1 EMBAIXADORES DE DEUS NA CORTE DE BABILÔNIA (Araceli)

Profecias de daniel de Araceli Melo


Com este primeiro capítulo começamos a descortinar a história e as profecias do maravilhoso livro de Daniel. A impressionante narrativa começa com a menção de acontecimentos de grande transcendência. A invasão da Judeia é o primeiro grande relato que se apresenta, o evento chave que assinalou a data inicial exata do cativeiro babilônico conforme predito pelo profeta Jeremias.


1 Dois reis se encontram — Nabucodonosor, de Babilônia, e Joaquim, da Judeia — o primeiro para conquistar e o segundo para ser conquistado e reduzido à simples condição de vassalo.


Apenas os dois primeiros versículos do capítulo dão conta do início do cativeiro; os demais encerram o glorioso começo da história dos homens aos quais confiou Deus a honrosa missão de embaixadores Seus na corte mundial de Babilônia. O testemunho que deram e a firmeza com que se desincumbiram da missão do Céu, foi um triunfo em honra da causa de Deus até agora não igualado. 


Coisa alguma os demoveu da senda do direito. Nem mesmo um forno de fogo e uma cova de leões tiveram o poder de afastá-los do sagrado dever e da honra de servirem lealmente a Deus. Da grande bênção que caracterizou a vida que naquela corte e naquele reino viveram, só a eternidade poderá revelar os seus indizíveis resultados.


O REINO JUDEU EM DEMANDA DO ABISMO


VERSO 1: — “No ano terceiro do reinado de Joaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de Babilônia, a Jerusalém e a sitiou”.


O reino de Judá caminhava a passos largos para desaparecer. A desobediência aberta e desafiante às leis de Deus e a franca rebeldia  de seus monarcas à palavra de Seus profetas, levavam à nação a colher amargos e desastrosos frutos. A rebelião metódica e deliberada contra Deus e seus inspirados conselhos já vinha de longe. 


O anelo de Deus era abençoar a nação e fazer dela uma admiração ao mundo para que cumprisse o Seu divino propósito a fim de preparar as nações da terra para o primeiro advento de Cristo. Mas isto estava sendo impedido pela crescente apostasia. O povo escolhido, alvo de incontáveis manifestações do imensurável amor de Deus — em cuidados, dádivas e proteção contra os seus inimigos, não reconhecera isso embora se julgasse povo de Deus e acima de todas as demais nações do mundo. 


Mas nada mais enganoso do que esta pretensão. Abeiravam-se mais e mais do abismo da perdição com a jatância da nação escolhida e privilegiada. Finalmente mais três reis, num curto período que ainda Deus concedia, iriam assentar-se no trono, mas tão somente para afundá-lo mais e apressar os juízos de Deus. O jactancioso orgulho ia ser decepado, a nação inteiramente arrasada, seus monarcas destituídos e mortos e o povo conduzido em cativeiro por longo tempo.


JOAQUIM — REI DE JUDÁ


Depois da morte do rei Josias, seu filho Joacaz foi elevado ao trono em seu lugar, sendo, porém, deposto três meses depois por Faraó Neco. Como seu sucessor o rei no Egito estabeleceu a Eliakim, seu irmão, mudando-lhe o nome em Joaquim. Este novo soberano ascendeu ao trono aos 25 anos de idade, tendo reinado 11 anos em Jerusalém e seguido os maus passos dos maus reis judeus naquele trono.1


O rei Joaquim fez transbordar a taça do pecado do trono de Judá e aproximou a nação mais e mais da beira do precipício fatal como realeza independente. O profeta de seu reinado, Jeremias, fez em nome de Deus tudo o que era possível para salvar o trono e o reino do colapso que se avizinhava. Porém, suas poderosas mensagens de conselhos e apelos, resultaram em nada. 


Finalmente foi pronunciada a irrevogável sentença como prêmio da abjeta rebelião contra Deus: Deveriam ser levados em cativeiro para Babilônia, por setenta anos, e toda a nação e suas cidades seriam totalmente arrasadas, incluso o famoso templo. Os caldeus com seu poderoso rei, seriam os instrumentos que Deus usaria para justiçá-los como povo rebelde, sacrílego e irreverente.


As mensagens de Jeremias ao rei, aos sacerdotes e ao povo despertaram o antagonismo de muitos, mesmo de falsos profetas que se ergueram contra ele. Assim a mensagem de Deus foi desprezada e Seu mensageiro ameaçado de morte.1 Jeremias, entretanto, com firmeza e destemor, continuou a repreender o pecado e a asseverar a iminência do juízo sob Nabucodonosor e o cativeiro de setenta anos em Babilônia como prêmio da desobediência.


No ano 606 a.C., Nabucodonosor, em campanha no sul do ocidente da Ásia, invadiu a Judeia, cercou Jerusalém e aprisionou o rei Joaquim “e o amarrou com cadeias, para o levar a Babilônia”.2 (ver apêndice nota 8). O rei judeu, porém, prestou juramento de fidelidade ao vencedor e foi deixado no trono como vassalo. Três anos depois, todavia, em 604, rebelou-se e “violou sua palavra de honra ao rei de Babilônia”.3 Isto o levou, como também o seu reino, a um caminho de grande aperto. Jeremias continuou vibrando da parte de Deus tremendas mensagens de censura à quebra da palavra empenhada ao rei Nabucodonosor pelo rei de Judá.


A fim de tornar claro o juízo impendente e a destruição total que se apressava, o profeta é ordenado por Deus a levar consigo os anciãos do povo e os sacerdotes ao vale do filho do Hinn, lugar onde muitas vezes os reis se corromperam com o falso culto de Baal, e, depois de mais uma vez adverti-los da sorte que aguardava toda a nação, quebrou em muitos pedaços, diante deles, uma botija que levara por ordem de Deus, e lhes disse: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Deste modo quebrarei Eu a este povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se”.4 Mas não se arrependeram! Possuídos de satânica ira, feriram a Jeremias e o aprisionaram pondo-o no “cepo”.


Por cerca desse tempo, no quarto ano de Joaquim, Jeremias, que estava prezo, escreveu em nome de Deus um livro em pergaminho,  por intermédio de Baruch filho de Nerias, um escriba seu amigo, contendo todas as ameaças do Céu contra o ímpio rei e seus súditos. Baruch devia ler o livro ao povo na casa do Senhor, no dia nacional de jejum no nono mês no seguinte ano — o quinto de Joaquim. E assim o fez Baruch no “átrio superior à entrada da porta nova da casa do Senhor, aos ouvidos de todo o povo”.1


A surpreendente nova chegou aos príncipes que estavam reunidos no palácio real. Ordenaram eles a Baruch que lesse o livro em particular para eles. E, ouvindo-o todos e temerosos de sua mensagem, comunicaram-se com o rei. O monarca pede que um de seus assistentes, Jeudi, lesse o livro em sua presença. Entretanto, o ímpio rei, à medida que ia sendo lida a mensagem de reprovação e de juízo, cortava o livro com um canivete e o consumia em um braseiro que havia à sua frente, até que o livro e sua mensagem foram inteiramente consumidos. Este ato manifestou, em vez de temor e arrependimento, um verdadeiro desafio a Deus. Deu ordem o rei que prendessem a Baruch e Jeremias — mas Deus os tinha em segurança. Um outro  livro idêntico foi escrito por Baruch, ditado por Jeremias.


A sorte do rei Joaquim e seus cortesões foi terminantemente selada: “Portanto assim diz o Senhor, acerca de Joaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sobre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor do dia, e à geada de noite”. “Não lamentarão por ele, dizendo: Ai, meu irmão, ou ai, minha irmã! nem lamentarão por ele, dizendo: Ai, senhor, ou, ai, majestoso! Em sepultura de jumento o sepultarão, arrastando-o e lançando-o para bem longe, fora das portas de Jerusalém”.2 Este destino que ele mesmo procurou, seria a recompensa de sua própria rebelião contra o céu, de sua perseguição contra Jeremias e de seu crime de morte contra um dos profetas de Deus — Urias.3

No undécimo ano de seu reinado, 598 a.C., vê Joaquim o seu reino novamente invadido pelo exército de Nabucodonosor — constituído de caldeus, sírios, moabitas, amonitas — cujo fim era tudo destruir.4 Cumpriu-se então em Joaquim o juízo particular de Deus sobre sua pessoa, como acima descrevemos da predição de Jeremias. 


