2 O IMPRESSIONANTE SONHO DOS IMPÉRIOS - Cap 2 Daniel (Araceli)

Profecias de daniel de Araceli Melo

 

A matéria inspirada deste segundo capítulo, uma das mais fascinantes e dramáticas narrativas da revelação, encerra, em apenas quatro símbolos, a história política do mundo relativa a vinte e cinco séculos decorridos e ao estabelecimento duma nova ordem de paz e justiça na terra no futuro. No sétimo capítulo se nos apresenta a mesma matéria profética em símbolos diferentes e com algumas impressivas variantes em detalhes. 


Esta revelação, como apresentada nos emblemas do segundo capítulo, foi dada a um declarado pagão, ignorante do evangelho de Deus, totalmente leigo em revelações proféticas, símbolos proféticos e interpretação profética, alheio em absoluto às profecias inspiradas de Deus. 


Aquela do capítulo sete, porém, foi concedida a um dos profetas do Senhor, um homem familiarizado com a revelação do céu. Em ambas as exposições — capítulos dois e sete — Nabucodonosor, soberano do império mundial de Babilônia, estava e está representado por uma cabeça de ouro e por um leão-alado, respetivamente.


Há, pois, uma razão lógica que levou Deus a revelar ao rei Nabucodonosor a futura história dos poderes do mundo como apresentada no segundo capítulo e não como apresentada no sétimo capítulo. Naquele capítulo ele é simbolizado no ouro, emblema da riqueza e da glória, e neste num leão, imagem da força, de domínio implacável, de despotismo, de abjeto orgulho. 


Se Deus lhe houvesse dado a revelação que lhe deu como a temos no capítulo sete, ele teria ficado assombrado com o símbolo do terrível leão destruidor definindo a sua pessoa e a sua política como monarca da terra, e teria imediatamente se insurgido contra a inspiração e manifestado repulsa ao Deus de Israel, do qual Daniel era honrado representante em sua corte. E isto muito embora fosse o leão representado na arte e na mitologia caldaica como imagem de poder.

 

Nabucodonosor pretendia construir um grande império, ser um inigualável estadista real, amar seus súditos e prover- lhes todo o bem- estar possível e a felicidade — e o capítulo quatro revela ter alcançado este seu desejo. Fosse ele revelado pela inspiração no símbolo de arrogante e destruidor leão, seria provocá-lo e repelir o próprio Deus e despertar-lhe animosidade e ira contra Seu povo, principalmente contra Daniel e seus companheiros que tinham altas funções em seu reino como embaixadores do céu. 


Eis, pois, a razão primária da revelação em duas séries de símbolos diferentes, sendo a primeira preferentemente dada ao rei Nabucodonosor, e a segunda ao mundo depois dele.


Deus estava procurando fazer de Nabucodonosor um testemunho vivo de Seu poder em todo o orbe. Disse-lhe Deus o sonho e sua interpretação como encontrado no sétimo capítulo, nada seria conseguido. 


Porém, em dar-lhe o sonho como exposto no capítulo dois, revelou Deus um tato especial para não exasperá-lo, e conseguiu dele favorável impressão ao interpretá-lo Daniel e assegurar-lhe a honra de estar representado na cabeça de ouro da estátua de seu sonho. Semelhante a seus contemporâneos, Nabucodonosor cria em sonhos como um dos meios pelos quais os deuses revelavam os seus desejos aos homens. 


E, a divina sabedoria revelou-se ao grande rei no próprio terreno de sua crença dando-lhe um notável sonho inspirado. Deus sempre adapta seu modo de operar em prol dos homens segundo a capacidade individual de cada um e as circunstâncias do tempo em que vivem. 


Assim agiu o Todo-poderoso em relação ao rei de Babilônia para dar-Se-lhe a conhecer bem como ganhar a sua confiança e assegurar a sua cooperação em promover o bem estar da família humana sob seu governo mundial invencível.


Ao grande rei foi mostrado o curso da história como ordenado pelo Altíssimo e como efeito de Sua vontade. Foi-lhe referido o lugar de sua responsabilidade no grande plano do céu, a fim de que ele tivesse a oportunidade de cooperar efetivamente com o divino programa. 


Todavia, as lições da história dadas a Nabucodonosor, eram designadas a instruir todas as nações e todos os homens em eminência sobre as massas até o fim do tempo. A todas as antigas potências assinalou Deus um lugar especial em Seu glorioso plano. 


Mas, quando governantes e povos falhavam em sua oportunidade, sua glória era reduzida a pó. E, as nações modernas, inclusas também no divino plano, devem dar ouvidos às lições da passada história e ao trato de Deus com os antigos povos e reconhecê-lo como Piloto-Chefe na marcha milenária das nacionalidades.


Por outro lado, os símbolos das revelações em sonhos dos dois capítulos — 2 e 7 — decrescem de valor e evidentemente indicam a crescente estabilidade do poder do homem como governante. Daí a terrível política armada dos quatro impérios no antigo mundo, a fim de manter a autoridade e a submissão. E até os nossos dias a inglória e repelente história se repete, cujos atores são as grandes potências do século!


É notável como Deus deu a um pagão a revelação da sucessão dos Impérios do mundo! Não quer isto dizer que o rei Nabucodonosor tenha recebido de Deus o Dom de Profecia — como Daniel — para poder obter a tão extraordinária revelação profética. Antes dele outros personagens importantes receberam revelações de Deus em sonhos, sem a necessidade da antecipação do Dom de Profecia. 


Eles não foram chamados para exercerem o encargo de profetas. As revelações a eles dadas, como uma exceção, visaram, principalmente, dar-lhes certa medida de conhecimento de Deus e de seu poder, para que Seu povo não viesse a sofrer demasiadamente em suas mãos.


Foram dados sonhos a Faraó1; a Abimelech, rei de Gerar2; a um soldado midianita3; ao copeiro e ao padeiro de Faraó4; a Labão5; aos magos que procuravam Jesus6; à mulher de Pilatos7. Nenhum destes personagens, porém, era profeta regularmente chamado por Deus para um tal ofício. Tão somente receberam mensagens ocasionais em virtude de certas circunstâncias reinantes, desfavoráveis aos filhos de Deus no mundo do passado.


O capítulo dois de nossa consideração pode dividir-se nas seguintes partes: 1) O providencial esquecimento do sonho do rei por ele mesmo; 2) A derrota dos sábios de Babilônia em revelar o sonho ao rei; 3) O decreto de morte contra os embusteiros sábios; 4) A revelação do sonho numa visão a Daniel; 5) Daniel notifica o sonho ao soberano; 6) Os impérios do mundo no sonho da história; 7) O eterno reino de Deus no símbolo duma esmiuçante pedra. 


O rei Nabucodonosor ficou plenamente satisfeito. Como Daniel foi capaz de contar-lhe o sonho com todos os seus detalhes ele creu que sua interpretação era correta e a aceitou. Então o rei exaltou ao Deus de Israel como supremo Deus e engrandeceu o extraordinário jovem hebreu.


