A TRINDADE E O ESPÍRITO SANTO
Demóstenes Neves da Silva*
A Compreensão da Verdade é Progressiva
A doutrina do Espírito Santo, como revelada nas Escritura, não foi entendida amplamente no Antigo Testamento (a partir daqui AT). Mesmo a compreensão de quem seria o Messias e Sua obra não seria plenamente obtida antes do advento do Novo Testamento (a partir daqui NT). Como muitas outras verdades, o entendimento acerca do Espírito Santo ainda era parcial.
Na Igreja Adventista do Sétimo dia (IASD) a doutrina estabeleceu-se como uma luz progressiva. Não é para ignorar esse fenômeno pois o mesmo ocorreu com a doutrina do Sábado, Reforma de Saúde, Dízimo, Santuário, Dom Profético e até mesmo a compreensão mais completa da Justificação pela Fé.
Vários dos pioneiros eram originários da Conexão Cristã, uma denominação evangélica norte-americana, que mantinha pontos de vista doutrinários equivocados sobre a Trindade e, consequentemente sobre o Espírito Santo. Numa atmosfera de encontro de tantas novas idéias somente o tempo e o amadurecimento da igreja poderiam operar mudanças sem colocar em risco, pelas disputas doutrinárias, a unidade da igreja nascente.
A IASD, conforme declara o seu Manual, reconhece a divindade e a personalidade do Espírito Santo. O consenso doutrinário tornou-se suficientemente claro para um posicionamento já por volta de 1900 e foi publicada claramente na formulação de crenças em 1931.
Como tem sido ao longo da história da igreja, alguns se têm levantado, em grande medida influenciados por literatura de natureza ariana como a produzida pelas Testemunhas de Jeová, entre outros, com interpretações equivocadas de textos inspirados, negando a personalidade e a divindade do Espírito Santo. Assim, faz-se necessária uma reavaliação de alguns argumentos que, em geral, são usados para apoiar ideias que são originadas mais na ideologia extra bíblica e preconceito do que realmente no ensino das Escrituras. Tais ideias são divulgadas à base de artifícios de argumentação e seleção de textos escolhidos, destacados do seu contexto e em desprezo de outras importantes declarações inspiradas.
Este trabalho está dividido em duas seções principais: na primeira serão abordados aspectos bíblicos, históricos e filosóficos que estão na base das discussões sobre o assunto e que poderão ajudar a corrigir ideias equivocadas atribuídas à Trindade e ao Espírito Santo. Na segunda parte serão apresentadas afirmativas bíblicas sobre quem Ele é, Sua natureza e obra.
Pretendemos valer-nos de fontes bíblicas e obras exegéticas para examinar os argumentos arianos refutando-os, evidentemente, dentro dos limites deste artigo.
Sem Explicação Racional
É preciso ter em mente, embora os arianos modernos e racionalistas não desejem aceitar, que, ao falar sobre a natureza do Espírito Santo e Sua divindade (e o mesmo ocorre sobre a divindade de Jesus), e também para não cair no biteísmo pagão, é preciso esclarecer o tema da Trindade. Trata-se de tema que, embora revelado à mente finita, continua além da plena compreensão humana, portanto, trata-se de um mistério de fato. O arianismo moderno pergunta como a doutrina da Trindade pode ser crida se não pode ser explicada racionalmente? A Bíblia responde reafirmando o mistério de Deus e Sua natureza:
“Porventura desvendará os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11:7).
“Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” (Sl 139:6).
“Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado; a Sua grandeza é insondável” (Sl 145:3).
“Não se pode esquadrinhar o Seu entendimento” (Is 40:28).
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos” (Rm 11:33).
Mesmo o amor de Cristo e a paz de Deus estão além de toda compreensão e conhecimento (Ef 3:19; Fl 4:7). Ou seja, não se pode explicar a Deus, nem Sua grandeza, Seus pensamentos, Seus juízos, Seu amor e nem sua paz. Mas também não se explicam muitas outras declarações da Bíblia. Todavia são exatamente os mistérios que a identificam como Palavra de Deus, com temas que estão além da capacidade humana, sem que isso impeça que se creia, desfrute e viva suas verdades.