Josefo confirma o juízo sobre o rei de Judá nestas palavras: “Pouco tempo depois, o rei Nabucodonosor veio com um grande exército e o rei Joaquim, que não desconfiava dele e que estava perturbado pelas predições do profeta, não se tinha preparado para a guerra. Assim, ele o recebeu em Jerusalém, com a certeza que lhe dera de não lhe fazer mal algum. Mas faltou-lhe à palavra, mandou matá-lo, com a fina flor da juventude da cidade e ordenou que lhes lançassem os corpos fora de Jerusalém, sem lhes dar sepultura”.1


Mas a grande lição não foi aprendida pelos dois seguintes sucessores de Joaquim, postos no trono da Judeia pelo rei Nabucodonosor. Continuaram firmes na rebelião a Deus e ao rei de Babilônia. E o próprio santo profeta de Deus continuou a ser hostilizado, prezo e ameaçado de morte. Com o último rei, Zedequias, o reino foi definitivamente liquidado pelo rei vencedor, e o povo judeu continuou sendo transportado para o cativeiro babilônico predito, em levas sucessivas. O último ato do drama foi o arrasamento da cidade capital do reino — Jerusalém. (Ver apêndice notas 8 e 11).


Estava encerrada a história da realeza judia. Em poucos anos Joaquim “encerrou o seu desastroso reinado em ignomínia, rejeitado do céu, malquisto por seu povo e desprezado pelos senhores de Babilônia cuja confiança traíra — e tudo isto como resultado de seu erro fatal de virar as costas aos propósitos de Deus como revelados por meio de Seu escolhido mensageiro”. E seus sucessores imediatos não tiveram também senão o destino terrível que escolheram livremente.


NABUCODONOSOR — REI DE BABILÔNIA


O rei Nabucodonosor é o maior monarca político do mundo antigo e na história bíblica o mais citado de todos os soberanos que se relacionaram com o povo de Deus na antiguidade. É referido nominalmente noventa vezes em nove livros das Sagradas Escrituras. É Nabucodonosor três vezes chamado por Deus — Meu servo.2 Duas vezes é referido que Deus pôs Sua espada na mão deste  poderoso rei caldeu, para em Seu nome exercer juízo sobre as nações.3 Todas as nações de seus dias seriam entregues por Deus à soberania deste rei e à de seus sucessores por setenta anos.4 O grande monarca é chamado “leão” e “rei dos reis” na história sagrada.5


Sem contar Nabucodonosor os anos de coregência com seu pai Nabopolasar, galgou o trono em definitivo, por morte deste, em 606 a.C., quando em campanha no sul do ocidente da Ásia contra o domínio do Egito que se fazia forte até à Síria e o rio Eufrates. 


Vitorioso avançou até à Judeia, submetendo o rei judeu Joaquim no terceiro ano do reinado deste monarca.


Um dos pormenores cronológicos de Jeremias coloca o primeiro ano de Nabucodonosor no quarto ano de Joaquim, embora Nabucodonosor já como rei coregente tenha submetido aquele soberano judeu no ano anterior. O terceiro ano de Joaquim, 606, foi o ano da ascensão de Nabucodonosor. Conforme o costume babilônico de não incluir o ano da ascensão de seus soberanos no cômputo dos anos oficiais de reinado, verificamos, em verdade, conforme Jeremias, que o primeiro ano oficial de Nabucodonosor foi o ano 606 a.C. ou seja o quarto ano de Joaquim na Judéia.1


Em 605 a.C., no quarto ano de Joaquim, Faraó Neco avançou até ao rio Eufrates na tentativa de reaver seus domínios perdidos no ano anterior ao rei Nabucodonosor. Foi, porém, vencido em Carchemis, tendo Nabucodonosor garantido suas conquistas até à Palestina e assegurado sua posterior vitória sobre o próprio Egito.2


Nabucodonosor reinou sobre todo o mundo durante 43 anos, desde 605 a 562 a.C. Era a sua pretensão que seus compatriotas continuariam depois dele empunhando para sempre o cetro do mundo. O capítulo três encerra uma evidência de seu poder, majestade e glória no trono da terra. O primeiro símbolo do capítulo sete, um leão, demonstra seu invencível poder e suas vitoriosas campanhas sobre as nações. Porém, o capítulo quatro oferece um panorama de sua conversão e incondicional entrega de sua vida ao Deus de Israel, para honrá-lo e serví-l’O pelo resto de sua existência.


O TERCEIRO ANO DE JOAQUIM


Sobre o terceiro ano do rei Joaquim da Judeia, veja-se o apêndice  nota 5 — sobre o terceiro ano de Ciro.


Tenhamos o cuidado de não confundir Joaquim com o seu filho e sucessor de nome quase idêntico — Joachin — e até, em algumas versões, perfeitamente idêntico. O primeiro reinou 11 anos em Jerusalém, tendo dramática morte predita pelo profeta Jeremias; o segundo reinou apenas três meses, também em Jerusalém, sendo logo deposto e levado em cativeiro para Babilônia, onde permaneceu no cárcere até ao trigésimo sétimo ano de seu cativeiro, aliás, até ao ano 562 a.C., sendo liberto da prisão neste ano, o primeiro ano de Evil Merodach, e por este rei, filho e sucessor de Nabucodonosor.1


O ESTRANHO REMÉDIO DE DEUS


VERSO 2: — “E o Senhor entregou nas suas mãos a Joaquim, rei de Judá, e uma parte dos vasos da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os vasos na casa do tesouro do seu deus”.


NABUCODONOSOR — O AÇOITE DE DEUS


O rei Joaquim de Judá foi o alvo principal da arremetida do rei de Babilônia na Judeia. Dos vinte monarcas do reino, fora ele um dos piores dos doze maus monarcas. A despeito de seu pai Josias ter sido um dos melhores e mais consagrados potentados, ele, entretanto, não correspondeu aos reclamos divinos duma liderança dependente exclusivamente de Deus. 


Orgulhoso, altivo, sempre pronto a rejeitar os bons conselhos do profeta de Deus, trouxe afinal a desgraça a ele mesmo e em particular e a toda a sua nação. Recusando-se definitivamente a reconhecer a Deus como supremo e verdadeiro soberano da nação judaica e a aceitar a orientação do céu para sua felicidade pessoal e de seu povo, o rei Joaquim lavrou sua própria terrível sentença e a de seus súditos que lamentavelmente o apoiaram na rebelião contra Deus.


Ele e todo o país encheram a copa da maldade e nada mais se esperava agora senão a intervenção iminente de Deus no reino, conforme já desde muito anunciada. E, Nabucodonosor, rei de Babilônia, como vimos, foi o instrumento escolhido pelo Todo-poderoso para dar-lhe a paga de seu ousado ultraje à majestade do universo.


Joaquim reinava como se o reino fosse seu próprio, recusando-se a reconhecer que estava no trono do reino de Deus na terra.2 E assim contribuiu, como outros maus reis seus antecessores no mesmo trono, para que Deus pusesse termo em definitivo à realeza judia. Deus mesmo entregou este monarca nas mãos de Nabucodonosor. Por muito tempo o Senhor protelou fazer isto, enviando-lhe poderosas mensagens, mas todas foram rejeitadas e até queimadas e o profeta de Deus seriamente ofendido e hostilizado. O resultado foi cair na mão do conquistador do mundo e tornar-se seu vassalo, cujo rei o matou mais tarde.


O TEMPLO É PILHADO POR ORDEM DE DEUS


Naqueles antigos tempos os judeus adoravam mais o famoso templo construído por Salomão, em Jerusalém, do que o próprio Senhor do templo. O templo parecia ser tudo para eles. Todo o sistema sacrifical e o ritual do culto do templo que era o plano da salvação de Deus em figuras, não consideravam tão importante como a própria estrutura do edifício. Não há dúvida que aquele templo era uma obra maravilhosa. Mas cometiam o erro de considerá-lo mais importante do que o glorioso culto divino simbólico, deixando de lado a substância de todo aquele simbolismo, — o Salvador do mundo morto na cruz.


