Este vigésimo capítulo trata do fim da grande controvérsia entre a luz e as trevas, entre Cristo e Satanás. Temos diante de nós o milênio, tema que se tornou um ponto de discussão no seio do cristianismo.
A teologia popular pretende que o milênio ocorrerá na terra antes do segundo advento de Cristo, quando afinal todos os habitantes do mundo se converterão a Deus e serão salvos. Aqueles, porém, que sustêm a sã integridade do evangelho, ensinam o contrário desta teoria, isto é, que o milênio bíblico tomará lugar imediatamente depois da segunda vinda de Cristo, durante e depois do qual não haverá jamais chance alguma de salvação. A explanação da profecia do milênio, contida neste capítulo, dir-nos-á de que lado está a verdade sôbre esta doutrina.
A PRISÃO MILENÁRIA DE SATANÁS
VERSOS 1-3 — “E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs sêlo sôbre êle, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja sôlto por um pouco de tempo”.
A AUTORIDADE DO ANJO APRISIONADOR
A descida do anjo à terra com a missão de aprisionar Satanás, evidencia que ela será cumprida. A chave e a cadeia que êle traz não são literais mas sim emblemas da alta autoridade com que o anjo está revestido para cumprir a sua missão de amarrar o arqui-inimigo do bem.
SATANÁS AMARRADO POR MIL ANOS
Atualmente Satanás está mais sôlto do que nunca. As terríveis circunstâncias reinantes no mundo: A ininterrupta contenda internacional; a avalanche de maldade em suas múltiplas manifestações; a corrupção inequívoca e assustadora da fé cristã verdadeira, — sim, tudo fala bem alto de que Satanás não está ainda amarrado, mas que está mais em atividade do que nunca.
As multidões do globo, com raras exceções, demonstram-se inequívocos instrumentos de Satanás. Os habitantes da terra executam à risca e com perfeição absoluta o misérrimo programa do grande inimigo dêles mesmos e de tôda a justiça. Sim, Satanás só pode operar no mundo pelos próprios habitantes do mundo; e quase tôdas as suas obras testificam da voluntariedade com que desempenham os nefandos planos do arqui-enganador dos séculos.
Mas, como será a prisão de Satanás? Ora, sabemos que um prêso não tem com que se ocupar; está afastado de suas atividades e mesmo do convívio com os que o cercavam quando em liberdade. De modo igual Satanás para que seja considerado prêso deve ser privado de suas atividades através das multidões do mundo.
Seus súditos, por meio dos quais atua, deverão, sem qualquer dúvida e por circunstâncias que êle não poderá evitar, ser postos fora do seu alcance. Tôdas as ferramentas humanas de seu maléfico ofício devem ser subtraídas dêle. Então êle estará amarrado; será um prêso inativo. Portanto, Satanás será amarrado não com uma cadeia literal, mas pelas circunstâncias contrárias a seu gôsto e que de fato o privarão de seus ímpios e fiéis agentes humanos, dóceis às suas influências. E quais as circunstâncias futuras que afastarão de Satanás a seus súditos e que em virtude delas ele estará então amarrado?
A cadeia ou as circunstâncias que amarrarão Satanás por mil anos são evidentes nas Sagradas Escrituras. Já dissemos que êle não está atualmente amarrado porque ainda seus súditos estão com êle e são os instrumentos de todos os males que causa ao mundo. Todavia, a segunda vinda de Cristo mudará completamente a situação atual do mundo.
Não ficará vivo um só ser humano na terra para que por êle possa Satanás exercer o seu detestável ofício. Sim, a segunda vinda de Cristo que determinará o arrebatamento dos justos ao céu e dará morte a todos os ímpios, privará Satanás de toda a atividade, posto que suas obras são executadas através dos seres humanos.1)
Satanás estará então amarrado circunstancialmente, inteiramente privado dos instrumentos humanos de seu repugnante ofício, e nada mais sabe fazer. Durante mil anos será pôsto fora de ação. Será condenado a uma inatividade desesperada, uma vez que já cêrca de 6000 anos se comprouve insaciável e ininterruptamente em trabalhar contra Deus e arruinar o mundo de Sua criação e Suas criaturas. Seu aprisionamento milenar ser-lhe-á um duro castigo visto que será impedido de prosseguir, depois de tantos séculos, em seu único deleite que é enganar e perverter os homens.
O ASPECTO DO CÁRCERE DE SATANÁS
O abismo, onde Satanás será lançado, é a própria terra, transformada numa assolação, pelas estupendas e dramáticas cenas que se ligarão à segunda vinda de Cristo.
As sete pragas, especialmente a sétima, transformarão a terra num completo caos ou abismo conforme a profecia. À voz do Todo- poderoso, na sétima praga, “um grande terremoto como nunca tinha havido desde que há homens sobre a terra”, ocorrerá. “As cidades das nações” cairão, as ilhas desaparecerão e as montanhas ruirão. Uma grande saraiva, cujas pedras serão de “um talento” completará o quadro da devastação.
Jeremias dá conta da tremenda situação nestas palavras: “Observei a terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que tôdas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor, diante do furor da Sua ira”.1)
Sem nenhuma dúvida a terra, convertida em tais circunstâncias, e escura, será o abismo aludido na profecia em que será lançado Satanás por mil anos. O têrmo “abismo”, do grego “abussos”, não só “significa um precipício sem fundo”, como também denota uma região deserta e caótica por suas circunstâncias, tal como a região deserta da Arábia ao tempo do aparecimento de Maomet.