I — O SONHO DO REI NABUCODONOSOR UMA PERTURBADORA NOITE REAL


VERSO 1: — “E no segundo ano do reinado de Nabucodonosor teve Nabucodonosor uns sonhos; e o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o seu sono”.


O SEGUNDO ANO DO REI NABUCODONOSOR


Antes de empunhar propriamente o cetro real era Nabucodonosor rei coregente com seu pai Nabopalosor. Porém, o tempo da co- regência não era acrescido aos anos de reinado oficial de nenhum monarca oriental. O seu segundo ano como soberano absoluto referido por Daniel e como favorece toda a revelação deste capítulo, é o segundo ano de seu assento oficial no trono, ou seja o ano 604 a.C.. Posto que o ano de sua subida ao trono fosse 606 a.C., não fora este incluído no cômputo dos anos oficiais de sua realeza.


UM SONHO PERTURBADOR


Na corte do rei Nabucodonosor havia representantes de Deus pelos quais iria Ele comunicar-lhe o conhecimento de Sua pessoa suprema. Contudo, deu-lhe Deus, em Sua providência, duas  revelações que o impressionaram sobremaneira, sendo a primeira um notável sonho que consideraremos na exposição deste capítulo. O objetivo desta revelação ao monarca foi mostrar-lhe o poder de Deus e Seu controle sobre as nações do globo. 


Porém, ao acordar-se, altas horas da noite, seu espírito abateu-se sobremaneira, já pela magnitude do sonho, já por tê-lo esquecido totalmente. E naquela memorável e angustiante noite o soberano não mais pôde conciliar o sono. Todavia, uma forte impressão tomou conta de seus pensamentos e o perturbou seriamente. 


Sua condição psíquica mudou incontinente e o abateu perigosa e subitamente. Presságios de graves acontecimentos o envolveram. Em nenhum sentido pôde recobrar, mesmo no mínimo, o que sonhara. Embora lutasse por algum tempo com os seus pensamentos na busca do esquecido sonho, tudo foi em vão. Seu esquecimento total era-lhe um impenetrável mistério, posto que sabia ter tido um grande sonho. Sem dúvida o seu absoluto esquecimento fora providencial assim como o próprio sonho o fora.


Deus estava procurando revelar-Se ao rei Nabucodonosor, e em Seu plano sua mente foi fechada para a revelação depois de recebê-la. Oportunamente, um honrado porta-voz de Deus o visitaria em Seu nome e em Seu nome fá-lo-ia lembrar e dar-lhe-ia a sua respectiva e impressionante interpretação. 


Antes disso, porém, certas circunstâncias deveriam tomar lugar e encarregarem-se de preparar o caminho para tornar mais admirável o advento do mensageiro de Deus, dar um cunho mais solene à revelação esquecida e imprimir importância à sua significação fazendo-a acatável e aceitável por aquele potentado. E tudo redundou segundo planejado pelo céu.


UMA DIFICULDADE ESCLARECIDA


Segundo atestado no primeiro capítulo, o curso de estudos na universidade da corte de Babilônia, promovido pelo rei Nabucodonosor aos cativos de linhagem principesca, constou de três anos. Porém, no segundo ano de seu reinado, como verificamos, Nabucodonosor tivera o seu primeiro sonho e Daniel, que o revelara e interpretara, já era um dos sábios da corte, tendo concluído os estudos prescritos de três anos naquela universidade. 


Urge então a pergunta: Uma vez que Daniel, ao comparecer diante do rei — no segundo ano de seu reinado — para revelar-lhe o sonho, já havia concluído o curso universitário de três anos, como harmonizar esses três anos com apenas os dois anos de reinado oficial de Nabucodonosor, sendo que este rei ordenara a abertura das aulas da universidade imediatamente ao galgar o trono? Podemos esclarecer esta aparente dificuldade e removê-la, com a seguinte exposição:


1. Nabucodonosor subiu ao trono no ano 606 a.C., porém, não contou este ano de sua ascensão como primeiro ano de reinado oficial, e sim o seguinte ano. Contudo, fora neste ano que ele abrira as aulas da universidade e tomara lugar o início do curso aludido de três anos. O terceiro ano ou conclusão do curso seria o ano 604. Todavia não foram três anos completos de estudos.


2. As antigas cortes, embora não contassem como ano de seus reis o ano da ascensão, por ser incompleto, contavam, entretanto, como completos, os anos em que tomavam lugar suas façanhas de conquistas guerreiras e empreendimentos oficiais outros. 


A URGENTE CONVOCAÇÃO DOS SÁBIOS


VERSO 2: — “E o rei mandou chamar os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus, para que declarassem ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles vieram e se apresentaram diante do rei”.


QUATRO ORDENS DE SÁBIOS BABILÔNIOS


No Egito chegaram dois deles — Jannes e Jambres — a imitarem certos milagres de Moisés.1 No Novo Testamento lemos dum deles chamado Simão, tido por grande figura, sendo entretanto um finório espertalhão enganador.2 Um outro chamado Elymas, de Pafos, na ilha de Chipre, opôs-se a S. Paulo e foi severamente castigado por Deus.


3 Em todo o tempo existiram estes ludibriadores, não escapando deles o próprio século XX — chamado das luzes — no qual proliferaram vastamente e se manifestam como importantes figuras capazes de grandes coisas, — mas trata-se dos mesmos embusteiros da antiguidade e de todo o passado, bastante camuflados com uma sabedoria que não possuem e até desconhecem. No derradeiro final da história da terra chegarão até a imitar a obra de Deus para enganarem as multidões afastando-as, em nome de Satanás, dos caminhos de Deus.


2. Os “astrólogos”, como os “magos” ou “mágicos”, contavam grande número principalmente em todo o antigo oriente. Cada potentado tinha muitos desses chamados sábios, bem como magos e outros, a seu serviço, e até mesmo seguiam-nos em suas campanhas. 


Seus conselhos eram procurados pelos reis em muitas circunstâncias, tais como a rota que deviam seguir em suas campanhas guerreiras ou a data propícia para atacar a seus inimigos. A vida dos reis era amplamente controlada e governada por tais homens. Cresso, o famoso rei da Líbia, consultou a seus astrólogos se seria ou não vitorioso sobre Ciro. Responderam-lhe que ele destruiria um grande exército. Não definiram, porém, se destruiria o exército de Ciro ou o seu próprio. Deste modo sempre se cumpriam os seus vaticínios: positiva ou negativamente.


Seus conhecimentos de astronomia tinham atingido um surpreendente desenvolvimento. Eram capazes de predizer eclipses solar e lunar por computação, sendo altamente hábeis em matemática. 


Praticamente eram os homens da ciência. Porém, eram mais engenhosos na ciência astrológica supersticiosa extensamente cultivada naquele passado pelas nações orientais. Eram especialmente os que hoje são chamados “astrônomos’’, com a diferença de que estudavam os astros, em geral, no sentido da superstição e da busca de predições doentias e escandalosas, enquanto os astrônomos de hoje estudam os astros para compreenderem as grandezas de Deus Todo- poderoso.


