97 SOBRE MURMURAR PELOS MORTOS (John Wesley)

SERMOES DE WESLEY PDF


Pregado em Epworth, 11 de Janeiro de 1726, no Funeral de John Griffith: Um jovem auspicioso.

 

[John "Robin" Griffiths era amigo íntimo de John Wesley e graduou-se no New College, Oxford, em 1724. Preocupado com a alma de Robin, o jovem pastor insistiu que ele se tornasse um 'cristão completo'. 


O jovem começou muito sério, mas o que John não sabia era que o rapaz morreria de tuberculose, dezoito meses depois. Foi a pedido de Robin que John Wesley pregou seu sermão de funeral. Como texto, ele escolheu (II Samuel 12:23): 'Agora [ele] está morto, por que eu devo jejuar? Eu posso trazê-lo de volta? Eu posso ir até ele, mas ele não poderá retornar para mim'.] 

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A resolução de um sábio e bom homem, recém recuperado do uso de sua razão e virtude, depois da amargura da alma que ele testou, por um longo tempo, na expectativa da morte de seu amado filho, está encerrada nestas poucas, mas fortes palavras. 


Ele havia jejuado e chorado, e deitado todas as noites sobre a terra, e recusado, não apenas conforto, mas, até mesmo, o sustento necessário, enquanto a criança ainda estava viva, na esperança de que Deus fosse gracioso, nesta, como nas outras instâncias, e revertesse a exata sentença que Ele tinha pronunciado.

 

Quando foi colocada em execução, na morte criança, ele se levantou e mudou suas vestimentas, e tendo primeiro cumprido suas devoções ao seu grande Mestre, reconhecendo, sem dúvida, a brandura de sua severidade, e confessando, com gratidão e humildade, a obrigação colocada sobre ele, na qual ele não se sentia destruído, nem castigado, por sua mão pesada; ele, então, entrou em sua casa, e comportou-se com sua compostura e disposição usual. 


A razão desta estranha alteração em seus procedimentos, como ela pareceu àqueles que eram ignorantes dos princípios sobre os quais ele agiu, ele explica aqui com grande brevidade, mas na linguagem mais primorosa, e força de pensamento, e energia de expressão: 'Agora que ele está morto, por que eu deverei jejuar? Eu posso trazê-lo de volta? Eu posso ir até ele, mas ele não pode retornar para mim'. 


'Para que finalidade', disse o resignado murmurador, 'eu deverei jejuar agora que a criança está morta? Por que eu deveria acrescentar aflição a aflição; na qual, sendo eu um voluntário, aumentaria a aflição que eu já sustento? Não seria igualmente inútil a ele e a mim? As minhas lágrimas ou queixas têm o poder de restaurar sua alma em sua mansão deteriorada e abandonada? Ou, de fato, ele se mudaria, embora o poder estivesse nas mãos Dele, das regiões felizes da qual ele é agora possuidor, para esta terra de preocupação, dor e miséria? Ó, pensamento vão! Ele nunca irá poder, nem nunca retornará a mim: Seja este meu conforto, meu constante conforto, quando minhas tristezas caírem pesado sobre mim, para que eu possa brevemente, muito brevemente, ir até ele! Para que eu possa logo acordar deste sonho tedioso de vida; e que logo estará no fim; e, então, eu deverei olhar fixamente para ele; então, eu o observarei novamente, e o observarei com aquele amor perfeito, aquela afeição sincera e elevada, para a qual, até mesmo o coração de um pai, é um completo estranho! Quando o Senhor Deus irá enxugar todas as lágrimas dos meus olhos; e a menor parte de minha felicidade deva ser que aquela tristeza da ausência desapareça'.


As conseqüências ruins e não proveitosas, a natureza pecadora, da tristeza abundante pelo morto são facilmente deduzidas da primeira parte desta reflexão; na segunda, nós temos motivos mais fortes para nos empenharmos contra elas, -- o remédio exatamente adequado para a doença, -- a reflexão que, devidamente aplicada, não irá falhar, quer na prevenção desta tristeza, ou no nosso resgate deste infortúnio sincero. A aflição, em geral, é a mãe de tanto mal, e a oportunidade de tão pouco bem à humanidade, que se pode exatamente perguntar, como ela encontra lugar em nossa natureza. Ela foi, de fato, criação do homem e não de Deus; que até pôde permitir, mas nunca foi o autor deste mal. No momento em que nasce a aflição e o pecado, neste mesmo momento irá nos livrar de ambos.  Uma vez que nem existia, antes que a natureza do homem se corrompesse, nem irá continuar a existir, quando esta for restaurada à sua perfeição anterior. 


Decerto, neste presente estado de coisas, aquele sábio Ser, que sabe como extrair o bem do mal, tem nos mostrado um caminho de tornar esta fragilidade universal, altamente conducente da virtude e da felicidade. Até mesmo da aflição, se ela nos conduz ao arrependimento, e procede de uma consciência sincera de nossas faltas, ele não deverá arrepender-se; uma vez que esses que assim semeiam nas lágrimas, deverão colher na alegria. Se nos a limitamos a esta ocasião específica, ela não irá debilitar, mas grandemente assistir, nossa razão imperfeita; e dor, se do corpo ou da mente, atuando mais rápido do que a reflexão, e fixando mais profundamente na memória alguma circunstância que ela atende.