Ao dizer que só acreditam no que se pode explicar os arianos fazem uma opção exclusiva pelo racional em detrimento da fé. A rejeição da Trindade passa a fundamentar-se na autossuficiência do intelecto humano. Estabelece-se a contradição entre declarar-se ter fé mas só acreditar na capacidade racional de explicar os fatos. Talvez isso explique as tentativas para “dobrar” a Bíblia de acordo com um racionalismo religioso. A razão, embora necessária à recepção e prática da mensagem, não é suficiente para desvendar e explicar plenamente as verdades reveladas.
Se apenas se aceitasse o que é racionalmente compreensível sobre Deus, estaríamos dessa forma, igualando o homem a Deus e, negando a Sua transcendência. Passemos, então, à parte seguinte deste trabalho que visa analisar o tema da Trindade.
A Trindade e a Doutrina Bíblica
A palavra trindade não se encontra na Bíblia. Seria isso prova de que a doutrina não existe? A palavra Milênio também não está na Bíblia e por isso não existe o milênio ou um período de mil anos? Claro que existe (Ap 20:1-3). O fato de se usar uma nova palavra para uma doutrina bíblica não significa que a doutrina não tenha existido antes do aparecimento do novo vocábulo. A doutrina não depende de novos nomes, existia antes deles, assim também a doutrina da Trindade.
Alguns acreditam que a doutrina da Trindade foi inventada em 325 d.C., devido às disputas com Ário, mas esquecem que, se essa doutrina não existisse antes, por que Ário a combateria? Na realidade a atitude de Ário demonstra que a crença já era estabelecida e que a igreja, na sua reação, elaborou mais detalhadamente a doutrina com vistas a refutar os argumentos filosóficos e os usos impróprios de interpretações da Bíblia.
Além da Bíblia, a prova de que a doutrina da divindade de Cristo e do Espírito Santo bem como da Trindade (embora a palavra ainda não tivesse sido usada) já era crida em toda a igreja cristã, e ensinada pelos bispos, é uma carta de Alexandre, bispo de Alexandria, no distante Egito, para Eusébio da Nicomédia, na Ásia. Ela é anterior a Nicéia, antes de Ário se tornar notório pela pregação de sua “nova” doutrina. Nessa carta, Alexandre queixa-se que sua divergência com Ário deu-se por causa da negação da divindade de Cristo:
Tudo isso devido a que nós não concordamos com ele quando ele declarou em público, (...) Sempre gerado, não procedente-criado, nem no pensamento nem no mesmo momento Deus originou o Filho, sempre Deus, sempre Filho, O Filho procede do próprio Pai.
A controvérsia que envolveu a igreja no oriente e ocidente, considerou Ário como herege, e provocou vários concílios desde 319 até 381. Esta controvérsia absorveu meios e energias de muitos líderes da igreja. Numa carta a seu homônimo de Tessalônica na Grécia, Alexandre declarou que, para conseguir implantar a “novidade” de sua doutrina:
Ele [Ário] denunciou cada santa doutrina apostólica; ele organizou no estilo dos judeus um grupo de trabalho lutando contra Cristo. Ele negou a divindade de nosso Salvador.
“Nós cremos no Espírito Santo” diz o credo Niceno. A ausência da abordagem sobre a divindade do Espírito Santo explica-se pelo fato de que a questão em foco era a divindade de Jesus, e, quando se fez necessária, posteriormente, no concílio de Constantinopla (381 d.C.), elaborou-se uma definição mais ampla:
... “e no Espírito Santo, o Senhor, o Doador da Vida, o qual procede do Pai, o qual com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos profetas”. É o mesmo Espírito mencionado no AT que é adorado como o são o Pai e o Filho.
Os credos primitivos, elaborados pela igreja, ao contrário do que alegam seus críticos, foram a expressão das crenças anunciadas pelos apóstolos e que podem ser comprovadas no NT. Mas nem todas as crenças, visto não terem sido alvo de ataques, apareceram em credos, embora estejam claramente na Bíblia. Uma doutrina é verdadeira por estar na Escritura como é o caso da Divindade Triúna.
A Influência Pagã no Anti-trinitarianismo
A Trindade era uma consenso estabelecido na igreja antes das disputas arianas, bem como a divindade de Jesus e do Espírito Santo. Apenas não existia formulação oficial de concílio com expressões técnicas. Estas se tornaram posteriormente necessárias para enfrentar os ataques de Ário.