2) Também o mesmo vocábulo grego “abussos” é empregado para designar a confusão de França nos dias da revolução de 1789.3) Igualmente é empregado o termo para indicar a futura ascensão do papado romano do caos internacional.4) Assim o termo “abismo” é usado para designar um lugar de confusão em que se tornou determinado ambiente físico-geológico ou físico-humano.
Além disso o têrmo “abussos” é o equivalente hebraico usado no Gênesis para descrever o estado da terra ao ser ela chamada à existência, em que se diz que ela “ era sem forma e vazia; e havia trevas sôbre a face do abismo”.
5) Note-se que a terra era considerada um “abismo” porque “era sem forma e vazia”, ou um deserto ainda não ornamentado e não povoado, e porque as trevas a envolviam totalmente. Tal será verdadeiramente a condição em que será transformada a terra por mil anos como prisão de Satanás.
Sua vegetal ornamentação desaparecerá sob o sol abrasador da quarta praga; o grande terremoto fará desabar as cadeias de montanhas e tôdas as obras dos inimigos de Deus. Ela tornar- se-á realmente como no princípio de sua criação — vazia e escura. Sim, a terra converter-se-á num terrível “abismo”.
E é no momento em que ela assim for transformada pelas sete pragas, pela morte dos ímpios e pelo arrebatamento dos santos ao céu, que se cumprirá a profecia do aprisionamento de Satanás e de seu lançamento no “abismo” por mil anos que será um período literal de dez séculos.
A profecia reza que Satanás será amarrado por um milênio “para que mais não engane as nações”. Na verdade não haverá nações, durante o milênio, na terra, para que êle possa enganá-las. Mas isto é mais uma clara prova de que seu aprisionamento é resultante da morte total das nações ou povos ímpios que serviram de seus instrumentos na terra. Assim estará Satanás prêso em um lúgubre cárcere, sem poder atravessar os espaços para chegar a tentar outros mundos.
A chave para fechá-lo na sua prisão e o sêlo para torná-la inviolável é prova simbólica sobeja de que não haverá possibilidade de afastar-se da terra durante o milênio. Êle coisa alguma terá a fazer. Porém terá muitos assuntos em que pensar, e o milênio será suficiente e boa ocasião para isso. E em que assuntos irá pensar Satanás? Certamente em seu primitivo estado de santidade; em sua rebelião injusta contra a autoridade de Deus; nos santos anjos inocentes que converteu em demônios; na ruína que envolveu o mundo em todos os séculos; no crime de deicídio que causou ao Filho de Deus.
Mas, o que mais o atormentará é a certeza que lhe dão as profecias de seu extermínio com todos os seus agentes findo o período milenar de seu encarceramento. Seus anjos com êle, desesperados pelas mesmas circunstâncias em que foram envolvidos na miseranda prisão, certamente o acusarão veementemente. Vêm que a primeira misérrima recompensa que auferem por terem apoiado sua rebelião contra o governo de Deus, além de perderem a glória original e serem convertidos em demônios criminosos, é aquela infame prisão milenária.
E sabem também os referidos anjos que, findos aquêles dez séculos de cárcere, serão lançados com seu chefe rebelde num lago de fogo que os reduzirá a cinzas. Sim, êles acusarão com veemência o grande traidor da justiça e lançar-lhe-ão em rosto suas promessas mentirosas, suas injustiças para com êles e seus crimes. Mas, não terão outro remédio, já que seguramente perdidos, senão apoiarem o arqui-assassino até ao fim e arrostarem com êle o tremendo e fatal desfêcho da rebelião em que tomaram parte. E assim estará tudo terminado para êles.
SATANÁS — O BODE EMISSÁRIO
O cerimonial do santuário em Israel era todo uma figura do cerimonial do santuário celestial. No dia da expiação o sumo- sacerdote tomava dois bodes sôbre os quais lançava sortes. “Uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário”.1) O bode cuja sorte caía para o Senhor, era morto e seu sangue era levado pelo sumo-sacerdote ao lugar santíssimo para fazer expiação pelos pecados do povo de Deus confessados durante o ano.
Findo este ato, todos os pecados do povo que mediante a expiação eram removidos pelo sumo- sacerdote, do santuário, eram então colocados “sobre a cabeça do bode” vivo, “emissário”, o qual era levado “à terra solitária” ou deserta, “pela mão dum homem designado para isso”. Este bode, acusado de instigador simbólico dos pecados do povo de Deus os levava todos, em si mesmo, ao deserto, onde afinal por cuja culpa como instigador, morria.
Sendo o santuário de Israel um emblema do santuário do céu, os seus sacerdotes eram uma figura de Cristo como Sumo-sacerdote do santuário celestial. Dêste modo, não carecemos de muitos argumentos para demonstrar que Satanás é o bode “emissário” antitípico da profecia.
