341 Quando foi criada a Igreja Católica Apostólica Romana?

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Quando foi criada a Igreja Católica Apostólica Romana? (J.P.S., Jaciara – MT, por carta) 


A Igreja Católica, tomando por base o texto de Mateus 16:13-20, diz que o seu primeiro papa foi o apóstolo Pedro. Mas, não é isso que verificamos ao observar a história do Cristianismo e a Bíblia Sagrada. 


Apesar de Pedro ser a figura principal entre os apóstolos nos primeiros 12 capítulos do relato de Lucas sobre a Igreja Primitiva, por ter feito a primeira proclamação oficial aos judeus em Jerusalém no dia de Pentecostes e por ser o primeiro a introduzir o evangelho entre os gentios com sua pregação na casa de Cornélio, não se pode ver nos relatos de suas atividades no Novo Testamento nada do conceito hierárquico e autoritário que apareceria na Igreja Católica Romana Medieval.


Deve-se ter em mente que, na narrativa de Mateus, Cristo usa duas palavras para rocha: 1º - “petra” que significa uma enorme massa de rocha, a qual além de ser grande, é fixa ou imóvel; 2º - “petros” que significa uma pequena pedra ou um pedregulho. 


Cristo chamou Pedro de petros ou pedra, mas Ele estava falando da rocha sobre a qual edificaria sua igreja como petra, uma rocha viva.  Assim podemos dizer que Cristo se dirigiu a Pedro desta forma: Tu és “petros” (pedregulho) e sobre esta “petra” (rocha, se referindo a Si mesmo), construirei a minha Igreja.


Devemos nos lembrar também que Pedro em sua primeira carta deixa cristalinamente claro que, não ele, mas Cristo era o fundamento da Igreja (I Pe. 2:6-8).


Tanto a Igreja Católica, quanto as igrejas Evangélicas, têm suas raízes na Igreja Cristã Primitiva, que ao longo do tempo foi se modificando e se dividindo, devido a perseguições e a fatores culturais, políticos e sociais. Vejamos um resumo histórico dos acontecimentos.


A origem da administração Eclesiástica da Igreja Cristã deve ser creditada a Cristo, ao escolher os doze apóstolos que seriam os líderes da Igreja que estava nascendo. Essa era a Igreja Cristã Apostólica. 


Os apóstolos tomaram a iniciativa no desenvolvimento de outros ofícios na igreja quando dirigidos pelo Espírito Santo. Isto não implica em uma hierarquia piramidal, como a desenvolvida pela Igreja Católica Romana, porque os novos oficiais (presbíteros, bispos, diáconos, anciãos) deviam ser escolhidos pelo povo, ordenados pelos apóstolos e precisavam ter qualificações espirituais próprias que envolviam a subordinação ao Espírito Santo.


No final do primeiro século do Cristianismo, já havia surgido um conjunto de oficiais para a congregação e a definição de suas qualificações e tarefas. 


Por volta do ano 170, a Igreja chamava-se Católica, no sentido de universal. Para os autores do século II da era cristã (Justino, Ireneu, Tertuliano, Cipriano), o termo “católica” assume duplo significado: o de universalidade geográfica, pois na opinião desses autores a igreja já havia atingido os confins do mundo; e o de igreja verdadeira, ortodoxa, autêntica, em contraposição às seitas que começavam a surgir.


No segundo e terceiro séculos, os cristãos tiveram que enfrentar, além das perseguições por parte do estado romano, uma série de doutrinas heréticas que começaram a surgir e que comprometiam a pureza da doutrina: o gnosticismo, o maniqueísmo, o neoplatonismo, o montanismo e outros. Essa apostasia inicial do cristianismo já havia sido predita pelo apóstolo Paulo, que escreveu: 


2Tim. 4:3-4: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.


Foi nesse período, entre 100 e 313 d.C. que a Igreja Cristã ou Católica, se viu forçada a pensar na melhor maneira pela qual poderia enfrentar a perseguição externa do estado romano e o problema interno do ensino herético e das conseqüentes divisões. 


A necessidade de uma liderança para enfrentar esses problemas acabou por ditar o aumento do poder dos bispos de cada igreja, sendo considerados superiores aos presbíteros que eram seus equivalentes na era apostólica. 


Esses foram chamados bispos monárquicos, que eram uma espécie de garantia da unidade na constituição da igreja. Foi mais um pequeno passo para o reconhecimento de que os bispos monárquicos de algumas igrejas eram superiores aos outros.


