231 Os Adventistas acreditam na existência do dom de línguas?

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Nós Adventistas do 7o Dia cremos na existência deste dom e que o mesmo poder ser dado por Deus para fins de evangelização, “quando há uma necessidade”. Entretanto, isto não significa que seja obrigatório Deus concedê-lo em todas as épocas. 


O Espírito Santo forneceu o dom aos apóstolos, mas sempre em ocasiões em que era preciso. Como exemplo temos o episódio de Atos 2, onde havia cerca de 18 nações diferentes. 


O evangelho precisava ser pregado a esta gente, mas os apóstolos não sabiam todas essas línguas para poder pregar. Com isto, Deus achou necessário dotá-los com esta capacidade a fim de levar a mensagem àquelas pessoas.


Deus nunca dá o dom de línguas quando este não é essencial. Por exemplo: digamos que você vá pregar o evangelho a uma pessoa que é brasileira em uma língua americana (inglês). Será frutífero? Certamente não, pois o objetivo de Deus é que as pessoas COMPREENDAM o evangelho. Não há necessidade de falar em inglês para alguém que entende o português.


Certa vez a Igreja de Corinto estava enfrentando um problema muito parecido com que muitas igrejas enfrentam hoje: o errado uso do dom de línguas.


Após saber que eles falavam em línguas a toda hora, Paulo disse-lhes:


“Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar”. 1 Coríntios 14:9.


Paulo disse a eles que deveriam falar de modo compreensível; senão, seria o mesmo que falar ao ar, ou seja, à toa. E continua: “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos...” 1 Coríntios 14:33.


Biblicamente, o verdadeiro dom de línguas é algo real, que as pessoas entendem. Lembremos que as pessoas no episódio de Atos 2 ficaram perplexas, “porquanto cada um os ouvia (apóstolos) falar em sua própria língua” (Atos 2:7-8), o que não ocorre nas igrejas que professam ter a capacidade de falar em línguas.


Outro fator que deve ser salientado é que as línguas faladas pelo possuidor do verdadeiro dom são línguas EXISTENTES EM NOSSA CIVILIZAÇÃO TERRESTRE. Não há lógica a afirmação de que Deus possa nos dar uma “língua de anjo” para falar ás pessoas. 


Ora, isto não seria de valor algum para fins de evangelização e também não é bíblico, pois um anjo quando vinha falar com um profeta (ou outra pessoa) não fazia uso do idioma angélico; falava numa linguagem que a pessoa humana entendesse. Veja alguns exemplos:


“No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão”. Daniel 9:23.


Nesta ocasião o anjo Gabriel falou na língua de Daniel (hebraico). Se ele falasse na língua dos anjos, Daniel não entenderia.


“Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te estas boas-novas”. Lucas 1:19.


Neste episódio, Gabriel falou a língua de Maria. 


Em ambas as circunstâncias foram faladas pelos anjos duas línguas diferentes, mas que existiam e existem aqui em nosso planeta. Eles não falaram em suas próprias línguas, pois assim as pessoas não entenderiam.


Será que nos tempos modernos os anjos iriam dificultar as cosias? Certamente não. Se no passado eles falavam de modo que as pessoas pudessem entender, no presente também seria o mesmo. Não há relato na Bíblia de que um dia um anjo houvesse falado em uma língua inteligível ou que algum apóstolo tenha falado na língua dos anjos.


O verdadeiro dom de línguas conforme apresentado nas Escrituras não é algo “incompreensível”, mas sim mostra-nos um tipo de língua existente em nosso planeta. 


Entretanto, o que Paulo quis dizer em I Coríntios 13:1 quando diz: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos...”?


Em I Coríntios 13:1, Paulo assim diz: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine”. Ele está apenas salientando que mais importante do que falar língua dos homens e dos anjos é ter amor. Não está afirmando que esta manifestação estranha de língua manifestar-se-ia entre nós.


Portanto, no contexto deste verso Paulo não mencionou a expressão “língua dos anjos” com o intuito de dizer que ele falava em tal idioma ou que em algum momento uma pessoa tivesse tal capacidade. Atente bem para a expressão “ainda que”; ela indica que Paulo não falava tal língua. Ele está supondo que, mesmo que ele falasse tal língua, se não tivesse amor, de nada adiantaria.