Ao se apresentar aquele povo no templo com suas ofertas sacrificais, o faziam dum modo formalístico, destituído de fé na realidade oculta nas ofertas típicas. Do famoso templo lhes dissera Jeremias: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é êste”.1 Enquanto veneravam a casa, não honravam o seu culto e o que ele significava. O profeta apela para que se convertam em vez de confiarem apenas no magnífico edifício. Nos dias de Jesus entre aquele povo, Ele lhes diz que aquele templo — que já não era o original de Salomão — seria arrasado até aos alicerces, pois O rejeitavam sendo Ele a verdadeira substância de todo aquele sistema de adoração.2


Nabucodonosor invade o templo com seu exército e o pilha. Arrebatou-lhe preciosos “vasos” ou utensílios sagrados do seu ritual. Era o ano 606 a.C. e estes foram os primeiros vasos sagrados transportados a Babilônia pelo vencedor de Joaquim.3 Nova remessa de vasos são levados à capital do mundo em 598 a.C., quando Joachin foi destituído.4 E, então, em 587 a.C., foram levados os restantes vasos quando o rei Zedequias foi deposto e o templo destruído.5 Ao todo contaram os vasos “cinco mil e quatrocentos”.6


ONDE FORAM PARAR OS VASOS


O vitorioso rei Nabucodonosor coloca os sagrados vasos “na casa do tesouro de seu deus”, em Babilônia, provavelmente do deus Marduk, que, desde os tempos da primeira dinastia, mais de mil anos antes, tinha popularmente o nome de “Bel”, o “Senhor”. A Bíblia alude a este supremo deus babilônio com os nomes de “Bel-Nebo” e “Bel-Merodach”.1 Seu principal templo chamava-se “Esagila”. 


Documentos cuneiformes babilônicos frequentemente mencionam “os tesouros de Esagila”, o grande templo de “Marduk”. Neste mais famoso templo de Babilônia, depositara Nabucodonosor os vasos trazidos do templo de Jerusalém. Assim foi pilhado o grande templo da Judeia de tudo quanto tinha e também queimado e arrazado.2 Além de confiarem na estrutura do templo, — o haviam profanado, pela introdução de ídolos pagãos no mesmo. Assim, permitiu Deus que os sagrados vasos fossem profanados por mãos pagãs e deixou serem levados como troféus do vencedor para Babilônia.


Ficou demonstrado que o templo, em si mesmo, não tinha valor e sim o culto que nele era efetuado como simbolismo do plano da redenção de Deus. E, já que eles não prezavam o que era importante, o edifício seria destruído, como o foi, e seus vasos saqueados totalmente, ficando privados deles até depois do cativeiro de setenta anos, quando reconstruiriam o templo e os receberiam de volta.


A UNIVERSIDADE DE BABILÔNIA


VERSOS 3-5: — “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxessem alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos nobres, mancebos em quem não houvesse defeito algum, formosos de parecer, e instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciências, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viverem no palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras e na língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a ração de cada dia, da porção do manjar do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem criados por três anos, para que no fim deles pudessem estar diante do rei”.


MARAVILHOSO PLANO DO REI NABUCODONOSOR


Ao galgar o trono de Babilônia o rei Nabucodonosor era ainda jovem. O começo do seu reinado foi marcado por uma série de conquistas em que numerosos povos da Ásia Ocidental foram levados em cativeiro para o oriente, incluso o povo judeu. Muito desse material humano, a seu ver, era por demais precioso, e desejou aproveitar o melhor dele no crescimento e estabilização de seu reino mundial. 


Daria isto mais confiança ao seu governo em meio às províncias de seu grande império, tão variadas em idiomas e  costumes. Também haveria mais ordem e mais respeito à sua majestade, pois todos aplaudiriam sua sábia resolução de ter em sua corte pelo menos um representante de cada nação vassala. O sonho do rei mencionado no capítulo quatro, revelou a perfeita unidade mundial de seu império e a dependência de todos os povos da sábia administração de sua corte.


UNIVERSITÁRIOS ESCOLHIDOS


O que mais impressionou e até apaixonou o soberano de Babilônia, foi a numerosa juventude cativa, oriunda de tantos países. Teve em grande conta aquela mocidade estrangeira para ele brilhante, e descobriu dentre ela grandes e raros talentos que desejou empregá-los em sua nova administração.

 

Pelo que se depreende do sacro relatório, o rei Nabucodonosor anelou substituir aquelas mentes encanecidas da velha administração de seu pai Nabopolasar, por mentes jovens, intactas, capazes de são raciocínio, de grande visão, de elevado idealismo — em contraposição ao arcaico conservadorismo  da corte que herdara e que não era próprio ao novo impulso que pretendia dar ao reino em todo o sentido do crescimento nos ramos  das ciências, letras, artes, indústrias, comunicações e em especial na administração real que deveria ser sábia, prudente e corresponder às necessidades duma dominação tão vasta e tão complexa.


O grande monarca, entretanto, desejou jovens selecionados para o ajudarem em funções administrativas de grandes responsabilidades. A seu desejo deviam proceder de linhagem nobre e real das cortes de países conquistados, e que fossem formosos de parecer e sem quaisquer defeitos físicos. 


O rei fez questão de frisar a Aspenaz, a quem encarregara da seleção, que deviam ser jovens inteligentes e cultos — “em toda a sabedoria, sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem idoneidade para viverem no palácio do rei”, ou ali se desincumbirem de altas funções. Esta juventude principesca devia ser, uma espécie de “reféns”, para garantir a perfeita obediência às promessas e tratados dos reis de cujos países procederam, ao governo central conquistador.


O OBJETIVO DA UNIVERSIDADE DA CÔRTE


A fim de serem capacitados para elevados postos no reino deveriam os escolhidos jovens cursar por três anos a universidade da corte e serem diplomados “nas ciências e letras dos caldeus”, e estarem assim aptos para honrarem a corte e bem representarem o cetro caldeu perante seus numerosos vassalos.


Segundo a vontade do rei, a juventude universitária não cursava a universidade unicamente para ser admitida em palácio, mas para que lhe fosse facultada a aquisição dum melhor desenvolvimento físico e mental e também gozar do privilégio de participar da mesa real como um grato favor do grande rei do mundo.


O CARDÁPIO DA UNIVERSIDADE DA CÔRTE


Por determinação do rei Nabucodonosor, os estudantes da universidade deveriam participar da farta mesa real durante todo o curso de três anos. Dita mesa era consagrada aos deuses de Babilônia e parte de suas iguarias era levada aos seus altares para ser por eles especialmente abençoada. 


Ao participarem os estudantes de sua mesa consagrada aos deuses, pretendeu o rei, sinceramente, vê-los alcançar o máximo desenvolvimento físico e mental pela bênção dos deuses — e serem por isso mesmo bem sucedidos em seus estudos. Além disso, dando-lhes uma mesa considerada sagrada, quis o monarca expressar  o seu favor e solicitude pelo bem-estar deles todos. 


Foi este o primeiro passo do rei para levar os universitários estrangeiros a encarar com favoritismo os deuses de Babilônia e esquecer os de sua nação de origem. Os postos oficiais da famosa corte para os quais ia ser preparada parte daquela nova juventude conquistada, estavam reservados, com possíveis raras exceções, somente a adoradores confessos de seus vitoriosos deuses, pois só a tais poderia ela dispensar, bem como merecer, a absoluta e inteira confiança que carecia como senhora de tão vastos domínios. Assim tudo iria bem no mundo babilônico de então.


Este primeiro passo do monarca, como vimos, era deveras a sua primeira interferência no que respeita à consciência de seus futuros cortesões em matéria de religião. Não ignorava Satanás que agora estava ali no Oriente e mesmo na corte mundial de Babilônia, um povo cuja consciência exigia a adoração exclusiva de Jeová, o Deus vivo, o Deus de Israel, — que ele bem sabia ser o Único verdadeiro Deus. Portanto, preocupado com a influência que estes fiéis adoradores de Jeová teriam naquela corte e seu vasto império, procurou fazer alguma coisa para a todo custo quebrar aquela benéfica influência e manter sua satânica inspiração. 


E viu o maligno que o método eficaz seria obrigar as consciências a se curvarem em reverência e adoração aos falsos deuses. E só o soberano do trono teria, a seu ver, o poder de obrigar e exigir com êxito servidão dos deuses protetores do reino. Tudo, porém, começou com a mesa real — ou com o apetite — para depois tornar-se uma questão de rígidos decretos-leis, como deparamos na adoração da estátua imperial de ouro, do capítulo terceiro.


Quando Nabucodonosor ordenou a Aspenaz que selecionasse jovens das nações conquistadas, a fim de alguns serem preparados para a sua corte, fez questão de apontar em especial os judeus, conforme atestam os versos três e quatro. Demonstrou o rei confiança neste povo e conhecer a sua sabedoria como superior à de outros povos, mesmo a despeito de ter sido tratado por seus três últimos monarcas que por conquista os transformara em vassalos. 


Contudo, como os demais jovens doutras nações, deviam ser também de linhagem principesca — real e nobre. Como era de seu grande anelo, nesta raça e nesta juventude repousou a esperança do rei concernente à representação e prosperidade de sua corte no mundo submetido à sua soberania. Em tudo isto vemos as providências de Deus em fazer-se representar naquela grande corte mundial através de seus escolhidos, e por fim em toda a terra pela influência deles ali exercida.