Os argumentos de Ário, por outro lado, tiveram origem em sua formação filosófica e não na Bíblia. O que o impediu de permanecer na doutrina trinitária foi a crença na filosofia platônica do Monas. Esse Monas seria, na filosofia platônica (pagã), a causa única, primeira e indivisível.
O Monas por ser único é impossível ser dividido. Aí Ário deteve-se e não pôde conciliar sua idéia com o que lhe parecia ilógica e “anti-filosófica” doutrina bíblica. Isso o levou a forçar a Bíblia a dizer o que sua filosofia de antemão afirmava. Não é sem motivo que alguns grupos ainda hoje produzem suas próprias “traduções” da Bíblia para atender aos interesses filosóficos que não teriam apoio num puro “sola Scriptura”.
Ário, em uma carta a Alexandre bispo, de Alexandria, confessa seu referencial pagão ao declarar: “Deus é antes de tudo como um Monas e causa. Portanto Ele é antes do Filho”.
Assim, sua conclusão dobrava a Bíblia à filosofia. Ário e seus seguidores modernos (alguns até inconscientes disso) acham-se na defesa do platonismo pagão. Negam a verdade da Palavra de Deus, sem perceberem, que na tentativa de sustentação do unitarismo de Deus, repetem a filosofia platônica. Fogem da Trindade que é uma única divindade e caem na adoração de um semi-deus, à moda pagã.
O próprio Filho de Deus na qualidade de uma “divindade menor”, segundo algumas opiniões, nem deveria existir, pois, conforme a Bíblia declara:
Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor [YHWH], o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá (Is 43:10). (grifo nosso).
Se foi o Pai que falou as palavras acima, então o Filho jamais seria um deus de qualquer tamanho ou qualidade : “depois de mim deus nenhum haverá”. Se, por outro lado, foi o Filho quem falou estas palavra de Is 43:10, então Ele nega que o Pai existia antes de Si: “antes de mim deus nenhum se formou”. Ambos, então, são co-eternos, como diz a Bíblia (Is 9:6; Mq 5:2; Jo 1:1-3).
A posição assumida de prestar a Jesus “um tipo” de adoração diferente, sustentando que Jesus foi “um deus” criado pelo Pai conduz ao biteísmo que é idolatria.
O arianismo também confunde o conceito cristão de Trindade com tríade ou uma trindade comum e afirma que os cristãos adoram três deuses como o faziam os antigos pagãos. Então, passa a atacar uma doutrina que imagina ser o que os trinitarianos creem. Ataca-se um erro (de três deuses) que não é a verdadeira doutrina bíblica da Trindade.
É evidente que o conceito de um deus monárquico que comanda um ou vários deuses menores é adequado também ao sistema político das cidades-estados pagãs da Mesopotâmia e do Egito. O tipo de sistema que Deus não queria que Israel copiasse.
Naquelas organizações políticas havia um rei único, e os homens tendo deixado o verdadeiro Deus, criaram seus deuses à imagem deles mesmos e seus sistemas monárquicos absolutistas. Mesmo suas tríades nada mais eram do que um deus absoluto rodeado de dois “imediatos” e muitos outros vassalos divinos, iguais aos sistemas sócio-políticos da época.
Numa sociedade onde se conhecia apenas um monarca absoluto, a doutrina da Trindade dificilmente poderia ser entendida e aceita sem o auxílio da Revelação de Deus. Não havia lugar para uma concepção tal que tornasse três pessoas iguais, e ao mesmo tempo distintas, membros de UMA única divindade. Portanto, o conceito do Monas e do rei absoluto, reflete o erro religioso pagão das tríades (seja por via platônica-grega, egípcia ou mesopotâmica). É diferente e incompatível com a doutrina bíblica da divindade triúna.
Assim que, Israel necessitava uma revelação progressiva sobre a Trindade pois se encontrava influenciado pelas nações em redor com seus panteões de ídolos monárquicos.