3. Os “encantadores” — eram feiticeiros que, através de encantamentos ou artes mágicas, faziam as suas feitiçarias para encantar e arrebatar seus espectadores. Pretendiam adivinhar, ter comunicação com os mortos, predizer a sorte ou o destino das pessoas e resolver problemas e mistérios. 


Esta classe de remotos falsários muito desviou Israel de Deus.1 O mundo moderno está cheio destes chantagistas sem consciência que são especialistas em extorquir dinheiro das massas incautas. É o “professor” fulano, a “madame” fulana, que anunciam consultas através vasta propaganda, prometendo grande felicidade a seus consulentes apenas por alguns cruzeiros! Deus anuncia o ajuste em juízo com estes defraudadores que campeiam às soltas sem serem molestados pelos responsáveis zeladores da sociedade humana.2 Também contra os pregadores feiticeiros do cristianismo há uma conta a acertar.3


4. Os “caldeus” — constituíam a classe dos “doutos” de


Babilônia, de todos os pretensos sábios, eram os mais togados da sabedoria da época, mestres em linguística e em ciências naturais. Eram eminentes em literatura e filosofia da universidade do reino. Podemos compará-los aos catedráticos de nosso século, os grandes “sapientes”. Conheciam também astronomia, e, a despeito de toda a erudição de que eram grandes sumidades, davam-se também à magia e à astrologia supersticiosa da época.


Em face da pretensão de alta sabedoria manifestada por estas várias classes de indivíduos, chamados sábios, era justo que o rei a elas recorresse, apelasse e confiasse a solução de seu problema. O rei não só apelou mas exigiu que o satisfizessem, em virtude de serem os sábios oficiais da corte — que desvendavam e explicavam os  mistérios e prediziam os acontecimentos — e ali estarem para tudo resolver segundo isto mesmo pretendiam. Todos eles compareceram unânimes perante o rei Nabucodonosor seguros de que dariam solução imediata ao seu problema — o sonho esquecido.


O MANIFESTO COMEÇO DA DERROTA


VERSOS 3-9: — “E o rei lhes disse: Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu espírito. E os caldeus disseram ao rei em siríaco: O rei vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação. Respondeu o rei, e disse aos caldeus: O que foi me tem escapado; se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo; mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dons, e dádivas, e grandes honras; portanto declarai-me o sonho e a sua interpretação. 


Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação. Respondeu o rei e disse: Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo; porque vedes que o que eu sonhei me tem escapado. Por consequência, se me não fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude o tempo; portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação”.


UM ANGUSTIANTE DILEMA


O rei Nabucodonosor foi logo expondo sua dificuldade aos sábios. Havia esquecido o seu sonho e os convocara para o ajudarem. O momento foi de temor àqueles homens que pretendiam tudo saber e solucionar. Jamais tiveram um problema semelhante a resolver. Não podiam enganar o rei referindo qualquer coisa em afirmativa do seu sonho, pois ele não aceitaria sinão a insofismável verdade, o monarca fora claro: “Portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação”. 


Aliás, só confiaria na interpretação se lhe declarassem o sonho evidentemente exato. O dilema era extremo para aqueles embusteiros. Era a primeira vez que o grande rei os convocava para exigir-lhes a elucidação dum mistério. Fracassassem eles, confessariam incapacidade nas coisas ocultas e importantes, a despeito de se jatarem como únicos capazes de solucioná-las a todas. Grave era a situação em que foram envolvidos.


O PRIMEIRO SINTOMA CERTO DA DERROTA


Os chamados sábios não revelaram sabedoria ao responderem ao rei. Embaraçados com o inesperado caso, ficaram imediatamente transtornados e derrotados ante a exigência do soberano. Ele já lhes dissera ter esquecido o sonho e deles o exigia. Mas os filósofos e catedráticos caldeus, confessando aberta ignorância, assim responderam ao rei: “Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação”.


Aqueles enganadores dominavam a arte de obter suficientes informações em que basear alguns hábeis cálculos que lhes permitissem forjar respostas ambíguas e aplicáveis a quaisquer instâncias dos reis ou a quaisquer rumos que tomassem os acontecimentos. No caso de nossa consideração, fiéis a seus astutos instintos, pediram ao rei que lhes fizesse conhecer o sonho. 


Uma vez obtida essa informação, não seria difícil concordarem com alguma engenhosa interpretação que não fizesse perigar a reputação que enganosamente gozavam na corte. Entre a firmeza do rei em exigir e não ceder a evasiva deles em obter dele o sonho, travara-se uma desesperada batalha em palácio. Os “sapientes” buscavam uma via de escape, posto que estavam presos em seu próprio terreno. O rei estava disposto a não capitular — uma coisa só e irrevogável requeria deles: A revelação e interpretação do sonho.


Alguns, ainda hoje, censuram severamente ao rei Nabucodonosor por sua severidade neste assunto e lhe achacam o papel de um cruel tirado e irracional. Porém, não asseveravam aqueles sábios poder revelar as coisas ocultas, predizer acontecimentos, dar a conhecer os mistérios que superavam completamente a previsão e a penetração humanas e fazê-lo com a ajuda de agentes sobrenaturais? 


Assim, não era, pois, injusto o pedido do monarca para que lhe revelassem o esquecido sonho e o interpretassem. Nabucodonosor ficou com justiça exasperado com a perfídia daqueles em quem tinha confiado. Os que pretendiam saber tudo revelaram não saber nada! Decepcionado o monarca com a impostura duma sabedoria “zero” nas coisas de vulto, agiu com justiça, decisão e firmeza.


A AMEAÇA FATAL DO REI


Os “caldeus” revelaram absoluta falta de tato ao tratarem com o rei. Arrogando esta erudição filosófica capaz de dar a todos os segredos um resultado positivo e satisfatório, agiram como crianças inexperientes e incapazes. 


Em vez de contornarem o caso levando-o a bom senso — expondo motivos e fazendo ponderações embora inaptos para o solucionarem — imprudentemente exasperaram e enfureceram o soberano que foi levado, ante a evasiva da resposta que deram, a decidir do imediato: Ou revelariam o sonho e sua interpretação ou seriam sumariamente sentenciados à morte. Um tal ato era comum no mundo antigo. Assírios e babilônios eram notórios pela severidade aplicada a seus ofensores. De Assurbanipal é dito ter cortado em pedaços governadores vassalos rebeldes. Ciro, diz-se, mandou cortar o nariz a um povo inteiro.

 

Pudessem os sábios, porventura, satisfazer o rei, dissera-lhes ele, seriam grandemente honrados. Nabucodonosor não requereu mais do que eles próprios anunciavam ser capazes. Estavam agora sob um  teste decisivo. Ou seriam confirmados como verdadeiros sábios ou como verdadeiros charlatães analfabetos em sabedoria. 


