4 ROMA — O QUARTO IMPÉRIO DA PROFECIA - Daniel Cap 2 (Araceli)

Profecias de daniel de Araceli Melo

 

VERSO 40: — “E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro esmiuça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrantará”.


A ORIGEM DO IMPÉRIO ROMANO


A verdadeira origem do Império Romano está ligada estreitamente à cidade de Roma, cuja primitiva história acha-se cercada de extranhas lendas. Sua fundação, diz uma daquelas lendas, é atribuída a dois irmãos gêmeos — Rômulo e Remo — descendentes de Enéias, filho de Venus e de Anchises, os quais depois da destruição de Tróia, abordaram ao Lácio. 


Estes irmãos se estabeleceram na colina do Palatino e ali, de acordo à prevalescente lenda, fundaram Roma em 12 de abril do ano 753 a.C. Todavia, lutando ambos os dois irmãos por dar cada qual o seu respectivo nome, a cidade Remo foi eliminado e Rômulo proclamou-se único soberano sobre os poucos primitivos habitantes da colina. Com o tempo, outros núcleos — latinos, sabinos e etruscos — foram estabelecidos em diversas das sete colinas sobre as quais Roma posteriormente se estendeu e permaneceu.


Os habitantes do Palatino ganharam rápido predomínio sobre os demais núcleos os quais se uniram àquele numa única cidade à qual chamaram Roma — e levantaram a Rômulo como chefe supremo ou como rei primeiro sobre todos eles. Entretanto, fontes  outras informam que Roma foi estabelecida primitivamente muito antes da tradicional data de 753 a.C., por tribus latinas que tinham vindo à Itália em sucessivas vagas lá pelos tempos em que outras tribus Indo- européias se tinham estabelecido na Grécia. 


Do oitavo ao sexto século a Latina Cidade-Estado foi governada principalmente por Etruscos, sendo a civilização romana fortemente influenciada por estes, que vieram à Itália no décimo século, e especialmente pelos gregos que chegaram algum tempo mais tarde.


Ao estabelecer Roma sua supremacia sobre as tribos vizinhas, mais e mais povo afluiu à cidade até que ela se estendeu sobre as sete tradicionais colinas: Palatino, Capitolino, Quirinal, Viminal, Esquilino, Caelio e Aventino. Provàvelmente por diversos séculos a cidade de Roma foi um reino, apenas dentro de suas muralhas, mas disto pouco se sabe com acêrto. 


São conhecidos sete primitivos reis de Roma: Rômulo (753-716), Numa Pompilho — sábino (715-672), Túlio Hostilho — latino (672-640), Anco Márcio — sábino (640-616), Tarquino Prisco — etrusco (616-578), Servio Tútio — etrusco (578- 634), Tarquínio o Soberbo — etrusco (534-510).


Foi durante o período dos últimos reis etruscos que deve  ter Roma estabelecido seu poder sobre os seus vizinhos latinos. Mas por volta de 510 a.C., como resultado da tirania de Tarquinio o Soberbo, uma revolta da nobreza expulsou este último rei, e subseqüentemente os etruscos foram compelidos a atravessar o Tibre. Imediatamente uma República foi estabelecida que subsistiu durante cinco séculos.

 

A república de Roma foi governada por um senado e dois principais magistrados eleitos anualmente — os cônsules. O primeiro período da República (610-300) foi assinalado por lutas entre os “plebeus” e os “patrícios” — respetivamente: a classe inferior e a aristocracia. A princípio os “patrícios” tornaram-se a classe dominante, com os seus ritos, os seus privilégios, o monopólio das funções sacerdotais e políticas, — estando todo o poder de Roma inteiramente em suas mãos. 


Os “plebeus” que formavam a classe considerada inferior, que não se podia unir à outra pelo casamento, tinham ritos e direitos diferentes e provinham provavelmente dos vencidos das guerras. Desta desigualdade de classe nasceram lutas que ensanguentaram Roma até que a plebe conseguiu arrancar ao patriciado o privilégio exclusivo dos direitos políticos e religiosos. Alguns dos resultados dessas lutas foram a criação de novas funções tais como o Consulado (510), a Ditadura (500), os Tribunos (493), os Desênviros (450), e mais tarde os Imperadores (30).


Os cônsules depuzeram a realeza e estabeleceram a República; os ditadores eram nomeados como tais quando necessário para salvar a pátria em perigo; os tribunos eram os defensores dos direitos da plebe; os Decênveros eram os relatores das leis; os imperadores mais tarde, eram, por assim dizer, os únicos administradores do férreo e grande império.


O incidente que foi o saque de Roma pelos gaulezes em 390 a.C. e sua parcial destruição, foi um temporário revez sem nenhuma consequência adversa durável sobre o constante incremento e poder da progressista cidade, que foi rapidamente reconstruída.


PRENÚNCIOS DO PODER MUNDIAL DE ROMA


Em 265 toda a Itália estava já sob o controle  romano. Solidamente assim constituída no interior da península, pensou então a vitoriosa Roma dilatar o seu território e o seu poder. 


Determinou firmemente tornar-se senhora suprema de todo o Mediterrâneo.  Porém, reconheceu no sul como sua maior competidora e antagonista  Cártago, uma forte Cidade-Estado, fundada pelos colonizadores fenícios no norte da África, um grande poder marítimo dominando todo o Mediterrâneo Central, e Ocidental. 


Cártago possuía o melhor porto da costa da África; era um porto situado no meio do Mediterrâneo, onde se cruzavam todas as rotas comerciais. Nada havia para contrabalançar essa atração do mar, pois o interior do país era árido  e  montanhoso.  Tornava-se  por  conseguinte  inevitável  que, a exemplo de seus antepassados, os cartagineses fundassem um império marítimo. 


E, desde o século sexto a.C. Cártago havia estabelecido tão solidamente o seu poderio no Mediterrâneo Ocidental, que podia determinar limites precisos além dos quais os romanos não tinham o direito de passar. É assim que se lê, na primeira frase de um tratado de 509 a.C., entre Roma e Cártago: “Entre os romanos, e seus aliados de um lado, e os cartagineses e seus aliados do outro lado, reinará paz com a condição de que nem os romanos, nem seus aliados navegarão além do cabo Bom (promontório ao norte de Cártago), a menos que a isto sejam obrigados por tempestade ou por algum inimigo. 


E no caso em que sejam assim impelidos pela força para além do cabo Bom, não terão o direito de tomar ou comprar o quer que seja, com exceção do que fôr estritamente necessário para repor os seus navios em condições de navegar ou para fazer sacrifícios aos deuses, e deverão partir dentro do prazo de cinco dias.1 Um segundo, e depois um terceiro tratados afirmaram ainda com maior energia a hegemonia de Cártago no Mediterrâneo.


As duas potências — Cártago e Roma — tinham interesses rivais na ilha de Sicília e no Mediterrâneo, e o choque destes interesses não se fez esperar muito. Logo os dois poderes se encontravam através de embaixadas vindas de praias opostas do Mediterrâneo: — Aqui vos trago a paz e a guerra, disse o chefe da embaixada romana. 


Escolhei, cartaginezes, a que preferis. — Dai-nos o que quizerdes, foi a resposta. — Seja a guerra! bradou Fábio, deixando cair a toga. Inicia- se então uma das mais cruentas lutas da antiguidade compreendendo três fases e conhecida pelo nome de “Guerras Púnicas”, entre Cártago e Roma.


Esse duelo de morte teve como causa indiscutível a conquista da Sicília e o fechamento do Mediterrâneo Ocidental pela frota cartaginêsa. O conflito estendera-se por mais de um século — 264- 146.


Quando as duas nações pegaram em armas, Cártago possuía a vantagem do prestígio e a marinha de guerra mais forte do mundo. Por outro lado os romanos tinham apenas uma pequena marinha de guerra e nenhuma experiência da guerra no mar; seu poderio residia em suas legiões. Em terra não havia melhor combatente que o soldado romano. No mar, porém, todas as vantagens estavam do lado dos cartagineses, e tornava-se evidente que, se os romanos quisessem vencer, teriam  que aprender a combater no mar.


Durante os três primeiros anos de guerra, as frotas cartaginezas pilharam impunemente as costas da Sicília e da Itália.


Afinal, em ato de desespêro, os romanos puzeram-se a criar uma frota de guerra. O primeiro contacto com o adversário não foi animador para os romanos. No encontro seguinte, porém, tudo correu diferente. Antes do fim do dia, em Mylae (260), haviam os cartaginezes perdido 14 navios afundados e 31 capturados; era quase a metade da frota, e o restante fugiu em desordem para Cártago. 


A vitória estimulou Roma a aumentar sua marinha de guerra e a levar com ela a guerra ao território inimigo. Pouco tempo depois do êxito de Mylae, apoderaram-se os romanos da maior parte da Sicília e em 256 expediram uma frota para uma ofensiva na África. Esta frota romana de 330 navios encontrou-se em frente a Eonomos, na costa sul da Sicília, com uma frota de 350 navios cartaginezes e travaram uma grande batalha, interessante pela importância das forças que nela tomaram parte e pela tática empregada.


A esquadra romana, que havia desencadeado primeiro a ação, alcançou uma vitória tão completa que Amilcar (o comandante-chefe cartaginês), se viu obrigado a fugir e o cônsul Manlio poude recuperar os navios que haviam sido capturados. Os cartagineses subitamente cercados de maneira tão inopinada, atacados pela frente e retaguarda, foram obrigados a procurar a salvação em alto mar, tendo perdido 30 navios afundados e 65 capturados. 300.000 homens, remadores e combatentes, tomaram parte nêsse episódio, assim como perto de 700 navios de guerra. Até a batalha de Aecio, travada dois séculos depois, a batalha de Ecnomos ficou sendo a maior batalha naval da história.


Esta vitória romana deixou aberta a rota para o avanço até à África. Os romanos nela desembarcaram e tinham chegado até quasi às portas de Cártago quando seu exército foi destruído pela habilidade de um mercenário espartano, Zantipo. No mar, porém, logo depois, os romanos obtiveram mais uma vitória naval, tendo capturado 115 navios com suas equipagens. 


Todavia, uma violenta tempestade põe a pique 384 navios romanos na costa da Sicília. Uma nova frota de costas africanas, perdendo 150 navios. A seguir os cartagineses obtiveram triunfal vitória no mar, capturando 93 navios romanos. E uma nova frota romana foi destruída por tempestade, nada restando.


Criaram agora os romanos uma nova frota de 900 quinquerremes.


Ao largo das ilhas Aegates trava-se nova batalha entre os dois terríveis inimigos. E quasi que desde o primeiro ataque os romanos alcançaram um triunfo esmagador, afundando 50 navios cartaginezes e capturando 70 (241 a.C.). Os cartagineses não mais possuíam frota de guerra, e seus exércitos da Sicília estavam privados de qualquer comunicação com suas bases.


Foram então enviados embaixadores a Roma a fim de implorar a paz. E esta grande luta, que durara sem esmorecimento vinte e quatro anos e levara os dois adversários aos limites do esgotamento, terminou com o triunfo de Roma, graças a uma vitória naval. O tratado de paz forçou Cártago a renunciar a quaisquer pretensões na Sicília e pagar avultada indenização de guerra.


Quaisquer que sejam as conclusões morais que a história possa retirar da primeira Guerra Púnica, permanecerá, o fato de que uma nação de “terrestres”, havia combatido a maior potência marítima do mundo, e a havia vencido em seu próprio elemento. Com exceção de uma só, todas as batalhas navais terminaram em triunfos para os romanos. Roma deu prova de melhor aptidão para vencer.


Na primeira guerra púnica, o movel principal da luta foi uma ilha, a Sicília. Por consequência, a luta foi principalmente marítima. A Segunda guerra púnica (218-202) foi essencialmente uma guerra terrestre. Expulsa da Sicília, Cártago voltou-se para a Espanha e transformou em sua colônia a parte meridional dessa península. Utilizando essa colônia como base, Anibal seguiu por terra, atravessando os Alpes e invadindo a Itália pelo norte. 


Esta segunda guerra compreendeu quasi exclusivamente as campanhas do grande Anibal. Em seguida ao cêrco de Sagunto, tomou Anibal a ofensiva, marchou sobre a Itália atravessando a Espanha, o sul da Gália e os Alpes. Esmagou os romanos no Tessino e na Trébia. (281. Vitoriou-se Aníbal em Trassimenes (217), e em Cannas (216), e apoderou-se de Capua onde passou o inverno. 


Porém, enfraquecido o grande general cartaíginês por suas próprias vitórias, viu-se abandonado pela própria fortuna. Foi obrigado a aceitar uma paz humilhante (202). Anibal fugiu então para junto de Antíoco, rei da Efésia, e depois para a corte de Prússia, rei de Bitínia. Suspeitando que este projetava entregá-lo aos romanos, suicidou-se com veneno que trazia sempre consigo num anel.