“O fato de esses homens, adoradores de Jeová, estarem cativos em Babilônia, era orgulhosamente citado pelos vencedores como evidência que sua religião e costumes eram superiores à religião e costumes dos hebreus. Embora por intermédio da própria humilhação que Israel chamara sobre si por haver-se afastado de Deus, Ele dera aos babilônios a prova de Sua supremacia, da santidade dos seus reclamos e dos resultados certos da obediência. E este testemunho Ele deu, como unicamente poderia ser dado, por meio daqueles que Lhe foram leais.


“Entre os que se mantiveram obedientes a Deus estavam Daniel e seus três companheiros — nobres exemplos do que os homens podem tornar-se quando unidos com o Deus de sabedoria e poder. Da comparativa simplicidade de seu lar judaico, esses jovens de linhagem real foram levados à mais magnificente das cidades, e introduzidos na corte do maior monarca do mundo”.1


Na providência de Deus, Daniel e seus companheiros foram levados ao cativeiro como condutos às nações pagãs das bênçãos que advêm à humanidade pelo conhecimento de Deus. Principalmente através de Daniel, acendeu Deus uma grande luz ao lado do trono do maior reino do mundo, para que todos pudessem aprender do Deus vivo e verdadeiro.


“Assim como Deus chamou a Daniel para testemunhar d’Ele em Babilônia, também nos chama a nós para sermos Suas testemunhas no mundo hoje em dia. Deseja que revelemos aos homens os princípios do Seu reino, tanto nos menores como nos maiores afazeres da vida”.1


NOVOS NOMES AOS UNIVERSITÁRIOS HEBREUS


VERSOS 6-7: — “E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias. E o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Belteshazzar, e a Hananias o de Sadrach, e a Misael o de Mesach, e a Azarias o de Abed-nego”.


UMA VÃ ESPERANÇA DO REI


Lamentavelmente foram encontrados apenas quatro jovens hebreus dignos das responsabilidades que o rei tinha em vista aos cativos de Judá. Certamente o soberano ficou decepcionado e apreensivo. Veria ele, porém, que a qualidade e não a quantidade, é que é o importante. Veria, para alegria sua, que aqueles quatro raros caracteres valiam por uma multidão. E a história revelou isto mesmo. Foram eles inestimável bênção naquela corte e naquele reino. 


Haverá, hoje, jovens cristãos de caráter puro e santo como aqueles quatro jovens? Naqueles dias só quatro foram achados. Nos dias dos Faraós um apenas fora descoberto — José. É de temer a raridade de tais caracteres em nosso corrompido século e em meio a um cristianismo tão afastado e tão desvirtuado dos fundamentos originais do evangelho de Cristo.


Os quatro baluartes do direito e da justiça eram Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Josefo diz que estes quatro jovens eram parentes do rei Zedequias — último rei da Judéia.2 Seus nomes eram simbólicos de suas amistosas relações com Deus e de sua incondicional devoção a Ele. 


O propósito de Aspenaz, a pedido do rei, trocando-lhes os nomes por outros que os relacionassem com os deuses de Babilônia, era que, ao se adaptarem a eles, abjurariam o Deus de Israel e adorariam os do Império. Os novos nomes eram também u’a marca de autoridade imposta aos escravos. O nome de Jeová, no Egito, foi mudado por Faraó para “ Zaphnath-Paneah” (Salvador do Mundo); o de Hadassa (Murta), para Ester (Estrêla), na Pérsia.1 A significação dos  primeiros e segundos nomes dos hebreus, saber, é a que damos abaixo.

  

Constatariam a força, o poder da fé que vem de cima e faz baluartes da justiça. Mal sabiam o rei e Aspenaz que nem as ameaças do fogo e de leões seriam capazes de mudar os sãos princípios daquelas heroicas testemunhas de Deus e da verdade. Tão pouco podia ter influência desfavorável na fé daqueles moços a simples mudança de seus nomes, de  simbólicos  da  adoração  do  verdadeiro  Deus para  simbólicos da adoração de deuses falsos e pagãos. Eles, em sua firme devoção a Deus ali em Babilônia, foram uma grande luz que inundou todas as numerosas províncias daquele sobremaneira a Jeová.

 

poderoso

 

reino

 

mundial

 

e louvou

 


A VITÓRIA DEVE SER GANHA


 

VERSO 8:

 

“E

 

Daniel

 

assentou

 

no seu coração não se

 

contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar”.


O CORAÇÃO TEM QUE VER COM A VITÓRIA

 

A menos que haja firmeza de coração na decisão, haverá seguro fracasso. Mas para Daniel e seus companheiros, o vocábulo fracasso não existia. Não se “contaminar” ou não se “sujar” com a imunda e idólatra mesa real, foi o primeiro passo para a verdadeira grandeza que demonstraram como cristãos perante o mundo babilônico. Esta sublime decisão — não se contaminar, não se sujar — é a grande lição para todo o jovem que anela a vitória espiritual sobre o pecado.


Todo aquele que participasse da mesa do rei consagrada à idolatria, “seria considerado como estando a oferecer homenagens aos deuses de Babilônia. A tal homenagem a lealdade de Daniel e seus companheiros a Jeová lhes proibiu de participar. A simples simulação de haver comido o alimento ou bebido o vinho seria uma negação de sua fé. Proceder assim era enfileirar-se ao lado do paganismo e desonrar os princípios da lei de Deus.


“Não ousaram eles a se arriscarem ao enervante efeito do luxo e dissipação sobre o desenvolvimento físico, mental e espiritual. Eles estavam familiarizados com a história de Nadabe e Abiú, de cuja intemperança e seus resultados foi conservado o registro nos pergaminhos do Pentateuco; e sabiam que suas próprias faculdades físicas e mentais seriam danosamente afetadas pelo uso do vinho.


“Daniel e seus companheiros tinham sido educados por seus pais nos hábitos da estrita temperança. Tinham sido ensinados que Deus lhes pediria contas de suas faculdades, e que jamais deveriam diminuí- las ou enfraquecê-las. Esta educação fora para Daniel e seus companheiros o meio de sua preservação entre as desmoralizantes influências da corte de Babilônia. Fortes eram as tentações que os rodeavam nessa corte corrupta e luxuosa, mas eles permaneceram incontaminados. Nenhuma força, nenhuma influência poderia afastá-los dos princípios que tinham aprendido no limiar da vida mediante o estudo da Palavra e obras de Deus.


“Tivesse Daniel desejado e teria encontrado em torno de si escusas plausíveis para afastar-se dos estritos hábitos de temperança. Ele poderia ter argumentado que, dependendo como estava do favor do rei e sujeito ao seu poder, não havia outro caminho a seguir senão comer do alimento do rei e beber do seu vinho; pois se se apegasse ao ensinamento divino, ofenderia o rei, e provavelmente perderia sua posição e a vida. Se transgredisse o mandamento do Senhor, ele  reteria o favor do rei, e asseguraria para si vantagens intelectuais e lisonjeiras perspetivas mundanas.

 

“Mas Daniel não hesitou. A aprovação de Deus era-lhe mais cara que o favor do mais poderoso potentado da Terra — mais cara mesmo que a própria vida. Ele se determinou permanecer firme em sua integridade, fossem quais fossem os resultados. Ele assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia. E nesta resolução foi apoiado por seus três companheiros.


“Tomando esta decisão, os jovens hebreus não agiram presunçosamente, mas em firme confiança em Deus. Não escolheram ser singulares, mas sê-lo-iam de preferência a desonrar a Deus. Tivessem eles se comprometido com o erro neste caso rendendo-se à pressão das circunstâncias, e este abandono do princípio ter-lhes-ia enfraquecido o senso do direito e sua capacidade de aborrecer o erro. O primeiro passo errado tê-los-ia levado a outros, de maneira que, cortada sua ligação com o Céu, eles seriam varridos pela tentação”.1


Aí está o que significa ser um verdadeiro e devotado cristão. Dois fatores importantes e vitais caracterizaram a vida de Daniel e seus companheiros como religiosos e constituem ainda hoje princípios que regem a vida espiritual e material aceitável a Deus: A recusa do falso culto por ser falso e do regime dietético mau por ser mau. Quem assim procede ganhará a vitória com Deus.


O GRANDE EXEMPLO É REJEITADO


Lamentavelmente a nossa geração está em carência de religiosos como Daniel e seus companheiros. O evangelho, base da vida física e espiritual, foi relegado a um canto. Centenas de credos anticristãos navegam o século XX no barco das tradições dos apóstatas, que abjuraram todo o fundamento das Sagradas Escrituras de Deus. 