Ou manteriam a confiança da corte ou seriam por ela declarados astutos falsários. Ou continuariam merecendo a alta honra de sábios ou seriam destituídos deste posto oficial no reino. Ou prosseguiriam tendo o privilégio da vida ou seriam privados dela pela sentença de morte. Eles deviam decidir que escolha fariam, que destino tomariam. O rei colocou-os entre a faca e a parede, entre a vida e a morte.


O DESFÊCHO DA CRISE


Novamente insistem os “caldeus” na mesma tecla: “Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a interpretação”. Esta imprudência revelou aberto nervosismo e declarado desespero de causa. Era a aceitação, em definitivo, da derrota, a confirmação da ignorância, a revelação da farsa duma sabedoria embusteira, o temor da descoberta do charlatanismo que lhes era próprio, o receio da perda da influência como sumidades em matéria de mistérios e ocultismo, o rei, porém, não se deixou levar pela lábia dos desmascarados hipócritas derrotados. 


Firme e inflexível em seu requerimento, iria a ponto de justiçá-los se não se revelassem capazes agora, como sempre arrogavam em todos os casos e circunstâncias. O soberano percebera a manha. Abrem-se-lhe os olhos quanto aos limites desses parasitas palacianos. Procuravam “ganhar tempo”, até que por fim ele desistisse de seu invulgar pedido, se acalmasse e revogasse a sua ameaça fatal. Mas Nabucodonosor não se deixa ludibriar.


É surpreendente que neste estranho caso parece que só os “caldeus” tinham um pouco de coragem para se aventurarem a falar ao rei! Os demais “sabichões” não se manifestavam dando opinião. Ficaram neutros. O terror imposto pelo descontrole da classe mais alta deixou-os espavoridos e puseram suas barbas de molho, — o silêncio lhes era ouro antes de precipitar mais a crise com declarações que bem sabiam não seriam aceitas pelo irado monarca, antes complicariam mais o caso e ratificariam a ignorância e o embuste de que eram mestres.


O rei Nabucodonosor permaneceu inflexível em sua ameaça extrema. E isto ainda mais por ter percebido, pela insuficiência dos “sapientes”, que já tinham preparado perversas mentiras para proferirem como interpretação, caso ele lhes pudesse contar o sonho. Mas o soberano insiste: quer a revelação do sonho e a sua interpretação — ou a vida de todos eles como enganadores evidentes.


A CONSUMAÇÃO DA DERROTA


VERSOS 10-11: — “Responderam os caldeus na presença do rei, e disseram: Não há ninguém sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei: pois nenhum rei há, senhor ou dominador, que requeira coisa semelhante dalgum mago, ou astrólogo ou caldeu. Porquanto a coisa que o rei requer é difícil e ninguém há que a possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne”.


O REI É ACUSADO DE INJUSTO


Os “caldeus” ainda com a palavra! Temerosos das consequências do seu fracasso, empenharam-se em mostrar ao rei que seu pedido era irrazoável, que o que ele requeria estava além de toda a possibilidade. Confessaram que nem eles nem ninguém mais na terra era capaz de revelar o sonho ao rei. 


Fundados na ignorância de que eram peritos — embora nisso não crescem — incluem todos os demais mortais no mesmo rol e no mesmo nível. Estes “eruditos” são assim: Quando derrotados naquilo que pretendem ser os supremos mestres, então incluem a todos na mesma derrota. Não sabendo eles, ninguém mais na terra ou no universo o saberá!


Acusaram a Nabucodonosor de absoluto injusto. Nenhum outro rei, disseram, jamais requereu tal coisa de um sábio seu — mágico, astrólogo, encantador, ou caldeu. Isto foi o fim. Esta injusta acusação ao rei liquidou-os duma vez. Nada sabiam mais, com relação às coisas importantes — naturais ou sobrenaturais — do que todos os mortais da época. 


Eram pagos pelo reino para mentir e ludibriar. O rei ficou enojado daqueles falsários e espertalhões. Viu que ele e todo o seu povo eram vítimas de constantes enganos bem pagos com o ouro do reino. A repercussão do incidente alcançou, seguramente, os mais distantes rincões do inteiro reino, e deu motivo aos mais variados comentários. Os “sábios” do Egito, da Grécia, e de outras nações certamente puseram suas barbas de molho com a atitude do rei Nabucodonosor!


Aqueles chamados sábios pretendiam comunicação com os deuses. Todavia, a declaração que a final fizeram, premidos pela inflexibilidade do rei, — que só “os deuses cuja morada não é com a carne” poderiam satisfazê-lo, era uma tácita confissão de que não tinham nenhuma comunicação com esses deuses, que a idolatria é um sistema vão de culto e que não possuíam mais sabedoria do que a que se poderia adquirir na esfera da terra em que viviam. 


Fora abaixo a farsa e a máscara é por fim descerrada; a derrota foi consumada em franca confissão de incapacidade. Cai assim vencida e desmascarada diante da revelação do céu, dada ao Rei Nabucodonosor, a falsa filosofia, a especulativa ciência e as enganosas comunicações com o ocultismo e com o além. Também no Egito foram desmascarados os sábios de Faraó diante da revelação divina.


1 E, ainda hoje, estas falcatruas de Satanás que são mais abundantes e mais disfarçadas que na antiguidade, são declaradas obras do demônio e do engano camufladas pela “toga” e pela “vidência”. Nossa civilização, em matéria de superstição, não está aquém daquela de que tratamos. Em todas as nações campeiam os ludibriadores do mesmo gênero com ampla propaganda, chegando a darem audições em teatro para difundirem suas falcatruas com entradas bem pagas. E os que governam nada fazem para livrar a civilização deste charlatanismo extorsivo e vergonhoso.


A INEXORÁVEL SENTENÇA FATAL


VERSOS 12-13: — “Então o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia. E saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscarem a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos”.


A revelada falsidade de que eram senhores sob o manto de “sábios” e a acusação de injustiça que jogaram contra o rei em requerer deles o que requereu, enfureceram sobremaneira o soberano. O assunto estava encerrado e a sentença de morte foi incontinentemente decretada. 


Ainda que não podemos justificar a extrema medida de que se valeu o monarca, incluso a liquidação dos próprios lares daqueles homens ou de seus familiares, não podemos, entretanto, deixar de nos simpatizar com a medida fatal o que recorreu contra aquela classe de miseráveis impostores. 


A evidente falta de honradez e o mistificado engano — o rei não podia de modo algum tolerar. Diz um corriqueiro ditado: “O cão tanto vai ao moinho que um dia deixa o focinho”. Os chamados sábios de Babilônia tanto se arriscaram a enganar que um dia foram flagrantemente descobertos e punidos.


O rei Nabucodonosor teve a coragem de dar o golpe naqueles tipos de ladrões legalizados pela própria corte que recebeu de seu pai. Quão diferente são os fracos governantes do mundo moderno — do século das luzes — que consentem a ludibriadores idênticos a proliferarem livremente por toda a parte, extorquindo o povo com crassas mentiras semelhantes. 


Quais piratas legalizados, aí estão ostensivamente exercendo a inglória profissão dos falsários de Babilônia e fazendo ampla propaganda do engano vendido por dinheiro como se fora virtude. E ninguém os incomoda ou com eles se importa! Não há lei no mundo moderno contra este tipo de chantagem e franca ladroeira!