A terceira guerra púnica foi curta, decisiva e de nenhum interesse sob o ponto de vista naval (149-146). Cártago, no impulso de Anibal, recuperara fôrças pouco a pouco, o que inspirava a Catão o seu incessante Delenda Cártago. A voz do velho romano foi ouvida. Depois da vitória de Roma sobre Perseu da Macedônia, empreendeu ela a destruição sistemática de Cártago, apesar de terem os cartaginezes sido fiéis ao tratado de paz. 


Marcio Porcio Catão, o Censor, proclamou a necessidade de terminar definitivamente com Cártago. Os cartaginezes, concebendo a verdadeira intensão dos romanos de fazer desaparecer a sua capital com esta nova guerra, empreenderam uma luta de desespero, infligindo aos romanos grandes perdas nos anos 149 e 148. Contudo Cártago foi bloqueada por terra e mar e tomada em 146. A cidade foi totalmente destruída e seus habitantes vendidos como escravos e o território cartaginez foi convertido em província romana na África com a capital em UTICA.


Eis, nos dados históricos precedentes, a origem de Roma e de seu poder mundial. Roma, agora vencedora triunfante de Cártago, a maior potência de seu tempo, e poderosamente consolidada na Itália e no Mediterrâneo Ocidental, volta então as suas armas para além de suas fronteiras — para o Oriente e para o Ocidente, para o Norte e para o Sul — e converte-se no quarto grande Império mundial da profecia. A história de suas conquistas nos três continentes nos dias de seu crescente poder, depois da vitória sobre Cártago, pode ser apreciada no capítulo sete versículo sete desta exposição das profecias do livro de Daniel, no símbolo que ali lhe corresponde — um terrível animal inominável e desconhecido no mundo da zoologia.


Nas guerras púnicas Roma foi apertada e constantemente derrotada e mutilada em terra, mas emergiu no final como evidente vencedora de Cártago poderosamente influente em todos os países do Oeste e do Mediterrâneo Ocidental, e mais poderosa do que alguns  dos Estados do Oriente.


ROMA — UM IMPÉRIO FORTE COMO FERRO


A interpretação do profeta sobre Roma foi dramática: “E o quarto reino será forte como o ferro; pois, como o ferro esmiuça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrantará”. Férrea como só Roma podia ser, é indicada no símbolo que lhe coube no drama dos Impérios do sonho da estátua profética do rei Nabucodonosor pelas duas pernas de ferro, emblemas simultâneos de seu domínio no Ocidente e no Oriente, ou sejam das duas Romas unidas numa só: Ocidental e Oriental. 


O ferro declara ausência de sabedoria na política de seus governantes e imperadores, e evidencia, por isso mesmo, a tirania que caracterizou aquele desalmado cetro dos descendentes de Rômulo. O terrível símbolo com que Roma é apontada na profecia revela o poder que exerceu sobre as nações, suas chacinas e destruições em massa de seus declarados oponentes. Basta que a profecia a tenha figurado no “ferro” para que se tenha uma idéia de sua desumanidade quando exerceu o seu poder mundial.


“O império dos romanos encheu o mundo, e, quando aquele império caiu nas mãos de uma única pessoa, o mundo se tornou uma prisão certa e medonha para seus inimigos. O escravo do despotismo imperial, quer fosse condenado a arrastar sua cadeia dourada em Roma ou no Senado, ou a levar uma vida de exilado nas rochas estéreis de Seripho, ou nas margens gélidas do Danúbio, esperava sua sorte com silencioso desespero. 


Resistir era fatal, e impossível era fugir. De todo o lado estava cercado de uma vasta extensão de mar e terra, que ele nunca poderia esperar atravessar sem ser descoberto, apanhado e restituído a seu senhor irritado. Além das fronteiras, sua visão anciosa nada podia divisar, exceto o oceano, desertos inóspitos, tribus hostis de bárbaros, de costumes ferozes e língua desconhecida, ou reis, dependentes que alegremente comprariam a proteção do imperador pelo sacrifício de um fugitivo culpado. “Onde quer que estejais”, disse Cícero, ao exilado Marcelo, “lembrai-vos de que estais igualmente em poder de vencedor”.1


Estrabão, o notável geografo do reinado de Tibério César, disse: “Os romanos ultrapassaram (em poder) todos os reis anteriores dos quais tenhamos notícias”.


O mártir Hipólito, bispo, que viveu em Roma no terceiro século de nossa era, viu na “monarquia férrea” um cumprimento da profecia de Daniel “ Já domina o ferro; já ele subjuga e quebra tudo em pedaços; já em sujeição todos os renitentes; já vemos por nós mesmos estas coisas”.3


Na parte mais inferior da estátua, simbólica do poderio do mundo, fora indicado o poder de Roma como prova de sua inferioridade e incapacidade para dirigir os destinos da civilização humana. Bem distante da áurea cabeça na posição dos metais da estátua sonhada, revelaram-se em verdade, os Césares, mais tirânicos do que sábios, mais cruéis que sensatos senhores investidos na liderança de povo de três continentes: Europa, Ásia e África. 


A despeito de possuir em sua história uma multidão de imperadores (80 de César Augusto a Rômulo), não preencheu o Império Romano a posição que lhe coube e que lhe conferira a profecia no cume das nações, pelo que chegou a sua vez, como a dos outros que o precederam, de perder a supremacia e mesmo a existência política no mundo. Expressamente a sua desapreciação ao poder daquele Império de ferro, diz a inspiração que ele foi “queimado pelo fogo”.1


No capítulo sete do livro de Daniel, divisamos Roma ainda, principalmente no emblema dum inominável animal com dentes de ferro e unhas de metal — a esmagar o mundo, a reduzí-lo à mais tirânica escravatura política e social e a convertê-lo no mais lúgubre cárcere em que nenhuma nação ou indivíduo podia jamais escapar de suas inexoráveis barras de ferro. A revelação não se enganara, como não seria possível suceder, em tomar o “ferro” como figura do poder dos Césares romanos.


“SERÁ UM REINO DIVIDIDO”


VERSOS 41-42: — “E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmesa do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil”.


“SERÁ UM REINO DIVIDIDO”


Extraordinária e enfática profecia! “Um reino dividido”. Divisão e não mais união! Incrível! O fenomenal, poderoso, invencível e fortemente unificado Gigante Imperial Romano, se esfacelaria espetacularmente! De acordo ao capítulo sete versículo vinte e quatro, que trata do mesmo poder, o Império Romano se dividiria em dez fragmentos ou dez reinos distintos. 


O mesmo com vista aos dez dedos da estátua. Não seria o próprio Império que se fragmentaria em dez, como o de Alexandre fragmentara-se em quatro por seus generais após a sua morte imediata a suas conquistas — mas permaneceu ainda Império Grego. 


O mesmo capítulo sete versículo onze é enfático em afirmar que o quarto animal, simbólico de Roma-pagã, seria queimado  como já dissemos — o que é evidente que o Império dos Césares, estando ainda unido, chegaria a seu fim. Porém, é bastante claro, disto tudo, que o seu fim, como poder político pagão mundial, seria consequência de uma décupla divisão, e que não sobreviveria como Império político após o seu inevitável esfacelamento em dez reinos.

 

Todavia, perguntamos: Se o próprio Império não se dividiria a si mesmo criando dez reinos absolutamente romanos e governados por romanos, em seu território total, enquanto supremo no mundo, como se dividiria então e causaria assim a sua inexorável queda para sempre?


É surpreendente que o Império dos Césares, cuja estrutura de “ferro” esteve de pé empunhando o cetro da terra por mais de seis séculos, desde a vitória de Pidna na Macedônia em 168 a.C., até à sua derrocada em 476 a.C., — ou por mais de doze longos séculos se quizermos contar o seu poder desde a fundação de Roma em 753 a.C.  viesse a sucumbir de todo e para sempre como poder político dominante no orbe inteiro! Sim, por incrível que pareça, o férreo Império, que esmiuçou e quebrantou impiedosamente a terra — desabaria para jamais se reerguer como poder político civil dominante no mundo. 


Deveras a Roma de Rômulo e dos Césares, depois de esmagar a justiça, de solapar a independência das nações livres, de tolher a liberdade de consciência aos povos subjugados, de reduzir a nada os direitos humanos, de atingir o cume do poder sobre três continentes conhecidos e habitados de seu tempo: Europa, Ásia e África, caiu, sim, caiu mortalmente ferida como rainha soberana absoluta da terra, sem esperança de ressurreição. E, agora, insistimos na já formulada pergunta: Como foi derribada e ferida de morte Roma Imperial Pagã? Quem a dividiu em dez fragmentos, em dez reinos?


O FULMINANTE GOLPE TEUTÔNICO


É certo que dentro ou fora das fronteiras romanas não havia uma única potência capaz de se erguer sozinha contra Roma e exterminá- la. Para derribar o gigante seria necessário muito poder, muita força reunida, o ímpeto duma avalanche de povos que o invadissem simultâneamente e lhe arrebatassem toda a chance de se defender com êxito. 


Seriam impressindíveis pelo menos dez poderes como os dedos da estátua e os dez chifres do quarto animal bem indicam, para levar Roma Imperial ao colápso e à catacumba. E, como os dedos e os chifres pertencem ao seu símbolo, quer na estátua quer no quarto animal, Roma, pois, criaria um estado de coisas, uma situação de fraqueza moral, social, política e belicosa, que a esporia como vulnerável e fácil presa à invasão em massa e fatal de seu território e de seu Império.


Quando os imperadores romanos, depois de Constantino o Grande, se tornaram em sua maioria ociosos, fracos, afeminados, intemperantes, voluptuosos, dissolutos, dados ao luxo, ao circo, ao alcoolismo, e se fizeram por isso mesmo incapazes para o trono, e  seus exércitos passaram a constituir-se em grande parte de mercenários em vez de inteiramente de patriotas, e prepararam assim a desintegração do Império, — viram os vigorosos bárbaros de além fronteiras ter chegado o momento decisivo para a ação almejada e imediata. 


Abater o monstro de “ferro” já cambaleante e reduzi-lo a pedaços, era o anelo deles todos. Um dilúvio de povos guerreiros “teutônicos”, sedentos de vingança e de melhores terras, forçam as já enfraquecidas, flutuantes, vulneráveis e quasi desguarnecidas fronteiras do Reno e do Danúbio, num verdadeiro furacão, numa avalanche antes desconhecida e incontrolável, vibrando tremendas batalhas, ocasionando toda a sorte de destruição, morticínio e pilhagem até então sem registro nos antigos anais da História.


Nêste tempo o mapa do Império Romano Ocidental sofreu muitas mudanças repentinas e violentas, enquanto as trajetórias dos invasores hostis violentavam o território e o cruzavam e recruzavam em um confuso labirinto. Dessas insanas correrias destruídoras, todos os historiadores concordam ter surgido finalmente dez reinos distintos, e podemos dizer, de conjunto, que se estabeleceram no território de Roma Ocidental desde os começos do quinto séculos até ao ano 476 de nossa éra.


Dez dos invasores, em verdade, e conforme a profecia dos dez dedos e dos dez chifres, investiram com rigor e apressaram a queda de Roma. Deram afinal o golpe de misericórdia e a dividiram dècuplamente no Ocidente Europeu. 


Como as pernas de “ferro” representam o Império Romano unido e forte, os pés “em parte de ferro e em parte de barro”, representam o continente europeu ou Roma Ocidental dividida; ou melhor ainda, conforme a profecia — os dez dedos e os dez chifres representam as várias nacionalidades invasoras originais que a dividiram e fundaram propriamente a Europa Moderna, que são: Anglo-saxões — inglêses, francos — francêses, alemanes — alemães, lombardos — italianos, visigodos — espanhóes, suevos — portuguêses, borgundos — suíços, e mais os ostrogados, vândalos e hérulos dos quais diremos coisas surpreendentes no capítulo sete versículo oito. Sobre estes povos que dividiram Roma, veja-se apêndice nota 6.


Assim cumpriram os dez poderes citados acima, inconcientemente, a grande profecia da divisão e queda do outrora poderoso Império. E, desde 476 a.D., o ano fatal de Roma no Ocidente, Europeu, permanece ele dividido e continuará dividido, porque a voz da divina profecia assim o quis e assim o determinou no conselho de Deus Todo-poderoso. À medida que o tempo avança, a dividida Roma Ocidental constituída em Continente Europeu, forma- se mais e mais dividida, quer em território quer em ideologias políticas.


Ao deflagrar-se a I Grande Guerra Mundial de 1914-1918, as nações européias viviam quasi todas sob o regime monárquico. Os tratados de 1918-1922 modificaram muito a estrutura do Velho Continente e, com os desmembramentos verificados, os países até então existentes, em número de 26, passaram a somar 33. 


O período de 1922-1938 trouxe à tona, principalmente, duas extranhas ideologias  autoritarismo e totalitarismo — de cunho marcadamente anti- democrático. Essas transformações foram frutos das violações sucessivas dos tratados de paz, ou em virtude de revoluções internas e de constituições solapadas. E, depois da II Grande Guerra Mundial, resultante da brusca transformação para o autoritarismo e totalitarismo, o malfadado ex-território do antigo Império Romano virou maior confusão e maior cáos, dividido em dois perigosos blocos comandados pelo Leste e Oeste, que constantemente se ameaçam e se desafiam.