“A palavra hebraica empregada para designar o bode emissário, encontra-se em Levítico capítulo dezesseis versículo oito, e é ‘AZAZEL’. Acêrca desta passagem, Guilherme Jenks observa: ‘Bode emissário. Vejam-se as diferentes opiniões na obra de Bochart. Soencer, seguindo as mais antigas opiniões hebraicas e cristãs, pensa que Azazel é o nome do diabo; e assim pensa Rosenm, a quem se pode consultar. O siríaco tem AZZAIL, o ‘anjo (o forte) que se rebelou’.
Isto designa evidentemente o Diabo. De modo que temos a definição do têrmo bíblico em dois idiomas antigos para apoiar a opinião mais antiga dos cristãos, de que o bode emissário é uma figura de Satanás. Carlos Beecher diz: ‘O que contribui para confirmar isto é que em sua paráfrase as traduções mais antigas tratam a palavra AZAZEL como nome próprio.
A paráfrase Caldéia e as coleções de Onkelos e Jonathan a haveriam traduzido certamente se não fôsse nome próprio, mas não a traduzem. A septuaginta, ou seja a mais antiga versão grega, rende êsse têrmo por apopompaios, palavra aplicada pelos gregos a uma divindade maligna, às vêzes, apaziguada por sacrifícios. Outra confirmação acha-se no livro de Enoc, onde o nome AZALZEL, evidentemente uma corrupção de AZAZEL, é dado a um dos anjos caídos, o qual demonstra claramente como compreendiam geralmente os judeus essa palavra naquele tempo. Outra prova acha-se no arábico, onde Azazel se emprega como nome de espírito mau’.
“Esta é a interpretação judia: ‘Longe de significar que se reconhecia a Azazel como uma divindade, o envio do bode era, segundo o declara Nahmanides, uma expressão simbólica da idéia de que os pecados do povo e suas más consequências deviam devolver-se ao espírito de desolação e ruína, fonte de tôda a impureza”.1)
Segundo tôdas estas opiniões citadas, “Azazel” — o bode emissário simbólico do dia da expiação do santuário terrestre, — tem estreita conexão com os eventos ligados à purificação do santuário celestial. Ao ascender da terra ao céu, Jesus iniciou Seu ministério no lugar santo do santuário. Em 1844 Êle trasladou-Se para o lugar santíssimo, para efetuar a purificação do santuário ou remover dali os pecados de Seu povo que, mediante os méritos de Seu sangue derramado na cruz, deram entrada no santuário.
Terminando a purificação, Jesus trará do santuário os pecados de Seu povo, confessados através dos méritos de Seu sangue, e os porá sôbre a cabeça do “bode emissário” ou Azazel, isto é, sôbre a cabeça de Satanás como instigador e autor do pecado. Então Satanás será conduzido, pelo anjo da profecia, à “terra solitária”, transformada pelas sete pragas num abismo caótico e escuro, onde permanecerá mil anos, amarrado pelas circunstâncias que já consideramos.
Ao serem postos os pecados do povo de Deus sôbre a cabeça de Satanás para levá-los consigo à “terra solitária” por mil anos, não quer êste ato dizer que êle levará sôbre si a responsabilidade dos pecados do povo de Deus para expiá-los. Está bem assentado, no evangelho de Deus, que a responsabilidade do pecador perante Deus, foi assumida unicamente por Cristo e por um ato de amor Seu, ao passo que Satanás será obrigado a assumir a responsabilidade como autor, instigador e culpado do pecado do homem.
Isto é evidentemente esclarecido pelo ato do lançamento de sortes sôbre os dois bodes trazidos, anualmente, no dia da purificação do santuário israelita perante Deus. Vemos como Deus demonstrara assistir- lhe a faculdade de dispor de ambos como bem Lhe parecia. Um deles, aquele cuja sorte caía para o Senhor, dispôs Deus para com seu sangue purificar o santuário ou remover dele o pecado do Seu povo, perdoando-o desse modo.
O outro bode, porém, dispôs Deus para levar o pecado como simbólico culpado de instigação do mesmo e por isso morrer no deserto. Um bode expiava o pecado tornando livre o pecador. O outro levava a culpa do pecado pela qual deveria morrer afinal no deserto. Um era emblema do Salvador perdoador. o outro do instigador culpado. Assim é com Cristo e Satanás.
Concluída a purificação do santuário, levará Jesus a honra de expiador do pecado do povo de Deus, enquanto Satanás arcará com a desonra de recair sobre ele a culpabilidade de criminoso instigador do pecado e de ser obrigado a conduzir seu monstruoso fardo ao abismo da terra desolada e por ele infamada.
Ainda que aos crentes seja, na purificação do santuário, perdoada em Cristo a pena do pecado, esta não será perdoada a Satanás que os fêz cair em vis transgressões e ruína antes de serem crentes. Êle terá, a contra gôsto, de entornar até à última gôta a taça do juízo que lhe está reservada como homicida culpado. E êste juízo, que em parte sucederá pelo castigo de permanecer inativo na terra assolada e escura por mil anos, será completado não muito depois de findo o seu encarceramento milenário, ao ser êle “sôlto por um pouco de tempo”, como veremos em textos subsequentes desta profecia.
O REINADO MILENÁRIO DE CRISTO
VERSO 4 — “E vi tronos: e assentaram-se sobre êles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a bêsta, nem a sua imagem, e não receberam os sinal em suas testas nem em suas mãos e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos”.
