5 A VIOLÊNCIA PODE SER JUSTIFICADA EM NOSSOS LARES?

Famílias em Crise - 8 Sermões PDF

A. VIVEMOS EM UM TEMPO DE GRANDES CONTRADIÇÕES


Parece reviver com força no seio de nossos lares, a antiga doutrina de um escritor italiano do século XVI, chamado Maquiavelo, que disse: “o fim justifica os meios”. Este escritor aconselhava que para obter algum fim ou propósito, era justificável e necessário usar qualquer meio, usando a má fé, a violência ou a morte. Observemos este caso: 


1. Jane trabalhou em uma instituição adventista por quase 30 anos. Durante todo este tempo, ela foi espancada por seu marido, que era adventista. Ela procurou ajuda de alguns dirigentes da igreja, porém eles não acreditavam. Finalmente, ela contou seu problema ao pastor da igreja. 


Fatalmente por alguma razão estranha, o pastor não compreendeu a gravidade do caso e a aconselhou a ter paciência e que conservasse essa relação com seu esposo para proteger o bom nome deles e da igreja. Quando ela nos contou esta história, seu braço estava engessado como resultado de mais um espancamento dado por seu marido. 


Nós nos perguntamos: Por que ocorrem estas coisas? Ela, (a esposa) pensava que não devia trazer vergonha ao nome da igreja, e queria evitar que seu esposo fosse objeto de disciplina. Não queria que ele fosse prejudicado em seu trabalho com sua queixa. Esta atitude de ocultar a verdade de sua parte, fez com que seu esposo continuasse tratando-a com violência.


B. A BÍBLIA DIZ EM ISAÍAS 5:20 pp.: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal;...”


Existem pensamentos e atitudes negativas que se repetem continuamente e que são praticadas por uma parte da sociedade. Isto faz com que se perca a capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Sinceramente pensam que o bem é mal, e vice-versa. Então, estas pessoas, chegam a ter uma visão incorreta das coisas e assim, interpretam mal as Escrituras Sagradas. Observemos isto:


I. VISÃO INCORRETA


Quando a agressão é contra mulheres (esposo à esposa, irmão à irmã) os agressores interpretam várias coisas de maneira errada com o fim de justificar suas atitudes de violência.





A. VISÃO INCORRETA DE ALGUMAS PASSAGENS BÍBLICAS

1. São Mateus 5:39 – “Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra;”

“Não resistais ao perverso” – Ou seja, não procureis vingar-se pelos males sofridos. Aqui Jesus está referindo-se a uma ativa hostilidade que eqüivaleria ao uso de armas ou de coisas que poderia ferir ou tirar a vida em uma atitude de vingança, respondendo assim a uma violência com outra violência. No entanto, tampouco isto quer dizer que devemos ignorar ou ocultar a violência do agressor. Podemos vencer “com o bem o mal” (Rom. 12:21) dialogando ou solicitando ajuda a pessoas que poderiam intervir para evitar que a violência continue.

“...; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. Estas palavras de Cristo não têm em si mesmas uma aplicação literal, em que a vítima deve oferecer a outra face ao agressor, para promover e justificar a violência ou o estoicismo do que é castigado. Esta é uma metáfora que anima a vítima a não fazer uso de vingança, mas a manifestar bondade e estar disposto a conceder o perdão ao agressor, para que caiam sobre sua cabeça os fogos do arrependimento e restaurar o dano causado. Tendo em conta que a vingança é de Deus (Heb. 10:30) e que ele não terá por inocente nem deixará impune uma atitude que cause sofrimento a outros.


2. Provérbios 13:24 – “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que ama, cedo o disciplina.”


Alguns pais têm interpretado erradamente este texto. Eles pensam que devem usar a vara, o chicote para castigar a seus filhos fisicamente nas madrugadas (“cedo”) não importando a idade que eles tenham. A interpretação correta do versículo é a seguinte:


“O que retém a vara aborrece a seu filho” – O sentido tácito de “aborrece” é que se ama menos à criança que a outros ou outras coisas. Os pais que descuidam de dar a seus filhos a devida disciplina ou correção, colocam seu “eu” em primeiro lugar, e por isso pode-se dizer que os amam menos.


“cedo o disciplina” – Não se refere aqui às primeiras horas da manhã, a madrugada, para castigá-lo fisicamente, mas à diligência com que a criança deve ser criada, desde bem pequeno, que eqüivale a cedo na vida.


3. Colossenses 3:18 – “Esposas, sede submissas aos próprios maridos,...”

Efésios 5:22 – “As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos,...”


Os esposos que fazem uso de violência, valendo-se de sua posição e autoridade, exigindo total submissão de suas esposas, usam estes textos para justificar sua conduta.

A interpretação mais apropriada a estas passagens bíblicas é a seguinte:


a) Esta posição de subordinação de uma esposa para seu esposo que o apóstolo Paulo apresenta, tem as características da sujeição da igreja a Cristo. 

Quando são lidos os versículos completos de Colossenses 3:18 e Efésios 5:22, observamos que, são usadas as palavras “como convém no Senhor”.

