Amós 9:2 e Isaías 14:15. Estes textos não estariam apoiando a doutrina do inferno?
A palavra “inferno” tem origem no latim e não está nos originais bíblicos, que foram escritos em hebraico, aramaico e grego. No original aparecem palavras como: “sheol” (palavra hebraica), “geenna”, “tártaroo”, “hades” (palavras gregas).
Estas palavras possuem vários significados (com exceção de “geenna” e “tártaroo” que significam outras coisas), entre eles: morte, sepultura, mundo dos mortos, pó, morte, etc.
“Geenna” (traduzida erradamente por “inferno”) foi usada por Jesus em Mateus 5:22 para se referir ao lugar de punição futura (ver Atos 17:31). O termo “tártaroo” significa “lugar de trevas” e aparece em 2 Pedro 2:4 não em referência a um lugar físico, mas a uma condição espiritual dos anjos caídos.
O texto está dizendo que eles foram lançados no “tártaroo”, ou seja, em trevas espirituais por terem abandonado o seu estado original de pureza, ao lado de Deus.
Portanto, a palavra “inferno” é imprópria para descrever o mundo dos mortos e o lago de fogo que castigará os ímpios depois do milênio, de acordo com Apocalipse 20. O fato de o castigo dos ímpios estar reservado para o futuro (Atos 17:31; 2Ped. 2:4) indica claramente que o lago de fogo não existe hoje.
Ninguém está sendo castigado agora. Mesmo porque a morte é um estado de inconsciência até o dia da ressurreição (ver Eclesiastes 9:5, 6, 10; Salmos 6:5; 13:3; 1 Tessalonicenses 4:13-18, etc.)
Vamos aos textos bíblicos:
Lendo o contexto de Amós 9 (verso 1 ao 10) percebemos que o verso 2 não está falando de um inferno de fogo, mas sim de uma visão em que Deus diz que irá castigar o povo rebelde. Dos versos 2 ao 4 o Juiz Divino diz que será inútil o povo tentar fugir do castigo.
No verso 2 Deus diz que mesmo que eles cavem até o profundo abismo para se esconder, os encontrará. O texto não pode se referir ao um inferno de fogo, pois seria incoerente alguém cavar até “chegar ao inferno” para “fugir” da presença do Senhor.
Os tradutores das versões “Almeida, Revista e Corrigida” e “Almeida, Corrigida, Fiel” erraram feio ao acrescentar a palavra “inferno”.
Na versão “Almeida, Revista e Atualizada”, os tradutores solucionaram o problema: a palavra latim “inferno” (que não existe nos originais) foi trocada por “profundo abismo”: “Ainda que desçam ao mais profundo abismo, a minha mão os tirará de lá; se subirem ao céu, de lá os farei descer”.
O mesmo ocorreu com Isaías 14:15. Lúcifer (é sobre a queda deste anjo que o texto está tratando) não poderia estar sendo lançado num lago de fogo naquele momento porque a Bíblia é clara em afirmar que o castigo dele está reservado para o futuro (2 Pedro 2:4; ver também Mateus 8:29 e Romanos 16:20).
Prova disso está no fato de ele poder pessoalmente vir tentar Jesus no deserto (Mateus 4). Se esse anjo mau já estivesse ardendo nas chamas, não poderia sair de lá para conversar com Jesus em nosso planeta, como se nada tivesse acontecendo (não sentindo dor alguma).
Podemos concluir que mesmo o trabalho dos tradutores sendo muito importante e feito com maestria, competência, dedicação, podem ocorrer erros. O que é natural, em se tratando de seres humanos.
Leandro Soares de Quadros
Consultor Bíblico – Conselheiro Espiritual