'Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste. Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?' (Salmos 8:3-4)
Quão freqüentemente tem sido observado que o Livro de Salmos é um rico tesouro de devoção; que a sabedoria de Deus supriu as necessidades dos seus filhos em todas as gerações! Em todas as épocas, os Salmos têm sido de uso singular para aqueles que amaram e temeram a Deus; não apenas para os devotos israelitas, mas para os filhos de Deus em todas as nações.
E este livro é de uso soberano para a igreja de Deus; não apenas enquanto no seu início (tão maravilhosamente descrito por Paulo, na primeira parte do quarto capítulo aos Gálatas), mas também, desde que, na plenitude do tempo, 'vida e imortalidade foram trazidas à luz pelo Evangelho'.
Os cristãos, em todas as épocas e nações têm abastecido a si mesmos deste tesouro divino que tem ricamente suprido as necessidades; não apenas dos 'bebês em Cristo', daqueles que recentemente foram colocados nos caminhos de Deus; mas aqueles que também fizeram grandes progressos nele; sim, de tal que prontamente avançaram em direção 'à medida da estatura da plenitude de Cristo'.
O assunto deste salmo é maravilhosamente proposto no início dele: 'Oh! Senhor, nosso Governador, quão excelente é Teu nome na terra; quem tem estabelecido Tua glória acima dos céus!'. Ele celebra a gloriosa sabedoria e amor de Deus, como o Criador e Governador de todas as coisas.
Não é uma conjectura improvável David ter escrito este salmo em uma noite iluminada de estrelas, enquanto ele observava a lua também 'caminhando em seu esplendor', enquanto ele observava: 'Este formoso, semicircular, o amplo céu azulado; terrivelmente largo, e Maravilhosamente claro; com incontáveis estrelas, e incomensurável luz', -- ele irrompeu, com a plenitude de seu coração, para uma exultação natural: 'Quando eu considero Teus céus, o trabalho de Teus dedos, a lua e as estrelas que tu tens ordenado; eu me pergunto, o que é o homem?'. Como é possível que o Criador de tudo isto; dos inumeráveis exércitos do céu e terra, poderia ter alguma consideração, para com esta partícula da criação, cujo tempo 'passa como uma sombra?'.
Teu esqueleto não passa de pó; tua estatura não é outra, que apenas um palmo. Tua existência um momento, homem tolo!
'O que é o homem?'. Eu considerarei isto:
I. Em Primeiro Lugar, com respeito à sua magnitude;
II. Em Segundo Lugar, com respeito à sua duração.
1. Em Primeiro Lugar, consideraremos o que é o homem, com respeito à sua magnitude. E, neste respeito, quem é qualquer outro indivíduo, comparado com todos os habitantes da Grã Bretanha. Ele não se diminui em coisa alguma na comparação. Quão incompreensivelmente pequeno é alguém comparado com oito ou dez milhões de pessoas! Ele não está tão perdido, quanto uma gota no imenso alto-mar?
2. Mas o que são os habitantes da Grã Bretanha, comparados com todos os habitantes da terra? Supõe-se freqüentemente que estes somam por volta de quatrocentos milhões. Mas este cálculo será justo por aqueles que mantêm que a China sozinha contém cinqüenta e oito milhões? Se isto for verdade, que este império contém pouco menos do que sessenta milhões, nós podemos facilmente supor que os habitantes de todo este globo terrestre somam quatro bilhões de pessoas, preferivelmente a quatrocentos milhões. E o que é algum simples indivíduo, em comparação com este número?
3. Mas o que é a magnitude da própria Terra, comparada com todo o sistema solar? Incluindo, além daquele vasto corpo celeste, o sol, tão imensamente maior do que a Terra, e toda série de planetas primários e secundários; diversos dos quais (eu quero dizer dos planetas secundários, supondo que satélites ou luas de Júpiter e Saturno) são abundantemente maiores do que toda a Terra?
4. E, ainda assim, o que é toda quantidade de matéria contida no sol, e todas aqueles planetas primários e secundários; com todos os espaços compreendidos no sistema solar, em comparação com aquele que está permeado por aqueles corpos maravilhosos, os cometas? Quem, a não se o próprio Criador pode 'dizer o número desses, e chamá-los por seus nomes?'. Ainda assim, o que é até mesmo a órbita de um cometa, para o espaço que o contém, para o espaço que é ocupado pelas estrelas fixas, e que estão à uma distância imensa da Terra, de modo que apareçam, quando são vistas através dos telescópios mais largos, exatamente como se estivessem a olho nu?