Roma Cesarina, como dissemos, foi simbolicamente queimada pela palavra da profecia inspirada e reduzida a cinzas, não havendo possibilidade de impor-se jamais de nenhuma forma ainda que todos os romanos e seus Césares ressuscitassem do túmulo e do pó exigissem o cetro do mundo que outrora lhes pertencia. Outrossim, nenhuma potência moderna, por mais poderosa que seja será capaz de unir novamente a Roma dividida e empunhar o seu antigo cetro mundial em suas mãos, sòzinha.


Ainda que o dividido reino, de acôrdo com a profecia, se tornasse por uma parte, forte, no que respeita às nações representadas no ferro de sua divisão, contudo estes fragmentos não conseguiriam jamais fundir todos os fragmentos numa restauração do que fora outrora Roma Ocidental. A parte frágil — as nações fracas — representadas no “barro de lodo”, parece constituir a causa do fracasso de toda a possível união, pois ferro e barro não se podem fundir. Fortaleza e fraqueza, pois, caracterizam até a divisão do que fora o grande reino mundial de Roma.


A VÃ AMBIÇÃO DE CARLOS MAGNO


A inspirada sentença — será um reino dividido — tem desafiado e desesperado um bom número de estadistas e potentados ambiciosos durante dezesseis séculos. Estas quatro palavras — será um reino dividido — são palavras de destino. Nenhum poderoso da terra conseguiu quebrá-las no passado e nenhum no futuro o conseguirá. 


Uma vez após outra, desde a queda do Império Romano, homens poderosos têm tentado reaver os domínios deixados pelos descendentes de Rômulo e fundir novamente o ferro romano na Europa em um novo império que por fim alcançasse o inteiro orbe, mas sempre fracassaram — e o dividido Império Ocidental continuou dividido e permanecese dividido.


Como que pretendendo contrair a profecia da divisão permanente de Roma, Carlos Magno, rei de França, foi o primeiro de que temos notícia a procurar reaver o Cêtro Imperial Romano na Europa Ocidental pelas armas. 


Pretendeu-se com ele o que depois intentou-se com Otão I em 962, aliás, o restabelecimento do referido Império dos Césares com o nome de “Santo Império Romano”, devendo este título restaurativo ao fato de estar em harmonia com o Papado romano. Os imperadores eram coroados pelos papas e estes feitos pelos imperadores, surgindo daí o direito papal à investidura dos soberanos, pretensão que, com Henrique IV e Gregório VII, resultou numa dramática luta em que venceu o segundo, coroado da Sé romana.


Carlos Magno subjugara os lombardos, os bávaros, os saxônios, os ávaros. Seu Império foi compreendido entre o Mar do Norte, o Elba, a Boêmia, o Carigliano, o Ébro, os Pirineus e o Atlântico. No Natal do ano 800 chegou a ser coroado Imperador do Ocidente na Basílica de S. Pedro, pelo papa Leão III. 


Se lá estivéssemos e assistíssemos a coroação sobre uma tão grande parte do que foram antes os vastos domínios do antigo Império Romano, teríamos sem dúvida sido fortemente tentados a duvidar da estabilidade da profecia de Daniel com respeito à divisão do quarto reino mundial. Porém, poucos anos mais tarde, em 28 de janeiro de 814, Carlos Magno fora levado ao sepulcro, e o seu Império se desmantelou — ficando de pé admiràvelmente reivindicada a profecia inspirada da divisão conscutiva de Roma.


“Diz-se que quando o sepúlcro de Carlos Magno foi aberto em Aix-la-Chapelle, há algum tempo, sua forma descarnada, vestida de vestes reais, estava assentada sobre o trono, com a coroa de ouro pendendo da cabeça. Em frente ao trono um grande exemplar das Escrituras, em pergaminho, jazia aberto, enquanto um dedo ósseo apontava a passagem em Isaías, capítulo quarenta versículo oito: “Seca-se a erva, cai a flor; mas a palavra de nosso Deus subsistirá para sempre”.1 Em verdade permaneceu de pé, grandemente vindicada, “a palavra de nosso Deus” da profecia da divisão de Roma, que Carlos Magno tentou violentar. Ele pereceu — mas ela permaneceu.


O FRACASSO DA PRETENÇÃO DE CARLOS V


Uma outra tentativa pró unificação da Europa foi feita no século da Reforma — por Carlos V, rei de Espanha e imperador da Alemanha. Tornou-se ele senhor da maior parte da Europa incluso Espanha, Alemanha, Áustria, Itália, Flandres, e acariciava visões de conquistas em todo o continente e por fim o domínio do mundo. Diz- se a seu respeito que “nenhum outro monarca até Napoleão, foi tão amplamente visto na Europa e na África”. 


Mas teve de lutar contra Francisco I da França, contra Solimão — sultão Otomano e contra os luteranos de Alemanha. Não podendo por isso realizar os seus ambiciosos projetos de uma Europa unida e muito menos de um mundo unido, cansado do poder e com a saúde seriamente abalada, abdicou em 1555 e retirou-se ao mosteiro de Yuste (na Espanha), donde ainda muitas vezes ditou a sua ambiciosa vontade aos seus sucessores. Porém, seus vastos domínios se desintegraram nas mãos destes. Sim, a nova pretensão de unir o ferro e o barro romanos foi mais uma vez malograda, e a profecia divina permaneceu como ditada por Deus ao profeta.


O MALOGRO DOS PLANOS DE LUIZ XIV


Um século mais tarde, Luiz XIV de França — o homem temido e respeitado no interior e no exterior e que orgulhosamente dissera: “O Estado sou eu” — foi outro aventureiro que também sonhou reunir o ferro e o barro romanos na Europa e aspirou a monarquia universal. 


Tornou-se figura dominante no continente. Desmedidamente ambicioso, sustentou muitas guerras estendendo seus domínios em todas as direções. Seus brilhantes generais embeberam a Europa em sangue. Invadiu os Países Baixos, assolou o Palatinado e exclamou: “Já não existem Pirineus”. Mas ele fracassou. 


Uma coligação de  fôrças oponentes fez desmoronar seus ambiciosos planos a seus pés qual castelo de cartas. Pelo tratado de Utrecht, em 1713, foram seus domínios cortados em todos os lados. Teve de devolver como independentes os Estados por ele submetidos, viu seu próprio país pecuniàriamente esgotado e decadente e foi obrigado a contrair uma paz humilhante para a França. 


Rei ambicioso e amante do mundo, desapareceu no horizonte da História, e, como outro rei ambicioso dos tempos antigos, “morreu sem deixar de si saudades”.1 Sua derrota demonstrou que nenhum potentado do mundo terá o poder de fazer caducar aquilo que Deus determinou — como o fez na divisão européia do Império de Roma. A profecia subsistiu e Luiz XIV viu seus orgulhosos planos irrealizados. Ela permaneceu íntegra e o rei de França sumiu-se na morte e no pó.


A TRÁGICA AVENTURA DE NAPOLEÃO


Um século depois do colápso de Luiz XIV, surge Napoleão o Grande, aquele meteoro humano que brilhou diante dum mundo maravilhado e foi talvez o maior pretendente à soberania da Europa e à conquista do mundo. Foi ele considerado um fruto da Revolução Francêsa, e, de 1795 a 1804 quando proclamado imperador, consolidou seu poder sobre os francêses. Então, com a espada na mão deixou Paris para consquistar a Europa, e disse: “Não haverá repouso na Europa até que ela esteja sob uma cabeça, sob um imperador, cujos oficiais serão reis”.


Como que pretendendo capitular a profecia, a audácia de Napoleão foi ao ponto de procurar destruir o poder da Inglaterra no além-mar, inimigo número um na efetivação de suas ambições. Por isso levou a cabo um grande plano de invasão do Egito e da conquista do Oriente Médio bem como da Ásia. Ele embriaga-se com suas ilusões de dominação mesmo do mundo. 


A 19 de maio de 1798 sua esquadra fez-se ao mar em Toulon, em demanda da terra dos Faraós. Era uma esquadra como jamais se vira no Mediterrâneo e se compunha de numerosos navios de linha, de guerra e de transportes que conduziam um numeroso exército de terra, artilharia e todo o material bélico necessário para a invasão e prosseguimento imediato da guerra no Egito e em toda a Ásia Ocidental. 


A travessia para o Egito foi sem novidade, a despeito de a esquadra inglêsa de Nélson ter por três semanas vasculhado o Mediterrâneo em busca da esquadra francêsa de invasão, e por ela ter passado três vezes sem que pudesse divisá-la.


De  sua  aventura  sobre  o  Egito  e  a  Ásia  dissera  mais  tarde Napoleão: “Eu figurei-me ser o criador de uma religião; vi-me a caminho da Ásia montado em um elefante, com um turbante na cabeça e levando na mão um novo Korão por mim mesmo redartado. Em minhas empresas havia reunido a experiência de dois mundos; olhava- me como o herdeiro universal da história; destruiria o poder da Inglaterra na Índia e com esta conquista enlaçava novamente minhas comunicações com a antiga Europa”.1


Porém, a campanha de Napoleão no Egito malogrou. A frota francêsa foi derrotada, primeiramente em Abukir a 2 de agosto de 1798 e depois em Trafalgar em 1805. Em 1812 teve lugar a sua ambicionada expedição contra a Rússia. É dito que enquanto sentado em seu cavalo em marcha, em profundos pensamentos e incomunicável, aqueles que o acompanhavam percebiam a profunda matéria de seus pensamentos: “A conquista da Rússia — Europa — o mundo”. 


Quando o Czar da Rússia lhe lembrou que “o homem  propõe, mas Deus dispõe”, Napoleão declarou: “Eu proponho e disponho”, e invadiu a Rússia com meio milhão de homens; era um grande exército para a época. Sua máxima era que “a Providência está do lado de quem tem a mais pesada artilharia”. Porém, a despeito de vitorioso, foi obrigado a retirar-se de Moscou através de Berezina, vendo seu exército ser destruído pelo gêlo, pela neve e pela fome — e isto fez uma grande reviravolta na História. Este desastre na Rússia foi causa de uma série de outros desastres. 


A Europa inteira coligou-se contra ele. Em 1813 sofreu a séria derrota de Leipzig. Os aliados invadiram o território francês e Napoleão teve de abdicar em Fontainebleau em 11 de abril de 1814. Reencetando novamente a luta, foi definitivamente vencido em 18 de junho de 1815 em Waterloo, na Bélgica, pelo exército anglo-prussiano. A mão de Deus fez cair mansa chuva todo o dia anterior. 


A artilharia pesada dos francêses não podia mover-se como devia e daí a derrocada daquele que almejou o domínio do mundo. Napoleão entregou-se aos inglêses que o exilaram na ilha de Santa Helena, na costa atlântica da África, onde morreu em 5 de maio de 1821, aos 51 anos de idade. O grande visionário desapareceu do palco da Europa. Como dissera Victor Hugo — “Deus estava enfastiado dele”.


O nome de Napoleão infundira terror em toda a Europa quando nação após nação era invadida e submetida por seus vitoriosos exércitos. No entanto, chegou por fim o tempo para a sua derrubada. Ele procurava vencer um continente inteiro que estava resguardado, protegido por esta infalível sentença profética de Deus: — Será um reino dividido. 


Vinte e três séculos entre eles, as suas ambições e a de todos quantos antes e depois dele pretenderam apossar-se do que fora outrora o antigo Império Romano Ocidental, foram já desbaratadas pela profecia divina. Poderosos e aguerridos exércitos se desmantelaram e se liquidaram ante esta fatal sentença inspirada — “será um reino dividido”. 


Em 1811, pouco antes da campanha da Rússia, escrevendo a seu irmão José, dissera Napoleão: “Dentro de cinco anos serei senhor do mundo’’. Porém, liquidado absolutamente o seu poder e as suas pretensões de senhorio mundial, foi obrigado a declarar em 1815, no fatal Waterloo: “O Deus Onipotente  é demasiado forte para mim”.


Trinta anos depois do desastre de seus exércitos na Rússia, vítima do gêlo, da neve e da fome, escreveu o Dr. Thomas Arnold, de Oxford, o seguinte: “Jamais um estado terreno alcançou mais orgulhoso pináculo do que quando Napoleão, em junho de 1812, reuniu seu exército em Dresden, aquela poderosa hoste inigualável em todo o tempo, de 450.000, não meramente homens, mas efetivos soldados, e ali recebera a homenagem de reis vassalos. 


E qual foi o principal adversário deste tremendo poder? Por quem foi ele obstado, resistido e derribado? Por ninguém, por nada, senão a direta e manifesta interposição de Deus... Instrumentos humanos sem dúvida foram empregados na efetividade da obra, nem poderia eu negar à Alemanha e à Rússia as glórias daquele grande ano de 1813, nem à Inglaterra a honra de suas vitórias na Espanha, ou da coroa da vitória de Waterloo. 


