As palavras “Recrutamento para a marinha” estavam bem visíveis na frente do edifício. Ao abrir a porta de entrada, Tori foi recebida por um oficial uniformizado, o qual se apresentou como Sargento Whelan, e ambos se dirigiram ao escritório.
Ele começou mostrando fotos e álbuns, enquanto falava com Tori sobre as possibilidades de uma carreira na Marinha. Logo em seguida, Tori fez um rápido teste preliminar sobre informática. Para sua alegria, ela alcançou um bom resultado, o que deixou entusiasmado o sargento.
Pensemos nas possibilidades de uma especialização na Marinha. Com seu nível escolar e o bom desempenho no teste, você está apta a se inscrever em qualquer área desta lista – ele disse, oferecendo-lhe um livreto contendo exaustiva lista de títulos.
- Ah, estou muito impressionada! Não sabia que havia tantas escolhas – Tori respondeu.
- Você pode entrar como oficial devido ao seu preparo – acrescentou o Sargento Whelan.
- Como seria um dia típico após o treinamento inicial? – perguntou Tori, com entusiasmo.
- Bem, você teria um trabalho específico, dependendo de sua capacidade, como em qualquer atividade civil. O tempo se encarrega disso.
Em face disso, Tori se encorajou a fazer a pergunta que temia fazer.
- Sou cristã; guardo o sábado indo à igreja e não trabalho. Como se trata de uma convicção religiosa, gostaria de saber se posso me inscrever com a permissão de guardar o sábado.
- Num caso como esse, sempre há a chance de se fazer um arranjo especial com o chefe – disse, com segurança, o Sargento Whelan.
- Sendo assim, posso fazer esse pedido por escrito?
- Sim, ficará anotado que faremos todo esforço para que você tenha tempo de ir à igreja.
Logo de início, Tori percebeu que não podia ter certeza de que as coisas funcionariam exatamente assim. Mas o oficial entregou a ela seu cartão, encorajando-a a retornar: “Se você mudar de ideia, basta telefonar.”
Mudar de ideia, Tori disse a si mesma. Como poderia eu mudar de idéia? Ele não entende a minha situação.
Com problemas financeiros devido à dificuldade de encontrar um emprego, Tori enfrenta uma batalha que muitos outros jovens enfrentam ao lutarem por uma profissão no mundo de hoje.
Dificuldades
O mundo atual tem demonstrado, para muitos jovens, que um curso profissional ou diploma não é em si garantia de sucesso no competitivo mercado de trabalho. A dispensa do trabalho aos sábados não é bem-vinda. Muitos patrões procuram candidatos dispostos a trabalhar todos os dias da semana.
Outro obstáculo que nem sempre se percebe de início, é a dificuldade de conseguir promoções ao longo do tempo. Foi exatamente o que aconteceu com Natã. Ele havia trabalhado para uma companhia de seguro em diversos lugares por três anos.
Então, surgiu uma oportunidade num shopping local. Isso poderia significar um aumento de salário e promoção. Natã estava habilitado para aquela função. Após preencher a ficha de inscrição, foi informado que estava bem qualificado, mas não havia sido escolhido. Ele devia trabalhar aos sábados para conseguir aquele emprego.
Como Deus vê nossa situação atual? A fim de sobreviver financeiramente, muitas famílias têm vários de seus membros trabalhando, alguns com mais de um emprego. Será que o sábado deveria ser descartado com o passar do tempo? Foi o sábado instituído para uma sociedade mais primitiva, na qual homens e mulheres podiam sacrificar um dia cada semana?
A maioria das pessoas não separa um dia para fugir das preocupações do mundo, em busca de descanso mental, físico e espiritual. Vivemos num mundo em que muitas pessoas sofrem pacientemente. Não são poucos os que se sentem acossados por problemas dessa natureza.
Não obstante, se devemos obedecer aos mandamentos de Deus como apresentados nas Escrituras, temos que admitir que a Bíblia é clara sobre seis dias de trabalho e um dia de repouso e adoração. O sábado do sétimo dia foi ensinado e modelado por pessoas que viveram no tempo do Antigo e do Novo testamento.
Na vida agitada de nossos dias, é muito importante parar e relembrar o propósito maior da vida. Mais importante, porém, do que a vida aqui, é a vida eterna. Se formos fiéis a Deus agora, Deus promete que teremos um tesouro maior no Céu (Mateus 6:19-21).
Mas o que fazer se o sábado põe em risco minha promoção, ou mesmo o emprego? Seria um ato irresponsável perder o emprego? Essas preocupações não são coisas de hoje. O rapaz que procurou a Jesus, de acordo com Mateus 19:16-30, preocupava-se com isso. Ele desejava fazer tudo por Cristo, mas não queria abrir mão dos seus recursos. Renunciar os recursos não lhe parecia coisa razoável.