Eis  um mundo religioso nominal que guerreia constante e abertamente a lei moral do Decálogo de Deus e as leis naturais apontadas no evangelho de Cristo para o bem e felicidade de Seus seguidores. Mas de modo algum Deus aceitará como servos Seus aqueles que dele pretendem se aproximar fora dos princípios fundamentais da religião que vem do céu e liga o arrependido pecador ao Todo-poderoso e Santo Deus.


Daniel e seus companheiros são hoje ainda verdadeiros exemplos. Porém, são inaceitáveis pelos relapsos modernos cristãos como caracteres cristãos dignos de imitação. Muito daqueles quatro hebreus é falado, escrito e pregado; mas na prática são postos de lado como modelos antiquados aos moderníssimos e cristianíssimos religiosos do século. Todavia, nenhum cristão está apto para o reino de Cristo a menos que seu caráter se identifique ao de Daniel e seus três companheiros, cujas vidas foram em todo o sentido honrosas a Deus e por Ele aprovadas enquanto eles viverem.


Mas o segredo da vitória consiste numa positiva decisão como tomada por Daniel e os outros três jovens: Assentar no coração não se contaminar, não se sujar com o falso culto e com o falso apetite. Sem que esta acertada decisão seja sancionada pelo coração, a derrota e a perda da salvação serão inevitáveis. Todo o cristão moderno que desejar ver aqueles quatro jovens no futuro, deverá imitá-los como verdadeiros cristãos que souberam viver o cristianismo puro em meio à corrupção de Babilônia.


A experiência daqueles quatro hebreus cristãos constitui, em todo o tempo, um alto exemplo de genuína temperança ligada à fé cristã. Abstêmios completos de todo o ingrediente sólido ou líquido prejudicial à saúde física, conservaram o corpo como um templo santo, puro e vivo em honra de Deus. Dificilmente encontraremos hoje cristãos similares. 


A intemperança tem tomado conta dos chamados cristãos de nossa geração, que deviam ser verdadeiros representantes de Deus, de Cristo e de Suas leis moral, sanitária e dietética sábias e justas. O mundo chamado cristão e as nações pretensamente cristãs estão afogados no alcoolismo, chafurdados em toda classe de degradantes vícios e mergulhados numa glutonaria destruidora da vitalidade do corpo. Viessem Daniel, Hananias, Misael e Azarias ao mundo hoje, ficariam abismados em ver como os cristãos da hodierna civilização vivem tão afastados das sagradas normas e princípios do cristianismo original estabelecidos por Seu próprio fundador.


“MENS SANA IN CORPORE SANO”


Aqueles que fazem profissão de fé e se definem pela justiça que procede do céu, serão conhecidos entre os homens como perfeitos templos vivos de Deus, nos quais Ele é adorado através o verdadeiro culto do evangelho e as altas normas inspiradas do viver sadio são exemplificadas.


Não se contaminar, era a ordem do dia proclamada por Daniel e seus fiéis companheiros. Esta é a principal lição de toda a parte histórica de seu livro. É a primária, a vital, a indispensável qualificação para o alto serviço de Deus.1 Os quatro conservaram-se puros da poluição da carne e da alma em não participar da imunda e idolatra mesa do rei Nabucodonosor.


Por se conservarem fisicamente limpos pela não participação duma alimentação impura, embora oriunda do palácio real, os quatro jovens mantiveram pura a mente e o espírito, o que é ainda mais importante. Pois assim preservaram-se da má consciência para com Deus, dos corrompidos princípios da desobediência às leis do céu, de compromissos que seguramente teriam reduzido a força moral e embrutecido a vontade, dissipado a coragem e obscurecido a visão.


A pureza do corpo será a medida da pureza da mente e do espírito e o debilitamento do corpo implica em debilitamento de ambas estas faculdades e do coração. A máxima: “Mens sana in corpore sano”, — é evidência indiscutível de que a saúde ao corpo é essencial à saúde da mente, do espírito e do coração.


Alguém dirá: “Que tem que ver religião com dietética?” “O que dissemos acima já contém a resposta clara. Porém, dizemos ainda mais: Ninguém com u’a mente e um espírito envenenadas por um regime dietético desequilibrado e impuro terá uma visão límpida para discernir corretamente o dever para com Deus e executá-lo com inteira submissão e alegria. 


Um regime alimentar constante de elementos impuros, nocivos, estimulantes e deprimentes, afeta e contamina a mente e o espírito amplamente e priva o coração do homem da comunhão voluntária e indispensável com Deus. Daí o regime da comunhão voluntária e indispensável com Deus. Dai o regime alimentar original dado pelo Criador a Seus filhos ser o único que os poderá conservar fisicamente limpos para terem clareza de mente e discernimento correto e jamais esquivarem-se ao dever que os liga ao céu.


A máxima de Hipócrates, o mais ilustre médico da antiguidade (5.° séc. a.C.), em questões dietéticas, era e ainda é está: “Seja o teu alimento o teu medicamento”. Em outras palavras, ensinou Hipócrates que a alimentação deve ser um remédio salutar ao físico, e então o  será também à mente e ao espírito. Alimentar o organismo significa prover-lhe o melhor alimento, o mais racional, sadio, puro, isento de substâncias tóxicas e estimulantes. Um cardápio diário que mantenha límpida a corrente sanguínea e contribua para que a visão intelectual não seja obstruída mas mantida com evidente correção.


Daniel conhecia o segredo duma vida saudável e consequentemente longa. Além de tudo, sua fidelidade em manter-se puro dentro das normas do bom viver, — visou enaltecer a Deus e os divinos princípios ligados à vida. Sabiamente enfrentou de uma vez o problema dietético da universidade de Babilônia e ganhou a batalha na primeira escaramuça com o inimigo na terra de seu cativeiro. 


Ele defendeu imediatamente a supremacia do dever sobre a do interesse próprio, da obediência sobre a do perigo, da fé sobre a do medo, do temor a Deus sobre a dos costumes deturpantes da época, do espírito sobre a do corpo, da dieta pura sobre a do apetite pervertido, e, acima de tudo, — da supremacia de Deus sobre a do homem. Se Daniel e seus três companheiros se esquivassem desta batalha, tê-la-iam perdido incontinente sem nela entrarem, e os séculos futuros jamais teriam lido deles as grandes coisas que têm lido e sabido. 


Mas eles determinaram firmemente vencer a primeira batalha para não serem vencidos por ela e as demais que se seguiriam. O triunfo sobre o primeiro obstáculo abriu caminho para o triunfo sobre os demais. Vitoriosos na terra do cativeiro, cumpriram à risca o grande propósito de Deus que era dar às nações pagãs o conhecimento de Jeová — o Deus vivo.


URGE ACATAR O EXEMPLO


“A vida de Daniel é uma inspiradora ilustração do que constitui um caráter santificado. Apresenta uma lição para todos, e especialmente para os jovens. Uma estreita submissão aos requerimentos de Deus é benéfica à saúde do corpo e do espírito.  Afim de alcançar o mais elevado padrão de moral e conhecimentos intelectuais, é necessário buscar sabedoria e força de Deus, e observar estrita temperança em todos os hábitos da vida. 


Na experiência de Daniel e seus companheiros temos um exemplo do triunfo do  princípio sobre a tentação para ceder ao apetite. Mostra-nos que através de princípios religiosos os jovens podem triunfar sobre a concupiscência da carne, e permanecerem leais aos reclamos de Deus, ainda que isto lhes custe um grande sacrifício”.1


“Muitos há entre os professos cristãos hoje que pretendem que Daniel era demasiado particular e declaram-no estreito e fanático. Eles consideram a matéria de comer e beber como de diminuta importância para requerer uma decisiva defesa, — que envolva provável sacrifício de toda a vantagem terrena. Mas aqueles que assim arrazoam acharão no dia do juízo que se afastaram dos expressos requerimentos  de Deus, e exaltaram suas opiniões próprias como padrão de justiça e injustiça. 