Entre 313 e 590, a Igreja Católica Antiga, em que cada bispo era um igual, tornou-se Igreja Católica Romana, onde o bispo de Roma tinha supremacia sobre os outros bispos. Acontecimentos históricos da época, como a transferência da sede do governo imperial para Constantinopla, em 330 d.C., contribuíram fortemente para dar primazia ao bispo de Roma, que tornou-se a figura mais importante na capital ocidental - Roma. 


O bispo de Roma, no trono dos Césares, se tornou o maior homem do Ocidente e logo foi forçado (quando os bárbaros invadiram o império) a tornar-se o chefe político e espiritual.


A união entre Igreja e Estado, que aconteceu quando o imperador romano Constatino se converteu a Cristianismo em 313 d.C., provocou a secularização da Igreja, que se tornou um departamento do Estado. 


A vinda dos pagãos para a Igreja através dos movimentos de conversão em massa contribuiu para a paganização do culto quando a Igreja procurou se adaptar à nova realidade, visando deixar à vontade estes bárbaros convertidos.


Para que os bárbaros, acostumados com os cultos às imagens, pudessem ser realmente assistidos pela Igreja, muitos líderes eclesiásticos entenderam ser necessário materializar a liturgia para tornar Deus mais acessível a estes fiéis. A veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi uma conseqüência lógica deste procedimento. 


O domingo, que era o “Dia do Sol” tornou-se o dia principal do calendário eclesiástico depois que Constantino estabeleceu que este seria um dia de culto cívico e religioso.


A veneração a Maria, mãe de Jesus, desenvolveu-se rapidamente por volta de 590 d.C., e levou à adoção das doutrinas de sua imaculada conceição, em 1854, e de sua assunção miraculosa aos céus , em 1950. Clemente, Jerônimo e Tertuliano tinham creditado uma virgindade eterna a Maria.


A veneração dos santos surgiu do desejo natural da Igreja em honrar aqueles que tinham sido mártires nos dias em que fora tão duramente perseguida pelo estado. Além disso, os pagãos estavam acostumados à veneração de seus heróis. 


No ano 590, Gregório I foi consagrado como bispo de Roma, inaugurando uma nova era de poder para a Igreja no Ocidente. Embora não reivindicasse o título de papa, exerceu todos os poderes e prerrogativas dos papas posteriores. Ele sistematizou a doutrina e fez da Igreja uma potência na área política.


De 590 a 800, a Igreja Ocidental obteve grandes vitórias nas regiões norte e oeste da Europa; o cristianismo oriental, porém, permanecera estático, apenas se defendeu do Islamismo que, às vezes, investia contra os portões de Constantinopla.


Entre 800 e 1054, a igreja oriental se conscientizou das enormes diferenças entre ela e a igreja ocidental de modo que o período terminou com um cisma que resultou na criação da Igreja Ortodoxa Grega no Oriente.


Depois de um período de declínio e vários concílios reformadores internos, numa tentativa sincera de instaurar, a partir de ângulos diversos, uma reforma que tornasse a religião algo mais pessoal, que colocasse a Bíblia como fonte de autoridade e desse à Igreja Romana uma face mais democrática em sua organização, a reforma acabou vindo por forças externas.


A Reforma Protestante que aconteceu no século XVI foi, com certeza, um marco divisor na história do Cristianismo, que determinou o fim do controle de uma igreja universal. 


A Igreja Católica Romana foi substituída por uma série de igrejas oficiais protestantes nacionais nas regiões onde o protestantismo venceu. Os Luteranos dominaram o cenário religioso na Alemanha e Escandinávia. 


O Calvinismo fez adeptos na Suíça, Escócia, Holanda, França e Hungria. Os ingleses estabeleceram a Igreja Anglicana oficial. Os radicais da reforma, os anabatistas, não estabeleceram igrejas, mas eram fortes em países como a Holanda.


Pode-se dizer que até a Reforma, o cristianismo era identificado como uma igreja única. Após a reforma, a Igreja Católica Apostólica Romana se firmou com este nome e as igrejas protestantes deram origem às várias denominações evangélicas existentes atualmente.


Esperamos ter esclarecido satisfatoriamente a sua dúvida. Sinta-se livre para nos escrever se precisar de mais informações.


Atenciosamente,


Ana Paula Accioly Shirai

ana.shirai@novotempo.org.br

Consultora Bíblica

A Voz da Profecia e “Está Escrito”