Porém, depois de trinta anos, aquêles que viveram no tempo do perigo, e lembram sua magnitude, e agora calmamente revêem o que havia em força humana para evitá-lo, devem conhecer, penso eu, além de toda a controvérsia, que o livramento da Europa da dominação de Napoleão não foi efetuado nem pela Rússia, nem pela Alemanha, nem pela Inglaterra, mas pela mão de Deus unicamente”.1


E, em seu exílio, na ilha de Santa Helena, na costa da África, fez Napoleão esta sensacional declaração: “Alexandre, César, Carlos Magno, e eu fundamos impérios. Mas em que baseamos as criações de nosso gênio? Na força. Jesus Cristo foi o único que fundou Seu império no amor; e a esta hora milhões morreriam por ele... Eu estou em Santa Helena... encadeado nesta rocha... Você (general Bertrand) partilha e consola meu exílio... (a voz do imperador treme de emoção). Logo eu estarei no meu sepulcro... Morro antes do meu tempo; e meu corpo  morto  deverá  retornar  à  terra,  para  tornar-se  alimento  dos vermes. Vejo o destino próximo daquele a quem o mundo chamou o Grande Napoleão”.1


Deveras o grande homem fora considerado um ídolo dos francêses e até, quem sabe, um deus. Todavia recebeu a justa recompensa de lutar contra os desígnios de Deus.


OS DOIS CASTELOS DE CARTAS DO SÉCULO XX


Em pleno século XX, dois homens, seguindo o infeliz exemplo dos poderosos já citados e sem levarem em conta as derrotas que sofreram, na tentativa de unificação da Europa em torno de um só cetro, julgaram-se bastante fortes para vibrar seus golpes na espectativa de reunir novamente o ferro e o barro romanos divididos e até então impossíveis duma amálgama política. 


O primeiro deles foi Guilherme II, o Kaiser da Alemanha, na terrível I Grande Guerra mundial de 1914-1918. Mas fracassou como um castelo de cartas que se desfaz em nada e deixou o seu país na mais funda bancarrota. O segundo foi Adolfo Hitler, que, a despeito das lições negativas do passado, julgou-se suficientemente forte e capaz do triunfo que os outros não lograram alcançar e tentou vingar assim a derrota alemã de Guilherme II. 


Daí o tremendo conflito da II Grande Guerra Mundial, cujo estopim foi por ele aceso. E quem diria que Hitler, ao derrubar uma após outra nação da Europa — mais poderoso que Napoleão — não dominaria supremo este continente e o transformaria em trampolim para a conquista do mundo inteiro?


A Inglaterra, entretanto, ainda que fortemente atacada e grandemente destruída pelo ar, ali estava, no outro lado do Canal da Mancha, como um espantalho para Hitler e como um inexpugnável e decisivo baluarte para rechassá-lo e derribá-lo de seus planos de domínio continental e mundial. Em 1939 os exércitos de Hitler invadiram quase toda a Europa. Desde o Ártico aos Pirineus as nações caíram submetidas. Só a Grã-Bretanha se susteve de pé, interposta entre o sonho de Hitler e sua realização.


Urgia, pois, a invasão incontinente da Inglaterra, se o “Führer” quisesse ganhar a guerra. E o dia da almejada invasão — 16 de setembro de 1940 — foi marcado, exatamente quando o mar estaria calmo e haveria maré ideal para a emprêsa. Era esta a época quando alguns arrojados nadadores cruzam o canal, na espectativa dum título e da fama. 


Em tal data a lua cheia favorecia a invasão de Hitler. Porém, sucedeu o opôsto da previsão alemã. Naquele ano houve fortes tormentas que se prolongaram desde o dia 17 até 30 de setembro. E os navios de invasão tiveram que refugiar-se nos portos e enseadas, onde foram atormentados pela Fôrça Aérea Britânica. Então o “Führer” transferiu a invasão para novembro ou dezembro, aproveitando os nevoeiros destes meses. Todavia, pela primeira vez na história, não houve nevoeiros nas zonas escolhidas nêsse inverno. 


A próxima data de invasão se realizaria então a 15 de fevereiro do seguinte ano segundo se supunha. Mas, no dia 14 se apresentou um maremoto no Atlântico. O maremoto causou altas marés nas costas da Europa. E a dispersa frota alemã de invasão mais uma vez foi obrigada a refugiar- se nos portos e novamente foi bombardeada por aviões britânicos. Foi então que Hitler cometeu o seu maior erro da guerra — a invasão da Rússia. 


Teve ele a mesma sorte de Napoleão, embora indizivelmente muito mais armado do que aquele grande gênio. Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, começou o colapso da Alemanha e o sonho de Hitler de domínio da Europa e do mundo se desmoronou. A Alemanha ficou alquebrada, ocupada pelos aliados vencedores, e o “Führer” foi jazer no pó da terra vencida, a inabalável profecia da divisão da Europa mais uma vez permaneceu e foi o móvel evidente da derrota, a maior dos séculos naquele continente.


O PODEROSO DESÍGNIO DO ETERNO


Que fenomenal profecia esta, do Império Romano Ocidental dividido! A impressionante frase profética, várias vezes já citada: “Será um reino dividido”, tem permanecido como um baluarte do poderoso desígnio do Eterno sobre a Europa. Esta espetacular  sentença tem reduzido a pedaços as planejadas ambições de conquista continental européia dos poderosos ambiciosos do Velho Continente. 


Empreenderam eles uma emprêsa fadada ao fracasso, — a junção do ferro e do barro daquelas nações. A extraordinária profecia tem permanecido intacta e tem posto abaixo a pretensão de unidade da Europa, sob a liderança de um só indivíduo ou duma só nação. 


Carlos Magno, Carlos V, Luiza XIV, Napoleão, Guilherme II e Adolfo  Hitler. — foram vencidos, não por seus inimigos políticos, mas por esta imortal sentença da inspiração: “Será um reino dividido”. Eles procederam em contrário da vontade de Deus envolta nesta mágica sentença, e se esboroaram de perecerem, e com eles pereceu o plano da realização do impossível, pois batalharam contra os aguilhões  duma profecia infalível e indestrutível de Deus.

 

Depois da derrocada de Hitler em 1945, surge um novo plano de unificação da Europa, não pela conquista das armas, mas pela conquista dos tratados, dos tratados de papel. Esse talvez derradeiro e angustiante plano denominaram-no de “Estados Unidos da Europa”. Não obstante, afirmamos que a inspirada profecia do céu tem até  agora conservado a Europa dividida em muitas nações, e cremos que seguramente continuará assim dividida sejam quais forem os planos que formulem os homens por uní-la sob um só cetro ou sob uma só ideologia dominante.


Desde a divisão de Roma pelas mesmas grandes potências que formaram a Europa, o Continente continua dividido não só em nacionalidades como em ideologias que o meteram no caos permanente.


UMA CIVILIZAÇÃO DE FERRO E BARRO


Os povos que forçaram a queda de Roma e originalmente se estabeleceram em seu território ocidental, fundaram ali, segundo a profecia que lhes diz respeito, uma civilização ou um continente de “ferro e barro”. Eis o caráter político das nações do chamado “Velho Continente”. Do lado do ferro romano vemos as fortes potências, nações materialistas, militaristas, belicosas; nações conservadoras do implacável espírito da férrea Roma dos Césares, — pois são figuradas pelo “ferro” romano. 


Do lado do “barro de lodo” vemos as frágeis nações em meio ao duro ferro, sem quase nenhuma expressão política, sem poder para se imporem, e, em muitos sentidos, instrumentos da política das fortes. Como o ferro e o barro literais não têm apoio mútuo, assim são as fortes e as frágeis nações naquele ambiente continental, em que vivem. A política das fortes e a política das fracas potências são diametralmente antagônicas. 


As fortes desempenham uma política forte, dura, rígida, e as fracas uma política fraca, sem influência alguma. E daí não poderem contar com o apoio político recíproco. Esta desigualdade de forças, este estado de caos político, resulta numa completa instabilidade internacional e continental, — tal como a que há entre o ferro e o barro, que não se atraem, não se unem, não se apoiam. A profecia fala com evidência dessa desunidade no dividido território de Roma. 


Assim, nos símbolos do “ferro” e do “barro”, vemos em verdade o caráter político desarmônico das nações da Europa. O mesmo sucede em todo o continente americano — nas três Américas — cujas nações são de origem européia — são manufatura daquele desequilíbrio continental. São também ferro e argila em caráter político e social, oriundos dos dedos da estátua profética internacional.


Lamentavelmente a Europa tal como a profecia informa, constitui uma família continental de “ferro” e “barro” simbólicos. Dum lado, a dureza e a inflexibilidade do ferro do outro, a fraqueza e a flexibilidade do barro. Nações do ferro e nações de barro. Política de força e política de fraqueza. Política de ferro e política de barro. A violência do ferro e a temerosidade do barro são a “ordem do dia” na Europa. Nações terrivelmente iradas e nações terrivelmente temerosas. Um continente forte dum lado e frágil do outro — eis o que atesta a inspirada profecia de Daniel, que consideramos.


O homem diz do tempo atual: “Civilização das luzes”. Deus, porém, diz: “Civilização de ferro e barro”! A civilização de ouro, representada pela “cabeça de ouro” da estátua do sonho do rei Nabucodonosor, degenerou-se até se converter numa “civilização de ferro e barro”, fundamentalmente de origem “bárbara”. 


Aí está como a revelação vê o continente chamado — berço da hodierna civilização! E é o que chamam de “Civilização cristã ocidental”! Sim, civilização cristã constituída de nações cujo caráter é figurado pela inspiração como de “ferro” e “barro”! Dum lado o “ferro” cristão bruto, não liquefeito e não moldado nos moldes da justiça de Cristo. 


Do outro lado, o “barro de lodo” também não moldado nem submetido à ação do forno candente dos direitos do evangelho do Filho de Deus. Está, em verdade, ausente a verdadeira civilização cristã. “Ferro” bruto e “barro de lodo”, eis, sim, como o Céu vê a Civilização européia chamada cristã, bem como a civilização chamada assim de todas as nacionalidades que de lá procederam. “Ferro” e barro”, eis a civilização de dois continentes chamados cristãos. Por isso mesmo vemos uma confusão babilônica de seitas denominadas cristãs! Seitas ou religiões de “ferro” e “barro”! Eis a civilização cristã que pretende orgulhosamente pregar e implantar nos demais continentes pagãos o evangelho de Cristo para convertê-los em cristãos!...


No livro do Apocalipse Cristo simboliza o puro cristianismo por Ele e Seus apóstolos pregado, num castiçal de fino ouro. E, no livro de Daniel, como estamos considerando, Ele simboliza a civilização cristã ocidental em “pés de ferro” e “barro”. A diferença é como o dia da noite! É evidente que o cristianismo ocidental não é o legítimo e original cristianismo instituído por seu fundador e desseminado por Seus apóstolos no mundo romano de outrora. 


A hodierna civilização cristã ostenta o cetro de “ferro” e “barro” e não o áureo e poderoso cetro do reino do Salvador do mundo. Ela só está interessada no reino da força e do lodo, e não no reino do amor, da pureza, da humildade e da justiça de Cristo.


O FRACASSO DO ÚLTIMO RECURSO


VERSO 43: — “Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro se não mistura com o barro”.


UMA TENTATIVA DESAJUÍZADA


A despeito do plano do Criador de coexistência pacífica e independência absoluta de todas as nações da terra, em todo o tempo se tem verificado que algumas delas se insurgiram e se levantaram contra outras através de seus déspotas soberanos usurpadores, que procuraram impor a sua supremacia, acarretando assim sérios transtornos políticos, sociais, econômicos e morais à vida normal das nacionalidades. 


É esta deveras uma velha e malsinada ambição que tem tomado posse, até hoje, da mente de muitos desvairados senhores do poder, sedentos de efêmera glória, não importando, para eles, as destruições e as chacinas que seguramente possam causar pela violência das armas e pela fraude, uma vez que atinjam os seus inglórios objetivos de domínio supremo e ganhem um nome na História. 


Com grave perda para todo o continente e para suas próprias nações, fizeram loucamente isto mesmo alguns desajuizados potentados da Europa, como já vimos. Na esperança de conquista e domínio de todo o “Velho mundo”, abundante sangue derramaram e indizíveis desgraças causaram àqueles povos. Mas tudo foi em vão. Ambicionando realizar o impossível, fracassaram por completo, pois batalharam contra os decretos do Todo-poderoso e único Dominador, exarados com evidências nas profecias de Sua revelação — que é a separação territorial e política daquelas nações, como de todas as demais do globo.


O versículo quarenta e três que agora consideramos, alude a um desesperado e derradeiro recurso, predito, aliás, de que lançariam mãos algumas das sempre irrequietas nações da Europa, na esperança de assegurar, por fim, a unidade continental sob a liderança de uma só delas. 