Eles compreenderão que aquilo que lhes pareceu sem importância não era assim estimado por Deus. Seus requerimentos deviam ser inviolavelmente obedecidos. Aqueles que aceitam e obedecem um de Seus preceitos por ser conveniente fazer, enquanto rejeitam a outros porque sua observância requer um sacrifício, abaixam o padrão da justiça e por seu exemplo levam outros a considerar levianamente a santa lei de Deus, “Assim diz o Senhor” deve ser a nossa regra em todas as coisas”.1


“Daniel e seus companheiros tinham sido fielmente instruídos nos princípios da palavra de Deus. Haviam aprendido a sacrificar o terrestre pelo espiritual, a buscar o mais alto bem. E colheram a recompensa. Seus hábitos de temperança e seu senso de responsabilidade como representantes de Deus, reclamavam o mais nobre desenvolvimento das faculdades do corpo, da mente e da alma”.2


“Para Daniel, o temor do Senhor era o princípio da sabedoria. Ele estava colocado em uma posição onde era forte a tentação. Na corte  do rei, a dissipação imperava em todos os lados; a indulgência própria, a gratificação do apetite, a intemperança e a glutonaria, eram a ordem do dia. Daniel podia comungar nas debilitantes e corrutoras práticas dos cortesões, ou podia resistir a influência que tendia para baixo. Ele escolheu o último procedimento. Propôs em seu coração que não seria corrompido pelas pecadoras indulgências com as quais ele fora levado em contacto, fossem quais fossem as conseqüências”.3


Que a juventude cristã do século atual tome em conta o exemplo daqueles quatro jovens, ou então porá em risco sua salvação. Aquele quarteto da fé ainda constitui o exemplo duma juventude possuída pela devoção; duma juventude honrada pela devoção; duma juventude útil pela devoção. E é isto mesmo que Cristo espera de cada jovem  que toma sobre si o Seu nome e com Ele espera reinar em  Seu glorioso reino de eterna felicidade e amor.


ASPENAZ EM APUROS


VERSOS 9-10: — “Ora deu Deus a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos. E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; porque veria ele os vossos rostos mais tristes do que os dos mancebos que são vossos iguais? assim arriscareis a minha cabeça para com o rei”.


GRAÇA E MISERICÓRDIA EM AÇÃO


No versículo oito vimos que Daniel não só assentou no coração não se contaminar com uma alimentação imprópria, nociva e idólatra, como também se esforçou por não tocá-la. Ele solicitou e Aspenaz o privilégio de não se contaminar e sua solicitação foi recebida com respeito. O desejo sem ação para convertê-lo em evidência, redunda em nada. Todavia aqui está um jovem esforçando-se e fazendo o seu melhor para manter-se leal a Deus e Suas leis. 


Um jovem cuja fidelidade é ainda hoje admirável e digna de imitação por todo o jovem deste derradeiro final da civilização. Deus anela ajudar a juventude que, como Daniel e seus companheiros, se propõe a zelar as coisas sagradas e dispensar-lhes inteira acatação, respeito e obediência. A bênção do Senhor só desce do céu sobre aqueles que a anelam e a buscam através um decisivo esforço por obtê-la.


“Inabalável em sua aliança para com Deus, intransigente no domínio de si próprio, a nobre dignidade e delicada deferência de Daniel ganharam para ele em sua mocidade o “favor e terno amor”, do oficial gentio a cargo do qual ele se achava”.1 Porém, o versículo nove enfatiza que a simpatia de Aspenaz foi devida ao maravilhoso auxílio de Deus em favor de Daniel. 


O Senhor influenciou Aspenaz para que olhasse com simpatia a Seu fiel servo bem como a seus companheiros. Vê-se que o esforço divino só advém para cooperar com o esforço humano, nunca, porém, para substituí-lo. Só depois que o esforço humano se torna evidente, é que o esforço divino surge para fortalecê-lo e concretizar-lhe a vitória. Com os dois esforços conjugados, Satanás levou a pior e Deus foi glorificado e honrado por seus servos, sedentos por ser-Lhe leais.


A despeito da amabilidade de Aspenaz, hesitou este não obstante em aquiescer diretamente ao pedido de Daniel. Temeu o desagrado do rei. O monarca, dissera Aspenaz, veria a desfavorável diferença comparando-os com os demais que participavam de sua mesa real, e o culparia pela falta. 


O cardápio dos universitários era uma determinação do rei, e ele se não o executasse in totum, exporia sua própria cabeça. Verificamos claramente que o rei Nabucodonosor fazia periodicamente um exame físico do corpo estudantil ou pelo menos procurava ver os universitários em conjunto para certificar-se de como passavam. 


Com isto revelou Aspenaz o temor que inspirava o rei Nabucodonosor. Uma ordem sua ou seria cumprida ou resultaria fatal se negligenciada. O monarca era absoluto e não admitia desacato às suas ordens e decisões. Qualquer oposição à sua vontade era considerada sabotagem e portanto obra de adversário, urgindo justiçar incontinente o intruso operante. E Aspenaz estremeceu ante o pedido de Daniel, enquanto foi Cortez para com ele e seus companheiros.


Mas Daniel não desanimou. A fé não baqueia diante dos obstáculos sejam quais forem. Dela dissera mais tarde São João, o apóstolo amado: “E esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”.1 Assim a fé já é uma vitória. O seu possuidor será infalivelmente vitorioso enquanto sob sua influência. Daniel não temeu; pois não só não era um crente tremente, como já concebera o triunfo à vista — pelo evidente divino auxilio de Deus conjugado com o seu esforço humano.


A FÉ NÃO RETROCEDE


Daniel não discutiu o caso com Aspenaz procurando persuadi-lo a atendê-lo. O caso carecia de muito tato e ele foi muito prudente. O servo de Deus não foi precipitado, mormente quando procurava pôr as coisas em ordem afim de manter sua lealdade a Ele. Procurou então ao “despenseiro”, Melzer — oficial a cujo cargo especial estava ele e seus companheiros.


Parece vermos aqui algo notável: Os quatro hebreus estavam particularmente a cargo dum homem especializado. O nome “Melzer” era aplicado a alguém encarregado de certas funções especiais, como neste caso a de “tutor”. Revela-se assim o fato de o  rei depositar grandes esperanças nos quatro jovens judeus, o que é sumamente importante. Não é dito nada de seu especial interesse particular por outros jovens estrangeiros também universitários. 


A jovens raros que eram Daniel e os outros três, deviam ser dispensados cuidados fora do normal, cuidados especializados. Quanto da mocidade cristã poderia, hoje, ser aproveitada com muita vantagem sobre outros de mais idade em cargos chaves, se aos jovens fossem dispensados cuidados particulares como àqueles quatro moços em Babilônia! Muito desse precioso e talentoso material humano se perdeu e se perde por falta de visão e interesse de desavisados dirigentes de organizações e nações modernas em malhar talentos novos, raros e aproveitáveis com sucesso.


Com muita cautela suplicou Daniel a Melzer fossem eles escusados de participar da mesa do rei. Não temos evidentemente um relatório completo da exposição que Daniel fez a este oficial e a Aspenaz, como justificativa da deliberação que tomaram em absterem-se da alimentação real. 


Porém, a informação que possuímos é mais que suficiente para divisarmos o denodado esforço daqueles jovens cristãos da antiguidade afim de não violarem a expressa vontade de Deus contida em Suas leis. E isto tudo é mais importante do que simplesmente lermos a história destes heróis. Se não os imitarmos seguindo o glorioso exemplo que nos legaram, jamais os veremos no reino de Deus onde eles indubitavelmente estarão por toda a eternidade.


UM PLANO PARA SER FIEL


VERSOS 11-16: — “Então disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias, fazendo que se nos deem legumes a comer, e água a beber. Então se veja diante de ti  o nosso parecer, e o parecer dos mancebos que comem a porção do manjar do rei, e, conforme vires, te hajas com os teus servos. 


E ele conveio nisto, e os experimentou dez dias. E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores; eles estavam mais gordos do que todos os mancebos que comiam porção do manjar do rei. Desta sorte, o despenseiro tirou a porção do manjar deles, e o vinho que deviam beber, e lhes dava legumes”.


A Melzer apresentou Daniel um notável plano. Sugeriu-lhe uma prova de dez dias em os quais somente lhes desse “legumes”‘ e “água”, e, no término do pequeno prazo, que os comparasse com os demais que participavam da mesa real. Foi um plano de fé genuína!


“A palavra hebraica zeroim, que aqui se traduz por legumes, leva em sua construção a mesma raiz que a palavra ‘semente’ empregada no relato de Gênesis referente à criação, onde se menciona “toda a herva que dá semente”, e também o “fruto de árvore que dá semente”.1 Isto indica claramente que a petição de Daniel incluía cereais, legumes e frutas. Além disso, se compreendemos corretamente Gênesis 9:3, as “hervas” estavam incluídas também na alimentação pedida. 


Em outras palavras, o menu que Daniel pediu e obteve se compunha de cereais, legumes, frutas, nozes, e verduras, quer dizer que era uma alimentação vegetariana variada, acompanhada da bebida universal para os homens e os animais: a água pura.