É notável que quase cada doutrina da Bíblia foi imitada ou distorcida no paganismo, assim também o conceito de Deus. Como apresentado a seguir, é grande a diferença entre o conceito de Trindade bíblica e a tríade pagã:
TRINDADE
Uma só divindade
Natureza infinita
Atributos infinitos
Onipotente
Onisciente
Onipresente
Imutável
Perfeito
Bom
TRÍADE
Três divindades
Natureza finita
Atributos finitos
Impotentes
Sem onisciência
Sem onipresença
Mutáveis
Imperfeitos
Às vezes bons e maus
Como se pode ver, a rejeição da trindade apresenta-se aqui em dois pontos: 1) a rejeição de um entendimento equivocado da Trindade à parte do seu sentido bíblico, e 2) também uma opção para entender a doutrina de Deus pela ótica filosófica em lugar da aceitação do contexto bíblico que apresenta três pessoas distintas em uma única divindade. Esse ensino pode ser encontrado na Bíblia, independente de se entender ou não como isso se processa.
De fato, não se entende completamente como funcionam coisas deste mundo como energia elétrica, máquinas, e fenômenos naturais e, apesar disso, com elas se convive e se desfruta seus benefícios mesmo sem entendê-las ou poder explicá-las. Se até mesmo o corpo humano é um mistério para o homem, sem falar nas maravilhas da mente, e no entanto não são rejeitadas por isso, como se pode exigir entender tudo sobre a natureza de Deus?
Realmente, a primeira verdade anunciada no ato de recepção na igreja é que o crente está sendo aceito “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19). Este texto, equivocadamente posto sob desconfiança apresenta as três pessoas ao novo crente, igualando-os em nome e autoridade. Uma tríplice aprovação para o batismo. Foi essa lição primária que a igreja cristã primitiva e pós-apostólica aceitou, abrindo mão, neste caso, de propostas interpretativas originadas na filosofia platônica do Monas solitário e que levariam a erros como o triteísmo e biteísmo.
Por outro lado, a alegação de que a doutrina da Trindade não existia na igreja cristã antes do quarto século pelo fato desta palavra ainda não haver sido usada antes do ano 325 d.C. então, pergunta R. Morey, como justificar a acusação de que a noção de Trindade existia entre os povos pagãos e nos escritos de Platão, se a palavra Trindade jamais é mencionada nem por Platão e nem pelos egípcios ou qualquer outro povo pagão?
Se a existência da doutrina só vale com o uso da palavra, então não existia a ideia de Trindade entre nenhum povo pagão, e, assim, essa ideia não veio do paganismo, como se tem afirmado. De fato não existia a ideia de Trindade entre eles, mas somente de um panteão, alguns compostos de tríades hierárquicas adicionados de outros deuses inferiores às dezenas, independentes e digladiando-se entre si, ou de um Absoluto com suas “emanações” inferiores. A ideia de um Deus único em três pessoas é uma noção especial da Bíblia.
Respeitadas as proporções, Deus ensina os discípulos a ser “um” como Ele é “um” (Jo 17:21-23). Muitos formando uma unidade. A união da igreja, que repete de forma limitada a união divina, é operada pelo Espírito Santo que se destaca na Trindade como o Autor da comunhão da igreja (2Co 13:13). Seria, por outro lado, ingênuo reduzir a união da Trindade ao nível da igreja, como o seria dizer que Deus é igual à igreja e esta igual a Ele, pelo fato de a Bíblia dizer que devemos ser “perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48). Deus é um em Sua esfera infinita e os crentes devem ser um em sua esfera finita.
A Questão das Referências a Deus no Plural
Deus refere-se a Si mesmo no plural. Pode ser difícil para o pensamento ariano ou monista platônico entender e aceitar a pluralidade de Deus mas as evidências nas páginas da Bíblia são expressivas. Tais passagens têm sido um embaraço até mesmo para os judeus que não têm podido explicar como Deus é sozinho e a Bíblia, apesar disso, desvia-se inúmeras vezes de uma linguagem singular para tratá-lO de forma plural.
As passagens mencionam Deus declarando “façamos” o homem à “nossa” imagem (Gn 1:26); o homem é como um de “nós” (3:22); “desçamos e confundamos” ali a sua linguagem (11:7) e: “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” (Is 6:8). Aqui em Isaías a palavra enviarei é singular, nós é plural e quem fala é YHWH.