Entre os que deviam morrer estavam Daniel e seus três companheiros que para tal foram buscados. Isto prova que já haviam concluído os três anos de estudos como dissemos e que eram considerados pelo rei no rol dos sábios da realeza.


O rei que declarara Daniel dez vezes mais sábio que todos os sábios do reino, não notara a sua ausência entre os sábios que convocara à sua presença. Providencialmente ele não se juntou com aquela quadrilha de falsificadores e nem foi sua ausência notada pelo rei, posto que o maior e o verdadeiro único sábio daquela corte. A verdade não tem parceria com o erro. 


Houvesse Daniel comparecido conjuntamente com aqueles dissimuladores, teria passado por um deles e desonraria ao Deus de Israel do qual ele era ali embaixador. Ficaria assim encoberto o embuste dos pretensos sábios, pois Daniel resolveria o problema e o engano da falsa sabedoria ficaria encoberto no manto da divina sabedoria. Mais adiante veremos razões maiores porque Daniel esteve ausente naquela dramática emergência.


DANIEL EM PALÁCIO


VERSOS 14-16: — “Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioch, capitão da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de Babilônia. Respondeu, e disse a Arioch, prefeito do rei: Por que se apressa tanto o mandado da parte do rei? Então Arioch  explicou o caso a Daniel. Daniel entrou; e pediu ao rei que lhe desse tempo, para que pudesse dar a interpretação”.


PRUDÊNCIA EM FACE DO PERIGO


Arioch informou a Daniel que, de acordo ao decreto real ele e seus três companheiros deveriam também morrer. Seus nomes figuravam no macabro decreto. Daniel, porém, que tomou a frente do grupo dos servos de Deus, não se intimidou. Ele sabia como agir naquele grave momento. Posto que em plena juventude de seus vinte anos, sabia em quem confiava. 


Com cautela e prudência pôs-se em campo imediatamente e interrogou de frente a Arioch: “Por que se apressa tanto o mandado da parte do rei?” “Arioch contou-lhe a história da perplexidade do rei a respeito do seu notável sonho, e seu fracasso no sentido de conseguir auxílio da parte daqueles que até então tinham desfrutado sua mais plena confiança. Depois de ouvir isto, Daniel, tomando sua vida em suas mãos, aventurou-se a ir à presença do rei, e rogou-lhe tempo, para que pudesse suplicar ao seu Deus que lhe revelasse o sonho e a sua interpretação”.1


Estupendo contraste! Antes de Daniel estiveram diante do rei homens já idosos, de má cara, trementes, revelando o engano e o embuste nos próprios traços fisionômicos. Agora tem o rei diante de si um homem em plena exuberante juventude, revelando destemor, serenidade, coragem e confiança num Rei maior do que o que tinha diante de si. 


O rei de Babilônia, abatido pela flagrante derrota de seus arrogantes, analfabetos e falsários “sábios”, e pela insultante vergonha que causaram à sua corte revelando nada saberem, e manifestando ainda o seu furor contra a enganosa impostura de que fora vítima, ficou entretanto cativo do jovem sábio que agora comparece à sua presença: Era belo e educado, Cortez, intrépido e príncipe. E, já que o simpático moço não lhe suplica que conte o seu sonho, mas lhe roga a concessão de um prazo para revelá-lo e interpretá-lo, anuiu ao pedido, creu em sua sinceridade e confiou que o satisfaria plenamente. 


Nabucodonosor simpatizou-se com Daniel e atendeu porque Deus tocou o seu coração. Dissera Salomão nos seus dias: “Como ribeiro d’águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina”.2


Houvesse o rei pedido desde o começo a Daniel — por ele próprio considerado como o sábio dos sábios da corte — que lhe fizesse conhecer o assunto, deveras os sábios de Babilônia não teriam sido provados e continuariam passando por verdadeiros às custas de Daniel. Mas a mão de Deus preferiu que aqueles enganadores pagãos comparecessem primeiro. 


Queria que confessassem o fracasso, a incompetência e o analfabetismo que lhes era próprio, — em face da legitimidade da divina inspiração — ficando assim preparado o caminho para o triunfo de Sua Majestade celestial através da manifestação de Sua suprema sabedoria e poder pelo testemunho de Seu cativo servo, a quem dera o Dom de saber discernir e revelar o sobrenatural.


Os sábios derrotados dariam qualquer interpretação na hora caso o rei lhes contasse o sonho. Espavoridos, porém, a intransigência do soberano e sua ameaça de morte, não lhes ocorreu solicitarem-lhe, como o fez Daniel, um prazo para buscarem de seus deuses a solução do problema. 


Certamente eles mesmos não criam nos seus pretendidos deuses! Transpareciam professá-los e os invocavam simplesmente como base fingida de seus ludíbrios. Não estavam preparados para tratar com o rei Nabucodonosor. A inflexibilidade do monarca no que deles requeria os desarticulou e tirou-lhes a visão para enfrentarem-no sem irritá-lo. Imprudentes em exigir que o rei lhes contasse o sonho


— o qual dissera claramente no início tê-lo esquecido — precipitaram uma fatal crise que, se não houvessem perdido o senso do tato, poderiam tê-la evitado ainda que não dessem a solução exigida pelo rei. Sim, eles não souberam contornar a crise. Daniel, porém, sem precipitação e com fino tato, compareceu em palácio, não para revelar imediatamente o sonho ao rei, mas para solicitar-lhe tempo para o fazer, e foi bem claro em informar ao soberano — que buscaria de seu Deus a solução do mistério.


SUPLICANDO A MISERICÓRDIA DE DEUS


VERSOS 17-18: — “Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este segredo, afim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, com o resto dos sábios de Babilônia”.


UMA REUNIÃO DE ORAÇÃO


Do palácio vai Daniel às pressas para a sua casa. Ali o aguardavam seus amados companheiros ansiosos pelos resultados de sua entrevista com o rei. Eles já estavam orando fervorosamente em súplica do favor de Deus pelo êxito de seu encontro com o monarca. E o regresso de Daniel os alentou. Ele notificou-os de tudo o que se passava e propõe-lhes uma reunião especial de oração em procura do auxílio de Deus e de Sua misericórdia. 


Conjuntamente examinaram o problema do rei e a perigosa situação que os envolvia. Por sabedoria humana sabiam que nada poderiam fazer para diminuir a ira de Nabucodonosor e dissuadi-lo a revogar o decreto de chacina. A única salvaguarda estava em Deus e Sua graça.