5. Quer os limites da criação vão ou não, além da região das estrelas fixas, quem poderá dizer? Apenas as estrelas da manhã, as quais cantaram, juntas, quando as fundações da criação foram colocadas. Mas que é contingente que os limites dela foram fixados, nós temos razão para duvidar. Nós não podemos duvidar, mas, quando o Filho de Deus terminou toda o trabalho que ele criou e fez, Ele disse: 'Estes sejam teus limites; esta seja tua exata circunferência, ó mundo!'.
Mas o que é isto?
6. Nós podemos dar um passo, e apenas um passo, mais além ainda: Qual é o espaço de toda criação; qual é todo o espaço finito; ou seja, que pode ser concebido, em comparação com o infinito? O que é ele, a não ser um ponto, uma nulidade, comparada com aquele que é preenchido por Ele que é Tudo em tudo? Pense sobre isto, e, então, pergunte: 'O que é o homem?'.
7. O que é o homem, para que o grande Deus, que preencheu céus e terra, 'o altíssimo e grandioso Deus, que habita a eternidade', pudesse descer tão incompreensivelmente baixo, de modo à 'ser cuidadoso com ele?'.
Não haveria razão para nos sugerir que tão diminuta criatura fosse contemplada por Ele, na imensidão de suas obras? Especialmente quando consideramos:
II
Em Segundo Lugar, o que é homem, com respeito a sua duração?
1. Os dias do homem, desde a última redução da vida humana, que parece ter tomado lugar no tempo de Moisés, (e não improvavelmente foi revelado para o homem de Deus, na época que Ele fez esta declaração) 'são setenta anos'. Este é o padrão geral que Deus agora tem determinado. 'E se os homens forem assim tão fortes', talvez, um em cem, 'chegue aos oitenta anos; ainda, então, a força deles é labuta e tristeza: Tão logo elas passam, nós já teremos ido!'.
2. Agora, que pobre parcela de duração é esta, comparada á vide de Matusalém! 'E Matusalém viveu novecentos e sessenta e nove anos'. Mas o que são esses novecentos e sessenta e nove anos, para a duração de um anjo, que existia, 'ou desde sempre, quando as montanhas surgiram'; ou quando as fundações da terra foram colocadas? E qual era a duração que passou, desde a criação dos anjos; aquela que passou, antes que eles fossem criados, para a eternidade ainda não criada? -- para aquela metade de eternidade (se alguém pode falar desta forma) que, então, decorreu? E o que significa setenta anos, comparados com isto?
3. De fato, que proporção pode possivelmente existir entre alguma duração finita e infinita? Que proporção existe entre um e dez mil anos; ou dez mil anos; dez mil séculos, e a eternidade? Eu não sei se esta inexprimível desproporção, entre alguma parte do tempo concebível e a eternidade pode ser ilustrada, de uma maneira mais surpreendente, do que ela é na bem conhecida passagem de São Cipriano: 'Supondo-se que exista uma bola de areia, tão larga quanto o globo terrestre; e supondo-se que um grão desta fosse aniquilado em mil anos; ainda assim todo aquele espaço de tempo, em que esta bola pudesse ser aniquilada, na proporção de um grão, em mil anos, significaria menos; sim, inexplicavelmente, e infinitamente menos, em proporção à eternidade, do que um simples grão de areia significaria para toda a imensidão'. O que, então, são setenta anos da vida humana, em comparação com a eternidade? Em quais termos pode a proporção entre esses ser expressa? Em nada; sim, infinitamente menos que nada!
4. Se, então, acrescentarmos a essa pequeneza do homem a inexprimível brevidade de sua duração, será de se admirar que um homem de reflexão possa, algumas vezes, sentir uma espécie de medo, de que o grande, eterno e infinito Governador do universo possa descuidar-se de tão diminuta criatura quanto o homem? – uma criatura, de todas as formas, insignificante, quando comparado tanto com a imensidade quanto com a eternidade? Ambas essas reflexões não reluzem, através do salmista real, ou residem em sua mente? Assim, em contemplação ao primeiro, ele irrompe em fortes palavras do texto: 'Quando eu considero os céus, a obra de Teus dedos, a luz, as estrelas que Tu tens ordenado, o que é o homem, para que tu possas ser cuidadoso; ou o filho do homem, para que Tu possas estimá-lo?'. Ele é, de fato, (para usar as palavras de Agostinho), 'uma porção de Tua criação'; mas 'que porção espantosamente pequena!'.
