PROPÓSITO DO SERMÃO:
Mostrar à igreja que devemos fazer uma distinção entre o sofrimento voluntário e o involuntário, os quais existem nas relações familiares.
I. INTRODUÇÃO
A. Ilustração: Pago pelos pecados?
Uma irmã, membro de igreja, chorava desesperadamente e dizia: “Estou sendo agredida por meu esposo, como se fosse um castigo de Deus, porque vinte anos atrás, quando tinha dezessete anos, tive relações com um jovem, com o qual não me casei. Agora estou pagando por meus pecados”.
B. A experiência de dor causada por algum castigo físico ou psicológico pode, geralmente, ser chamado como “sofrimento”. Quando este se torna freqüente, a pessoa se pergunta: Por que estou sofrendo, Senhor?
II. O PROBLEMA DO SOFRIMENTO TEM ALGUMA JUSTIFICATIVA?
No caso apresentado na introdução, a pessoa afetada se justifica sem dar lugar a dúvidas, da seguinte maneira:
A. Observa seu sofrimento como um castigo justo, por causa de um evento ocorrido muito tempo atrás e pelo qual sempre se sentiu culpada.
1. Esta justificativa encerra um caráter supersticioso. A pessoa se esforça por compreender sua própria experiência de abuso por parte de seu cônjuge. Conclui desta maneira pois supõe que:
2. Deus é um juiz inflexível que exige que soframos pelos pecados cometidos.
Infelizmente a explicação que a mulher dá a seu sofrimento neste exemplo não enfoca a verdadeira natureza de seu sofrimento ou ao abuso praticado pelo esposo.
B. Outras pessoas tentam explicar o sofrimento quando dizem que o que ocorre é pela “Vontade de Deus”, ou “Parte do plano de Deus para minha vida”, ou “Esta é a forma em que Deus quer ensinar-me uma lição”.
Todas estas explicações baseiam-se na idéia de que nosso Deus é implacável, severo e mais ainda, cruel e arbitrário. Essa imagem de Deus está em oposição à imagem apresentada pela Bíblia, de um Deus bondoso, misericordioso e amoroso.
Nosso maravilhoso Deus não escolhe pessoas para que sofram simplesmente por sofrer, já que o sofrimento não agrada a Deus.
III. SOFRIMENTO VOLUNTÁRIO E INVOLUNTÁRIO
Urge fazermos uma distinção entre o sofrimento voluntário e o sofrimento involuntário.
A. Sofrimento Voluntário.
É a escolha voluntária de sofrer, como um meio para alcançar um fim, mesmo que o abuso sofrido por essa pessoa não tenha uma justificativa.
1. O Dr. Martin Luther King, que sofreu muito com a finalidade de mudar o que ele cria com relação às leis racistas e injustas, sofreu voluntariamente pela causa que defendia.
2. Lembra-se você de algum caso semelhante a este, no qual a pessoa sofreu voluntariamente?
B. Sofrimento Involuntário.
É o sofrimento que ocorre à pessoa por diferentes motivos, que ele ou ela não escolheu sofrer, quer seja de forma física ou emocional como maltratos, violência e abusos.
1. Por exemplo, isto pode acontecer com pessoas que são vitimas de espancamento, abuso ou estupro por membros da própria família.
IV. INTERPRETAÇÃO ERRÔNEA DAS CARTAS PAULINAS SOBRE AS RELAÇÕES MATRIMONIAIS E DOS FILHOS
Na ênfase indevida e na interpretação incorreta destes textos do apóstolo Paulo, criam problemas substanciais para muitos esposos nos quais existe abuso e violência por um dos cônjuges e também pelos pais que crêem estar investidos de absoluta autoridade. Observemos estes textos: Efésios 5:22-24 e I Pedro 3:1-6. Leiamos.
A. “...sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor” – (ver. 22.)
1. O modelo sugerido aqui para uma sã relação entre marido e mulher, baseia-se na relação existente entre Cristo e Sua Igreja. Esta relação não é de grande poder e autoritarismo, mas uma atitude de serviço. Assim, um bom marido não dominará ou controlará sua esposa, mas a servirá e cuidará dela, assim como Cristo cuida de Sua Igreja.
Esta submissão não é uma obediência servil, mas assim como “convém no Senhor” (Col. 3:18). Aqui se realça a santa relação de possessão sobre a qual se fundamenta a submissão, cujo modelo é Cristo
2. “Porque o marido é o cabeça da mulher...” (ver. 23).