Outros anteriores expedientes com o mesmo propósito de unificação: Tratados, alianças e guerras de conquistas, resultaram em completo fracasso e decepção. Todavia a vã esperança de solução de problema, que não era pròpriamente um problema mas uma usurpação de direitos, subsistiu e subsiste até os dias atuais.


Em meio, porém, ao infortúnio de mil conflitos armados na louca busca de domínio total da Europa, algumas das principais Casas Governamentais do continente empreenderam, como íamos dizendo, um novo recurso, sim, um angustiante e esperançoso recurso pró união do reino dividido.


Conceberam a unidade continental sob uma só insígnia através duma nova modalidade política, aliás, — a do matrimônio internacional. Creram ter com isto encontrado a solução impossível, decisiva e positiva para a crise da unidade almejada.


A profecia, entretanto, não considera as nações da Europa, politicamente, mais do que simplesmente ferro e barro simbólicos. Como é impossível uma liga, uma fusão entre ferro e barro naturais, em virtude da natureza destas substâncias, é, de igual modo, impossível uma liga, uma união política, seja de que natureza fôr, que transforme a Europa livre novamente em um Império uno, sob um só governo central, à semelhança do Império dos Césares romanos. A profecia relativa ao novo recurso daquelas nações é evidente e enfática. Ei-Ia:


“Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão “mediante casamento”, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro se não mistura com o barro’’.


Misturar “mediante casamento”, é exatamente alusive ao casamento político-internacional. E muitas foram as tentativas no sentido de unificar a Europa num só reino, mediante este expediente político de consolidação do poder em todos os séculos de sua agitada história. 


No entanto, todo o esforço neste procedimento foi a renovação da tentativa da consecução do impossível, e transformou-se em novo fracasso e nova decepção. A história da Europa fornece-nos boa cópia de material referente à ilusão da ambicionada unidade continental promovida pela modalidade do matrimônio-politico entre as realezas européias, que parcialmente daremos a seguir num pequeno quadro: 


No princípio da grande divisão do Império Romano Ocidental, Teodorico, o Grande, rei dos ostrogodos, uniu-se por laços de família aos mais poderosos caudilhos dos povos da mesma raça, isto é, aos francos, borgundos, visígodos, vândalos e turingios. Carlos Magno, de França, casou-se com Desejada, filha de Dezidério, rei dos Lombardos; repudiou-a, porém, fez guerra ao sogro, e uniu-se em novas nupcias com Hildegarda, parente do duque da Alemanha.  


Carlos V, rei de Espanha e imperador da Alemanha, era filho de Felipe, o Bello, o arquiduque da Áustria, e este filho do imperador Maximiliano I da Alemanha e de Joana, a Doida, filha de Fernando e Isabel de Espanha. Napoleão divorciou-se de Josefina sua primeira mulher para casar-se com Maria Luíza, filha do imperador da Áustria. Josefina não tinha filho e ele desejava um filho que fosse coroado rei de Roma. Mas seu próprio sogro declarou-lhe guerra e contribuiu para sua ruína. O mesmo Napoleão, antes de sua queda, estabeleceu seus parentes em vários tronos da Europa:


Colocou “seu irmão Luiz no trono da Holanda, e outro irmão, Jerônimo, no novo reino da Westfália, por ele criado. Fêz seu cunhado Murat soberano do Grão Ducado de Berg, que ele criara também, e deu a seu irmão José o trono da Espanha. Nenhum outro conquistador fez jamais tão completas preparações para o estabelecimento e perpetuação de uma Europa unida”.1


Os nove Cristianos do trono da Dinamarca e os seis Fredericos do mesmo trono, eram também reis da Noruega, sendo dois deles também reis da Suécia. Childerico II e Dagoberto I, eram reis de França bem como da Áustria. Dos cinco Felipes de Espanha, dois também eram reis dos Países Baixos, e outros dois também de Portugal, e um deles era neto de Luiz XIV de França. Luiz I e Luiz II da Hungria, eram ao mesmo tempo reis da Polônia e da Boêmia. José I da Grécia era filho e herdeiro de Cristiano IX da Dinamarca. José I de Portugal era filho de


D. João V e da rainha D. Mariana da Áustria. Carlos IV, imperador da Alemanha, era filho de João de Luxemburgo rei da Boêmia. Napoleão III era filho de Luiz Bonaparte, rei da Holanda. Ao iniciar-se a I Grande Guerra Mundial, todo o ocupante de um trono hereditário de certa importância na Europa, estava aparentado com a família real britânica. 


Jorge V da Inglaterra, Nicoláu II da Rússia, Constantino I da Grécia e os reis da Noruega e Dinamarca, eram todos primos irmãos em primeiro grau e todos os cinco eram netos de Cristiano IX da Dinamarca. Jorge V da Inglaterra, Guilherme II da Alemanha, a rainha da Grécia, a Czarina da Rússia, e as rainhas de Espanha e da Noruega, eram todos netos de Vitória rainha da Inglaterra. Esta rainha Vitória foi denominada — a vovó da Europa.


Porém, o laço de parentesco entre as casas governantes da Europa é muito mais estreito do que demos acima. Referimos apenas a algumas  cabeças  coroadas  dos  vários  tronos  daquele  continente. A união matrimonial do lado príncipesco, dos que herdaram os vários tronos daquelas nações, é muito mais vasta ainda do que a referida acima.


Todavia, a despeito de todo o empenho para unir a Europa numa só comunidade, quer pelas armas quer pelo casamento internacional político, ela sempre esteve desunida e dividida. Jorge V e Guilherme II, como vimos, eram primos irmãos, mas durante a Primeira Guerra Mundial foram os mais acérrimos inimigos. Quando a Europa tem estado em guerra, mòrmente nas duas grandes guerras do século, é ela comparada a uma família quando em franca discórdia. 


As casas reais, especialmente as mais fortemente imbuídas do espírito belicoso, “são praticamente todas do mesmo tronco germânico e quase do mesmo sangue”. Por nenhuma fórmula política será jamais conseguida a união dos povos europeus num único Império como antes o era o de Roma no mesmo continente. 


A profecia da divisão territorial e política daquelas nações que abateram Roma, é divina e infalível. Em virtude, pois, de sua infalibilidade, todos os ousados planos de todos os pretendentes ao trono unido daquele continente, foram desbaratados e ridicularizados. A profecia zombou deles. A Europa continua desunida e dividida desde que ali se acantonaram aquelas nações e dividida continuará para sempre. Deus assim o quis e nada poderá o homem contra a Sua augusta vontade.


E, agora, perguntamos: Quais as devidas razões da anunciação profética de completo fracasso nas consecuções pró unidade da Europa num Império absoluto e despótico? Respondemos não ser este o plano de Deus para com as nacionalidades. É, não obstante ,o plano de Satanás, para o seu prazer e pela tirania, subjugar e oprimir a família humana, como vimos na atuação dos quatro Impérios Mundiais do passado — Babilônia, Medo-Persa, Grécia e Roma — que, por isso mesmo, foram liquidados pela vontade de Deus plenamente anunciada em profecias especiais definidas?


Todas as nações, quer as da Europa quer as de outro continente qualquer, poderão, se quiserem, coexistir pacificamente sem a necessidade da união política dum Império para esse fim. Nada impede que coexistam em permanente harmonia. Há, todavia, um Império glorioso que de comum acôrdo poderiam e deveriam estabelecer, embora divididas política e territorialmente — O Império do Amor. Eis a única solução para um mundo pacífico — eis as verdadeiras Nações Unidas do orbe se isto assim desejarem os seus governantes.


Dessem as nações da Europa crédito às profecias que lhes dizem respeito, e que lhes proíbe a união injusta dum Império opressor, como foi e é o anelo de alguns de seus ambiciosos estadistas, — saberiam da vontade de Deus contrária a tão repelente e nefasto propósito que já ensanguentou e enlutou aquele continente desde o sexto século até ao século XX atual. 


Fiquem tranquilos os modernos ambiciosos, pois jamais conseguirão, por nenhum meio, a unidade continental européia. Se se arriscarem outra vez a tanto, estarão trabalhando contra os tremendos aguilhões das profecias, e seguramente fracassarão e trarão vexame e ruína às suas nações como outros já trouxeram e as arruínaram.


EUROPA — CONTINENTE DA GUERRA


A Europa tem-se demonstrado um continente sem paz, sem harmonia, desassossegado, em permanente reboliço. Desde que ali aportaram as suas atuais nacionalidades como povos bárbaros e belicosos, e se transformaram em modernas nações, até agora ainda não cessaram as lutas e desavenças entre elas. Em 1936, um professor russo, que vivia na Inglaterra, deu-se ao trabalho de verificar o  número exato de guerras provocadas na Europa durante dez séculos. 


A estatística que organizou mostra um total de 827 conflitos armados. Dêstes, 185 foram provocados pela França, 176 pela Inglaterra, 151 pela Rússia, 75 pela Espanha, 32 pela Itália e 23 pela Alemanha. Isto dá quase uma guerra por ano! Eis o resultado duma política continental catastrófica e orgulhosa. As maiores potências, como apresenta a estatística, se demonstraram até agora as mais belicosas e responsáveis pelo caos do continente. 


Não cessaram até agora as lutas e o ódio. Quando a guerra cessa nos campos de batalha, continua nos bastidores internacionais! Somos forçados a perguntar se isso é o que consideram civilização?! Comprova-se que os povos bárbaros que fizeram capitular Roma Ocidental e se apossaram de seu território europeu, ali ainda estão com o mesmo espírito barbárico. 


A Europa tem sido o paiol de pólvora do mundo. As duas últimas grande guerras mundiais foram provocadas por suas maiores e mais ambiciosas nações. Nos dois terríveis conflitos, que de qualquer maneira se estenderam ao mundo inteiro e envolveram todas as nações, dum ou doutro modo, direta ou indiretamente, foram assassinadas nos campos de batalha, nos campos de concentração e nos bambardeios aéreos, nada menos do que cerca do oitenta milhões de creaturas humanas. As nações ficaram econômicamente arrasadas. As perdas materiais foram enormíssimas.

 

É surpreendente quantos planos têm sido elaborados a fim de deter o espirito belicoso das nações européias e uni-las fraternalmente numa só comunidade. Tratados têm sido feitos pelos quais quase todas celebraram um convênio com quasi todas as demais potências. Nada adiantou a Sociedade Internacional da Paz com seu suntuoso “templo da paz” em Haya, na Holanda, inaugurada em 1899. É bastante surpreendente a história dessa extinta agremiação internacional política, cujo objetivo real era unir as nações numa comunidade pacífica, mormente as da Europa.


Quando foi resolvida a construção de seu famoso Templo da Paz, rompeu a guerra dos Boers (colonos africanos de origem holandeza no Transval e Orange), contra a Inglaterra, e tramava-se já o conflito russo-japonês. Ao por-se a primeira pedra, o Kaiser fez sua viagem a Tanger, resultando no início das complicações marroquinas. 


Ao ser concluído o primeiro andar, a Áustria anexou a Boêmia e Herzogovins. Pronto o segundo andar, surge o conflito franco-alemão. Ao colocarem o telhado começa a guerra turco-italiana. Ao ser concluído, esperava-se a terceira conferência, mas veio a Grande Guerra Mundial que roubou a vida a 10.000.000 de homens das nações suas filiadas!


A Liga das Nações, com sua famosa séde em Gênebra, na Suíça, herdeira legítima da Sociedade Internacional da Paz, foi fundada em 10 de janeiro de 1920, como resultado do tratado de Versailles de 28 de agosto de 1919. Sua primeira sessão reuniu 41 nações. Uma série de importantes pactos foram realizados para dar-lhe estabilidade. 


Um dos mais importantes foi o Pacto Kellog, em 27 de agosto de 1928,  por meio do qual 61 nações declararam a guerra fora da lei. Diziam os jornais da época, após assinado o famoso pacto: “Hoje foi a guerra internacional banida da civilização”. “Pela primeira vez na história do mundo, vai-se ter paz eterna e mundial”. O presidente Wilson, pai da Liga das Nações, foi saudado com ruidosos aplausos em Paris, Londres e na Itália onde os camponêses italianos acenderam velas diante do seu retrato, Wilson chegou a ser chamado: “O salvador do mundo”.


Ali, junto do lago Leman, em Gênebra, está ainda o palácio da Liga das Nações, de mármore branco simbólica da paz. Os transportes dos arquivos de Haya para Gênebra pesavam 600 toneladas! Mas a Liga das Nações nunca ligou coisa alguma. De 1920 a 1930, foram a ela submetidos 4.568 tratados, convênios e alianças políticas. 


Mas tudo era apenas papel! Em sua história, os seus filiados deflagraram  45 guerras e culminaram no mais terrível conflito da História humana, de 1939 a 1945. Em 8 de abril de 1946, delegados de 41 nações se reuniram em seu palácio para realizarem os seus funerais. O presidente, no discurso de encomendação de seu cadáver, disse entre outros fatos: “Reconhecemos que nos faltou a coragem moral, quando fora necessário agir, e que muitas vezes agimos quando teria sido melhor que tivéssemos hesitado”.