Hoje podemos ser exortados a desistir da segurança financeira para seguir a Cristo. Nossa fé, nesse caso, poderá ser seriamente testada, se tomarmos decisões levando em conta nossas prioridades.
Auxílio nas Crises
Há algumas atitudes que podem ajudar ao lidarmos com tais dificuldades. Uma delas é o mútuo encorajamento. Há, sem dúvida, outros cristãos que enfrentam desapontamentos e dificuldades para ter o sábado livre. Peça-lhes que contem a sua experiência. Saiba que você não é a única pessoa a enfrentar este problema.
Peça a Deus força a fim de perseverar. Continue procurando um emprego que respeite a observância do sábado. Continue pedindo a Deus que lhe mostre o caminho a seguir. Ore através da seguinte passagem bíblica: “Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Então Jesus declarou: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome (João 6:27 e 35)”.
A vitória em não ceder às atrações do dinheiro por causa do sábado, propicia um sentimento de paz e intimidade com Deus.
Desde a infância, Guilherme sabia que sua atividade favorita era construir casas. A princípio, ele construía pequenas casas de brinquedo, usando tijolos. À medida em que ele crescia, construía casas mais sofisticadas, usando materiais que encontrava ao redor da casa. Certa vez, construiu uma espaçosa casa para seu cão de caça Skippy, a qual era perfeita em todos os detalhes.
Guilherme estudava arquitetura. Ele enfrentou muitas dificuldades nos estudos, mas perseverou, sabendo que marchava cada ano para a concretização do sonho de se tornar arquiteto. E valeu o esforço. Após a formatura, Guilherme conseguiu emprego numa empresa local, passando a realizar o trabalho com que sonhara.
Nas sextas-feiras, porém, ele costumava chegar uma ou duas horas mais cedo ao trabalho, para que pudesse guardar o sábado a partir do pôr-do-sol. Seu supervisor concordou com esse procedimento, já que Guilherme estava disposto a fazer algo em compensação.
Mesmo assim, houve dificuldades inicialmente. Guilherme empenhou-se em trabalhar bastante para que não ficasse a impressão de que estava querendo tirar vantagem, ao retornar mais cedo para casa. Às vezes, nas sextas-feiras, ele abria mão do intervalo, ou do almoço.
Por causa disso, seus colegas de trabalho zombavam dele. Ao pegar suas coisas e caminhar para a porta de saída, Guilherme às vezes ouvia o seguinte: “Hei, aonde vai a esta hora do dia?” Ou: “Saindo mais cedo?”.
Com o tempo, porém, Guilherme sentiu que as pressões diminuíam. Muito responsável, mostrou a si mesmo que estava disposto a trabalhar “pra valer”. Em virtude de ter concluído, com êxito, alguns projetos difíceis, sentia-se mais seguro com relação ao emprego. Também percebeu uma mudança gradual nas atitudes dos colegas de trabalho.
Numa sexta-feira, Bradley, um dos zombadores mais insistentes, foi à sala de trabalho de Guilherme. Ao entrar, sorriu. Mesmo assim, Guilherme se preparou para ouvir as costumeiras ironias. Mas Bradley surpreendeu ao perguntar: “Sei que você chega mais cedo na sexta-feira para ter condições de guardar o sábado; mas qual é mesmo o significado disso? Por que você precisa sair mais cedo na sexta-feira?”
Guilherme, sem saber se a pergunta era sincera ou apenas uma tentativa de achar um elo frágil em sua crença, deu uma rápida, mas poderosa resposta: “Bradley, o sábado é o sétimo dia sobre o qual a Bíblia fala na semana da Criação. É o dia que, conforme os Dez mandamentos, as pessoas devem observar como um dia santo”.
Então Bradley afirmou: “Parece que você conhece a Bíblia. Muitos líderes religiosos pregam suas próprias ideias, mas você não faz assim. Bem, até outro dia. Trabalhe duro, tá?” Disse Bradley, sorrindo.
Só então Guilherme entendeu que, através de sua resposta singela e direta, havia testemunhado de sua fé. Agora estava ansioso para que lhe perguntassem mais e mais sobre assuntos religiosos, a fim de que pudesse falar a respeito da Bíblia.
Naquela sexta-feira, enquanto Guilherme se encaminhava para a porta de saída, a única observação que ele ouviu foi: “Hei, Guilherme, tenha um bom fim de semana!”
Ele olhou sorridente para trás, acenou para seu sorridente colega, e respondeu: “Você também, Bradley”.