No entanto, o evangelho de João diz que a glória que Isaías viu foi a de Jesus (Jo 12:37-41). Já o apóstolo Paulo, no livro de Atos atribui as palavras ditas por Deus ao Espírito Santo (At 28:25-27) que, como se demonstrará mais adiante, é uma pessoa distinta do Pai. Portanto, o Senhor (YHWH) sobre o trono em Isaías 6, entendido como o Pai, é revelado na Bíblia como sendo também o Filho e o Espírito Santo. Assim ocorre em outras passagens.
Ainda, a palavra “Deus” em Gênesis é também plural. Em vez do singular El (Deus) a Bíblia usa Elohim (Deuses) mas não para denotar o sentido politeísta numérico pagão. Mesmo que a forma Elohim seja muito debatida, a questão permanece: Deus, em Gênesis, é tratado como um só ser e agindo no plural. Ou seja, um ser que se assume no plural!
Diante dessas e outras questões, adversos à Trindade respondem que este é um plural majestático como o temos em português e em outros idiomas. Uma simples forma especial e exaltada que reis usavam para descrever a si mesmos. Porém, o fato é que essa forma de tratamento não existia e nem era usada pelos hebreus antigos. Conforme declara o rabino Nassi:
Qualquer um que está familiarizado com os rudimentos da língua hebraica e Caldéia, deve saber que Deus, nos santos Escritos, muito frequentemente fala de si mesmo no plural. As passagens são numerosas, nas quais, em vez da concordância entre o sujeito e o predicado, nós encontramos uma construção, à qual alguns modernos gramáticos, os quais possuem mais do assim chamado conhecimento filosófico do que real conhecimento das línguas orientais, chamam de pluraris excellentiae. Isto ajuda-os a escapar de cada aparente dificuldade. Tal pluralis Excellentiae era, contudo, uma coisa desconhecida para Moisés e os profetas.
Se a questão do tratamento para Deus no plural não contivesse implicações comprometedoras para os que não aceitam a Trindade, não seria necessário que mesmo antigos escritores usassem explicações e mesmo citações modificadas procedentes de fontes judaicas como ocorre no Livro dos Jubileus 1:26; 2:14; no comentário de Filo e no Talmude de Jerusalém sobre Gn 1:26, entre outros exemplos. Também não seria necessário tantas edições de traduções “modificadas” como a “Novo Mundo” das Testemunhas de Jeová nas quais os textos são visivelmente alterados para escapar à direta verdade bíblica.
A Gramática de Gesenius
O argumento do “plural magestático” foi espalhado no século XIX pelos inimigos da Trindade. Um truque atribuído, lamentavelmente, ao hebraista Gesenius, durante os debates antitrinitarianos. Apesar desse pensamento ser retratado em nota de rodapé de sua gramática revisada continua sendo usado pelo compromisso com a idéia unitarista.
A palavra “façamos” de Gn 1:26 também tem sido atribuída, por alguns, à presença dos anjos, mas isto é impossível devido a que se esse fosse o caso, o termo “imagem” deveria vir também no plural (referindo-se à imagem de Deus e à dos anjos) além do mais a Bíblia nunca diz que fomos criados à imagem dos anjos ou que estes tenham sido co-criadores de qualquer coisa muito menos do homem feito “à imagem de Deus”. Por outro lado, nessa questão, é de suspeitar-se de Gesenius, uma vez que, embora professor de teologia e notável gramático, foi acusado de filósofo racionalista, o que explicaria sua dificuldade para aceitar a Trindade, que transcende a razão.
A Declaração de que Deus é Um em Dt 6:4
A palavra usada no idioma hebraico (no qual o AT foi escrito) é echad que significa uma união e não uma pessoa sozinha. A mesma palavra é usada para “o primeiro” dia que é “um” (heb. echad) por ser o resultado da união da noite e da parte clara (tarde e manhã) conforme o relato da criação de Gênesis. O mesmo ocorre com o casal humano. Deus os chama “uma” (heb. echad), só carne em Gn 2:24. Portanto, a palavra escolhida para definir que Deus é “um”, significa não uma pessoa isolada mas uma unidade.