Entre 25 de abril e 26 de junho de 1945, foi fundada mais uma Liga das Nações — a O.N.U. Veio à sua real existência em 24 de outubro de 1945, quando a maioria das nações que assinaram a carta magna  ratificaram-na  em  seus  países.  Herdou  ela  os  arquivos  da S.D.N. e seus bens avaliados em cerca de 2.750.000 libras esterlinas. 


Mas a O.N.U., é uma nova Liga com os mesmos homens e as mesmas ambições internacionais. Até agora essas Nações Unidas não se uniram. Segundo dissera o ex-presidente Harry Truman em 1947, a O.N.U. constitui “a única esperança que agora temos para a paz mundial”. Pobre esperança! Esta nova entidade internacional gerou casos agudos e insolúveis; guerra fria, guerra de nervos, divisão entre Oriente e Ocidente, o caso de Berlim, e outros casos agudos e perigosos para a paz. 


Nunca os membros de uma Sociedade Internacional de Paz se prepararam tanto para a guerra como os membros da O.N.U.. Atrás dos seus estandartes de paz colocaram os seus canhões e bombas atômicas! O espírito da velha Roma dos Césares domina as nações membros da O.N.U.: “Civis pacem para belum” — se queres a paz prepara a guerra. Mas Roma não preparou a paz preparando a guerra! E o mesmo sucede em nossos dias. Não pode haver maior tolice do que preparar a paz preparando a guerra! É evidente incensatez!


Para preparar a guerra na ilusão de preparar a paz, podiam ter ficado na mesma séde internacional em Haya. Não havia razão para mudança para Gênebra nem para Nova York em novos, suntuosos e custosos palácios sédes. A paz não depende de edifícios especiais ou de lugares determinados para ser discutida e estabelecida. Se os estadistas tiverem verdadeiras intenções pacifistas, não precisarão discutir a paz, seja em Haya, Gênebra ou Nova York ou em outro qualquer lugar ou capital do mundo. A paz não pode e não deve ser discutida — mas sim vivida.


Todos os planos até agora laborados para unificar o continente europeu na Conferência Internacional da Paz, na liga das Nações ou  na O.N.U. resultaram em nada. Tanto a Europa como os demais continentes ainda não se unificaram sob a custódia de nenhuma sociedade internacional — nem mesmo da O.N.U.

 

Para infelicidade de seu continente e do mundo, as nações da Europa têm sido até agora o que a profecia de Deus previu o que elas voluntáriamente seriam. Aliás, territorial e ideologicamente — desunidas. Sim, desunidas já por quinze longos séculos. Têm sido o coração das intrigas internacionais e o vulcão das guerras cujas larvas chegaram a cobrir a terra inteira. 


É lamentável que um tão belo e tão rico continente, com seus 10.000.000 de quilômetros quadrados constantes de lindas planícies e fascinantes montanhas e planaltos: cortados por grandes rios; margeado por dois grandes oceanos e cinco históricos mares; com uma produção minéria, agrícola e industrial abundantes; bêrço da hodierna civilização, e de grandes artistas e cientistas; teria de notáveis navegadores e descobridores que fundaram colônias que se tornaram importantes nações; — seja estigmatizado pela alcunha de: O Continente da Guerra. Sim, esta tem sido a sua real; história: guerra, cáos.


As fronteiras da Europa jazem sempre a ferrolhos. Seus exércitos aguerridos estão sempre prontos para a primeira eventualidade. A desconfiança é a ordem do dia naquele infeliz continente. Tremenda profecia de Daniel, cumprida à risca através dos séculos. Nenhuma sombra de unidade territorial, nem por conquista, nem por tratado, nem por laços internacionais de família. Mais de trinta nacionalidades apertadas e agitadas ali vivem. Sim, a Europa é o continente da desunião, da discórdia, da guerra!


O REINO DE DEUS EM EVIDÊNCIA


VERSO 44: — “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre”.


O PONTO CULMINANTE DA HISTÓRIA


A história do mundo, dentro de seus quasi já seis mil anos de vigência, registrou inúmeros reinos, alguns territorialmente grandes, outros pequenos, alguns politicamente fortes outros fracos. Registou poderosos impérios que cobriram vasta área da terra e exerceram domínio sobre numerosas nações e multidões de povos. 


O Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Persa, Grécia e Roma foram os maiores de todos. Mas os reinos dos homens se têm demonstrado reinos da força, de orgulho, da injustiça — e portanto falhos. Todos os poderes dominantes sobre outros, que existiam antes da era cristã, sucumbiram, foram destruídos de acordo a claras profecias do consêlho de Deus. 


Dêles não restam nem siquer sombra da raça ou nacionalidade a que pertenciam. Restam, aliás, apenas destroços, ruínas informes que lembram a altivez e a tirania com que se impuseram aos povos mais fracos. Em 476 a.D. Roma foi aniquilada; porém, de sua divisão perduram no Ocidente nações modernas, algumas, das quais com um espírito não muito diferente do seu e do de outros poderes opressores do passado. Algumas dessas potências e outras do Oriente, dominam, em pleno século da democracia, sobre muitos povos politicamente fracos, para demonstrar a indigna democracia de que se orgulham.


Mas Daniel chega, afinal, ao ponto culminente da interpretação  da estupenda profecia do sonho do rei Nabucodonosor, ao sublime desenlace da História da civilização humana. Após uma solene apresentação profética do desfile dos Impérios e das nações que subverteriam Roma, ele, vivamente emocionado, declara ao estasiado monarca:


“Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído, e este reino não passará a outro povo: esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre”.


Isto devia ter produzido fantástica impressão nas ambições do rei de Babilônia, um tremendo impacto em seus planos de futuras conquistas, em seus pensamentos sobre Babilônia como eterna dominadora. O reino vindouro de Deus infere Daniel, cobrirá inteiramente a terra e será eterno, imperecível, inconquistável. “Não passará a outro povo” ou a outras mãos — pois não haverá no orbe outro reino que porventura possa conquistá-lo. 


Além disso, todos os habitantes do mundo feito novo serão cidadãos imortais, súditos eternos que terão um eterno e glorioso Rei. Ninguém haverá — e nem poderia haver — dentro ou fora do bem-aventurado reino, que possa subvertê-lo e dele se apossar arrebatando de seu Todo-poderoso Rei a incomparável coroa. 


Tão pouco haverá a possibilidade duma invasão extra-cósmica dos mercados (como pensam os desequilibrados que um dia eles se apossarão do mundo), ou habitantes doutros mundos, pois como súditos santos e fiéis do Rei do universo que são, não alimentam ambições políticas de conquistas de nenhum feitio, e mesmo até desconhecem, como seres perfeitos, esses termos de ambição. Os ambiciosos ímpios só existem neste malfadado planeta — mas serão convertidos em pó. Assim o reino de Deus estará livre da opressão dos ousados caudilhos sedentos de sangue e de efêmera glória.


O reino de Deus na terra, eis a solução do céu para um mundo degradado, para os graves problemas que afetam em cheio e esmagam a família humana, cuja culpabilidade recai dalto a abaixo sobre o governo do homem que assolou coro a sua malsã política os altos valores morais e espirituais — principais e imprescindíveis. 


Só resta, pois, a intervenção do Rei do universo — o verdadeiro Monarca do mundo — para deter o governo da ambição, da força, da impiedade e da injustiça, e destituí-lo para todo o sempre. É esta a única coisa que falta cumprir-se do sonho profético da grande estátua — e seguramente logo se cumprirá.


“Mas, nós dias destes reis” — dos dez reinos que dividiram Roma e formaram a Europa atual, amplamente dividida e politicamente desunida — Deus, enfatiza o profeta, levantará o seu reino.


Levantá-lo-á sobre os escombros duma civilização que arruinou e destruiu a si mesma. Temos estado vivendo “nos dias destes reis”, por já cerca de quinze séculos e todavia ainda “nos dias destes reis”‘. Porém, indícios evidentes indicam a iminência do estabelecimento do reino de Deus e, portanto, do término dos “dias destes reis”, estando a geração atual destinada a contemplar o grande acontecimento, podendo empreender os preparativos que a habilitarão, sem desejar, a participar de sua indizível e imperecível glória. 


Será um reino de justiça e equidade, de paz e bem estar permanentes, de união e amor. Reino em que perfeita comunhão haverá entre o divino Rei e Seus súditos. Oh glorioso, maravilhoso reino! Devemos orar com ardor  para que ele seja estabelecido sem delongas, afim de livrar a terra da angústia e da tirania dos homens maus.


O glorioso e vindouro reino devia ser o tema absorvente de todos os pensamentos, conversações e cogitações na atual geração em que ele será inaugurado na terra. Os preparativos para a vinda do reino deviam tomar o primeiro lugar na vida dos indivíduos, principalmente dos cristãos. 


Aconselhou Jesus: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça”.1 Todos quantos almejam o sublime reino, devem tomar posse dele agora; devem vivê-lo agora; devem se harmonizar com  seus interêsses, seus estatutos, suas leis e sua justiça em todas as transações da vida. Entretanto, o que vimos e ouvimos é o contrário disto. Raramente se ouve falar ou pregar sobre o vindouro reino do Senhor. O próprio “Pai Nosso”, em que a chama do reino se evidencia crepitante para que fosse conservada de contínuo na mente e no coração dos cristãos, é recitado com irreverência e com a mais fria indiferença. Lamentavelmente é assim mesmo.


A atual civilização jaz na iminência do estabelecimento do reino eterno sem se preocupar com ele ou mesmo desejá-lo.


Quando o reino de Deus vier, infere Daniel, “esmiuçará e consumirá todos estes reinos”, do século II, aliás, estas nações que desprezam o santo reino e o supremo Rei, e acarretam a ruína, como as do passado o fizeram, a esta província terráquea do Criador do universo. A profecia é clara em afirmar que “estes reinos”, da Europa e do mundo, serão esmiuçados, desaparecerão, serão reduzidos a pó, serão varridos da terra para dar lugar ao imperecível reino de Deus.


Estupendo! — Os reinos fundados ou fatores econômicos, — os metais diversos que os representam na estátua profética, — e não na verdadeira justiça, serão esmiuçados pelo reino de Cristo, que encherá a terra inteira. Graças a Deus o mundo estará livre pela eternidade em fora dos reinos dos ambiciosos tiranos, e só assim haverá paz e bem estar permanentes.


Finda Daniel a sua exposição, dizendo: “Certo é o sonho e fiel a sua interpretação”. Aí está a certeza desta notável revelação. Dissera São Pedro: “E temos mui firme a palavra dos profetas”.1 A História comprovou solenemente o cumprimento, até agora, de todos os detalhes desta extraordinária profecia. Portanto, só falta agora a vinda do prometido reino de Deus, como desenlace do drama da grande crise dos séculos. Todos os profetas e apóstolos falaram deste santo reino. E nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-nos a orar: “Venha o teu reino”.2 Sim, supliquemos que o reino venha, — que venha presto — e estejamos prontos para dele participarmos pelos séculos eternos.


UMA MISTERIOSA PEDRA ARRAZA AS NAÇÕES


VERSO 45: — “Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, a Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disto; certo é o sonho, e fiel a sua interpretação”.


CRISTO — A MISTERIOSA PEDRA


Nos versículos 34 e 35 é referido que “Uma pedra foi cortada sem mão”, aliás, sem intervenção humana, caiu sobre os “pés de ferro e barro” da estátua e esmiuçou-a totalmente dalto abaixo, não se achando mais lugar algum na terra para o ouro, a prata, o cobre, o ferro e o barro que a compunham, os quais, pelo tremendo impacto, se tornaram pó que foi levado pelo vento. 


Não é natural e mesmo impossível, que uma pedra jogada sobre metais possa reduzí-los a simples pó. A profecia, porém, demonstrou ao rei Nabucodonosor,  que Deus realizaria, e em parte já realizou, aquilo que ao mortal possa parecer impossível o aniquilamento dos poderosos impérios e nações representados pelos fortes metais da estátua simbólica. 


Quem diria que a poderosa Babilônia, a terrível Medo-Persa, a potente Grécia e a férrea Roma — pudessem ser um dia conquistada por poderes outros, mesmo humanos e representados nos símbolos como mais fracos? E, quem diria que a atual civilzação pujante e incomparável nos séculos que a precederam, possa ser aniquilada totalmente até ao pó, como garante a inspiração? 


Sim, a pedra fará o impossível ao ver dos incrédulos mortais. Mesmo sem ainda cair, ela já aniquilou os poderosos reinos mundiais citados acima e grande número de poderes outros da antiguidade. E, escaparia, porventura, a nossa ímpia civilização e suas belicosas nações, ao cair ela com toda a indizível potência divina que lhe é própria?