Veja alguns testemunhos de pessoas que foram abençoadas por terem sido fiéis a Deus na observância do sábado:
Nevil Gorski, ex-reitor do centro universitário UNASP, conta como contornou, com mais dois colegas guardadores do sábado, o problema de provas aos sábados, quando estudava matemática no Departamento de Física da USP:
“De modo geral, os professores colaboravam conosco, marcando provas para outro dia. Mas, em 1944, um professor que havia marcado prova para determinado sábado, foi categórico: ‘Estamos em época de guerra. Quando um soldado é convocado para a guerra, não existe outra alternativa senão obedecer. O mesmo deve acontecer com relação aos deveres escolares.’ ”.
“Deus, porém, interveio. Um outro estudante adoeceu e não pode fazer a prova. Quando ele solicitou que lhe fosse dada a oportunidade de fazer o exame noutro dia, o professor se lembrou de nós. Então disse àquele colega: ‘Já que vou dar a prova para você, avise os guardadores do sábado para que venham também.’.”.
“Gostaria de deixar um conselho: O estudante cristão sempre deve contribuir para a solução do problema, sendo bom aluno e mantendo bom relacionamento com os colegas e professores. Na medida do possível, não deve valer-se de ‘padrinhos’. Os professores respeitam mais o estudante que enfrenta a situação”.
Manoel Carlos Estevão trabalhou sete anos na Brazmo S. A. Produtos Químicos, na cidade de São Paulo. Era chefe de Expedição:
“Mesmo antes de me tornar cristão, eu não trabalhava aos sábados nessa firma. Quando aceitei a mensagem, falei com o dono e expliquei a razão pela qual o Sábado tinha um novo significado para mim.
Com o tempo, porém, a diretoria, ignorando o apoio do patrão, passou a exigir que eu trabalhasse no sábado. Não concordei, e fui destituído da chefia. Comuniquei ao dono a minha situação e ele me disse que ficaria de braços cruzados. Ele não queria entrar em choque com a diretoria.
Após um mês sem trabalhar, pedi para sair. Os homens podem criar obstáculos, mas Deus tem poder de abrir portas. Foi o que aconteceu comigo. Hoje trabalho na Casa Publicadora Brasileira. O segredo é colocar a obediência a Deus em primeiro lugar”.
Walter Alves do Amaral, prestou o serviço militar em Curitiba, PR, tendo enfrentado muitas dificuldades para observar o sábado. Venceu a prova e dá o seu testemunho:
“Foi uma luta terrível, durante cada ano, mas nunca trabalhei no sábado. Fui testado de todos os modos pelos oficiais. Quando minha situação chegava a um impasse, os colegas zombavam dizendo: ‘Vamos ver como o reverendo vai sair dessa’. Logo em seguida, Deus respondia a minhas orações. Aos que prestam o serviço militar, dou o seguinte conselho: oração e muita oração. E Deus Se encarrega do resto”.
Odiléia Lindquist, editora de livros didáticos, cursava o 1º ano de Letras, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná.
“No final do ano, eu estava com duas faltas além do número permitido, pois as aulas de inglês eram dadas na sexta-feira à tardinha.
O diretor, sabendo do meu problema, chamou a professora Otília Arns, irmã do Arcebispo Evaristo Arns, para ver se ela abonaria as duas faltas, a fim de que eu pudesse fazer a prova final. Ela, porém, nem deu atenção, pois já me havia dito: ‘Você tem que fazer uma escolha: ou sua igreja ou a faculdade.’”.
“Devido ao excesso de faltas, fui informada de que deveria fazer o exame em segunda época. Mas a professora marcou a prova para um sábado, às 19:00 horas. (Na época do verão, no Sul, o sol se põe às 20:00horas.) Quando chegou o dia, participei normalmente das atividades da igreja e, após o pôr-do-sol, fui à faculdade.
Só um aluno permanecia na sala, fazendo a prova. Para minha surpresa, porém, a Profª não havia comparecido, porque estava com caxumba. Sua assistente, muito amiga nossa, deu-me a chance de fazer o exame. Deus operou em meu favor, porque decidi do lado da igreja”.
Com estes testemunhos, podemos ver o quanto vale a pena sermos fiéis a Deus; mesmo que as provações venham, devemos perseverar ao lado do Senhor, pois Ele é infinitamente maior do que nossas dificuldades.
Siga a Deus, custe o que custar, na certeza de que Ele recompensará sua fidelidade em guardar o sábado, que é o “memorial do Criador”.
Lembremos das Palavras do Senhor:
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. O meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo (Mateus 6:33; Hebreus 10:38; Mateus 24:13)”.
Ângela Wiant