23 A Diferença entre Caminhar pela Vista e Caminhar pela Fé (John Wesley)

SERMOES DE WESLEY PDF


'Porque andamos por fé, e não por vista'. (II Corintios 5:7)



1. Quão resumida é essa descrição dos cristãos reais! E, ainda assim, quão excessivamente completa! Ela compreende; ela totaliza, toda a experiência daqueles que são verdadeiramente tais, desde os tempos que nasceram de Deus, e foram removidos para o seio de Abrão. Porque, quem nós somos, que aqui estamos sendo tratados? Todos os que são crentes cristãos verdadeiros. 


Eu digo cristãos, não judeus, crentes. Todos os que não são apenas servos, mas filhos de Deus. Todos os que têm 'o Espírito de adoção, clamando em seus corações, Aba, Pai'. Todos que têm 'o Espírito de Deus, testemunhando com seus espíritos, que eles são filhos de Deus'. 


2. Todos estes; e estes apenas, podem, dizer, 'Nós caminhamos pela fé, e não pela vista'. Mas, antes que possamos possivelmente 'caminhar pela fé',  nós devemos viver pela fé, e não pela vista. E todos os cristãos reais, nosso Senhor diz, 'porque eu vivo, você vive também': Você vive uma vida que o mundo, se culto, ou não, 'não conhece a respeito'. 'Você que', como o mundo, 'estava morto nas transgressões e pecados, Ele tem vivificado', e vivo; deu a você novos sentidos, -- sentidos espirituais, -- 'sentidos exercitados, para discernirem o bem e o mal espirituais'. 


3. Com o objetivo de entender totalmente essa verdade importante - pode ser apropriado considerar toda a matéria. Todos os filhos dos homens, que não são nascidos de Deus, 'caminham pela vista', tendo nenhum princípio mais alto. Pela vista, ou seja, pelos sentidos; uma parte tomada pelo todo; o sentido da visão, pelos demais sentidos; o melhor, porque ele é mais nobre e mais extensivo do que qualquer outro, ou todo os restantes. 


Existem poucos objetos que nós podemos discernir pelos três sentidos inferiores do paladar, olfato e tato; e nenhum desses pode ter alguma percepção dos seus objetos, a menos que sejam trazidos para um contato direto com eles. O ouvir, é verdade, tem uma esfera de ação maior, e nos fornece algum conhecimento das coisas que estão distantes. Mas quão pequena distância é aquela, supondo-se que ela seja cinqüenta, ou cem milhas, comparada àquela, entre a terra e o sol! E o que é, até mesmo esta, em comparação à distância do sol e da lua, e das estrelas fixas! Ainda assim, a vista continuamente toma conhecimento do objeto, até mesmo a esta distância.


4. Pela vista, nós tomamos conhecimento do mundo visível, desde a superfície da terra, às regiões das estrelas fixas. Mas, o que é o mundo visível para nós, a não ser 'uma partícula da criação', comparado a todo o universo? Ao mundo invisível? – aquela parte da criação que nós não podemos ver, afinal, por causa da sua distância; no lugar da qual, através da imperfeição de nossos sentidos, nós somos presenteados com um vazio ilimitado.


5. Mas, além desses objetos inumeráveis que nós não podemos ver, em razão da distância deles, nós não temos suficiente fundamento para acreditar que existam inumeráveis outros de uma natureza tão delicada, para serem discernidos, através de alguns de nossos sentidos? Todos os homens de razão imparcial não permitem a mesma coisa (o pequeno número de materialistas, ou ateístas, eu não posso denominar homens de razão), que existe um mundo invisível, naturalmente tal, tanto quanto um mundo visível? Mas qual dos nossos sentidos é sutil o suficiente para ter o menor conhecimento disto? Nós não podemos perceber alguma parte deste, através de nossa vista, mais do que através de nosso tato. Devemos concordar com o poeta da Antiguidade que: milhões de criaturas espirituais caminham na terra, sem serem vistas, quer quando estamos acordados, quer quando estamos dormindo. Devemos concordar que o grande Espírito, o Pai de todos, preencheu ambos o céu e terra; ainda assim, o mais apurado de nossos sentidos é extremamente incapaz de perceber tanto ao Ele quanto a eles.    