OS SANTOS REINAM COM CRISTO
Em contraste com a desastrosa situação de Satanás e seus anjos na terra desolada, S. João vê o início do reinado de Cristo com Seus santos no céu. Embora contemplasse todos os santos na glória, chamaram-lhe a atenção especialmente aqueles que muito sofreram por sua fé na era cristã.
João faz menção, primeiramente, dos mártires das perseguições do papado na Idade Média, “que foram degolados pelo Testemunho de Jesus, e pela Palavra de Deus”. Em segundo lugar, o profeta vê os santos vitoriosos no derradeiro conflito — contra a bêsta, sua imagem e seu sinal. O primeiro prêmio do esfôrço por triunfarem sobre as fôrças do mal será reinarem “com Cristo durante mil anos” na Nova Jerusalém.
OS SANTOS COMO JUÍZES
Aos santos se-lhes-á permitido assentarem-se em tronos como juízes e receberem poder para julgar. Como vimos no capítulo quatorze versículo sete, o juízo ali anunciado é o julgamento de todos os santos iniciado em 1844 que deverá estender-se até à segunda vinda de Cristo.
O juízo, porém, em que os santos tomarão parte conjuntamente com Cristo durante seu reinado milenário, no céu, é o juízo dos ímpios e dos anjos caídos. São Paulo disto falou muito claro quando disse: “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?” “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?”1) Êste juízo será somente para regular a pena que devem receber os ímpios e os maus anjos, segundo suas obras.
A razão por que os santos tomarão parte no juízo dos ímpios e dos anjos, é que estarão presentes quando Deus sobre êles exercer o Seu juízo executivo. No julgamento comprovarão êles as maldades dos ímpios e dos anjos bem como as oportunidades de se emendarem que Deus lhes dera e que rejeitaram. Então os santos aclamarão a Deus como justo quando lhes aplicar o castigo de que são merecedores.
O MILÊNIO ENTRE DUAS RESSURREIÇÕES
VERSOS 5-6 — “Mas os outros mortos não reviverem, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição: sobre êstes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele mil anos”.
A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO
Referindo-se ao milênio a profecia é evidente em salientar que êle estará entre a primeira e a segunda ressurreição. A primeira ressurreição que é uma bem-aventurança, a dos santos ou justos, dar-se-á ao aparecer Jesus em Seu segundo advento.1) “Por entre as vacilações da terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem.
Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada: ‘Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgí!’ Por todo o comprimento e largura da terra, os mortos ouvirão aquela voz, e os que a ouvirem viverão. E a terra inteira ressoará com o andar do exército extraordináriamente grande de tôda nação, tribo, língua e povo. Do cárcere da morte vêm êles, revestidos de glória imortal, clamando: ‘Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?2) E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e jubilosa aclamação de vitória.
"Todos saem do túmulo com a mesma estatura que tinham quando ali entraram. Adão, que está em pé entre a multidão dos ressuscitados, é de grande altura e formas majestosas, de estatura pouco menor que o Filho de Deus. Apresenta assinalado contraste com o povo das gerações posteriores; sob êste único ponto de vista se revela a grande degeneração da raça. Todos, porém, surgem com a louçania e vigor de eterna mocidade”.3)
A ressurreição de Cristo é a garantia irrecusável da ressurreição dos Seus santos. Disto são evidentes as palavras de S. Paulo na carta aos coríntios”.4)
Aqueles que tomarão parte na primeira ressurreição serão bem- aventurados por três distintas razões: A “segunda morte” não terá poder sôbre êles, “serão sacerdotes de Deus e de Cristo” “e reinarão com Êle mil anos”. Sôbre a segunda morte e os santos como sacerdotes, vejam-se respectivamente os versículos onze do capítulo dois e dez do capítulo cinco.
A SEGUNDA RESSURREIÇÃO
A segunda ressurreição, a dos ímpios, â conclusão do milênio, não será acompanhada de uma bem-aventurança. Será uma ressurreição para a morte.5) Em multidões incontáveis surgirão do pó da terra. No fim do milênio Cristo, “descendo com grande majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber a condenação.
Surgem êstes como um grande exército, inumerável como a areia do mar. Que contraste com aquêles que ressurgiram na primeira ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal juventude e beleza. Os ímpios trazem os traços da doença e da morte.
“Todos os olhares daquela vasta multidão se voltam para contemplar a glória do Filho de Deus. A uma voz, as hostes dos ímpios exclamam: ‘Bendito O que vem em nome do Senhor!’ Não é o amor para com Jesus que inspira esta declaração. E’ a força da verdade que faz brotar involuntariamente essas palavras de seus lábios.
Os ímpios saem da sepultura tais quais a ela baixaram, com a mesma inimizade contra Cristo, e com o mesmo espírito de rebelião. Não terão um novo tempo de graça no qual remediar os defeitos da vida passada. Para nada aproveita isso. Uma vida inteira de pecado não lhes abrandou o coração. Um segundo tempo de graça, se lhes fôsse concedido, seria ocupado, como foi o primeiro, em se esquivarem aos preceitos de Deus e contra Êle incitarem rebelião”.1)
SATANÁS É SÔLTO DA PRISÃO
VERSOS 7-8 — “E, acabando-se os mil anos, Satanás será sôlto da sua prisão. E sairá a enganar as nações que estão sôbre os quatro cantos da terra, Gog e Magog, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha”.
