdalene College de Oxford é muito significativa: "Diante de Deus há dois homens, Adão e Jesus Cristo, e todos os outros estão pendurados em seus cinturões".
O relato bíblico nos informa que quando um homem falha Deus escolhe outro para o substituir (Davi substituiu Saul).
A desobediência de Adão trouxe a morte para todos, a obediência de Cristo trouxe vida a todos que o aceitaram.
Sobre esta verdade assim se expressou F.F. Bruce: "Assim, se a queda de Adão colocou toda a sua posteridade sob o domínio da morte, a obediência de Cristo introduziu triunfalmente uma nova raça nos domínios da graça e da vida". Comentário de Romanos, pág. 104.
Não esquecer que Cristo é um tipo de Adão por contraste.
Em Adão encontramos um ato de transgressão (Versos 12, 15, 17, 19).
Em Cristo um ato de Justiça (Verso 18).
Em Adão todos condenados à morte.
Em Cristo todos têm a possibilidade da justificação para a vida.
O Problema do Texto
Vários comentaristas têm achado este texto muito difícil, e até apresentado explicações que não podem ser aceitas, por colidirem com outras doutrinas da Bíblia.
"Todavia, a morte imperou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram de modo semelhante à transgressão de Adão..."
Em poucas e simples palavras o verso nos mostra que a morte reinou devido à transgressão de Adão, por que então morrer? O argumento de Paulo é que pelo pecado de Adão todos pecaram, mesmo antes da lei ter sido dada por escrito no Sinai (v. 13).
O comentarista Nygreen diz o seguinte sobre esta passagem: "Adão tinha recebido definido mandamento de Deus, instruindo-o com respeito ao seu comportamento. Portanto quando ele pecou, sua ação tinha o caráter de direta transgressão. Antes de falar em transgressão precisa haver um mandamento ou uma lei. Tal era o caso de Adão, mas não o caso daqueles que vieram depois, até que a lei foi dada através de Moisés".
Havia ou não lei desde Adão até Moisés?
A leitura de apenas dois versos (14 e 15) de Rom. 2 esclarece esta pergunta.
"Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
"Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se".
Duas expressões precisam ser realçadas destes versos:
Eles possuíam a lei da consciência.
A lei gravada no coração era a mesma escrita em tábuas de pedra.
De vários comentários lidos o mais expressivo a meu ver é o do The Interpreter's Bible, vol.9, pág. 464, que se segue:
"A dificuldade que acabamos de mencionar é o de explicar a morte como penalidade do pecado em vista do fato de que a morte reinou de Adão até Moisés. Pode-se argumentar que, uma vez que foi Moisés quem deu a lei, não poderia haver transgressão nem portanto punição pela transgressão antes de seu tempo; porém, a morte havia de fato reinado. A resposta de Paulo não é tão persuasiva quanto se ele houvesse aqui feito uso da concepção de 'lei natural' à qual aludira anteriormente (2:14-15). Sua verdadeira resposta é dizer que embora o pecado não seja levado em conta onde não há lei, ele estava, não obstante, no mundo.
"Mas poder-se-ia perguntar: 'Se não era levado em conta, por que então deveria o homem morrer por causa dele? Cogita-se por que Paulo não responde apelando para a lei 'gravada no coração'. Em outras palavras, a lei foi dada muito antes de Moisés, e Deus estava assim em posição de 'levar em conta' e punir o recado desde o princípio. A descrição dos que foram desde Adão até Moisés como aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão pode ajudar a explicar o silêncio de Paulo aqui. Sanday e Headlam entendem a frase 'não .... à semelhança da transgressão de Adão' como significando 'não em violação de um mandamento expresso'."