6. Todos os nossos sentidos externos estão evidentemente adaptados a esse mundo externo, visível. Eles são designados para nos servir apenas enquanto permanecemos por aqui, -- enquanto habitamos nessas casas de argila. Eles têm nada a ver com o mundo invisível; eles não estão adaptados a ele. E eles não podem ter mais noção do mundo eterno, do que do mundo invisível; embora estejamos tão completamente seguros da existência deste, como de alguma coisa no mundo presente. Nós não podemos pensar que a morte coloca um ponto final em nossa existência. O corpo realmente retorna ao pó; mas a alma, sendo de uma natureza mais nobre não é afetada por isso. Há, portanto, um mundo eterno, como quer que seja. Mas como devemos obter o conhecimento disto? O que irá nos ensinar a colocar de lado, o véu 'que se dependura em meio à existência mortal e imortal?'. Todos sabemos 'do panorama vasto e ilimitado, se estende, diante de nós'; mas não estamos constrangidos a mencionar, 'ainda que as nuvens e a escuridão, pairem sobre ele'.  


7. O mais excelente de nossos sentidos, é inegavelmente claro, pode nos dar nenhuma assistência nisso. E o que pode nossa razão grosseira fazer? Agora é universalmente permitido que 'nada existe em nosso entendimento, que não tenha sido, primeiro, percebido por alguns dos sentidos'. Conseqüentemente, a razão, tendo aqui nada sobre o que trabalhar, não nos permite ajuda alguma, afinal. De modo que, a despeito de toda informação que podemos obter, se do sentido ou razão, ambas do mundo invisível e eterno são desconhecidas a todos que 'caminham pela vista'. 


8. Mas não existe ajuda? Eles devem continuar, em total escuridão, concernente ao mundo invisível e eterno? Nós não podemos afirmar isto: Mesmo os pagãos não permanecem, em total escuridão, com respeito a eles, afinal. Em todas as épocas e nações, alguns poucos raios de luz têm brilhado levemente, através da sombra. Alguma luz eles derivaram das várias fontes, no tocante ao mundo invisível. 'Os céus declararam a glória de Deus', embora não para a vista exterior deles: 'O firmamento mostrou', para os olhos de seu entendimento, a existência do seu Mestre. Da criação, eles inferiram a existência de um Criador, poderoso e sábio; justo e misericordioso. E, disso, eles concluíram que devia haver um mundo eterno, um estado futuro, a começar depois do presente; no qual a justiça de Deus, punindo os homens maus, e sua misericórdia recompensando os justos, seria aberta e inegavelmente disposta, à vista de todas as criaturas inteligentes. 


9. Nós podemos supor razoavelmente que alguns indícios de conhecimento, tanto com respeito ao mundo invisível quanto eterno, foram entregues a Noé e seus filhos, ambos aos seus descendentes imediatos e remotos. E, não obstante, esses estivessem obscurecidos ou disfarçados, através da adição de inúmeras fábulas, ainda assim, alguma coisa da verdade esteve misturada com eles, e esses raios de luz impediram a escuridão completa. Acrescente a isto, que Deus nunca, em época ou nação alguma, 'deixou a si mesmo', completamente 'sem um testemunho', nos corações dos homens; mas, enquanto Ele 'deu a ele chuva e épocas férteis', concedeu algum conhecimento imperfeito do Doador. 'Ele é a Luz verdadeira que' ainda, em algum grau, 'instruiu todo homem que veio ao mundo'


10. Mas, todas essas luzes, juntas, não servirão para produzir, mais além, do que um fraco crepúsculo. Elas não deram, nem mesmo ao mais ilustrado deles, demonstração alguma; convicção alguma concludente, tanto do mundo invisível quanto do mundo eterno. Nosso poeta filósofo justamente denomina Sócrates 'o mais sábio de todos os homens morais'; ou seja, de todos que não foram favorecidos com a Revelação Divina. Ainda assim, que evidência ele teve do outro mundo, quando ele se dirigiu àqueles que o tinham condenado à morte? – 'E agora, Ó vocês,  juízes, vocês irão viver, e eu irei morrer! Qual desses é melhor, Deus sabe; mas eu suponho que nenhum homem morre'. Ai de mim! Que confissão é esta!  Esta era toda a evidência que o pobre moribundo Sócrates tinha, tanto do mundo invisível quanto do eterno? Pois, ainda assim, era preferível à luz do grande e bom Imperador Adrian. Lembrem-se, vocês, modernos pagãos, e copiem depois seu discurso patético à sua alma moribunda. Porque temendo que eu pudesse confundi-los com o Latim, eu lhes ofereço uma bonita tradução de um prior. –


Pobre, pequena e bela, coisa adejante,

não devemos viver mais tempo juntos?

E tu não podas tuas asas trêmulas,

para voares, tu não sabes para onde?