“Juntos buscaram sabedoria da Fonte de luz e conhecimento. Sua fé era forte na certeza de que Deus tinha-os colocado onde estavam, que eles estavam fazendo a Sua obra e cumprindo os reclamos do dever. Em tempo de perplexidade e perigo tinham-se voltado sempre para Ele em busca de guia e proteção, e Ele Se mostrara um auxílio sempre presente. Agora com coração contrito submetiam-se de novo ao Juiz da Terra, implorando que lhes desse livramento neste tempo de especial necessidade. E eles não suplicaram em vão”.1


Desconhecemos totalmente os termos das orações de Daniel, Hananias, Misael e Azarias, naquela circunstância. Cremos, todavia, que foram orações permanentes, angustiosas e confiantes. Naquele difícil transe em que suas vidas estavam em risco, atacaram o gigantesco problema com as poderosas armas da fé e da oração, e ganharam a vitória e com ela a vida. Não era a primeira vez que oravam com fervor a Deus e confiança no divino poder. 


A vida gloriosa que viviam naquela corrupta corte e naquela ímpia cidade, era resultante de poderosas orações e viva fé. Ser-lhes-ia certamente um vexame terem de sofrer a pena capital também como embusteiros, e o nome de Deus de Israel ser com isso desonrado, pelo que lançaram mão da divina graça e as suas potentes súplicas atingiram o trono do Onipotente e receberam uma positiva resposta imediata.


O SEGREDO É REVELADO A DANIEL


VERSO 19: — “Então foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite: então Daniel louvou o Deus do céu”.


“Numa visão de noite”, aliás, num inspirado sonho, “foi revelado o segredo a Daniel”. Era a primeira vez que através dele se manifestava o Dom de Profecia. Estava, pois, ganha a vitória sobre o problema do rei de Babilônia e debelada a angustiante crise. 


Estava ganha a vida para os servos de Deus e mesmo para os sábios que, àquela altura, estavam apavorados de terror pelo funesto decreto que, sem que esperassem jamais, iria agora ser revogado. O regozijo dos quatro jovens foi sem limites. O poderoso Deus de Israel que os conduzira àquela corte como Seus honrados representantes, não os deixaria vitimar por tão grande injustiça.


AÇÕES DE GRAÇAS ASCENDEM AO CÉU


VERSOS 20-23: “Falou Daniel, e disse: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a força; e Ele muda os tempos e as horas; Ele remove os reis e estabelece os reis;  Ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele  mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu Te louvo e celebro porque me deste sabedoria e força; e agora me fizeste saber o que te pedimos, porque nós fizeste saber este assunto do rei”.


O primeiro ato de Daniel, antes de comparecer novamente em palácio para informar o rei Nabucodonosor de seu sonho, foi agradecer e louvar a Deus pela revelação recebida. Sua oração de ação de graças foi um reconhecimento da supremacia de Deus. Esta oração deve ser lida e meditada pelos chamados sábios modernos e pelos governantes do mundo atual, que não pensam e não creem no poder  do Altíssimo e Todo-poderoso Deus do universo. Nada sendo ante o único e infinito poder, contudo em seu orgulho e vaidade se insurgem contra os mandos daquele que é o legítimo Senhor do domínio da terra.


DANIEL NOVAMENTE COM ARIOCH


VERSO 24: — “Por isso Daniel foi ter com Arioch, ao qual o rei tinha constituído para matar os sábios de Babilônia: entrou, e disse assim: Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e darei ao rei a interpretação”.


NÃO MATES OS SÁBIOS DE BABILÔNIA


De posse do sonho do rei e sua interpretação, apressou-se Daniel em encontrar-se com Arioch, o carrasco oficial do monarca para a matança dos sábios. Sua primeira preocupação foi salvar os condenados: “Não mates os sábios de Babilônia”, apela a Arioch. 


Estupendo testemunho preservado pela inspiração de um jovem temente a Deus! O decreto foi imediatamente suspenso até que fosse constatada a capacidade de Daniel em desvendar o misterioso sonho do rei. Verdadeiramente, “por meio de Daniel salvou Deus a vida de todos os sábios de Babilônia”.1 Fora Satanás que inspirara o rei Nabucodonosor a decretar a morte dos sábios do reino para que entre eles fossem mortos também Daniel e seus companheiros. 


Os jovens hebreus eram um perigo aos planos do inimigo do direito naquela corte que estava sob o seu controle. Satanás estaria disposto a matar até milhares de seus próprios agentes, contanto que aqueles quatro servos de Deus fossem eliminados entre eles. Ele sabia prover outros tantos falsários que se prestassem bem a seus satânicos fins. Mas tudo saiu ao contrário do que o adversário planejara. Fracasso idêntico verificou-se na trama para eliminar mais tarde Daniel na cova dos leões. Assim o ardil de Satanás não só foi frustrado, como serviu para dar mais realce do propósito de Deus.


Todavia aqueles sábios foram salvos porque havia na corte de Babilônia um corajoso e fiel jovem servo de Deus. A ele deviam eles agora a própria vida. Por causa de Paulo e Silas foram salvos o carcereiro de Felipe e todos os presos, e mais tarde todos quantos navegavam com o grande apóstolo foram também salvos da morte certa, por naufrágio, graças à sua presença entre êles.


1 Foi a presença de José com seus bons planos no Egito que, salvou aquele reino da catástrofe da morte por inanição.2 Em todos os tempos têm os ímpios se beneficiado pela presença dos justos. O mesmo dizemos especialmente de nossa atual civilização. Por amor ao povo de Deus ela ainda existe embora seus pecados se tenham acumulado até aos céus. Quão grata devia sê-lhe, pois, pela presença dos poucos justos que permanecem em seu meio! Se nenhum justo em seu meio mais houvesse, já há muito que teria ela sucumbido. 


Ao separar-se Noé da civilização de seu tempo, entrando na arca que o salvaria com sua família, todos os ímpios pereceram por um dilúvio de águas.3 Ao ser tirado Ló de Sodoma, a cidade foi envolta por dilúvio de fogo e enxofre.4 De igual modo, ao serem tirado logo os justos do mundo atual pelo segundo advento de Cristo, a nossa pecadora e ímpia civilização totalmente perecerá para sempre. Deviam, os ímpios, pois, ter como preciosa a presença dos justos com eles. 


Todas as bênçãos dos céus que ainda desfrutam, incluso a vida, resultam da presença  dos servos de Deus no mundo. Por meio dos Seus fiéis amados Deus os abençoa e lhes dá a oportunidade de O conhecerem e O servirem para que se tornem também justos e sejam salvos. Porém, lamentavelmente os justos sofrem em meio aos ímpios embora entre eles sejam como um salva-vida. Todavia o dia aproxima-se quando o impenitente reconhecerá tardiamente a bênção que fora o justo em sua presença, mas o rejeitou.


ARIOCH AGE COM PRESTESA


VERSO 25: — “Então Arioch depressa introduziu Daniel na presença do rei, e disse-lhe assim: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação. Arioch introduz Daniel a toda pressa à presença de Nabucodonosor. Uma urgente solução do mistério poderia resultar na imediata revogação do decreto de execução dos sábios, suspenso até à exposição de Daniel.


Arioch, porém, para se fazer agradável ao rei e merecer a sua simpatia como alguém sempre interessado por soluções positivas dos problemas do reino, vai dizendo logo ter encontrado um homem capaz de satisfazê-lo. Faltou, porém, este oficial com a palavra! Ele achara Daniel somente quando o buscara para ser morto. 