Estas características de sujeição são:


a.1. Uma sujeição de boa vontade, de confiança, de fé, de amor, assim como a igreja o faz com Cristo. O serviço prestado com amor é uma das experiências mais agradáveis.

a.2. A preeminência do esposo consiste em cuidar de sua esposa com conhecimento e responsabilidade, assim como Cristo cuida da igreja.

a.3. A esposa deve ver em sua relação com sua esposo um reflexo ou ilustração de sua relação com Cristo.


b) Este tipo de submissão de hipótese alguma envolve inferioridade. A submissão ordenada às esposas é do tipo que só ocorre entre iguais; não é uma obediência servil, humilhante, onde se justifica o uso da força, mas uma submissão voluntária nos aspectos nos quais o homem tem sido posto por Seu Criador como a cabeça.


c) Concluindo podemos dizer que o domínio que o esposo tem sobre a esposa, não é semelhante ao domínio do capitão com soldado; ou do empregador com seu empregado. É uma autoridade completamente diferente, a de um domínio sem dominação, onde o amor cristão exercido entre eles, afasta o orgulho, o egoísmo, a prepotência e o uso da violência.


4. São Mateus 19:6 – “...Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.”


Alguns adventistas, permanecem num relacionamento abusivo, temendo ser objetos da ira de Deus se romperem o voto matrimonial abandonando o casamento. Não querem perder-se, mesmo estando em perigo de perder a própria vida. Crêem que devem estar preparadas para morrer nas mãos de um marido violento e esperam que esse sacrifício seja aceitável. Os esposos abusivos, por sua vez usam este texto bíblico para justificar sua conduta. Apresento aqui uma breve explicação de sua correta interpretação.


a) A relação matrimonial foi instituída por Deus e por Ele santificada. Assim todos os que participam desta relação estão unidos para toda a vida, exceto o caso indicado por Jesus (S. Mateus 19:9). Esta é a única modificação feita na lei original do matrimônio para adaptá-la a um mundo caído em que a violação do pacto matrimonial por infidelidade conjugal possa servir de razão legítima para dissolver o matrimônio.


b) O apóstolo Paulo em I Coríntios 7:15 mostra que o cristão não está obrigado a viver com um cônjuge incrédulo, contra a vontade deste. “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz”. O cristianismo é uma religião de paz, que procura prevenir a violência, evitar a contenda e a discórdia. (S. João 14:27).


B. POR TER UMA IDÉIA ERRADA DE DEUS


Vêem a Deus como um juiz inflexível que está retribuindo pelos pecados cometidos. O vêem como a um pai dominador que espera total obediência. Inconscientemente depositam em Deus as responsabilidades pelo abuso que sofrem, dizendo: “é a vontade de Deus” e assim justificam a conduta do agressor. Isto lhes permite dizer: “Eu posso perdoar setenta vezes sete”, como Jesus o fez.


C. PORQUE TÊM UMA IDÉIA ERRADA DE SI MESMAS


Algumas vítimas (especialmente as esposas) sentem-se culpadas ao sofrerem violência. Elas dizem: “Fiz algo de errado, por isso mereço ser castigada”. Elas não amam a si mesmas. Imaginam ou ressuscitam erros passados, pelos quais têm que fazer penitência dessa maneira.


D. PELA VISÃO NEGATIVA QUE ALGUNS HOMENS TÊM ACERCA DAS MULHERES


Pensam que a mulher é um ser inferior a eles, daí dizerem: “Elas devem ao homem total submissão”. Com Cristo, todos temos verdadeiro valor e igualdade. Deus não autorizou o homem a depreciar o sexo feminino.


E. PELAS INFLUÊNCIAS CULTURAIS PREVALECENTES


O “machismo” existente na sociedade, faz com que os homens sejam influenciados a dominar e impor-se pela força ao seu cônjuge, “assim como o fazem os demais”.


F. PELO STATUS DO HOMEM NA SOCIEDADE


O homem é visto como o que “ganha o pão de cada dia”; é visto como o “rei do lar”, “o chefe”, o que dá dinheiro e sustém aos demais e assim crê que ganhou o direito de proceder segundo sua vontade, isto é, com violência.


CONCLUSÃO


Se existiu no passado, ou se está existindo no presente alguma cena de violência em seu lar que trouxe tristeza e muitas sombras, devemos pensar em não enterrar nossa cabeça na areia e esperar que com o tempo esta desapareça. Seria oportuno lembrar tanto para as vítimas de agressão, como para os agressores, o seguinte:




A. PARA AS VÍTIMAS DE AGRESSÃO


1. Repassar estes argumentos concernentes à visão errada aqui apresentados.

2. Levantar sua auto estima, compreendendo que foi feita à imagem de Deus e que portanto merece respeito.

3. Se estiver passando por um momento de stress aguda, temor ou de desespero por estas causas, será oportuno recorrer a profissionais que possam dar-lhe o devido aconselhamento psicológico.

4. Se houve um incidente isolado de violência doméstica, não o minimize, porque este poderá aumentar. Será necessário enfrentá-lo com afeto, mas também com firmeza.

5. Deus pode operar diretamente em você. Lembre-se desta promessa bíblica: Êxodo 14:14 - “O Senhor pelejará por vós,...”; Isaías 41:10 – “...eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento...”


B. PARA OS AGRESSORES


1. Seguramente você tem-se sentido culpado por suas atitudes. Creia que o perdão divino o assistirá se tão-somente apegar-se a Deus, para que o Espírito Santo atui diretamente em seu temperamento violento e nervoso. II Coríntios 5:17.


a) O Espírito Santo o ajudará a reconhecer seus erros e você perguntará a Deus o que fará.

b) Analisar com a ajuda de um profissional e do pastor a fim de descobrir as questões de desencadeiam em uma resposta abusiva. Estar decididos a fazer as mudanças permitindo a intervenção de Jesus em sua vida. Só Jesus morando no interior de sua vida poderá curar os ressentimentos e amarguras do passado. Deus o abençoe.


Por: Mable Dumbar

Diretora do programa Atenção a Vítimas e aos Agressores da Violência Doméstica em Safe Shelter In. Benton Harbor – Michigan


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