“A Bíblia Anotada de Cambridge contém a seguinte nota acerca de zeroim: “Alimentação vegetal em geral; não há motivo para crer que a palavra hebraica usada se limita às leguminosas como os feijões e às ervilhas designadas apropriadamente pela expressão “legumes”. Gesênio dá esta definição: “Sementes, ervas, verduras, vegetais; isto é alimento vegetal, como o que se consome quando se jejua a meias, em oposição às carnes e as viandas mais delicadas”.1


É admirável o esforço daqueles quatro fiéis baluartes da fé em procurar a todo custo manterem-se fiéis ao verdadeiro e saudável regime dietético indicado por Deus já na aurora do mundo. Mas, quanta violação e descaso aberto destes princípios no mundo cristão moderno pelos mais amantes dum apetite pervertido que das justas leis naturais do Criador! Daí tanto sofrimento como causa direta da recusa das leis divinas. Mas Daniel e seus companheiros não pertenciam a esta casta de apóstatas que, não obstante ostentarem o nome “cristão”, vivem em rebeldia franca e decidida contra os estatutos inspirados de Cristo.


A PROVA CONVENCE MELZER


Melzer achou interessante o sugestivo plano de Daniel e conveio na experiência de dez dias. “Embora temeroso de que condescendendo com este pedido pudesse incorrer no desagrado do rei, consentiu não obstante; e Daniel sabia que sua causa estava ganha”.2 E, para surpresa e assombro de Melzer, a prova foi positiva. 


A diferença entre os quatro e os demais que participavam das iguarias do rei fora-lhe evidente. Na aparência pessoal os jovens hebreus mostraram marcada superioridade sobre seus companheiros. Assim, surpreso, admirado e convencido da superioridade do plano de Daniel sobre o do rei,  Melzer afastou-os definitivamente da mesa do soberano e consentiu continuarem com o cardápio simples que preferiram e que se demonstrara superior.


A bênção de Deus foi indiscutível em secundar os esforços de seus amados. A vitória estava ganha. O plano dietético do Criador triunfou sobre o plano dietético de Babilônia. O inimigo foi vencido por aqueles quatro valentes guerreiros de Deus na primeira batalha e o seria sempre até ao fim. A retumbante vitória daqueles verdadeiros cristãos é uma severa repreensão aos infiéis cristãos glutões do século XX, violadores desrespeitosos das leis naturais inspiradas relativas ao bom viver. Podem, porém, se reabilitarem e serem fiéis como Daniel e seus companheiros.


A BÊNÇÃO DE DEUS NOS ESTUDOS


VERSO 17: — “Ora, a estes quatro mancebos Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos”.


O DOM DE PROFECIA NA CÔRTE DO MUNDO


“Apegando-se Daniel a Deus com inamovível fé, o espírito de poder profético veio sobre ele. Enquanto recebia instruções do homem nos deveres diários da corte, estava sendo ensinado por Deus a ler os mistérios do futuro, e a registrar para as gerações vindouras, mediante figuras e símbolos, eventos que cobrem a história deste mundo até o fim do tempo”.1


O Dom de Profecia de que fora Daniel investido, é o terceiro dom da graça concedido ao pecador separado diretamente de Deus. Em sua importância segue imediatamente aos dons do Filho de Deus e do Seu Espírito. Esse dom é a comunicação entre Deus e o homem através de um instrumento chamado “profeta” dirigido pelo Espírito Santo. 


É o mais importante dom do Espírito Santo para guiar e edificar a Igreja de Deus na terra.2 À luz desse glorioso dom tem o povo de Deus caminhado em toda a sua história até ao presente. É por esse precioso dom que o mundo tem, através da Igreja de Deus, recebido a gloriosa mensagem da redenção em Jesus Cristo. A Bíblia foi dada à humanidade mediante esse divino dom, e é ela, portanto, a mensagem do dom da profecia ou da graça de Deus enviada aos habitantes da terra.


Antes de Daniel, e depois dele, dezenas de outros servos fiéis de Deus, os profetas — receberam o Dom de Profecia, para advertir e aconselhar a Igreja e o mundo. Segundo o livro do Apocalipse, capítulo doze versículo dezessete, a igreja de Deus, em pleno século XX, é aquela que guarda os mandamentos de Deus e possue o Dom de Profecia em seu meio.


De posse do Dom de Profecia pôde Daniel desvendar grandes mistérios que puseram em perplexidade o rei de Babilônia, bem como traçar os marcos simbólicos relativos aos principais acontecimentos da história em ligação com a marcha triunfal do povo de Deus até ao fim do tempo do fim. As profecias de seu livro resultantes desse dom, são as mais importantes do Velho Testamento, e completadas no Novo Testamento pelas profecias do Apocalipse dadas a São João através do mesmo inspirado Dom de Profecia.


Os resultados de bem servir e honrar a Deus foram evidentes nos estudos daqueles jovens. As inestimáveis bênçãos de Deus fizeram daqueles moços os melhores alunos da universidade da corte de Babilônia. A todos surpreenderam pela exuberante inteligência e sabedoria. E não pensem os jovens de hoje que Deus não tem o mesmo anelo em ajudá-los na aquisição de conhecimentos úteis de sabedoria honrosa ao céu. O segredo da receção da bênção consiste na dedicação incondicional da vida a Deus, numa obediência sincera às suas leis — quer morais quer naturais.


O GRANDE EXAME FINAL


VERSOS 18-20: — “E ao fim dos dias, em que o rei tinha dito que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante de Nabucodonosor. E o rei falou com eles; e entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso permaneceram diante do rei. E em toda a matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino”.


UM MARCADO TRIUNFO


Finalmente chegou o grande dia do exame final após três anos de curso. Um só foi o catedrático examinador — o rei Nabucodonosor. Este fato evidencia os talentos do rei, seus vastos conhecimentos em ciências e letras daquele tempo. Por outro lado parece que o monarca quis se certificar pessoalmente, em prova oral absoluta, do grau de cultura caldaica adquirido pelos universitários. Todavia o triunfo coube aos quatro fiéis de Deus — Daniel, Hananias, Misael e Azarias.

 

Eles sobrepujaram dez vezes mais em sabedoria a todas as sumidades do reino. Os chamados sábios da corte se apagaram diante deles. Nabucodonosor não se enganara com a sabedoria dos judeus — confirmou e solenemente anunciou a distinção dos servos do Deus de Israel. Com a revelação da sabedoria de Deus através dos quatro jovens, foi reduzida a nada a farsa da sabedoria deste mundo, simplesmente humana e nada mais que humana.


“Na corte de Babilônia estavam reunidos representantes de todas as terras, homens do mais alto talento e mais ricamente dotados com dons naturais, e possuidores da cultura mais vasta que o mundo poderia oferecer; não obstante entre todos eles os jovens hebreus não tiveram competidor. 


Em força e beleza física, em vigor mental e dotes literários, não tinham rival. A forma ereta, o passo firme e elástico, a fisionomia agradável, os sentidos lúcidos, o hálito puro — eram todos certificados mais que suficientes de bons hábitos, insígnia da nobreza com que a natureza honra aos que são obedientes a suas leis.1


“Rapidamente galgou ele (Daniel) a posição de primeiro ministro do reino. Durante o império de sucessivos monarcas, a queda da nação e o estabelecimento de um reino rival, tal era a sua sabedoria e qualidades de estadista, tão perfeitos eram o seu tato, cortesia e genuína bondade de coração, combinada com a fidelidade aos princípios, que mesmo seus inimigos eram obrigados a confessar que “não podiam achar ocasião ou culpa alguma, porque ele era fiel”.2


A SABEDORIA NAO VEIO POR ACASO


“Na aquisição da sabedoria dos babilônios, Daniel e seus companheiros foram muito melhor sucedidos que seus colegas; mas sua ilustração não veio por acaso. Eles obtiveram o conhecimento mediante o fiel uso de suas faculdades, sob a guia do Espírito Santo. Colocaram-se em conexão com a Ponte de toda sabedoria, tornando o conhecimento de Deus o fundamento de sua educação. 


Oraram com fé por sabedoria, e viveram as suas orações. Puseram-se onde Deus poderia abençoá-los. Evitaram o que lhes poderia enfraquecer as faculdades, e aproveitaram toda oportunidade de se tornarem versados em todo o ramo do saber. Seguiram as regras da vida que não poderiam falhar em dar-lhes força de intelecto. Procuraram adquirir conhecimento para um determinado propósito — para que pudessem honrar a Deus. 