Teu caráter agradável, teus temperamentos tolos,

estão todos descuidados, todos esquecidos!

E a pesarosa, vacilante, melancolia,

tu esperas e temes, tu não sabes o quê!


11. Tu não sabes o quê!'. Verdade, não existia conhecimento do que deveria ser esperado ou temido depois da morte, até que o 'Sol da Retidão', se ergueu para dissipar todas as conjecturas vãs deles, e 'trouxe vida e imortalidade', ou seja, vida imortal, 'para brilhar, através do Evangelho'. Então, (e não até então, exceto em algumas instâncias raras) Deus revelou, o mundo invisível, sem máscara. Assim, ele revelou a si mesmo para os filhos dos homens. 'O Pai revelou o Filho', em seus corações; e o Filho revelou o Pai. Aquele dos tempos antigos 'ordenou que a luz brilhasse, na escuridão de seus corações e os iluminasse com o conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo'. 


12. É onde o sentido não pode ser de uso mais além, que a fé vem em nosso socorro; é o grande desiderato; ela faz o que nenhum dos sentidos pode; não; não com todas as ajudas que a inteligência inventou. Todos os nossos instrumentos, por mais aperfeiçoados pela habilidade e trabalho de tantas épocas sucessivas, não nos tornam capazes de fazer a menor descoberta dessas regiões desconhecidas. Eles meramente servem as ocasiões para as quais foram formados no atual mundo visível. 


13. Quão diferente é o caso; quão vasta a primazia, daqueles que 'caminham pela fé'. Deus, tendo 'aberto os olhos do entendimento deles', derrama sua luz divina em suas almas; por meio da qual, eles são capacitados a 'ver a Ele que é invisível', a ver Deus e as coisas de Deus. O que seus 'olhos não vêem, nem seus ouvidos ouvem, nem tem entrado em seus corações conceber', Deus, de tempos em tempos, revela a eles, atrações da 'unção do Espírito Santo, que os ensina todas as coisas'. Tendo 'entrado, no mais santos, através do sangue de Jesus', através daquele 'caminho novo e vivo', e estando reunidos juntos 'à assembléia e a igreja  geral do Primogênito, e junto a Deus, o Juiz de todos, e Jesus, o Mediador da Nova Aliança', -- cada um desses pode dizer, 'Eu não vivo, mas Cristo vive em mim'; (Gal.2:20) Eu agora vivo aquela vida que 'está oculta com Cristo em Deus'; 'e, quando Cristo, que é minha vida, surgir, então, eu igualmente aparecerei com Ele na glória'.  


14. Eles que vivem pela fé, caminham pela fé. Mas o que está inserido nisto? Eles regulam todos os seus julgamentos, com respeito ao bem e mal, não com referência às coisas visíveis e temporais, mas às coisas invisíveis e eternas. Eles consideram as coisas visíveis de valor pequeno, porque transitórias, como um sonho; mas, ao contrário, eles consideram as coisas invisíveis de muito valor, porque elas nunca passarão. O que quer que seja invisível é eterno; as coisas que não são vistas, não perecem. Assim o Apóstolo diz: (II Corintios 4:18) 'Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas'. Portanto, eles que 'caminham pela fé', não desejam 'as coisas que são vistas'; nem são eles os objetos de sua busca. Eles 'colocam suas afeições nas coisas do alto, e não nas coisas da terra'. Eles buscam apenas as coisas que estão 'onde Jesus se situa, à direita de Deus'. Porque eles sabem que 'as coisas que são vistas são temporais', passam como sombra, por conseguinte, eles 'não olham para elas'; eles não as desejam; eles as consideram como nada; mas 'eles buscam as coisas que não são vistas, que são eternas', que nunca passam. Através dessas, eles formam o julgamento de todas as coisas. Eles as julgam serem boas ou más, se promovem ou impedem seu bem-estar, não no tempo, mas na eternidade. Eles pesam o que quer que ocorra nessa balança: 'Que influência isto terá em meu estado eterno?'. Eles regulam todos os seus temperamentos e paixões; todos os seus desejos, alegrias, e temores, através desse modelo. Eles regulam todos os seus pensamentos e objetivos; todas as suas palavras e ações, de modo a prepará-los para aquele mundo invisível e eterno para o qual eles estão brevemente indo. Eles não habitam, a não ser, provisoriamente aqui; não olham com respeito à terra, como o lar deles, mas apenas... 'Viajam, através do solo de Emanuel, para mundos mais justos no céu'.


