Como explicar a citação de Ellen White sobre a salvação dos escravos. Esta não representa um ato injusto de Deus, diante da declaração bíblica de que Ele não leva em conta o tempo da ignorância?
Deus é misericórdia, mas também justiça. A Bíblia diz que só através da aceitação de Jesus, pode haver salvação. Deverá ir para o Céu quem o almeja, quem quer ir pra lá.
Nesta citação, Ellen se refere aos escravos que ficaram tão subjugados à opressão e tão vedados de qualquer informação do mundo e da vida, que não tiveram nem mesmo a oportunidade de raciocinar e de escolher entre o que fosse certo e o que fosse errado, não chegando nem mesmo a ter noção do que viesse a ser Deus, o bem, o Céu, ou coisa semelhante.
Permitir que esta pessoa nunca mais ressuscite não é um castigo, porque ela nunca mais verá nem sofrerá nada. Aliás, é um ato de misericórdia. Por duas razões: Primeiramente, porque a salvação é individual.
Então, individualmente falando, entre Deus e ela, não houve injustiça, porque, pra ela, em sua consciência, Deus nunca lhe prometeu nada. Ele não vai estar lhe vedando nada que a fez ter expectativa. “Quando vocês eram escravos do pecado, estavam livres da justiça (Romanos 6:20)”.
E segundo, porque, como é possível levar ao Céu alguém que não sonhou estar lá? E se esta pessoa, quando chegar lá, e começar a raciocinar, não aceitar estar lá? Não aceitar o que existe lá? Não aceitar a Jesus?
O escravo, nesse caso, ignorou, por toda a sua vida, a existência disso tudo. Conforme as palavras da Bíblia, Deus não levará em conta o tempo da ignorância, que foi do tamanho da própria existência da pessoa, não levando em conta então, a própria vida da pessoa.
É diferente não levar em conta uma existência que teve um tempo de ignorância e outro de consciência, concorda?
Justiça é levar ao Céu os que almejaram por ele, por Deus, ou pelo bem. Portanto, para essa citação, não se pode generalizar todo tipo de escravo.
E também, veja abaixo, que a citação completa dá um tom de misericórdia ao trato deste ato de juízo divino, e o diferencia de outros grupos que tiveram a oportunidade de pelo menos raciocinar entre o bem e o mal, como por exemplo, os índios.
No caso dos escravos, Ellen G. White escreveu o seguinte no livro Primeiros Escritos, pp. 276:
“Vi que o senhor dos escravos terá de responder pelas almas de seus escravos a quem ele tem conservado em ignorância; e os pecados dos escravos serão visitados sobre o senhor.
Deus não pode levar para o Céu o escravo que tem sido conservado em ignorância e degradação, nada sabendo de Deus ou da Bíblia, nada temendo senão o açoite do seu senhor, e conservando-se em posição mais baixa que a dos animais.
Mas Deus faz por ele o melhor que um Deus compassivo pode fazer. Permite-lhe ser como se nunca tivesse existido, ao passo que o senhor tem de enfrentar as sete últimas pragas e então passar pela segunda ressurreição e sofrer a segunda e mais terrível morte. Estará então satisfeita a justiça de Deus.”
Com relação aos índios, no livro Parábolas de Jesus, pp. 385, a mesma autora escreve algo que parece bastante elucidativo:
“O Espírito Santo implantou a graça de Cristo no coração do selvagem, despertando nele a simpatia contrária à sua natureza e à sua educação.”
E que relevância tudo isso tem pra nós hoje? Precisamos nos preocupar com a nossa salvação. Quanto a nós hoje, é diferente. Pois entre nós não há livre nem escravo, mas somos considerados, por Deus e pelas oportunidades que ele nos dá, todos iguais. “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres.
E a todos nós foi dado beber de um único Espírito ( 1Coríntios 12:13)”. “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3:9)”. “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hebreus 4:16)”.
Um abraço,
Pr. Valdeci Jr.