Compreenderam que para poderem permanecer como representantes da verdadeira religião em meio das religiões falsas do paganismo, deviam possuir clareza de intelecto e aperfeiçoar o caráter cristão. E o próprio Deus era o Seu professor. Orando constantemente, estudando conscienciosamente e mantendo-se em contato com o Invisível andavam com Deus como andou Enoque.


“O verdadeiro sucesso em cada setor de trabalho não é o  resultado do acaso, ou acidente ou destino, É a operação da providência de Deus, a recompensa da fé e discrição, da virtude e perseverança. Finas qualidades mentais e alto trono moral não são o resultado de acidente. Deus dá oportunidades; o sucesso depende do uso que delas se fizer.


“Enquanto Deus estava operando em Daniel e seus companheiros “tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade”,1 eles estavam operando a sua própria salvação. Nisto está revelado a operação do divino princípio de cooperação, sem o que nenhum verdadeiro sucesso pode ser alcançado. O esforço humano nada  realiza sem o divino poder; e sem o concurso humano o esforço divino é em relação a muitos de nenhum proveito. Para tornar a graça de Deus nossa própria, precisamos desempenhar a nossa parte. Sua graça é dada para operar em nós o querer e o efetuar, mas nunca como substituto de nosso esfôrço”.2


RESPONSABILIDADE NO SÉCULO XX


“Assim como o Senhor cooperou com Daniel e seus companheiros Ele cooperará com todos os que se atêm a Sua vontade. E pela concessão do Seu Espírito Ele fortalecerá cada propósito veraz, cada nobre resolução. Os que andam nos caminhos da obediência encontrarão muitos embaraços. Influências fortes e sutis podem ligá-los ao mundo; mas o Senhor é capaz de tornar sem efeito cada instrumentalidade que opere para derrotar os Seus escolhidos; em Sua força eles podem vencer cada tentação, triunfar sobre cada dificuldade.


“Deus pôs Daniel e seus companheiros em relação com os grandes homens de Babilônia, para que em meio de uma nação de idólatras pudessem representar Seu caráter. Como se tornaram eles capacitados para uma posição de tão grande confiança e honra? Foi a fidelidade nas pequenas coisas que lhes deu capacidade para a vida toda. Eles honraram a Deus nos mínimos deveres, bem como nas maiores responsabilidades.


“Assim como Deus chamou Daniel para testemunhar por Ele em Babilônia, Ele nos chama para sermos testemunhas Suas no mundo hoje. Tanto nos menores como nos maiores negócios da vida. Ele deseja que revelemos aos homens os princípios do Seu reino. Muitos estão esperando que uma grande obra lhes seja levada, ao mesmo tempo que perdem diariamente oportunidade para revelar fidelidade a Deus. 


Diariamente deixam de se desincumbir com inteireza do coração dos pequenos deveres da vida. Enquanto esperam por alguma grande obra em que possam exercitar talentos supostamente grandes, satisfazendo assim a ambiciosos anseios, seus dias passam.


“Na vida do verdadeiro cristão nada há que não seja essencial; à vista da Onipotência todo dever é importante. O Senhor mede com exatidão cada possibilidade para serviço. As faculdades não usadas são postas na conta da mesma forma que as utilidades. Seremos julgados por aquilo que devíamos ter feito e não fizemos porque não usamos nossas faculdades para glória de Deus.


“Um caráter nobre não é resultado de acidente; não é devido a favores especiais ou dotações da Providência. É o resultado da auto- disciplina, da sujeição da natureza mais baixa à mais alta, da entrega do eu ao serviço de Deus e do homem”.1


UMA MENSAGEM A JUVENTUDE HODIERNA


“Através da fidelidade aos princípios de temperança mostrados pelos jovens hebreus, Deus está falando à juventude de hoje. Há necessidade de homens que, como Daniel, procedam com ousadia pela causa do direito. Coração puro, mãos fortes, coragem destemerosa,  são necessários; pois a luta entre o vício e a virtude reclama incessante vigilância. A cada alma Satanás vem com tentação de formas variadas e sedutoras no ponto da condescendência para com o apetite.


“É o corpo um meio muito importante pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Essa é a razão por que o adversário das almas dirige suas tentações no sentido do enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu sucesso neste ponto significa muitas vezes a entrega de todo ser ao mal. As tendências da natureza física, a menos que postas sob o domínio de um poder mais alto, seguramente obrarão ruína e morte. 


O corpo deve ser posto em sujeição às faculdades mais altas do ser. As paixões devem ser controladas pela vontade que, por sua vez, deve ela mesma estar sob o controle de Deus. O régio poder da razão santificada pela graça divina, deve dominar a vida. Poder intelectual, vigor físico e longevidade dependem de leis imutáveis. 


Mediante a obediência a essas leis, pode o homem ser um conquistador de si mesmo, conquistador de suas próprias inclinações, conquistador de  principados e potestades, dos príncipes das trevas deste século; e das ‘hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais’. “No antigo ritual que é o evangelho em símbolos, nenhuma oferta maculada podia ser levada ao altar de Deus. O sacrifício que iria representar a Cristo devia ser sem mancha. A palavra de Deus aponta para esse fato como uma ilustração do que Seus filhos devem ser — um ‘sacrifício vivo’, ‘sem mácula, nem ruga’.1


“Os valorosos hebreus eram homens sujeitos às mesmas paixões que nós; mas não obstante as sedutoras influências da corte de Babilônia, eles permaneceram firmes, porque confiaram num poder infinito. Neles contemplou uma nação pagã a ilustração da bondade e beneficência de Deus e do amor de Cristo. E na sua experiência temos um exemplo do triunfo do princípio sobre a tentação, da pureza sobre a depravação, da devoção e lealdade sobre o ateísmo e a idolatria.


“Os jovens de hoje podem ter o espírito de que estava possuído Daniel; eles podem beber na mesma fonte de força, possuir o mesmo poder de domínio próprio, e revelar a mesma graça em sua vida, mesmo sob circunstâncias igualmente desfavoráveis. 


Embora assediados por tentações a serem indulgentes consigo mesmos, especialmente em nossas grandes cidades, onde toda forma de satisfação sensual se mostra fácil e convidativa, os seus propósitos de honrar a Deus permanecem não obstante firmes pela graça divina. Mediante forte resolução e atenta vigilância podem resistir a cada tentação que assalta a alma. Mas a vitória será ganha unicamente por aquele que se determina fazer o que é direito só porque é direito.


“Que carreira foi a desses nobres hebreus! Ao dizerem adeus ao lar de sua meninice pouco sonhavam eles com o alto destino que lhes estava reservado. Fiéis e firmes, renderam-se à divina guia, de  maneira que por meio deles Deus pôde cumprir o Seu propósito.


“As mesmas poderosas verdades que foram reveladas através desses homens, Deus deseja revelar por meio de Seus jovens e de Seus filhos hoje. A vida de Daniel e seus companheiros é uma demonstração do que o Senhor fará pelos que a Ele se rendem, e buscam de todo o coração realizar o Seu propósito”.1


DANIEL DEIXA A CORTE MUNDIAL


VERSO 21: — “E Daniel esteve até ao primeiro ano do rei Ciro”.


Sobre o primeiro ano de Ciro veja-se apêndice — Terceiro ano de Ciro, nota 5. — Desde o ano 606 a.C. em que fora Daniel levado para a corte de Babilônia até ao primeiro ano de Ciro, 536 a.C., decorreram exatamente setenta anos de cativeiro. Durante este tempo, foi Daniel o maior homem das cortes de Babilônia e da Medo-Persa, tendo nelas ocupado o honrado e elevado posto de primeiro-ministro daqueles  dois impérios mundiais. Agora, com o advento de Ciro ao trono e o fim do cativeiro, encerrou-se a missão do céu confiada a Daniel — nas duas cortes mundiais citadas.


“Daniel era apenas de dezoito anos quando levado a uma corte pagã a serviço do rei de Babilônia”.2 A altura do primeiro ano de Ciro alcançara ele a elevada idade de 88 anos. Até ao terceiro ano deste monarca, em que teve ele sua última visão, completara a idade de 90 anos. Dai em diante a revelação silencia sobre a história de Daniel, nada nos informando sobre o seu destino.


Possivelmente não voltou Daniel com os cativos a Jerusalém, favorecidos peto decreto de Ciro que lhes deu a liberdade. A tradição, porém, requer que ele morreu em Susa, onde lhe fora erigido um suntuoso mausoléu que ainda hoje se conserva, sendo alvo de peregrinação e provavelmente de turismo.