Toda comunidade necessita ter uma cabeça para existir de maneira organizada. Porém o esposo é colocado por Deus como o primeiro entre iguais.
a) Paulo afirma em Gálatas 3:28 que diante de Deus “nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;”
b) A preeminência do esposo consiste em cuidar de sua esposa em conhecimento e responsabilidade, assim como Cristo cuida da Igreja. Desta maneira nunca se levantará polêmica nem abuso quanto à preeminência ou inferioridade de algum dos membros da família.
B. “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo...” (I Coríntios 7:4).
A interpretação errônea de que em questões sexuais, o marido tem “direitos” conjugais e a esposa só tem o “dever” de obedecer e submeter-se a seu marido cegamente, alimentou o machismo e o abuso sexual no próprio seio do lar.
Ler: “A mulher não tem poder sobre o próprio corpo, e, sim, o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e, sim, a mulher.”
1. “Não tem poder” (ver. 4).
Aqui são apresentados os direitos de igualdade de ambos os cônjuges. Nenhum dos dois tem direito de negar ao outro a relação íntima matrimonial; porém isto não sanciona em nenhuma forma, o abuso e o excesso. O crente que sabe que seu corpo é templo do Espírito Santo, não permitirá que os privilégios conjugais se convertam em uma causa de violação. O corpo deve manter-se sob a sujeição da razão santificada.
2. “Não vos priveis...” (ver. 5)
Os cristãos não devem privar-se da íntima união conjugal, a não ser por um tempo limitado e de mútuo acordo, após o qual deve-se voltar à conduta normal. No entanto, as decisões devem ser mútuas e não arbitrárias e independentes. O marido não tem o direito de impor suas necessidades sexuais sem o consentimento da esposa. Isto aplica-se também à mulher.
C. “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor...” (Efésios 6:1-4)
A obediência dos filhos a seus pais deve ser “no Senhor”. O que isto significa?
1. Que é uma obediência cega e incondicional.
2. Que as ordens paternas devem estar em harmonia com a vontade de Deus. (Atos 5:29).
3. Os filhos devem obedecer por princípios espirituais e não por necessidade.
4. A desobediência aos pais é considerada em toda a Bíblia como um dos maiores males. Porém esta deve ser em Cristo.
5. A advertência divina aos pais “não provoqueis vossos filhos à ira” (Efésios 6:4) tem lugar quando um pai abusa física (sexual ou castigo brutal) e emocionalmente dos seus filhos.
V. CONCLUSÃO
A. As idéias erradas acerca de como Deus lida com o pecado e o pecador por parte de pessoas que têm sofrido abuso e violência em seus lares, fortalecem aos abusadores e perpetuam a dor e o sofrimento.
B. Com a ajuda da Bíblia o pensamento divino foi apresentado, para esclarecer alguns conceitos errados quanto ao papel desempenhado pelo esposo e pai no lar, com a finalidade de promover a paz e evitar cair no abuso e na violência.
C. Uma pessoa, quer seja menina(o) que foi vítima de abuso físico (maltrato, abuso sexual), é afetada também no aspecto psicológico e espiritual, e cada uma destas dimensões da vida deve ser atendida.
1. O médico pode detectar a gravidade da violência ou do abuso sexual, examinando minuciosamente os danos causados no corpo da vítima.
2. O psicólogo cristão pode realizar sessões de terapia para elevar a auto estima da vítima, e ajudá-la a superar as crises emocionais.
3. O ministro pode usar a Palavra de Deus como:
a) Uma conselheira eficaz, para que o abuso seja exterminado, para prover uma estrutura externa, para o início de uma mudança no comportamento agressivo.
b) Pode falar com o agressor e a vítima, e sem exercer pressão conseguir com que:
b.1. O agressor admita a ação e peça perdão à vítima.
b.2. A reconciliação ou o perdão seja efetivado, com a condição de uma mudança no comportamento do agressor. O perdão ajudará a vítima a não permitir que essa experiência amarga domine sua vida.
c) A fé em Cristo e Sua Palavra, proporcionarão à vítima muita força e coragem para enfrentar esta situação até superá-la.
Que Deus intervenha com Seu Santo Espírito e nos ajude a deter esta violência nas famílias cristãs e haja paz na família.
Por: Arnaldo Enríquez V.
Diretor do Departamento dos Ministérios da Família da D.S.A.