Fora Daniel que lhe rogara que o introduzisse à presença do rei Nabucodonosor, ao qual pedira um prazo para revelar o segredo. O próprio rei pôde constatar a premeditada inverdade de Arioch. Mas, ele quis fazer-se aceitável diante do potentado do mundo e daí ter lançado mão dum inglório expediente para adulá-lo e bajulá-lo.


Arioch apresenta Daniel ao rei como se este não o conhecera antes. Esta apresentação fora um calculado passo seu em fazer-se passar como o homem que por seus próprios esforços, descobrira um sábio para tornar claro o enigma em foco e tirar o rei de seu aflitivo impasse, — com isso pretendendo assegurar a si, como oficial da corte, o favor de sua alteza real. 


Lamentavelmente, todavia, Arioch apresenta a Daniel como “um dentre os filhos dos cativos de Judá”, e não como um grande sábio, — como aquele que fora declarado “dez vezes mais” sábio que todos os demais sábios da terra. Também o ímpio Belshazar, mais tarde, só vira em Daniel um “dos cativos de Judá”.1 Daniel, porém, não era um cativo. 


Cativo é aquele que está prezo, algemado pelo pecado, como o estava Arioch e também Nabucodonosor, Belshazar e todos os cortezões de Babilônia. Ninguém mais livre do que Daniel. Embora fosse, é bem de ver, fisicamente em cativo político e social, não o era no sentido espiritual, em que milhões são verdadeiramente cativos. 


Contudo Arioch, este verdadeiro cativo, afirma a Nabucodonosor de Daniel: “O qual fará saber ao rei a sua interpretação”. — Sim, eu garanto que ele resolverá o problema de vossa majestade — e lá se foi mais uma bajulação na carga de Daniel! Quão feio e quão ridículo é o vício hipócrita da bajulação! Ela, que como estamos vendo vem de longe, é própria dos deseducados e ridículos do que dos homens de peso e de caráter.


DANIEL EM PRESENÇA DO REI


VERSOS 26-28: — “Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Belteshazzar): Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei, e disse: o segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei; mas há um Deus nos céus, o qual revela os segredos; ele pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser no fim dos dias; o teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama são estas:”


NABUCODONOSOR PARECE DUVIDAR


Daniel permaneceu calmo e senhor de si na presença do maior monarca do mais poderoso império do mundo. As primeiras palavras que dirigira o rei foram indagatórias de sua capacidade para notificá-lo do sonho e sua interpretação. Daniel já lhe havia solicitado um prazo para revelar-lhe o segredo e certamente o faria. Pouco tempo antes, havia ele sido declarado pelo próprio soberano um dos hebreus dez vezes mais sábios que todos os chamados sábios do mundo. 


Entretanto, pareceu duvidar das suas possibilidades. Uma vez que os tidos como lúcidos e veneráveis sábios anciãos haviam sido  derrotados ante aquele mistério, que poderia fazer este jovem de apenas vinte anos de idade? Teria sabedoria capaz de solver tão grande enigma? Nabucodonosor tinha razão em desconfiar da aptidão de Daniel. A decepção que lhe causara aqueles sábios levou-o a desconfiar de todos quantos porventura se apresentassem com a pretensão de sapiência — mesmo extraterrena.


EXALTANDO A DEUS E SUA SABEDORIA


Em resposta ao rei Daniel fora franco em dizer logo que o seu segredo não era para a espécie de sábios da sua corte. Não devia, pois, confiar em suas enganosas superstições como revelações de grande sabedoria, e nem irar-se contra tais analfabetos em coisas importantes, pois eram incompetentes confessos diante delas. 


Esta introdução do servo de Deus — uma indireta bastante clara podia ter do pronto confirmado os pensamentos do monarca também contra si mesmo, visto que começou por dizer que nenhum sábio terreno poderia ajudá-lo a lembrar o esquecido sonho, e ele era considerado um do rol daqueles sábios. Porém, o que Daniel dissera a seguir, não só confirmou a incapacidade dos sábios do rei como liquidou suas dúvidas e lhe deu esperança.


Em suas primeiras palavras Daniel recusou honra para si mesmo, e exaltou a Deus, dizendo: “Há um Deus no céu”. Essa declaração pôs abaixo a crença em mais do que um Deus. Os deuses de Babilônia são assim reduzidos a meras superstições de feitio humano e de nenhum valor. Isto devia ter surpreendido a Nabucodonosor cujo nome enlaçava-se a seu predileto deus supremo do reino. 


Toda a desgraça da raça humana repousa no abandono do único Deus verdadeiro para venerar deuses fictícios. Todos os desrespeitos e deboches da civilização de todos os tempos têm como causa a recusa do “Deus do céu”, o Criador de todas as coisas. Adorassem os homens em todos os séculos o Supremo e Absoluto Deus, não pensariam jamais em adorar e prestar culto a deuses — imagens — feitos por mãos humanas. 


Desgraçadamente, a civilização do presente século, chamada “das luzes”, vive em grande parte sumida na mais compacta escuridão em matéria de fé e crença, adorando e curvando-se ante aquilo que não é Deus, mas inferior ao próprio homem que a inventa e o faz. Mas Daniel declarou corajosamente ao idólatra rei de Babilônia, que há um só Deus, e que todos os demais chamados deuses são meras superstições pagãs sem qualquer valor.


DEUS — O AUTOR DO SONHO DO REI


Solenemente afirma Daniel ao monarca que seu sonho fora uma revelação do Deus dos céus, o Deus de Israel. O rei julgava que os seus deuses haviam vencido o Deus israelita. Agora, todavia, Ele lhe dá um comunicado pelo qual revela a Sua supremacia, Seu invencível poder no céu e na terra. 


Não fora audácia de Daniel em arrasar indiretamente com os deuses de Babilônia e exaltar o Deus de Israel como Deus único, pois o próprio rei, com a interpretação do sonho, seria abalado em suas supersticiosas convicções no poder de seus deuses pagãos. Segundo as declarações iniciais de Daniel ao soberano, o memorável sonho inspirado continha a anunciação de todos os grandes eventos futuros da história até ao “fim dos dias”. 


Qual a  razão, porém, que levou Deus a notificar antecipadamente a Nabucodonosor o futuro das nacionalidades? Em primeiro lugar, para informá-lo do seu grave erro e vã pretensão de que a história seria invariável, isto é, que Babilônia continuaria eterna dominadora na terra; em segundo lugar, para demonstrar a todos os futuros governantes do globo quão efêmero é o cetro do poder humano; em terceiro lugar, para comprovar que Deus é quem tem o leme do poder em Suas mãos e que Ele é quem põe e depõe os governantes das nações e as próprias nações. 


Assim que, o sonho visou mostrar ao monarca de Babilônia e a todos os potentados do mundo de todos os séculos futuros, principalmente aos do “fim dos dias”, — que os reinos terrestres são simplesmente temporais, têm limitada duração e que o reino de Deus é o único que tem estabilidade, e o único que permanece para sempre.


