Algumas traduções, como por exemplo a King James Version, apresentam Mat. 27:34 da seguinte maneira:
"Deram-lhe a beber vinagre misturado com fel, e tendo ele provado não o quis beber."
A maioria das traduções baseadas em melhores manuscritos originais, como a Almeida Revista e Atualizada no Brasil trazem:
"Deram-lhe a beber vinho com fel ; mas ele, provando-o, não o quis beber."
A Crítica Textual nos esclarece que o texto grego usado pelos eruditos tradutores da King James não era dos melhores.
A evidência de que a tradução correta deve ser vinho e não vinagre, nós a temos, porque esta é a palavra que aparece nos mais antigos manuscritos, como Alef, Vaticano ou B, Y , Família dos minúsculos, bem como nas versões latinas, na siríaca e em outras.
Vinagre, em vez de vinho, aparece nos manuscritos da Família Bizantina, cuja recensão feita em Antioquia não foi das melhores, como atestam os estudiosos da Crítica Textual.
Parece não haver tanta divergência assim quando sabemos: 1º) Que as palavras vinho e vinagre eram usadas como sinônimas, desde que vinagre era um vinho azedo misturado com água dado aos soldados. 2º) Que a palavra vinagre aparece no verso 48, sendo confirmada por todos os manuscritos. 3º) Crêem alguns comentaristas que ofereceram a Jesus uma bebida na qual se encontrava vinho e vinagre.
Segue-se o comentário de Russell Norman Champlin:
"O trecho de Mar. 15:23 diz 'mirra' ao invés de 'fel'. A mirra dava ao vinho azedo um melhor sabor, e, tal como o fel, produzia um efeito narcótico e estupefaciente. Não é impossível que ambos os elementos tivessem sido usados na bebida que Jesus provou e se recusou a beber; contudo o mais provável é que os autores dos evangelhos simplesmente empregaram termos diferentes para expressar uma e outra coisa – os elementos postos no vinho a fim de dar-lhe um efeito narcótico; e para eles, a identificação exata desse elemento não era tão importante como parece ser para os modernos harmonistas. Lemos na história que esse tipo de bebida era usado para diminuir os sofrimentos dos soldados feridos. E era costumeiro dá-la às vítimas da crucificação, para que suas dores fossem suavizadas. Por quanto tempo amortecia as dores, não sabemos dizê-lo, mas provavelmente não conseguia efeito de grande duração.
"Neste versículo temos o cumprimento notável de certa profecia: 'Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.' (Sal. 69:21). É bem possível que o fel que aparece no evangelho de Mateus tenha sido escrito ao invés de 'mirra' por causa da influência da profecia que ele provavelmente tinha em mente ao escrever esta seção. O costume de prover tal bebida para os que sofriam, era reputado como uma caridade piedosa, por parte dos rabinos, sendo provável que em Prov. 31:6 houvessem encontrado um texto para tal costume. Esse costume persistia nos tempos dos mártires cristãos..."
Referência:
O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. I, pág. 632.