Quão absolutamente abaixo Tu observas! Parece haver na contemplação do último, que ele clama, no (Salmos 144:3), 'Senhor, que é o homem, para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes?'. 'O homem é como coisa alguma'. Por que? Porque 'seus dias são como a sombra que passa'. Nesta, (embora que em poucos lugares) a nova tradução dos Salmos – que está de acordo com nossas Bíblias – é, talvez, mais apropriada do que a antiga, -- a qual temos no Livro Comum de Oração. Ela diz assim: 'Senhor, o que é o homem, para que Tu tomes conhecimento dele; ou o filho do homem, para que Tu faças conta dele?'. De acordo com a tradução anterior, Davi parece estar surpreso que Deus eterno, considerando a pequenez do homem, pudesse ter tanto respeito para com ele, e pudesse, assim, estimá-lo muito: Mas no último, ele parece se admirar, vendo que a vida do homem 'passa como sombra', que Deus possa tomar algum conhecimento dele, afinal, ou ter alguma consideração para com ele.
5. E é natural para nós fazermos a mesma reflexão, e sentirmos o mesmo medo. Mas como podemos impedir esta reflexão inquietante, e curar efetivamente este medo? Em Primeiro Lugar, considerando que Davi não parece ter tomado levado em consideração, afinal, que o corpo não é o homem; que o homem não é apenas a casa de barro, mas um espírito imortal; um espírito feito à imagem de Deus; uma imagem incorruptível do Deus da glória; um espírito que é infinitamente mais valoroso do que toda a Terra; de muito mais valor que o sol, lua, e estrelas, colocados juntos; sim, que toda a criação material. Considerando que o espírito do homem não é apenas de uma ordem superior, de uma natureza mais excelente, do que qualquer parte do mundo visível, mas também, mais durável; não sujeito à dissolução ou declínio. Nós sabemos que todas as coisas 'que são vistas são temporais'; -- de uma natureza mutável e transitória; -- mas 'as coisas que não são vistas' (tais como a alma do homem em específico) 'são eternas'. 'Elas podem perecer'; mas a alma permanece. 'Todas as coisas podem apodrecer como uma vestimenta'; mas, quando os céus e terra passarem, a alma não se passará.
6. Em Segundo Lugar, aquela declaração que o Pai dos espíritos fez a nós, através do profeta Ozéas: 'Eu sou Deus, e não homem: Portanto minhas compaixões não se extinguem'. Como se Ele tivesse dito: "Se eu fosse apenas um homem, ou um anjo, ou algum ser finito, meu conhecimento poderia admitir limites, e minha misericórdia seria limitada. Mas 'meus pensamentos não são como os seus pensamentos', e minha misericórdia não é como sua misericórdia. 'Assim como os céus estão acima da terra, também os meus pensamentos são superiores aos seus', e, 'minha misericórdia', minha compaixão, meus meios para mostrar isto, 'mais sublimes que seus meios'".
7. Para que nenhuma sombra de medo pudesse permanecer; nenhuma possibilidade de dúvida; e para mostrar de que maneira o Deus maior e eterno sustenta o homem tão inferior e de vida curta, mas especialmente à sua parte imortal; Deus deu seu Filho, 'seu único Filho, com a finalidade de que, quem quer que Nele creia, não pereça, mas tenha a vida eterna'. Veja como Deus amou o mundo! O Filho de Deus, que era 'Deus de Deus; Luz da Luz; o próprio Deus do próprio Deus', na glória, igual com o Pai, na majestade co-eterna, 'vazio de Si mesmo, tomou sobre si a forma de um servo, e, sendo feito homem, foi obediente à morte, até mesmo, a morte na cruz'. E tudo isto, Ele não sofreu por si mesmo, mas 'por nós, homens, e por nossa salvação'. 'Ele carregou' todos 'os nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro', para que 'pelas suas chicotadas' pudéssemos ser 'curados'. Depois desta demonstração de seu amor, será que é possível que duvidemos ainda da ternura de Deus para com o homem; mesmo que ele esteja 'morto nas transgressões e pecados?'. Mesmo quando Ele nos mostra em nossos pecados, e nosso sangue, Ele nos diz: 'Vivam!'. Que não temamos mais! Que não duvidemos mais! 'Ele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por nós todos, não nos dará gratuitamente todas as coisas?'.