A RESPOSTA AOS PENSAMENTOS DO REI


VERSOS 29-30: — “Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos ao que há de ser depois disto. Aquele pois que revela os segredos te fez saber o que há de ser. E a mim me foi revelado este segredo, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração”.


QUE HAVERÁ DEPOIS DISTO?


Ao contrário de outros mandatários da terra-passados e presentes  o rei Nabucodonosor preocupou-se seriamente com o futuro. Depois de elevar sua realeza ao cume do poder e da glória terrenais,  de fazer de sua capital a mais notável cidade de todos os tempos, desejou saber do futuro. 


Como vimos, cria ele sinceramente que Babilônia e os caldeus manteriam o cetro do poder pelos séculos sem fim. Mas queria saber como os seus compatriotas governariam a realeza que ele fundou e elevou à suprema grandeza política sobre todas as nações de seu tempo. 


E, naquela memorável noite, ao adormecer ele com estes ansiosos pensamentos, Deus lhe mostrou o anelado futuro, não só de seu reinado e de seu povo, como de todos os reinos e civilizações por vir. Especialmente notificou-o Deus de que em toda a terra se implantaria, “no fim dos dias”, o reino de Seu Filho  nosso Senhor Jesus Cristo.

 

UM SÁBIO REVELA HUMILDADE


Através da revelação que lhe dera, Deus ligou o rei Nabucodonosor diretamente com Seu povo. Um de Seus dignos representantes lhe faria conhecer o inspirado sonho e sua impressionante interpretação. O mesmo sucedeu a Faraó ao receber também sonhos inspirados no tempo de José.


1 Mas Daniel, embora grandemente honrado como embaixador do céu para revelar aquilo em que todos os sábios da terra falharam, não tomou o elevado mérito como fundamento de exaltação própria. Tão pouco jatou-se de comparecer diante do rei do mundo para declarar-lhe o sonho esquecido — por sua própria sabedoria. Ele esvaziou-se de todo o orgulho e exaltação e deu toda a honra e sabedoria da revelação a Deus. 


O mesmo fez José ao ser convocado por Faraó para interpretar seus inspirados sonhos.2 Chegou a dizer Daniel, o humilde homem, — grande, porém, aos olhos de Deus, que nele não havia mais sabedoria do que em qualquer outro mortal. Contudo, diz ele, o rei devia, pela interpretação do sonho, entender, “os pensamentos” do seu coração — aqueles pensamentos com os quais adormecera e o impressionaram seriamente com o futuro de sua grandiosa realeza. 


E não deixou Daniel nenhum sinal a que pensasse o rei ter sido ele — como maior potentado da terra — honrado por Deus com aquela revelação, senão somente entender os seus pensamentos quanto ao futuro da história política do mundo.


O SONHO DO PODEROSO REI


VERSOS 31-36: — “Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta estátua, que era grande e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre; as pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro. 


Estavam vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se fez um grande monte, e encheu toda a terra. Este é o sonho; também a interpretação dele diremos na presença do rei”.


POR QUE UMA ESTÁTUA SIMBÓLICA?


Nada mais que um sonho como tal poderia no momento impressionar ao rei Nabucodonosor e fazê-lo conhecer o futuro de seu império e dos demais que o seguiriam no curso da história. O monarca estava bem familiarizado, em Babilônia, com estátuas de todos os tipos e tamanhos, principalmente representativas dos deuses do reino. 


Portanto, uma imagem ou estátua atrairia mais sua atenção do que qualquer outro objeto. Depara-se-nos, assim a prudência da inspiração na escolha do símbolo mais próprio para despertar a atenção do monarca e ao mesmo tempo impressioná-lo com a sabedoria daquele que lhe dera a revelação simbólica da futura história da terra. E deveras Nabucodonosor ficaria, pelo menos por algum tempo, satisfeito com o símbolo e seu impressionante significado.


UMA ESTÁTUA SUI GENERIS


Embora muito familiarizado com estátuas, Nabucodonosor desconhecia uma semelhante à de seu sonho. Não o impressionaria muito se fosse idêntica às por ele conhecidas. A estátua sonhada era  de “excelente” esplendor e “sua vista terrível”. Aí está o luxo e o mal da política das nações, em evidência profética. Só um símbolo de terrível aspecto poderia representar as potências guerreiras conquistadoras do orbe. 


A variedade de metais de que se compunha impressionou grandemente o rei Nabucodonosor. A disposição dos metais simbólicos, na posição descendente em valor em vez de ascendente — conforme interpretara Daniel — produziu a poderosa impressão e efeito que a inspiração teve em mente. Foi demonstrado ao monarca que o caráter das futuras potências da terra, depois de Babilônia, até ao “fim dos dias”, se degeneraria e que lhes faltariam sabedoria, moral e poder governativos para fomentar a felicidade de seus súditos. 


Também nas relações internacionais haveria verdadeiro caos entre as futuras nações dominantes — ao ponto de serem figuradas até mesmo pelo ferro bruto e o frágil barro. Foi evidenciado que a pompa governamental terrena de nada valeria em face da necessidade dos governados se a sabedoria diretiva e a moral governativa estivessem ausentes. 


Em verdade o inspirado sonho mostrou ao rei de Babilônia a decadência do governo do homem na terra e evidenciou que ele, em virtude de seu coração e vida corruptos, não sabe governar os seus semelhantes, o desfecho da história, revelado nos pés da estátua, demonstra falta de unidade entre os poderosos das nações exatamente no término da crise dos séculos, — uma desunião sem remédio humano.


O ponto culminante do sonho do rei, foi o esmiuçamento da estátua representativa do inútil e prejudicial mundo político da história, — por uma misteriosa pedra jogada sobre seus pés. Não ficou sequer sinal algum da gigantesca, esplendorosa e terrível estátua; não houve lugar mais no mundo para os reinos e nações dos homens nela figurados. 


Depois de reduzir tudo a pó que o vento leva, a pedra, então, encheu a terra. O malsão, orgulhoso e opressor governo do homem no mundo de Deus, desapareceria totalmente e para sempre. O trono do Todo-poderoso por tanto tempo usurpado por Satanás nas pessoas dos pretensos poderosos senhores das nações, retornaria afinal ao seu legítimo dono e único Potentado legítimo. 


Adiante veremos  isto mais ao vivo pela interpretação de Daniel, o profeta conclui a narrativa dizendo — “Este é o sonho”. E, o monarca que ouvira abismado, pôde confirmar como verdade cada ponto como relatado por Daniel. Era o próprio sonho que o rei tivera e esquecera! Todos os detalhes haviam sido perfeitamente traçados. Nada faltava. 


Seus mais íntimos pensamentos haviam sido lidos por outro miraculoso! Agora, quase sem respirar, Nabucodonosor aguarda a prometida interpretação. O soberano, por certo, estava fascinado com o jovem sábio que tinha diante de si. Nabucodonosor confiou que o servo de Deus saberia dar-lhe também a verdadeira interpretação de seu grande sonho.