O sábio de coração é chamado prudente, e a doçura no falar aumenta o saber. Provérbios 16:21
O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por amigo o rei. Provérbios 22:11
Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo. Tiago 3:2
O que a Bíblia sempre nos aconselha é que sejamos prudentes em nosso falar. O modo como falamos é um testemunho muito forte. Mas cuidar-se no falar significa falar, ou não gírias?
Para entendermos melhor o que é uma gíria, vamos a um breve estudo etimológico do vocábulo:
A origem da palavra “gíria”, para muitos estudiosos ainda é obscura. Mas, segundo Corominas – no estudo étimo da língua espanhola, na expressão “jerga” como “linguagem especial, difícil de compreender” tem-se um ponto de partida.
A partir disso, “jeringonza”, derivado do occitânico (língua dos trovadores, antigo provençal), apresenta a forma regressiva “xíriga” que de acordo com o autor chegou ao português como “gíria”.
Uma linguagem informal, caracterizada por um vocabulário rico em idiomatismos metafóricos, jocosos, elípticos, ágeis e mais efêmeros que os da língua tradicional. A gíria sempre tem uma história.
Muitas vezes parte de um dialeto usado por determinado grupo social:
a) Que busca destacar-se através de características particulares e marcas linguísticas. Nesse caso, a gíria pode ser tanto degradante quanto inofensiva . Vemos isso ocorrer com frequência entre os adolescentes.
Essa faixa etária é perita em criar linguagens próprias. Mas estes representam apenas um exemplo dentre muitos como tribos radicais, “Funkeiros”, “Patricinhas”, “Bad Boys”, “Skatistas”, etc.
b) Que pretende não ser exatamente compreendido por outras classes sociais. Nesse caso costuma funcionar como mecanismo de coesão tribal ou como código interativo entre tais grupos.
Pode ser até que essa codificação se caracterize numa habilidade para enganar ou obter vantagem, numa “esperteza” ou astúcia. Daí se originam as gírias de traficantes e usuários de drogas , presidiários, máfias, etc.
c) Cujos componentes compartilham da satisfação de interagirem por meio de interesses comuns, e então passam a fazer ou criar gracejos linguísticos.
Isso pode vir a ser uma linguagem própria daqueles que desempenham uma mesma função, arte ou profissão, ou que pertençam a uma mesma organização , clube, denominação, etc. Essa natureza de gíria nem sempre logra um sucesso que atinge a maioria usuária de um idioma.
d) Lida com interesses comuns, mas tem um vernáculo pobre de vocábulos que suficientemente lhes permita comunicar seus interesses com facilidade. Por vezes a gíria pode ser um linguajar rude, um calão ou mesmo uma deficiência no falar, por carência da norma culta .
Em seu processo de formação, a gíria pode apresentar, em nível lexical, vocábulos novos com estrangeirismos , em truncamentos, sufixação parasitária, acréscimo de sons ou sílabas à palavra, palavras usadas pela metade , cacófatos, uso de certos códigos etc.
A gíria também pode surgir de uma palavra inteira comum existente, que possui outro significado, mas que, para o grupo minoritário que a toma como jargão , passa a ter outro sentido, ou apenas uma roupagem mais coloquial.
As gírias podem ainda, em sua origem, partir de figuras de linguagem que tenham significados muito degradantes, obscenos ou maldosos, mas, por sua popularização, perdem o significado original e tomam sentido mais aceito pela sociedade .
Se o determinado grupo de identificação comum logra sucesso no uso de seu jargão , tal “palavra” começa a ser usada por outras pessoas que, apesar de não se identificarem com aquele grupo, passam a usar o “termo” e este entra para a conversação informal praticada por um raio maior da sociedade, chegando a fazer parte de seu “dialeto” popular.
O que nos leva a compreender que a linguagem específica de grupos marginais pode estender-se a outros grupos sociais, e essa propagação pode expandir-se tanto a ponto de fazer com que o novo significado para o vocábulo, ou a nova palavra popularizada, passe a fazer parte de um vernáculo regionalista ou entre para os principais dicionários de um idioma . Ou ainda, com o tempo, pode extinguir-se .
Percebemos que a questão principal não é a de ser aceitável ou não, o falar gíria. Isso porque é praticamente impossível escapar totalmente do uso dessa linguagem informal, uma vez que ela está tão permeada em nosso linguajar cotidiano, confundindo-se até mesmo com a forma tradicional de conversação.
O que se deve avaliar é o que está sendo transmitido pelas palavras. Ao falar, a comunicação está chegando até os receptores sem más interpretações? Aí entra o caso de Lucas 17. Seremos sempre responsáveis perante Deus se escandalizarmos nossos irmãos por ações ou palavras insensatas.
Não é porque pensamos que o uso de determinado termo é inofensivo, que vamos usá-lo.
Seja sábio no falar, assim como é o teu proceder!
Que Deus lhe conceda sabedoria.
Pr. Valdeci Júnior