Também a pessoa não perde sua personalidade e nem se “dissolve” na outra quando é echad. Desse modo o povo era “um” (heb. echad), e ao mesmo tempo muitos (Gn 11:16); “um” (heb. echad) coração mas era uma multidão (2Cr 30:12) e, como no novo concerto, Deus deu a todos os crentes, seu povo, “um” (heb. echad) coração (Jr 32:39) mas eles são muitos. Assim, na esfera infinita de Deus há “um” (heb. echad) Deus, embora sejam três pessoas.
Quando a Bíblia se refere a um ser ou algo solitário usa a palavra “único” (heb. yechad) que se refere a único, sozinho, como em Sl 68:6. Assim, quando Deus é definido Ele é echad (unido) e quando é comparado com os deuses falsos Ele é yechad (único). Não há igual a Ele. Se a Bíblia pretendesse apoiar a visão unitarista para descrever a divindade usaria, é claro, yechad que fala de um ser solitário. A Bíblia teria sido escrita de outro modo, jamais usando echad, que admite a possibilidade da Trindade unida em uma só divindade, pois “o nosso Deus é o único [echad - unido] Senhor” (Dt 6:4).
Apesar do conhecimento judeu sobre o assunto, o motivo do significado de único ter prevalecido na sua confissão de fé em lugar do significado de um, referindo-se a unido, pode encontrar-se fora da Bíblia.
Segundo a gramática, echad, além do significado de uno e adjetivo, encerra também o sentido numérico e de único. Apesar disso, o grande rabino Moisés Maimônides, que foi muito influenciado pelo pensamento unitarista islâmico e pela filosofia pagã aristotélica e platônica, percebeu que a palavra não era destituída de valor para definir a natureza plural de Deus e no seu esforço de opor-se ao conceito bíblico defendido pelo cristianismo, estabeleceu 13 artigos de fé para o judaísmo nos quais a declaração de que Deus é unido (heb. echad) ser mudada para único (heb. yechad) alterando o sentido do texto bíblico de Dt 6:4.
Lamentavelmente, ainda hoje alguns não hesitam em mudar palavras e porções da Bíblia e até criar argumentos gramaticais inexistentes, a fim de defender suas idéias previamente estabelecidas. O problema é partir de idéias previamente sustentadas para, em seguida, buscar apoio na Bíblia em vez de buscar a Bíblia para entender sua mensagem.
Por outro lado, o conceito cristão de um Deus trino, por ser exclusivamente bíblico, apesar das contrafações das tríades, como mencionado, era inexistente entre os filósofos e nações pagãs. Finalmente, a idéia que confunde Trindade bíblica com a tríade pagã parece decorrer da incapacidade e desinteresse para entender o que a Bíblia realmente ensina.
A Bíblia, a Trindade o Espírito Santo
Conforme apresentado até aqui, a Trindade é uma doutrina peculiar do cristianismo. Ela difere das contrafações que possam ser encontradas no paganismo religioso ou filosófico. É inevitável o confronto com passagens que explicitamente declaram a divindade de Jesus.
Além disso, suas qualidades divinas de ter vida em Si mesmo, perdoar pecados, ser adorado, ter Seu nome substituindo o nome de Jeová nas passagens citadas do AT no NT entre outras, são apenas algumas áreas que conferem a Jesus prerrogativas e atributos que somente pertencem a Deus, o Pai.
Um fato complicador adicional que contraria o unitarismo radical russelita, que assemelha-se ao muçulmano, é que tais atributos e prerrogativas divinas também são conferidos ao Espírito Santo em dezenas de passagens. Ou seja, embora a Bíblia fale de um só Deus, declara ao mesmo tempo que esse Deus apresenta-se como Pai, e Filho e Espírito Santo.
Não no sentido de modalidades de uma mesma pessoa que ora aparece como Pai, depois como Filho e algumas vezes como Espírito Santo. Esse pensamento não suporta o peso do ensino bíblico que apresenta as três pessoas de forma distinta, separados, interagindo simultaneamente de forma pessoal e mencionados como Deus.
A igreja, aceitou o testemunho das Escrituras de um só Deus em três pessoas distintas que se manifestam de forma cada vez mais clara à medida que a luz da verdade progride do Antigo para o Novo Testamento.