                 15. Irmãos, vocês fazem parte do número daqueles que estão aqui agora, diante de Deus? Vocês vêem a Ele que é invisível? Vocês têm fé, a fé viva, a fé de um filho? Vocês podem dizer, 'A vida que eu vivo agora, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e deu a si mesmo por mim?'. Vocês caminham pela fé? Observem a questão: Eu não pergunto, se vocês, amaldiçoam, fazem juramento, profanam o Dia do Senhor, ou vivem algum pecado exterior. Eu não pergunto, se vocês fazem o bem, mais ou menos; ou atendem todas as ordenanças de Deus. Mas, suponham que vocês sejam culpados, em todos esses aspectos, eu pergunto, em nome de Deus, por qual padrão vocês julgam os valores das coisas? Pelo mundo visível, ou pelo mundo invisível? 


Trazendo a questão para um julgamento, em uma simples instância. Qual desses, vocês julgarão melhor, -- que um filho seu seja um devoto sapateiro, ou um lorde profano? O que parece a vocês mais desejável, -- que uma filha sua seja uma filha de Deus, e caminhe descalça, ou uma filha do diabo, e ande de carruagem de seis cavalos? Quando a questão é concernente ao casamento de uma filha sua, se vocês consideram seu corpo, mais do que a sua alma, então, tomem conhecimento de si mesmos: Vocês estão no caminho do inferno, e não do céu; porque vocês caminham pela vista, e não pela fé. Eu não pergunto, se vocês vivem algum pecado exterior ou negligência; mas, se vocês buscam, no teor geral de suas vidas, 'as coisas que estão no alto', ou as coisas que estão abaixo: Vocês 'colocam suas afeições nas coisas acima', ou nas 'coisas da terra?'. Se nas coisas da terra, vocês certamente estão no caminho da destruição, como um ladrão ou um alcoólatra comum. Meus queridos amigos, que cada homem e mulher, entre vocês, confabule honestamente consigo mesmo. Pergunte a seu próprio coração, 'O que eu estou buscando, dia após dia? O que eu estou desejando: Eu estou indo ao encalço? céu ou terra?das coisas que são vistas, ou das coisas que não são vistas?'. Qual é seu objetivo, Deus ou o mundo? Assim como o Senhor vive, eu lhes digo que, se o mundo for o objetivo de vocês, toda a religião de vocês ainda será sem valor algum. 


16. Vejam, então, meus queridos irmãos, que deste momento em diante, pelo menos, vocês escolham a melhor parte. Deixem que o julgamento de vocês, a respeito de tudo que lhes diz respeito, ser de acordo com o real valor das coisas, com uma referência ao mundo invisível e eterno. Vejam que vocês julguem tudo ajustado para ser buscado ou evitado; de acordo com a influência que ele terá no seu estado eterno. Vejam que suas afeições, seus desejos, sua alegria, sua esperança, estejam estabelecidas não sobre objetos passageiros; não sobre coisas que fogem como uma sombra; que passam como um sonho; mas sobre aquelas que permanecerão as mesmas, quando céu e terra 'passarem, e não possa mais ser achado lugar para eles'.  Vejam que tudo o que pensarem, falarem, ou fizerem, o olho da alma de vocês seja puro, fixado 'Nele que é invisível', e 'nas glórias que serão reveladas'. Então, 'o corpo de vocês será cheio de luz': Toda a sua alma desfrutará da luz do semblante de Deus; e você verá continuamente a luz do glorioso amor de Deus, 'na face de Jesus Cristo'.   


17. Vejam, especificamente, que todo os seus 'desejos sejam junto a Ele, e junto à lembrança de Seu nome'. Evitem 'os desejos tolos e prejudiciais'; tais que surgem de alguma coisa visível e temporal. Todos esses João nos adverte, sob o termo geral de 'amor ao mundo'. (I João 2:15) Não tanto aos filhos dos homens do mundo, mas aos filhos de Deus, que Ele dá esta direção importante: 'Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele'. Não dêem lugar para 'o desejo da carne', --  para a gratificação dos sentidos exteriores, se de paladar, ou algum outro. Não dêem lugar 'ao desejo dos olhos', --  ao sentido interno, ou imaginação, -- gratificando-a, se através das coisas grandes, bonitas ou incomuns. Não dêem lugar ao 'orgulho da vida', --  ao desejo da prosperidade, da pompa, ou da honra que vem dos homens. João confirma esse conselho, através de uma consideração, comparada àquela observação que Paulo fez aos Coríntios: (I João 2:16-17) 'Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo'. Todos os objetos, ocupações, cuidados mundanos; o que quer que agora atraia nosso cuidado ou nossa atenção – 'passarão', -- e no mesmo ato de passar, não retornarão mais. Portanto, não deseje nada dessas coisas que são fugazes, mas aquela glória que 'permanecerá para sempre'.