A DESCIDA DA CIDADE DE DEUS
Ao findar o milênio “então Jesus descerá com os santos sôbre o Monte das Oliveiras, e o monte dividir-se-á em duas parte e tornar-se-á uma grande planície para repousar o Paraíso de Deus”.2) “Descendo do céu a Nova Jerusalém em seu deslumbrante resplendor, repousa sôbre o lugar purificado e preparado para recebê-la, e Cristo, com Seu povo e os anjos entram na cidade”.3)
SATANÁS SÔLTO DE SUA PRISÃO
Para que Satanás possa ser sôlto no fim do milênio, é evidente que seus súditos ímpios, que pela morte serão posto fora da possibilidade de suas tentações, lhe sejam novamente devolvidos ou tornem outra vez à vida. A ressurreição de que trata o versículo cinco, na conclusão do milênio, é a chave que abrirá a Satanás a sua prisão e capacitá-lo-á novamente a atos mais audazes e atrevidos através dos ímpios ressuscitados e vivos mais uma vez.
"E SAIRÁ A ENGANAR AS NAÇÕES QUE ESTÃO SÔBRE OS QUATRO CANTOS DA TERRA — GOG E MAGOG"
Uma outra versão do Novo Testamento assim reza: “Sairá pelos quatro cantos da terra e seduzirá os povos, a Gog e a Magog, reunindo-os para a luta”.4) Gog e Magog, como vimos na dissertação da sexta praga, capítulo dezesseis, representam povos da Ásia, pelo que Satanás excluirá os ocidentais para a batalha predita no fim do milênio contra a cidade de Deus.
E há uma razão muitíssimo lógica para isso; pois Satanás preferirá, para o cêrco da grande cidade, êstes povos que então terão sido os verdadeiros inimigos de Deus e que, neste caso, em face da história e suas preferências, são Gog e Magog. Isto, porém, não exclue a presença de personagens que foram de grande relevo na história das grandes conquistas mundiais, embora não façam parte de Gog e Magog. Estes, que pretendem o domínio do mundo, deverão apreciar a entronização de Cristo no trono que ambicionaram.
Os exércitos belicosos de Gog e Magog, hoje, constam de numerosos milhões de aguerridos soldados, sem contar ainda inúmeros outros milhões que ressuscitarão no fim do milênio e que já tombaram em conflitos passados. Serão, porém, todos, enganados pelo astuto inimigo.
A facilidade que terá Satanás de preparar-se para a batalha contra a cidade de Deus, pode ser apreciada no fato dos inúmeros sábios belicosos “de Gog e Magog” que ressuscitarão no fim do milênio. Inventores outrora de tôda a classe de apetrechos bélicos, não terão necessidade de cogitarem como inventar meios de destruição.
Ao ressurgirem do pó da terra, todos êstes inventos bélicos virão com êles em seus cérebros, pelo que apenas terão de dar ordens como fabricá-los. E isto levará Satanás a cimentar a sua esperança de vitória em seu ataque à Nova Jerusalém. Mas êle estará tão somente enganando as nações ressuscitadas que, com êle, caminharão para o fatal desfêcho que os espera como prêmio da sua rebelião contra Deus.
A BARRA DO TRIBUNAL EXECUTIVO
VERSO 9 — “E subiram sôbre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; mas desceu fogo do céu e os devorou”.
O CERCO DA NOVA JERUSALÉM
“Finalmente é dada a ordem de avançar, e o inumerável exército se põe em movimento — exército tal como nunca foi constituído por conquistadores terrestres, tal como jamais poderiam igualar as fôrças combinadas de todas as eras, desde que a guerra existe sôbre a terra. Satanás, o mais forte dos guerreiros, toma a dianteira, e seus anjos unem as fôrças para esta luta final. Reis e guerreiros estão em seu séquito, e as multidões seguem em vastas companhias, cada qual sob as ordens de seu designado chefe.
Com precisão militar as fileiras cerradas avançam pela superfície da terra, quebrada e desigual, em direção à cidade de Deus. Por ordem de Jesus são fechadas as portas da Nova Jerusalém, e os exércitos de Satanás rodeiam a cidade, preparando-se para o assalto”.1)
O tamanho da Cidade Santa — doze mil estádios de perímetro — cerca de 2200 quilômetros, dá-nos uma idéia das imensas tropas de exércitos que a cercarão sob a liderança de Satanás.
Segundo esta mesma revelação, será, evidentemente, vã a tentativa de Satanás e suas hostes em guerrearem a cidade de Deus. Mais uma vez e pela última, ver-se-ão os guerreiros do mundo iludidos por Satanás e desta vez fatal e destruidoramente. Êste desfecho do drama bélico do mundo, será uma categórica demonstração da aversão que causa a Deus, santo e justiceiro, os recursos à guerra. Mesmo antes de perecerem com o rebelde inimigo, terão os ímpios a oportunidade de conceberem a derrota definitiva e o êrro fatal de mais uma e pela última vez apoiarem o autor da guerra e das destruições.
SATANÁS E OS ÍMPIOS À BARRA DO TRIBUNAL
“Agora Cristo de novo aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da cidade, sôbre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sôbre êste trono assentado, está o Filho de Deus, e em redor dÊle estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar.