Os vários metais e o barro que simbolizam os impérios e nações citadas, indiretamente simbolizam também os seus grandes fundadores. O ouro é dito, representar não só Babilônia como o próprio rei Nabucodonosor, seu fundador. Assim, a prata que representa a Medo-Persa, o cobre a Grécia, o ferro a Roma, também representam respetivamente Ciro, Alexandre e os Césares, seus poderosos fundadores. E os dez dedos de ferro e barro que são símbolos das nações modernas da Europa, devem igualmente representar seus primitivos fundadores bem como todos quantos assumem o poder em todo o tempo.


De igual modo, a Pedra, que simboliza o reino de Deus, é, nas Sagradas Escrituras, simbólica, como veremos, de seu Todo-poderoso fundador. Daniel deixou isto claro ao rei Nabucodonor nestas palavras: “Mas... o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído”. Aí está o Fundador, do glorioso reino. Porém, o reino de Deus, torna evidente o profeta, — e queremos acentuar novamente, — é considerado, ou melhor, é figurado numa Pedra, e isto deve estar em correlação com Deus que o estabelecerá na terra. 


Como a revelação se explana a si mesma, deve apresentar a realidade da figura daquela sublime e poderosa Pedra, que, dum só golpe e numa fração de tempo, aniquilará todo o sistema de governo e poder do homem no planeta em todos os séculos de sua história — declarando-os nulos, sem proveito algum para a civilização humana de todos os tempos.


Desconhecemos na natureza uma pedra capaz de reduzir metais naturais a pó caindo sobre eles. Entre os homens, porém, conhecemos uma Pedra simbólica capaz de converter impérios, nações e multidões de povos inteiramente em pó. E esta simbólica Pedra é Cristo, o Poderoso Filho de Deus.


Jacó, na bênção de seus filhos, declarou Cristo a “Pedra de Israel”.1 O profeta e rei Davi e o profeta Isaías falaram de Cristo como a Pedra simbólica dos séculos.2 Os apóstolos São Pedro e São Paulo propagaram com ênfase ser Cristo a Pedra da Profecia.3 E Cristo mesmo, quando no mundo, aplicou solenemente a Si próprio as profecias de Davi e Isaías referentes à Pedra, confirmadas mais tarde, como vimos, pelos apóstolos São Pedro e São Paulo. 


Notemos o Seu Auto-testemunho: “Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os edificadores regeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? E quem cair sobre esta Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”.4 É deveras impressionante o alcance desta declaração do Senhor Jesus. Ele, pois, a Pedra profética, a Pedra simbólica do sonho do rei Nabucodonosor, reduzirá a pó — assevera Ele — aquele sobre quem ela cair”: reinos, nações, povos, indivíduos.


Aquilo  que  fora  dito  de  Nabucodonosor,  como  supremo  rei político e em ligação com o seu reino mundial: “Tu és a cabeça de ouro”, — pode ser dito especialmente de Cristo, o supremo Rei verdadeiro e em ligação com o Seu reino universal: “Tu és a pedra Todo-poderosa”. Nabucodonosor era a “cabeça de ouro”, porque ele era, como já vimos, a personificação de seu reino. 


O mesmo dizemos de Cristo: Ele é a Pedra porque Ele é a personificação do reino de Deus, que Ele mesmo, como Deus, fundará na Terra. Aproxima-se rápido o dramático momento em que a Poderosa pedra, o reino de Deus, cairá nos pês da estátua do sonho do rei — a Europa, e dali encherá o mundo. Diz o profeta: “Mas a Pedra... se fez um grande monte, e encheu toda a terra”. Parece que a Europa — a inquieta Europa, centro nevrálgico do mundo político do planeta — será o primeiro continente a sentir o tremendo impacto da Potente pedra. 


Pelo menos assim reza a profecia, pois os pés e os dedos, onde viu o rei cair a Pedra, representam o Velho Mundo Europeu. Então tudo  será convertido em pó não ficando pedra sobre pedra do intolerável e orgulhoso domínio do homem no mundo. O reino de Deus estará implantado neste planeta pelos séculos eternos. A terrível crise que o pecado já por quasi seis mil anos faz prosseguir na terra, estará vencida, e uma bonançosa paz cobrirá permanentemente a terra completamente transformada.


A SEGUNDA VINDA DE CRISTO EM GLÓRIA E MAJESTADE


Para que o reino de Deus seja estabelecido, urge que o Rei do reino desça do céu à terra. E a Segunda Vinda de Cristo terá, em verdade, como primeiro objetivo, o de Ele tomar posse do mundo que o grande inimigo do direito — Satanás — Lhe usurpou e aqui implantou o seu reino entregando nas mãos dos homens que não sabem governar. Satanás mesmo mostrou a Cristo os reinos do mundo dizendo serem seus e que os daria a quem ele bem quizesse.


1 E o Senhor precisamente dissera ser Satanás “o príncipe deste mundo”.2 Mas, logo Jesus, a pedra da profecia de Daniel, cairá é tudo reverterá a Ele como Seu legítimo dono — quer pela creação quer pela redenção.3 Há nas Sagradas Escrituras 2500 referências à segunda Vinda de Cristo em glória, majestade e poder, para intervir neste mundo. Sérias; profecias aludem a Seu direto ajuste com as nações. As mais importantes encontram-se no livro do Apocalipse, e assim se expressam: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”.1 “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco: e o que estava assentado sobre ele chama-Se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. 


E os Seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a Sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual Se chama é a Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua bôca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso. E no vestido e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores”.


2 “E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque vindo é o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?”.


3 “E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do Homem, que tinha sobre a Sua cabeça uma coroa de ouro, e na Sua mão uma foice aguda. E  outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao que estava assentado sobre a nuvem: Lança a Tua foice, e sega; é já vinda a hora de segar, porque já a seára da terra está madura. E Aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a Sua foice à terra, e a terra foi segada”.4


Pelo profeta Ageu faz o Senhor Jesus Cristo esta solene declaração: “E derribarei o trono dos reinos, e destruirei a a força dos reinos das nações”.5 Através de Isaías, o profeta evangélico, diz ainda do grande Rei: “Uivai, porque o dia do Senhor está perto: vem do Todo-poderoso como assolação”. “Eis que o dia Senhor vem, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação, e destruir os pecadores dela”.6 E pela pena de Jeremias, o corajoso profeta, acrescenta: “E serão os mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da terra até à outra extremidade da terra: não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados; mas serão como estrume sobre a face da terra”.1


Será a intervenção de Cristo um ato estranho dele, mas não há outra solução para o problema.2 As nações, os governantes e a humanidade em geral, recusam as leis de Deus e as pizam dia e noite ofendendo assim o grande Legislador e grande Rei de quem dependem em todo o sentido da vida. O único remédio para o grande mal, é, sem dúvida, a inexorável intervenção do céu — A Segunda Vinda de Cristo, para liquidar a afrontosa controvérsia contra o Poderoso e único Dominador.


Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, anela salvar a todos quantos sinceramente desejarem ser salvos. Para isso Ele veio ao mundo e deu na cruz do Calvário a Sua vida divina. Suas inúmeras e gloriosas promessas nos dois Testamentos revelam seu indizível anelo de que deseja salvar a todos, embora a maioria dos homens detestem recebê-l’O como único Salvador. 


A tragédia consiste em a maioria dos indivíduos pensar serem bons demais para necessitarem da salvação do Senhor. Contudo o amante Redentor apela pateticamente aos perdidos. E aqui está a mais comovedora promessa apelativa que Ele faz a todos sem exceção:


“Não se turbe o vosso coração; crêdes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E quando eu fôr, e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejai vós também’’.3


Esta preciosa e poderosa promessa revela a profundeza do amor do Salvador por Seus filhos em aflição neste mundo e ardente desejo por salvá-los a todos. E, todo aquele que por Ele ainda não se dicidiu, não resistirá a seus apelos nela envolvidos se em seu coração houver uma dose de sinceridade por pequenina que seja. Não ocuparemos mais espaço para citar grande número de outras imensuráveis promessas relativas à Sua segunda vinda. Esta, citada, é a mais sublime de todas, a coroa de todas elas e suficiente como citação nesta obra de interpretação profética.


Em face do fim iminente, urge que nos preparemos com apressada urgência. O grande conselho do Senhor é este: “Prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus”.1 Alguns pensam que estão preparados mas serão amargamente surpreendidos. Dêles advertiu Jesus: “Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitas maravilhas. 


E então lhes direi abertamente: “Nunca vos conheci: apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade”.2 Não brinquemos, pois, com o solene momento. A poderosa Pedra cairá iminente sobre a civilização ímpia, descuidada e indiferente do século, reduzindo-a a pó. Estejamos preparados. Estejamos prontos. Estejamos alerta. Estejamos aguardando o Salvador. Amém!


O FUTURO GLORIOSO REINO DE DEUS


Ao sair esta terra das mãos do Criador era um glorioso paraíso. Mas tornou-se um cáos pelo mau governo do homem e sua recusa das leis de Deus. O homem perdeu seu caráter santo e justo; perdeu a sua integridade; comprometeu e interrompeu a sua direta relação pessoal com o seu Criador e até agora segue os passos da desobediência e descaso aos Seus planos. 


E o pior — perdeu a sua vida. E, à medida que o tempo vem passando, já durante cerca de 6.000 anos, — a crise têm-se tornado mais aguda e mais severa. Nestes finais dias do império do mal a situação é mais caótica que em qualquer época passada. O homem avança de mal para pior.3 Implantou no mundo o direito da força contra a força do direito. 


Em sua impostura, está de contínuo pensando em novas ordens no Oriente e no Ocidente, nova política mundial, nova sociedade de nações, novos tratados, novos discursos, — e por fim, como resultado um novo cáos surge no mundo mais intolerável que o anterior. O arrogante homem abriu no mundo uma chaga que não poderá jamais curar, nada valendo os seus emplastros e remendos hipócritas. Porém, a agudeza da crise, como se revela atualmente, é prenúncio certo do fim da tragédia, da intervenção indiscutível e inadiável do Filho de Deus para deter a onda do mal e restabelecer a justiça e a moral desaparecidas.


A  nova  verdadeira  ordem  mundial  é  o  reino  que  Cristo  virá estabelecer, fazendo uma limpeza neste malfadado planeta arruinado pelo governo do homem. “Eis que faço novas todas as coisas”, é a sua segura promessa”.1 “E vi um novo céu e uma nova terra”, diz o profeta.2 “Virá o primeiro dominio”, acrescenta “outro vidente de Deus”.3 Tudo será feito novo tal como primitivamente saíra das mãos do Criador. Um reino atapetado de justiça e verdade.


4 Uma terra nova de perfeita paz.5 Um reino sem parasitas.6 Uma terra feliz sem sofrimentos, lágrimas ou morte.7 Um mundo novo sem política e sem políticos e portanto sem bombas atômicas, sem canhões, sem metralhas, sem crimes, sem opressões, sem explorações e sem exploradores, sem extorsões, sem imoralidades.


E o Rei do novo reino quem será? Porventura O elegerão num pleito político? Não, naquele reino não haverá o câncer da política e dos políticos que não se interessam pele bem-estar do povo, antes o entregam na mão dos ladrões exploradores, assaltantes da bôlsa dos martirizados, desprotegidos e abandonados cidadãos.


O Rei do novo reino será Aquele que deu vida para com este ato de imensurável amor, garantir a Seus súditos que fará um glorioso, grandioso e eterno reinado. Notamos estas maravilhosas profecias: “Louvem-Te a Ti, ó Deus, os povos; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e regozijem-se as nações, pois julgarás os povos com equidade, e governarás as nações sobre a terra”.8 “E o Senhor será rei sobre toda a terra: naquele dia um será o Senhor e um será o seu nome”.


9 “Toda a terra Te adorará e Te cantará louvores: eles cantarão o teu nome”.10 É verdadeiramente grandioso e impressionante!  Cristo, o futuro Monarca do mundo! Só Ele é quem sabe governar! O homem quer governar sem saber e só faz fiasco! Mas, graças a Deus o Seu Filho será o nosso Rei! Ele é o único Rei que sabe amar os seus súditos. 


Espetacular — Seus súditos serão todos comprados e remidos por Seu imaculado sangue vertido na cruz do Calvário! Por isso eles todos amarão o Seu divino Rei que por eles demonstrou inefável amor antes de reinar sobre eles. Entre eles e o amante Rei, haverá estreitos laços de verdadeira amizade, e juntos viverão enquanto a eternidade durar.1


Nos dois últimos capítulos da Bíblia temos uma fascinante descrição da cidade celestial, a Nova Jerusalém, capital do futuro novo reino de Cristo na terra. Um aspecto deslumbrante e imponente tem a gloriosa cidade, também capital do universo. Os remidos do Rei a ela irão sempre com indizível regozijo.2


Amigo leitor, a Pedra logo cairá! O reino do Senhor está iminente. Façamos prestos os preparativos para a vinda do bendito reino. Sim, a fim de abraçarmos logo o glorioso Rei!