18. Observem bem: Esta religião; esta, apenas, é a verdadeira religião; não esta, ou aquela opinião, ou sistemas de opiniões; sejam eles sempre tão verdadeiros, sempre tão bíblicos. É verdade que isto é comumente chamado de fé. Mas esses que supõem que a religião significa entregar-se à uma forte ilusão, para crer numa mentira; e se eles supõem que ela seja um passaporte para o céu, eles estão no caminho direto para o inferno. Prestem bem atenção: Religião não é inocência; o que um observador cuidadoso da humanidade propriamente denomina de inocência diabólica; uma vez que ela leva milhares para o abismo sem fim. Ela não é moralidade; excelente como isto seja, quando construída em um alicerce correto: fé amorosa; a não ser, quando, pelo contrário, ela não é de valor algum às vistas de Deus. Ela não é formalidade, -- a mais exata observação de todas as ordenanças de Deus. Isto, também, exceto que seja construída no alicerce correto, não agrada mais a Deus do que 'cortar fora o pescoço de um cão'. Não: Religião não menos do que viver na eternidade, e caminhar na eternidade; e, por meio disto, caminhar no amor de Deus e homem, na humildade, submissão, e resignação. Esta, e tão somente esta, é aquela 'vida que está oculta com Cristo em Deus'.  Tão somente aquele que a experimenta 'habita em Deus, e Deus nele'.  Apenas esta assenta a coroa sobre a cabeça de Cristo, e faz 'a vontade Dele na terra, como ela é feita no céu'.  


19. Facilmente será observado que esta é a mesma coisa que os homens do mundo chamam de entusiasmo, -- uma palavra justamente adequada para o propósito deles, porque nenhum homem pode dizer tanto o significado, quanto a derivação dela. Se ela tem algum sentido determinado, ele significa uma espécie de loucura religiosa. Por esta razão, quando vocês contam suas experiências, eles imediatamente gritam: 'Excesso de religião os tem tornado loucos!'. E todos que experimentam, tanto o mundo invisível, quanto o mundo eterno, eles supõem ser apenas o sonho acordado de uma imaginação exaltada. Não é diferente, quando homens nascidos cegos tomam sobre si, o discernir, concernente luz e cores. Eles irão rapidamente declarar como insanos os que afirmam a existência dessas coisas, a respeito das quais eles não têm idéia. 


20. De tudo que tem sido dito, pode ser visto, com a maior clareza, qual a natureza daquela coisa moderna chamada devassidão. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça! Trata-se da mesma quinta-essência do ateísmo; é artificial, acrescido da descrença natural. É a habilidade de esquecer Deus, de se estar completamente 'sem Deus no mundo'; a habilidade de excluí-Lo, se não, do mundo que Ele criou, ainda assim, das mentes de suas criaturas inteligentes. Trata-se da total desatenção premeditada para com todo o mundo invisível e eterno; mais especialmente à morte, ao portão da eternidade, e às conseqüências importantes da morte , -- céu e inferno!


21. Esta é a real natureza da devassidão. E esta é uma coisa tão inofensiva, quanto é usualmente pensado? Pois digo que este é um dos instrumentos mais escolhidos, para destruir os espíritos imortais, que alguma vez foi forjado nos laboratórios do inferno. Tem sido os meios, para lançar miríades de almas, que teriam desfrutado da glória de Deus, no fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Ele destrói toda religião de um só golpe, e eleva o homem ao nível das bestas que perecem. Todos vocês que temem a Deus, fujam da devassidão! Temam e abominem o simples mencionar dela! Trabalhem para terem Deus em todos os seus pensamentos, para terem a eternidade sempre em seus olhos! 'Busquem', continuamente, 'não as coisas que são vistas, mas as coisas que não são vistas'. Permitam que seus corações estejam fixos lá, onde 'Cristo se senta, à direita de Deus!', para que, quando Ele os chamarem, 'uma permissão possa ser ministrada a vocês, abundantemente, junto ao Seu reino eterno!'.


Londres, 30 de Dezembro de 1788 [O Sr. Wesley tinha, então, 88 anos. Três anos depois, em 1791, no mês de Março, ele faleceu]. 

 

[Editado por Tracey Bryan, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções através de George Lyons for the Wesley Center for Applied Theology.]   


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