O objetivo principal de Paulo é ensinar aos Coríntios que mais importante do que ter dons espirituais é ter o amor.


O que dizer da expressão de Paulo “em espírito fala mistérios”?


“Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”. (1 Coríntios 14:2).


Vejamos este estudo realizado pelo Professor de Teologia Edílson Valiante:


“A expressão ‘em espírito fala mistérios’ aparentemente apresenta apoio ao sentido estático do dom, contrariando o sentido de todo o capítulo (e NT). Paulo está sempre exortando os erros do abuso do dom, mas aqui parece apóia-lo. Vamos analisar o verso:


(a) A maioria das versões não deixa claro que é o “espírito” que fala em mistérios: se algum ser humano ou o Espírito Santo. Dentro do contexto da perícope, Paulo deixa evidente que os dons são do Espírito Santo. Contudo, a NVI e a NASB (versões bíblicas) traduzem por “em seu [do ser humano] espírito...”, mas este “seu” não consta no original.


(b) O uso da expressão “mistério” (misterion) em Paulo: o termo aparece 5x em I Coríntos (2:7; 4:1; 13:2; 14:2; 15:51) e outras 10x em Colossenses e Efésios. O uso plural se dá somente 3x (I Co 4:1; 13:2; 14:2). Para ele, o sentido de “mistério” é sempre algo uma vez oculto e que agora foi revelado por Deus.


(c) A idéia chave do verso (e do capítulo) é que os ouvintes deveriam receber os benefícios do dom de línguas. Assim, deveriam proclamar os “mistérios” uma vez ocultos, mas agora revelados, pelo Espírito Santo. O texto jamais tem a idéia de que falar em línguas é falar em espírito somente a Deus, como se esse fosse o propósito do dom. Para que então seria necessária a tradução ou interpretação? Para que seria algo audível, pois posso conversar com Deus em minha mente?


(d) A expressão “visto que ninguém o entende”, o “o”, pronome pessoal do caso oblíquo, não se encontra no original.


(e) O fato dos ouvintes não entenderem, não quer dizer a fala é estática; existem outras razões para isto, tais como: problemas de audição, não ser nativo da língua, muitos estarem falando ao mesmo tempo, falar muito baixo, etc. Paulo diz: “vós, se, com a língua, não disserdes palavra [logos] compreensível [eusemos: claramente reconhecível], como se entenderá o que dizeis?” (v. 9). 


Aliás, se uma “língua” não pode ser inteligível, deixa de ser língua, pois isto pressupõe entendimento. Paulo resolve o problema da falta de compreensão exigindo a presença sempre de um intérprete, tradutor, que torne a fala compreensível (vs. 13, 27).


(f) A expressão “entende”, no original é akouo, que quer dizer “ouvir uma fala ou linguagem”. Assim, o problema não está no ouvido da pessoa, mas na capacidade de compreender o que está sendo dito, ou a língua falada, não necessariamente estática. A LXX (versão bíblica septuaginta) usa a mesma expressão para definir o problema da confusão de línguas em Babel (Gn 11:1-9). 


(g) A expressão “outra” em “quem fala outra língua” também não aparece no original.


(h) Uma tradução do texto seria: “Pois quem fala em língua [como dom], deve falar apenas dos mistérios de Deus ao entendimento dos homens e isto pelo Espírito”. 


E o verso 4?


“O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja”. 1 Coríntios 14:4.


O Pr. Jobson Santos fez o seguinte comentário acerca deste verso:


“O que fala em outra língua a si mesmo se edifica porque apenas ele está entendendo (é por isto que a existência de um intérprete era fundamental – ver I Co 14: 13 e 27; caso não houvesse, deveria a pessoa que estivesse falando em línguas ficar calada); já o profeta edifica, além de si próprio, toda a assembléia de crentes, pois todos podem entender”. 


Espero que este estudo tenha sido útil para seu conhecimento acerca deste assunto.


Aproveito a oportunidade para recomendar a leitura do seguinte livro que trata a respeito deste assunto, entre outros:


“Assim Diz o Senhor”, de Lourenço Gonzáles.


Editora ADOS.

Tv. Júlio Fróes, 112.

Engenhoca – Niterói – RJ.

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FONEFAX (0--21) 2628- 0341.



Atenciosamente,



Leandro Soares de Quadros

Instrutor Bíblico – Conselheiro Espiritual