8. 'Mais do que isto', diz o filósofo, 'se Deus amou assim o mundo, Ele não amou outros milhares de mundos, assim como Ele amou a este? Hoje se admite que existem milhares, se não milhões de mundos, além deste em que vivemos. E pode algum homem razoável acreditar que o Criador de todos esses, muitos do quais são provavelmente tão largos; sim, muito mais largos do que o nosso, iria mostrar tal consideração, surpreendentemente maior para um do que para todo o restante?'. Eu respondo: Supondo que existam milhões de mundos; sim, Deus pode ver, na profundidade de sua infinita sabedoria, razões para que não pareça a nós, porque ele considerou bom mostrar esta misericórdia a nós, em preferência a milhares ou milhões de outros mundos.
9. Eu falo disto, até mesmo, sobre a suposição comum da pluralidade dos mundos, -- uma noção favorita a todos aqueles que negam o Apocalipse cristão; e, por esta razão, porque fornece a eles um fundamento para tão plausível objeção a ela. Mas, quanto mais eu considero esta suposição, mais eu duvido dela: de maneira que, se fosse admitido por todos os filósofos da Europa, ainda assim, eu não poderia admitir isto, sem uma prova maior do que qualquer uma que eu já encontrei.
10. "Mais ainda; este argumento do experimentado Huygens não é suficiente para colocá-lo, além de toda dúvida? — 'Quando vemos', diz aquele hábil astrônomo, 'a luz através de um bom telescópio, nós claramente descobrimos rios e montanhas em seu globo manchado. Agora, onde os rios estão, indubitavelmente existem plantas e vegetais de vários tipos: E onde há vegetais, existem, sem dúvida, animais; sim, animais racionais, assim como na Terra. Concluindo-se, então, que a lua tenha seus habitantes, nós podemos facilmente supor que, assim, são todos os planetas secundários; e, em particular, todos os satélites ou luas de Júpiter e Saturno. E se os planetas secundários são habitados, por que não os primários? Por que devemos duvidar que o próprio Júpiter e Saturno, assim como Marte, Vênus e Mercúrio?'".
11. Mas você sabia que o próprio Sr. Huygens, antes de morrer, duvidou de todas essas hipóteses? Porque, depois de uma observação mais profunda, ele encontrou razão para crer que a lua não tem atmosfera. Ele observou que, em um eclipse total do sol, na remoção da sombra de alguma parte da Terra, o sol imediatamente brilha sobre ela; enquanto que, se a lua tivesse atmosfera, apareceria fosca e obscura. Assim sendo, conclui-se que a lua não tem atmosfera. Conseqüentemente, ela não tem nuvens, chuva, nascentes, rios, e, portanto, nenhuma planta ou animais. Não existe prova ou probabilidade de que a lua seja habitada; nem temos alguma prova de que outros planetas sejam. Portanto, o alicerce sendo removido, toda a construção desaba.
12. Mas, você irá dizer: 'Supondo-se que este argumento falhe, nós podemos inferir a mesma conclusão, sobre a pluralidade de mundos, da sabedoria, poder, e bondade, ilimitados do Criador. Teria sido tão plenamente fácil para Ele criar milhares ou milhões de mundos, assim como um só. Pode, então, alguém duvidar que Ele manifestaria todo Seu poder e sabedoria em criar apenas um? Que proporção existe entre esta partícula da criação, e o Grande Deus que preenche céus e Terra, enquanto 'sabemos que o poder de sua mão Onipotente poderia formar outros mundos da mesma areia?'.
13. Para esta prova atordoante; esta obra-prima de argumento dos infiéis doutos, eu respondo: vocês esperam encontrar alguma proporção entre o finito e o infinito? Supondo-se que Deus tenha criado muito mais mundos do que existe de areia no universo; que proporção teria todos esses, juntos, em comparação com o Criador infinito? Em comparação com Ele, eles seriam, não apenas mil vezes, mas infinitamente menos do que uma ninharia, se comparados ao universo. Terminem, então, com esta conversa pueril a respeito da proporção das criaturas, quanto ao seu Criador, e deixe para o Todo-sábio Deus criar o que, e quando lhe agradar. Porque, quem, além dele mesmo, 'conhece a mente do Senhor? Ou quem tem sido Seu conselheiro?'.
14. É suficiente para nós sabermos esta verdade clara e confortável, -- que o Todo-poderoso Criador tem mostrado que cuida dessa pobre criatura de um dia; que Ele não mostrou, nem mesmo aos habitantes dos céus, aqueles que 'não mantiveram seu primeiro estado'. Ele deu seu Filho a nós; seu único Filho, tanto para viver, quanto para morrer por nós! Ó, que vivamos Nele, para que possamos morrer Nele, e viver com Ele para sempre!
[Editado por Cary McGoldrick, estudante da Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]
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