 

Da própria natureza da aflição, que é uma inquietação da mente sobre a apreensão de algum mal presente, parece que seu surgimento em nós, em qualquer outra ocasião que a do pecado, é inteiramente devido à nossa falta de julgamento. São males verdadeiros algumas dessas contingências, que na linguagem dos homens são denominadas infortúnios, tais como a desgraça, pobreza, perda da vida, ou mesmo de amigos? Muito longe disto, se nós nos atrevemos a crer em nosso Criador, elas são freqüentemente bênçãos positivas. Elas trabalham juntas para nosso bem. Conseqüentemente, nosso Senhor nos ordena, mesmo quando uma perda mais severa, do que nossa reputação, acontece a nós, se por uma boa causa, uma vez que, se não for, deverá ser nossa falta, 'regozijarmo-nos e estarmos excessivamente alegres'.


Mas o que prova completamente o absurdo extremo de quase todas as nossas aflições; exceto por nossas próprias imperfeições, é, que o motivo dela já é sempre passado, antes de começar. Anular o que já aconteceu é extremamente impossível, e além do alcance da própria Onipotência. Que aqueles que gostam da miséria, se existir alguém assim, indulte suas mentes nesta inquietude infrutífera. Eles que desejam a felicidade terão cuidado em como nutrir tal paixão, uma vez que ela nem é desejável em si mesma; nem serve a algum bom propósito presente ou futuro. 


Se alguma espécie destas paixões improdutivas for mais especificamente inútil que as demais, é esta que devemos sentir, quando sofremos pelo morto. Nós destruímos a saúde de nosso corpo, e enfraquecemos a força de nossas mentes, e não damos valor para essas bênçãos inestimáveis; nós desistimos de nosso presente, sem qualquer panorama de vantagem futura; sem qualquer possibilidade quer de trazê-lo de volta, ou tirar proveito dele, onde ele está. 


Como esta é uma prova medíocre de nossa sabedoria, é ainda uma prova pior de nossa afeição para com o morto. É uma característica da inveja, e não do amor, lamentar-se da felicidade de outrem; chorar, porque todas as lágrimas foram enxutas dos olhos dele. Deve perturbar a nós que nos consideramos seus amigos, que um cansado andarilho tenha, por fim, seguido para seu lar tão desejado? Muito pelo contrário; seria preferível chorar por nós mesmos, que ainda esperamos por aquela felicidade; até mesmo para quem este descanso já se mostra provável. 


Gracioso e misericordioso é nosso Deus, que, sabendo o que está no homem, quando aquela paixão sobrepuja a razão, e sempre toma a aparência dela, acrescenta a sanção de seus mandamentos infalíveis para os ditames naturais de nosso próprio entendimento, para que não sejamos iludidos por esta aparência. A razão poderia ser tão obscurecida pela paixão, de maneira a considerar razoável sermos profusos em nossa tristeza, na partida de um ente querido; no entanto, em Apocalipse está escrito que nós devemos suportar, com amor e moderação, todas as ocorrências da vida, -- do contrário, colocaremos um peso maior em nossas almas do que os contingentes externos podem fazer, sem nossa cooperação; com humildade, -- porque por termos ofendido a justiça de Deus, poderíamos bem esperar que Ele fosse ofender de maneira muito pior; e com resignação, -- porque sabemos que, o que quer que nos aconteça, é para nosso bem; e, mesmo que não seja, nós não somos capazes de contender com isto, e, portanto, não deveríamos ofender a Ele que é bem mais forte do que nós. 


Contra esta falta, que é inconsistente com aquelas virtudes, e, portanto, tacitamente proibida nos preceitos que as prescrevem, Paulo nos adverte nestas palavras categóricas: (I Tessalonicenses 4:13, 14,18) 'Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os tornará a trazer juntamente com ele (...) Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras'. E essas, de fato, são as únicas palavras que podem dar o último conforto a um espírito aflito por tal situação. Por que eu devo ser tão desarrazoado, tão indelicado, desejando o retorno de uma alma que agora está na felicidade, -- para esta habitação de pecado e miséria; uma vez que eu sei que o tempo virá; sim, e está à mão, quando, a despeito do grande abismo fixado entre nós, eu deverei me livrar dessas correntes e ir até ele?


O que ele foi, eu sou tão incapaz de pintar em cores adequadas, quanto não estou disposto a tentar. Contudo o principal; pelo menos, o mais comum, o argumento para esses elogios elaborados sobre o morto que, por muitos anos prevalece, em nosso meio, é que não pode existir suspeita de lisonja; ainda assim, nós todos sabemos que o púlpito, nestas ocasiões, tem sido tão freqüentemente prostituído por aquelas finalidades servis, que agora não é mais capaz de servi-los. Os homens tomam como certo que o que lá é dito são palavras de maldição; que a tarefa do orador é descrever a beleza, não a semelhança da pintura; e, assim, ela sendo apenas bem desenhada, ele não se preocupará com quem ela se assemelha: Em uma palavra, que sua tarefa é mostrar sua própria destreza, e não a generosidade de seu amigo, dando a ele todas as virtudes que ele pode pensar a respeito. 