A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a terra inteira com seu fulgor. Mais próximo do trono estão os que já foram zelosos na causa de Satanás mas que, arrancados como tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa.
Em seguida estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé. E além está a ‘multidão, a qual ninguém podia contar, de tôdas as nações, e tribos, e povos, e línguas,... trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos”.
“Na presença dos habitantes da terra e do céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus. E agora, investido de majestade e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sôbre os rebeldes contra Seu govêrno, e executa justiça sôbre aqueles que transgrediram Sua lei e oprimiram Seu povo.
Diz o profeta de Deus: ‘Vi um grande trono branco, e O que estava assentado sôbre êle, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para êles. E vi os mortos grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida: e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”.1)
“Logo que se abrem os livros de registo e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, êles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Vêem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que acoroçoaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, os mensageiros de Deus desprezados, as advertências rejeitadas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente — tudo aparece como que escrito com letras de fogo.
“Por sôbre o trono se revela a cruz; e semelhante a uma vista panorâmica aparecem as cenas da tentação e queda de Adão, e os passos sucessivos no grande plano para redimir os homens.
O humilde nascimento do Salvador; sua infância de simplicidade e obediência; Seu batismo no Jordão; o jejum e tentação no deserto; Seu ministério público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do céu; os dias repletos de atos de amor e misericórdia, Suas noites de oração e vigília na solidão das montanhas; os tramas de inveja, ódio e maldade, com que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no Getsemane, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro; Sua traição nas mãos da turba assassina; os tremendos acontecimentos daquela noite de horror — o prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais amados, rudemente empurrado pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo-sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes, escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte — tudo é vividamente esboçado.
“E agora, perante a multidão agitada, revelam-se as cenas finais
— o paciente Sofredor trilhando o caminho do Calvário, o Príncipe do céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas sobrenaturais; a terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida.
“O terrível espetáculo aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para se desviarem do quadro que é a sua própria obra. Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sôbre cuja alma criminosa repousa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: ‘O Seu sangue caia sôbre nós e sôbre nossos filhos!’ — todos contemplam a enormidade de seu crime.
Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: ‘Êle morreu por mim!’
“Entre a multidão resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heróico Paulo, o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e com êstes o vasto exército dos mártires, ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos.
Ali está Nero, aquêle monstro de crueldade e vício, contemplando a alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições extremas encontrara deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter transmitidos a seu filho, as paixões acoroçoadas e desenvolvidas por sua influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo estremecer.
“Ali estão sacerdotes e prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto, empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e pretenderam mudar a lei do Altíssimo.
Aqueles pretensos pais da igreja têm uma conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interêsse com o de Seu povo sofredor; e sentem a fôrça de Suas palavras: ‘Quando o fizestes a um dêstes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizeste.’1)
“O mundo ímpio todo acha-se em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o govêrno do céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra êles”. “Como que extasiados, os ímpios contemplaram a coroação do Filho de Deus.
Vêem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e adoração por parte dos salvos, e, ao propagar- se a onde de melodia sôbre as multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam: ‘Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos’2); e, prostrando-se, adoram o Príncipe da vida.
“Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquêle que fôra um querubim cobridor lembra- se donde caiu. Êle, um serafim resplandecente, ‘filho da alva’ — quão mudado, quão degradado! Do conselho onde tantas honras recebera, está para sempre, excluído. Vê que agora um outro se encontra perto do Pai, velando Sua glória. Viu ser colocada a coroa sobre a cabeça de Cristo por um anjo de elevada estatura e presença majestosa, e sabe que a exaltada posição deste anjo poderia ter sido sua”.
“Mas agora chegado é o tempo em que a rebelião deve ser finalmente derrocada, e descobertos a história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arqui-enganador foi completamente desmascarado. Os que a êle se uniram, vêem o fracasso completo de sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total de suas maquinações contra o govêrno de Deus. E’ êle objeto de aversão universal”.
“Todas as questões sôbre a verdade e o êrro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os sêres criados. Os resultados do govêrno de Satanás em contraste com o de Deus, foram apresentados a todo universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que tôda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou”.
“Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança do Seu Rei. Contempla nêles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e ímpios, declara: ‘Eis a aquisição de Meu sangue!
Por estes sofri, por estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras eternas’: E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor do trono: ‘Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e fôrça, e honra, e glória, e ações de graças’.1)
“Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para a última e desesperada luta contra o Rei do céu.
Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra Satanás, e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios voltam-se contra êles”.2)
O DESFECHO DA GRANDE CRISE
VERSO 10 — “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre; onde está a bêsta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”.
O LAGO DE FOGO
Um lago de fogo como referido no versículo dez, nunca existiu até agora em nenhuma parte do universo de Deus. Apenas o Apocalipse o refere e isto somente cinco vêzes. Segundo as profecias apocalípticas, o lago de fogo está ligado ao juízo executivo dos ímpios no fim do milênio e só será uma realidade quando, naquele tempo, descer “fogo do céu” para exterminar os inimigos de Deus.
“De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um forno. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a terra e as obras que nela há são queimadas.1) A superfície da terra parece uma massa fundida — um vasto e fervente lago de fogo. E’ o tempo do juízo e perdição dos homens maus — ‘dia da vingança do Senhor, ano de retribuição pela luta de Sião’.
“Alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo as suas ações. Tendo sido os pecados dos justos transferidos para Satanás, tem êle de sofrer não somente pela sua própria rebelião, mas por todos os pecados que fêz o povo de Deus cometer. Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou.
Depois que perecerem os que pelos seus enganos caíram, deve êle ainda viver e sofrer. Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos — Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A penalidade completa da lei foi aplicada; satisfeitas as exigências da justiça; e o céu e a terra, contemplando-o, declaram a justiça de Jeová”.
“Enquanto a terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na santa cidade. Sôbre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto sol como escudo”.2)
"SERÃO ATORMENTADOS PARA TODO O SEMPRE"
Esta frase do versículo dez tem sido tomada como afirmativa da doutrina corrente da imortalidade consciente da alma. Mas não há nela tal fundamento; pois todo o contexto evidencia que o castigo não será aplicado a indivíduos incorpóreos mas aos ímpios que ressuscitarão corporeamente no fim do milênio.
Provas evidentes de que os ímpios receberão o castigo final corpòreamente, temo-las sobejamente em objetos materiais usados para simbolizar a destruição que sofrerão. Note-se: “Como a cera se derrete diante do fogo, assim pereçam os ímpios diantes de Deus”.1) “Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros”.
2) “Pelo que, como a língua de fogo consome a estopa, e a palha se desfaz pela chama, assim será a sua raiz, como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó”.3) “Eis que serão como a pragana, o fogo os queimará”.4) “E como os povos serão como os incêndios de cal: como espinhos cortados arderão no fogo”.5) Deste modo vemos que os ímpios receberão o castigo em corpo e não em alma. Provas ainda mais esclarecidas de que receberão a punição corpòreamente, aqui as temos:
“E sairão, e verão os corpos mortos dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu bicho nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para tôda a carne”.6) “Portanto, se o teu olho direito te escandalizar arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.
E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira- a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno”.7) Notemos que tanto Isaías como Jesus referem que os ímpios receberão a condenação corpórea, no fogo.
E como maior fundamento deste fato, usou Jesus a figura da Gehenna, termo que equivale ao hebraico Hinnom, que é o nome de um vale próximo de Jerusalém, lugar usado para depósito do lixo da cidade e de cadáveres de animais e de malfeitores, que eram consumidos pelo fogo, o qual se conservava ardendo constantemente.
Ali havia sempre bicho atuando nos cadáveres. E Cristo referiu-Se àquele lugar de queima constante para ensinar aos Seus ouvintes o destino que aguarda os ímpios. Na figura está bem patente que o futuro fogo da destruição dos ímpios atuará não sôbre suas almas ou espíritos fitícios desencorporados, mas sôbre seus corpos reais. Inúmeras outras evidências bíblicas ainda existem. Os ímpios serão “como pasto do fogo”.8) “O Senhor os devorará na sua indignação, e o fogo os consumirá”.9) Consumir não é queimar indefinidamente.
Agora, diante do já exposto, o têrmo “para sempre”, da frase
— atormentados para todo o sempre, — não implica que os ímpios hão de queimar eternamente. Os termos “eterno” e “sempre”, quando encontrados no Novo Testamento, vêm do substantivo grego “aion” ou do adjetivo “aionios”. No Velho Testamento o equivalente é “olam”. “Aion”, “aionios” e “olam”, ocorrem centenas de vêzes nos dois Testamentos, e não significam necessariamente que nunca terão fim. Lemos, por exemplo, em São Mateus 13:39 e em outras partes, de “fim do mundo (aion)”. Como poderia existir um “fim” para alguma coisa que não tem “fim”? Nisto vemos que um “aion” pode ter “fim”.
De Cristo lemos: Tu és Sacerdote etemamente (aion).1) Todavia sabemos pelas Escrituras Sagradas que Êle será Sacerdote sòmente enquanto durar a graça salvadora. Assim temos um “aion” de tempo limitado. S. Paulo rogara a Filemon que retivesse a seu servo Onésimo “para sempre” (aionios); entretanto nem Filemon nem Onésimo viveriam “para sempre” para que isto pudesse suceder ininterruptamente. Vemos assim mais um “aion” ou “aionios” de tempo bem reduzido.
Lemos que Sodoma e Gomorra sofreram a pena de fogo eterno (aionios).2) E S. Pedro diz que estas cidades foram reduzidas a cinza.3) Portanto, se o fogo eterno (aionios) reduziu tais cidades a cinza com seus habitantes, podemos concluir que o “fogo” do fim do milênio também fará isto mesmo contra os ímpios e os maus anjos. Outros fatos demonstram isto mesmo:
A Páscoa devia ser observada “para sempre (olam).4) Não obstante, ela terminou com a cruz. Aarão e seus filhos deviam oferecer incenso “eternamente” (olam),5) e exercer um sacerdócio “perpétuo (olam).6) Porém êsse sacerdócio com suas ofertas de incenso terminou com a cruz.7) Um servo que desejasse permanecer com seu senhor, deveria servi-lo “para sempre (olam)”.
