Como harmonizar o pensamento bíblico da salvação pela graça com a importância da obediência?
As obras não garantem nossa presença no Céu; entretanto, fazem parte do processo de Salvação sendo que Deus quer restaurar em nós o Seu caráter santo e imagem. Portanto, devem ser uma consequência de nossa conversão; e não o meio da salvação.
Todos sabemos que a Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo (II Pedro 1:21). Portanto, como é um Livro Sagrado, não pode contradizer-se. Para entendermos este assunto, vamos analisar os dois versos seguintes:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” Efésios 2:8.
“Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo as suas obras” Apocalipse 22:12.
Pelo que pudemos ver nos textos acima, o apóstolo Paulo fala que somos salvos pela fé; noutro, verso Jesus Cristo afirma que seremos julgados pelas obras. Como harmonizar isso?
As duas declarações estão certas. Não há nenhuma contradição nesses versos. Apenas temos de entender o porquê de precisarmos obedecer à lei.
Quando guardamos a lei, não devemos fazê-lo com o intuito de obter a salvação, pois esta só vem pela graça de Jesus; temos de obedecer como uma consequência de estarmos convertidos. A experiência da salvação pela graça resulta em obediência à lei de Deus (Romanos 8:1-4). As obras da fé demonstram que a graça de Cristo está operando na vida para nos colocar em harmonia com os retos princípios da lei.
Portanto, podemos concluir que as obras devem acompanhar a fé porque somente assim demonstramos que realmente cremos. “Porque, assim como o copo sem o espírito (fôlego de vida da boca de Deus) é morto, assim também a fé sem obras é morta”. Tiago 2:26.
A obediência é também uma “demonstração de amor a Jesus”. Veja o que Ele mesmo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” João 14:15.
Todo o cristão que verdadeiramente ama a Jesus deve obedecê-lo, não para ser salvo, mas como resultado da salvação já recebida e como prova de seu amor.
Nós seremos julgados pelas obras porque Deus nos dá a sua graça para obedecermos. E quando não guardamos seus mandamentos, estamos mostrando que não aceitamos sua graça.
Não somos salvos pelas obras, mas para praticarmos as boas obras. Isto é bem claro nas Escrituras: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Efésios 2:8-10 – grifo meu. Outro texto esclarecedor em relação à harmonia que há entre a justificação pela graça e a prática das boas obras é este: “a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens”. Tito 3:7-8.
Não há contradição entre a graça e as obras. Jesus complementa esta verdade:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”. Mateus 7:21-23.
O diabo crê em Deus; mas ele será salvo? Claro que não, pois ele não prova que ama a Deus e que aceitou a sua graça através da obediência.
Vem então a seguinte pergunta: A salvação pela graça anula a lei? A Bíblia irá responder-nos:
“Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei”. Romanos 3:31.
“E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum! Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?” Romanos 6:15-16.
De forma bastante clara Paulo afirma que a fé e a salvação pela graça não anulam a lei. Por que? Porque ao sermos salvos, como fruto de nossa conversão e santificação, iremos obedecer, pela graça de Jesus, aos seus mandamentos. Não para ser salvos; mas porque já estamos salvos.
Digamos que um dia você saia com seu carro e ande em alta velocidade, superior à permitida. Um guarda para-o e aplica-lhe uma multa, pois transgredistes as leis de trânsito. Em seguida, vais pagar a multa.
Será que ao pagar pela infração estará livre para continuar transgredindo as leis de trânsito? De modo nenhum, pois isto seria negligência de sua parte e certamente você seria multado novamente.
O mesmo se dá com a lei de Deus. Jesus pagou o preço por termos transgredido os mandamentos de Deus (por termos pecado); mas de forma alguma isto torna-nos “livres” para continuar transgredindo Suas leis. Se o fizesse, seria o mesmo que não mais precisarmos obedecer às leis de trânsito após pagar uma multa.
Outro exemplo é no que diz respeito à saúde. Vamos supor que eu tenha fumado toda a minha vida. Como consequência, adquiri um câncer, benigno.
Depois de meses de tratamento, fui curado. Será que pelo fato de eu estar agora curado do câncer isso me dá o direito de continuar a transgredir as leis de saúde? Dá-me o direito de continuar fumando e ficar com a consciência tranquila? NÃO, pois se continuar fumando certamente irei contrair um câncer ainda pior.
Jesus, o médico divino, curou-nos do pecado e suas consequências (morte eterna) através de seu sacrifício na cruz. Não devemos por causa disso continuar “fumando” (pecando) só por que Ele nos salvou pela Sua graça; temos de obedecer para não continuar em pecado e não ficarmos doentes novamente: “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Romanos 6:23).
Será que pelo fato de sermos salvos pela graça podemos matar, adulterar, etc? Podemos continuar em uma vida de pecado? Vejamos o que dizem as Escrituras:
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo”. (Hebreus 10:26-31).
JESUS SALVOU-NOS PARA LIVRAR-NOS DO PECADO E NÃO PARA QUE CONTINUÁSSEMOS NELE.
Conclusão
Somos salvos pela graça. Mesmo assim, temos de obedecer à lei de Deus (os Dez Mandamentos), porque:
• Desta maneira demonstramos que aceitamos a graça de Deus e Seu poder que torna-nos aptos a obedecer;
• Porque as obras são demonstração de fé;
• Desta forma demonstramos que estamos realmente convertidos;
• Através da obediência provamos que amamos a Jesus de verdade, pois a obediência é um sinal de nosso amor a Deus;
• Somos salvos por Deus para praticarmos as boas obras (obediência). Somos a “luz do mundo” e temos de dar um bom exemplo através de nossa conduta;
• Nossa obediência à lei de Deus vem como resultado de nossa comunhão com Deus. O cristão salvo pela graça passa a ter uma vida santa ao lado de Deus; (aproxima-se de Deus e torna-se santo e não torna-se santo para aproximar-se de Deus, pois isso é impossível);
• Não devemos guardar a lei para recebermos a salvação, pois esta vem pela graça de Jesus; guardamos por ser algo natural, espontâneo de um cristão convertido;
• Conquanto sejamos salvos pela graça, seremos julgados pelas obras (evidências da verdadeira fé em Deus).
Siga a Deus de todo o coração e obedeça-o em tudo; dessa forma, será verdadeiramente recompensado (a).
Que Deus lhe abençoe ricamente,
Leandro Soares de Quadros
Instrutor Bíblico – Conselheiro Espiritual