Esta, de fato, é uma finalidade que é visivelmente servida naqueles elogios inoportunos; de que outro uso elas são, é difícil dizer. Não é de auxílio algum ao morto, celebrarem suas ações; uma vez que ele tem o aplauso de Deus, e Seus anjos santos, e também aqueles de sua própria consciência. E é de pequeno uso para o benefício eclesiástico; uma vez que ele que deseja um modelo pode encontrar suficiente proposto, como nos escritos sagrados. O que! Deve alguém ressuscitar dos mortos para instruí-lo, enquanto Moisés, os Profetas, e o abençoado Jesus estão ainda presentes à sua vista naquelas mesas eternas? É certo que ele que não imitaria esses, não seria convertido, embora alguém literalmente ressuscitado dos mortos.  


Que seja suficiente eu ter cumprido minha última obrigação para com ele (se ele está agora pairando nessas regiões mais baixas, ou já se retirou para as mansões da glória eterna), dizendo, em poucas palavras claras, tais que eram suas próprias, e sempre agradáveis a ele, que, para seus pais, ele foi um filho afetuoso, e respeitoso; para seus familiares, uma companhia ingênua, alegre, e bem-humorada; e para mim, um amigo experimentado e sincero. 


Em tal perda, se considerada, sem as circunstâncias aliviantes, quem poderá culpar aquele que derrama uma lágrima? A ternura de um coração derretido, dissolvida com o afeto, quando ela se reflete em diversos momentos agradáveis, que agora levantaram vôo, para nunca mais retornar, dá permissão para alguns graus de tristeza. Nem a fragilidade humana permite que um familiar comum despeça-se, sem ela. 


Quem, então, poderá conceber, muito menos descrever, a emoção forte, as obras secretas da alma que um pai, ou uma mãe sentem nestas ocasiões? Ninguém, certamente, a não ser aqueles que são os pais; salvo esses poucos que experimentaram o poder da amizade; do que a natureza humana, deste lado da sepultura, conhece nenhum vínculo mais próximo, mais delicado, mais forte! Na violenta separação desses vínculos sagrados, nós podemos bem admitir, sem culpa, algumas aflições mortais; mas a dificuldade é colocar um fim nelas, tão rápido quanto a razão e a religião nos ordenam. O que pode nos dar suficiente bem-estar depois desta ruptura, que tem deixado tal vazio doloroso em nossos corações? 


O que, de fato, a não ser a reflexão já mencionada, e que nunca poderá ser inculcada freqüentemente o bastante, -- de que nós estamos nos apressando para Ele; que, passado alguns poucos anos, talvez, horas, tudo terá terminado, e não apenas isto, mas todos os outros desejos serão satisfeitos; quando nós deveremos trocar a sombra pomposa do prazer que temos desfrutado, pela felicidade sincera, substancial e não transitória?


Com esta consideração bem gravada em nossas mentes, é muito melhor, como Salomão observa, ir para a casa de lamentação, do que a um banquete. Uma abraça a alma, desarma nossa resolução, e nos coloca prontos para um ataque: A outra nos adverte para recobrarmos nossa razão, tomarmos cuidado e administrarmos aquela nobre firmeza e seriedade de temperamento, que não irá descompor-se pelo poder de um golpe costumeiro. Tais objetos nos induzem a colocar no coração que as próximas convocações podem ser as nossas; e que, uma vez que a morte é o fim de todos os homens sem esperança, é chegada a hora para o benefício eclesiástico colocar isto no coração.   


Se nós estamos, a qualquer tempo, em perigo de sermos dominados, por habitarmos, há tanto tempo no lado sombrio deste panorama, causando-nos dor, tornando-nos incapacitados para as obrigações e ofícios da vida; diminuindo nossas faculdades de corpo ou mente, -- quais procedimentos, como já foi mostrado, são tanto absurdos, improdutivos quanto pecadores; vamos recorrer, imediatamente, ao lado claro, com gratidão, assim como, com humildade, para que nosso tempo se extinga como uma sombra; e para que, quando nós acordarmos deste sonho momentâneo, possamos, então, ter uma visão mais clara daquele último dia em que nosso Redentor deverá se estender sobre a terra; quando este corpo corruptível se tornará idôneo; e este corpo mortal deverá ser revestido com a imortalidade; e quando nós deveremos cantar com os corais de homens e anjos, unidos, 'Ó, morte, onde está tua dor aguda? Ó, sepultura, onde está tua vitória?'.


[Editado por George Lyons na Northwest Nazarene College (Nampa, ID), para a Wesley Center for Applied Theology.]


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