8) Como poderia o servo servir a seu senhor por tempos intermináveis? Haverá servos e senhores no mundo futuro? Jonas, ao descrever as peripécias pelas quais havia passado, relata-as nestas palavras: “Os ferolhos da terra correram-se sôbre mim para sempre (olam)”.9) Êsse “para sempre”, entretanto, durou apenas “três dias e três noites”.10) E’ realmente um “para sempre” muito curto.
Em consequência de haver cometido fraude, Geazi ouviu de Eliseu a seguinte sentença: “Portanto a lepra de Naaman se pegará a ti (Geazi) e à tua semente para sempre (olam)”.11) Deveríamos então concluir que a família de Geazi nunca encontraria o seu fim e que assim a lepra se perpetuaria por tôda a eternidade? Vemos, pois, que em muitos casos aion, aionios e olam têm um valor de tempo deveras muito limitado em muitos casos.
E o mesmo pode ser dito ainda do fogo outrora ateado sôbre Jerusalém, do qual é referido que consumiria os seus palácios e não se apagaria.12) Mas não consta que Jerusalém esteja ardendo conjuntamente com seus palácios.
Numerosas outras referências poderiam ser citadas como prova de que os ímpios sofrerão o castigo corpòreamente, e que o fogo neles arderá sòmente enquanto puder ser alimentado pelo combustível de seus próprios corpos. Com êles, mesmo o Diabo tornar- se-á em cinza.13) Outro fato que depõe contra o tormento literalmente eterno relativo ao fogo do fim do milênio, é que os ímpios serão castigados na terra, onde será a eterna morada dos santos.
Seria forçar a verdade em concluir que a mesma terra da morada dos justos seria o lugar de tormento eterno dos maus. Todavia, o fogo que cairá no fim do milênio sôbre os ímpios pecadores, reduzi-los-á a cinza, tal como no castigo de Sodoma, Gomorra e outra cidades que já receberam o impacto direto de fogo e enxofre do céu.1)
Entretanto a ênfase da profecia concernente à tremenda futura destruição no término do milênio, é que no lago de fogo e enxofre serão lançados o Diabo, a bêsta-papal e o falso profeta ou o protestantismo estadunidense. “Estes dois foram lançados vivos no ardente lago de fogo e enxofre”.2)
O TRIBUNAL DO JUÍZO MILENÁRIO
VERSOS 11-12 — “E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sôbre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para êles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida: e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”.
O TRONO DO JUÍZO EXECUTIVO
Sobre êste trono e juízo já nos referimos no versículo nove — SATANÁS E OS ÍMPIOS À BARRA DO TRIBUNAL. As circunstâncias da inundante glória da majestade de Deus naquele dia, fará como se o céu e a terra não estejam à sua presença ou como se tenham fugido. A terra não poderá fugir literalmente de Sua presença pôsto que é dito que os mortos ressurretos estarão na terra diante do trono de Deus, fora da cidade.
"E ABRIRAM-SE OS LIVROS"
Isto demonstra que Deus tem um registo perfeito da vida de cada indivíduo, e que um dia cada um responderá por seus atos. Os ímpios ver- se-ão afinal diante dum tribunal onde seus atos estarão patentes embora os hajam esquecido. No juízo executivo cada um receberá segundo suas obras exaradas nos livros, uns mais outros menos conforme os registos indicarem.
O LIVRO DA VIDA
Talvez seja um pouco estranho aparecer o livro da vida no juízo executivo dos ímpios. Sabemos que “o livro da vida contém os nomes de todos os que já entraram para o serviço de Deus. Jesus ordenou a Seus discípulos: ‘Alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos no céu’.3) S. Paulo fala de seus fiéis cooperadores, ‘cujos nomes estão no livro da vida’.
4) Daniel, olhando através dos séculos para um ‘tempo de angústia, qual nunca houve’ declara que se livrará o povo de Deus, ‘todo aquêle que se achar escrito no livro’.1) E S. João, no Apocalipse, diz que apenas entrarão na cidade de Deus aqueles cujos nomes ‘estão escritos no livro da vida do Cordeiro”’.2)
A razão por que o livro da vida será aberto no juízo executivo dos ímpios, é para que todo o universo saiba que nenhum dêles terá seu nome inscrito nêle; e também para que fique claro que alguns tiveram seus nomes inscritos no livro da vida, mas, pela manifesta deslealdade posterior, foram riscados — “aquêle que pecar contra Mim, a êste riscarei Eu do Meu livro”.3) Somente os vencedores terão seus nomes conservados no livro da vida.4)
MORTOS DE TERRA E MAR
VERSOS — 13-15 — “E deu o mar os mortos que nêle havia; e a morte e o inferno deram os mortos que nêles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo: esta é a segunda morte. E aquêle que não foi achado inscrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”.
Da terra e do mar ressurgirão os ímpios para o juízo executivo no fim do milênio. O “inferno” referido do Hades grego, é a sepultura ou o lugar dos mortos. Terra e mar darão seus milhões de milhões para as candentes chamas da “segunda morte” no lago de fogo. O salário do pecado é a morte e jamais o tormento eterno.5)
E afinal a grande controvérsia termina com estas palavras: “E aquêle que não foi achado inscrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”. Tôda a terra estará por fim livre da maldição do pecado, e os justos que prezaram a grande salvação serão felizes pela eternidade no mundo feito novo.