O REI NABUCODONOSOR FICA SATISFEITO


VERSO 46: — “Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face e inclinou-se para Daniel e ordenou que lhe oferecessem sacrifícios e incenso”.3


HONRAS ESPECIAIS A DANIEL


Concluída a interpretação do sonho, o rei, que a ouviu com reverência e admiração, convenceu-se de sua verdade e a recebeu com profunda humildade e temor. O que segue nos últimos versículos revela o seu contentamento e sua gratidão ao profeta e através dele ao Deus do céu, cuja sabedoria e poder conhecera agora mais uma vez. Depois das honras prestadas a Daniel e sua posse imediata em cargos os mais altos do reino, o rei Nabucodonosor “revogou o decreto de eliminação dos sábios. A vida deles fora poupada em virtude da união de Daniel com o Revelador dos segredos” — o Deus Todo-poderoso.4


O grande monarca do mundo, sumamente impressionado, inclina- se respeitosamente para o jovem profeta. Versões há que traduzem “inclinar”, do verbo aramaico “segad”, por “adorar”. Cremos, entretanto, que James Moffatt, em sua versão da Bíblia, traduziu corretamente “segad” por “inclinar”. 


A dar crédito que Nabucodonosor adorou a Daniel, teríamos de admitir que Daniel concordou com o gesto do rei, o que é inadmissível em face dum profeta de Deus. Não há um caso, antes ou depois de Daniel, em que um profeta do Senhor aceitasse adoração de quem quer que fosse. Sabemos que São Pedro recusou peremptòriamente adoração de um homem seu igual.1 Até mesmo o anjo Gabriel não consentiu em ser adorado quando São João, o apóstolo, o quis fazer.


2 Aceitaria Daniel a adoração que o próprio poderoso anjo Gabriel recusara? Escreveria ele em seu maravilhoso livro, em que exalta a Deus como suprema autoridade no céu e na terra, que ele fora adorado por um semelhante seu — embora um monarca? Se ele escreveu tal coisa, então aceitara a adoração. Porém, de um humilde servo de Deus como ele o fora, não podemos crer que consentisse em receber uma honra que não compete a um mortal receber.


Tão pouco podemos crer que Daniel aceitasse os sacrifícios e a queima de incenso em seu louvor, ordenados pelo rei, como se fora ele um deus. Seu imaculado caráter não admitiria honras divinas só devidas a Deus. São Paulo e Barnabé rejeitaram receber essas mesmas honras, em Listra, quando na primeira viagem missionária pelo mundo gentílico.


3 Podemos assim assegurar-nos de que Daniel recusou todas as honras que o soberano pretendeu prestar-lhe como se ele fora uma divindade. Evidentemente como São Pedro e São Paulo e o anjo Gabriel o fizeram, explicou Daniel ao rei porque não podia aceitar as tãs elevadas homenagens e honras que só à divindade celestial são devidas. Além disso tê-lo-ía feito ver, como a princípio o informara, que a revelação e a interpretação do sonho procederam de Deus, e que a ele tão somente foram reveladas para que o notificasse.


O versículo seguinte é a garantia de que o rei não adorou a Daniel e que tão pouco ele aceitou qualquer honra que só o seu Deus compete receber.


A despeito, porém, como vimos, de que nenhum profeta, apóstolo ou anjo tenham recebido honras devidas somente a Deus, homens há que as pretendem e as exigem como se fossem divinos. Tal ato não só é ofensivo a Deus como também um dos maiores sacrilégios.


O REI ENGRANDECE O DEUS DOS HEBREUS


VERSO 47: — “Respondeu o rei a Daniel, e disse: Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, pois pudeste revelar este segredo”.


O rei Nabucodonosor cria seguramente que Marduk, o deus nacional de Babilônia e seu deus patrono, era o deus dos deuses e igualmente o senhor dos reis. Anualmente, na festividade de ano novo, recebia novamente de Marduk a dignidade real. Mais tarde ele próprio foi denominado “Nebo” — filho de Marduk. 


Agora, porém, diante da estupenda revelação e interpretação que recebe do céu. Marduk é posto de lado e a supremacia do Deus de Daniel, o Deus de Israel, é proclamada solenemente por ele mesmo — “Deus dos deuses, e o Senhor dos reis”. O Deus que Nabucodonosor pensava ter derrotado na Judeia, com o poder de Marduk, a vencer os judeus e conduzi-los em cativeiro, é por ele agora exaltado ao cume como Majestade suprema e única no céu e na terra.


Mais tarde, experiências novas que o rei Nabucodonosor fora obrigado a ter com o Deus de Israel, convenceram-no com respeito a atributos outros adicionais Seus, até que por fim decidiu-se a aceitá- 1’O, adorá-1’O e proclamá-1’O incondicionalmente, esquecendo Marduk em definitivo e crendo nada representar senão um deus fictício, uma quimera, inventado pela superstição humana e pelo falso sacerdócio do paganismo babilônio.


Nêste quadragésimo sétimo versículo, vimos que o rei Nabucodonosor reconheceu também o Deus de Daniel como revelador dos segredos — aliás, como Deus Onisciente, o que equivaleu a dizer que diante dele todas as coisas estão nuas e patentes. Estes três testemunhos do monarca a respeito de Deus: Como supremo entre os deuses, como Senhor dos reis e como revelador dos segredos, — comprovam, em absoluto, que Nabucodonosor não adorou a Daniel, pois seria isto reconhecê-lo como Deus e atribuir-lhe as mesmas honras.


DANIEL — PRIMEIRO MINISTRO DO REINO


VERSO 48: — “Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes dons e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também por principal governador de todos os sábios de Babilônia”.

 

O rei Nabucodonosor havia feito grandes promessas de custosas dádivas e grandes honras a quem o satisfizesse revelando e interpretando o seu esquecido sonho. Fiel a esse compromisso, cumpriu-o à risca engrandecendo a Daniel e dando-lhe “muitos e grandes dons”. O vocábulo “dons” é vertido por James Moffatt, do original “mattens” — por “presentes”. 


Embora não saibamos quais os presentes doados a Daniel pelo soberano, podemos crer que foram custosos. James Moffatt traduz “grandes dons” por — “vistosos presentes”. O rei Belshazzar, mais tarde, como recompensa pela leitura e interpretação da fatídica sentença — Mene Tekel Peres — ofereceu-lhe vestes de púrpura, cadeia de ouro ao pescoço e o lugar de terceiro rei do reino. Daniel, porém, não se deixou intoxicar com os “presentes” e “honras” de Nabucodonosor e de Belshazzar. 


Um embaixador de Deus do seu quilate, não espera dádivas ou favores dos homens pelo desempenho de sua honrosa missão conferida pelo céu. Desprendido de tudo quanto é efêmero, cumpre ele o seu dever visando apenas a recompensa eterna que o seu Deus lhe pode dar bem como a todos os que como ele lhe forem fiéis.


A segunda honra prestada a Daniel pelo rei de Babilônia, foi a de empossá-lo no governo da província de Babilônia. Era esta a mais alta honra conferida a um governador de província, pois Babilônia era a província-mãe que incluía a própria grande e suntuosa capital do reino e do mundo. 


Esta honra Daniel aceitou e alegrou-se com ela, não em face do elevado posto como uma honra pessoal, mas para poder salientar-se mais como representante do poderoso rei do universo. Além disso Daniel iria mostrar àqueles que no mundo desempenhavam elevadas funções administrativas, o que significa ser um burocrata; sim, demonstraria a essa classe de funcionários públicos o que em verdade significa um burocrata patriota (embora não fosse um caldeu) e não um parasita que só pensa em salário, aumento de salário e em aposentadoria com o mínimo tempo de serviço possível. 


E Daniel, como foi José séculos antes no Egito, demonstrou deveras o que é um burocrata de consciência e como devo ele servir o seu país no importante encargo em que está empossado, sem lezar o erário público com um parasitarismo morto que anseia pelo fim do mês para embolsar proventos pelo trabalho que não fez ou pelo mínimo que produziu. No seu encargo de confiança, exemplificou Daniel ao mundo o que é um homem que serve a Deus e como desempenha a sua função de responsabilidade, seja perante o Estado seja perante qualquer organização empregadora, (Ver o capítulo VI neste sentido).


A terceira honra conferida a Daniel, foi o de “principal governador de todos os sábios de Babilônia”. Ainda que esta destacada honra o colocou em sabedoria acima de todos os pretensos sábios, ele, com toda a certeza, não se simpatizou com ela. 


Era a mesma coisa que ser o chefe duma quadrilha de mentirosos e embusteiros! Mas, o rei, é claro, não sabia que esta aparentemente destacada honra não o honrava. Todavia cremos que o sábio Daniel deu ótimas lições de sabedoria àqueles homens tidos como sábios,  mas sem qualquer sabedoria. Deu-lhes, certamente, grandes aulas demonstrando-lhes que a verdadeira sabedoria tem sua fonte em Deus e que dele ela emana aos que O temem e O servem.


A quarta honra do soberano a Daniel e que a temos no versículo seguinte, foi a de primeiro ministro do reino, conjuntamente com a de governador da província de Babilônia — “mas Daniel estava às portas do rei”. Esta, a maior função dum homem de Estado, depois do chefe do executivo — do rei ou do presidente — Daniel desempenhou durante todo o tempo em que existiu o Império de Babilônia, por setenta anos. 


Vimos aqui um caso inédito — o primeiro encargo de primeiro ministro do mundo, de toda a terra! Neste pôsto-chave do reino mundial, foi Daniel, mais propriamente, o primeiro ministro do reino universal de Deus no setor da terra. Que grande bênção para as nações não fora ele! Que exemplar dignidade de alto funcionário não fora ele para todos quantos ocupavam a mesma função de primeiro ministro entre as nações de seu tempo e de todos os tempos até agora! 


Cremos que toda a prosperidade do grande reino de Nabucodonosor deveu-se à influência de Daniel em Palácio como chanceler mundial e o primeiro depois do rei — para não dizer o rei como primeiro depois dele. Depois da morte de Nabucodonosor, os seus sucessores não deram muita importância a Daniel como chanceler, e o reino foi a pique. Os persas, porém, inicialmente, tiveram grande prosperidade, graças ao fato de terem reconhecido em Daniel um homem indispensável, pondo-o também como primeiro ministro ao tempo de Dario, o Medo, e ao iniciar Ciro o seu reinado. Felizes as nações com burocratas do caráter de Daniel.


O que mais se destaca em toda esta sublime história, é que Daniel foi feito governador de Estado e primeiro ministro dum reino mundial aos vinte anos de idade! Deveras é o único caso — inédito, aliás — na história da civilização humana. José, no Egito, ascendeu ao posto de primeiro ministro aos trinta anos de idade, o que é também notável.


1 É de suma importância que estes fatos envolvam dois jovens tementes a Deus, fiéis em todos os altos princípios que respeitam à vida que um cidadão cristão e filho de Deus deva aqui viver. Que poderá fazer, Deus hoje com jovens do caráter de Daniel e de José, que O honraram ao sumo? E onde estão estes jovens leais aos princípios do céu no século XX? Fornecerá o cristianismo tais jovens nesta geração? Possui-los á a Igreja de Deus hoje, jovens da têmpera de Daniel e de José? Pode ser que se possa encontrar tais jovens hoje, todavia é necessário procurá-los com a lanterna de Diógenes!


DANIEL NÃO ESQUECE A SEUS COMPANHEIROS


VERSO 49: — “E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de Babilônia a Sadrach, Mesach e Abed-nego; mas Daniel estava às portas do rei”.


Exaltado aos píncaros da administração dum reino mundial, não se ufanou Daniel com esta honra, sabedor de que ela viera de Deus e para a Sua representação naquela corte da terra através de sua pessoa. Contudo, seus companheiros, a seu ver, deviam assumir também altas funções de responsabilidades chaves naquele reino, mediante as quais fazer refulgir a luz do céu e de Deus. 


Eles haviam mantido plena lealdade aos princípios fundamentais do são viver quando do impasse referente ao cardápio da universidade da corte ao cursarem-na por três anos. Além disso, conjuntamente com ele estiveram em risco de vida na questão da falha dos sábios de Babilônia em revelarem o sonho do rei, e com ele suplicaram a interferência de Deus pela revelação do mesmo sonho. 


Em face de tudo isto, propôs Daniel ao rei que lhes desse posse nos negócios da província de Babilônia, o que foi  atendido imediatamente pelo soberano. Um pedido de Daniel, naquela altura dos acontecimentos, valia como um decreto, tanto mais que sua proposta em favor de seus companheiros viera de Deus. 


Deus queria tê-los todos juntos e em altas funções administrativas daquela corte, para que o facho da luz do céu fosse mais evidente e mais potente, e dali se expandisse glorioso pelo reino em fora. Assim, enquanto Daniel fora empossado em Babilônia como primeiro ministro do reino mundial, seus companheiros o foram como “juízes, governadores e conselheiros”.1 Estupendo! Jovens de Deus, aos vinte anos de idade, galgam os maiores postos no primeiro grande império da Terra.