Identificando as Pessoas da Trindade
O Espírito Santo existe individualmente (At 19:2) e opera (v.6). O verbo usado para “existir” (v. 2) é o verbo ser (gr. estin). A Bíblia deixa claro que o que aqueles discípulos não sabiam sobre Deus era a existência do Espírito Santo. Evidentemente não tinham dúvidas sobre a existência de Deus o Pai e o Messias ou anjos, que faziam parte da tradição teológica judaica e com a qual os primeiros cristãos estavam familiarizados mas, como disseram, “nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo.”
O Espírito era, para eles, um novo elemento que, como veremos adiante, a Bíblia confere atributos (qualidades inerentes) e prerrogativas (direitos) que só pertencem a Deus e, assim, não se pode chegar a outra conclusão a não ser sua divindade na Trindade.
A Trindade é negada alegando-se a fragilidade do texto de 1Jo 5:7-8, cuja porção interpolada, como encontrada na Vulgata antiga, só possui registro em manuscritos a partir do século XVI. Como apresentado até aqui, a revelação bíblica deixa claro, de muitas formas diretas e indiretas o tema da Trindade, o qual tem como base muitas outras citações, o que torna o texto de I João virtualmente desnecessário para a fundamentação da doutrina.
Não é possível, partindo do simples e direto testemunho das Escrituras negar a presença de três pessoas simultâneas e distintas no batismo de Jesus; a voz do Pai, o Espírito vindo na forma de uma pomba e o Filho na forma humana sendo batizado (Mt 3: 16). Também são três os que estão presentes na fórmula batismal (Mt 28: 19) mencionados de maneira distinta, pessoal e igualitária. Na verdade, são tantas as passagens nas quais aparecem numa estrutura trinitariana que, apenas algumas exemplos mais serão apresentados, além dessas já muito conhecidas.
Porções nas quais as três pessoas são mencionadas em um versículo, ou em trechos mais longos da Bíblia e, nos quais, o Espírito Santo aparece junto com o Pai e o Filho de forma distinta e inconfundível são comuns. No texto de 1Co 13:13, por exemplo, como nos outros a seguir, a ordem dos nomes Pai, Filho e Espírito Santo não possui sentido hierárquico mas todos estão envolvidos na concessão de comunhão, graça, amor, perdão e salvação que são, entre outras, dádivas oriundas exclusivamente da divindade.
Três Pessoas distintas
Note-se os quinze exemplos, que se seguem, da individualidade e ação conjunta da divindade em três pessoas:
1. Três: (Jo 14:16) “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro (allos) Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco.”
2. Três: “a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (v. 26).
3. Três: At 1:1-4: exercendo funções diferentes: as ações de Jesus (v. 1); a intermediação do Espírito Santo (v. 2) e a promessa do Pai (v. 4).
4. Três: (At 2:32, 33) Jesus ressuscitado (v. 32) a promessa do Pai e o Espírito Santo derramado (v.33).
5. Três: (At 2:38-39) O batismo em nome de Jesus (v. 38); o Dom do Espírito Santo (v. 38) e o chamado de Deus.
6. Três: (4:8-10) Pedro cheio do Espírito Santo (v. 8); Jesus crucificado e Deus que o ressuscitou (v. 10)
7. Três: (4:24-26) Deus, o soberano (v. 24); o Espírito Santo que falou pela boca de Davi (v. 25) e o Ungido do Senhor (v. 26).
8. Três: (5:31-32) Deus que exaltou (v. 31); o Salvador (Jesus) e o Espírito Santo que é testemunha juntamente com os apóstolos (v. 32).
9. Três: (7:55-56) o Espírito Santo enchendo Estevão que vê Deus no Céu e Jesus à sua direita.
10. Três: (10:46-48) Deus é engrandecido por pessoas que receberam o Espírito Santo e foram batizados em nome de Jesus.
11. Três: (20:21-23) o arrependimento para com Deus e a fé em Jesus (v. 21) e o Espírito Santo que adverte das provações (v. 23).
12. Três: (Ef 1:13-17) selados com o Espírito da promessa o qual é penhor até ao resgate de Sua propriedade (v. 13); a fé no Senhor Jesus (v. 15) e Deus, o Pai da Glória (v. 17).
13. Três: (Tt 3:4-6) a benignidade de Deus (v. 4); o lavar renovador do Espírito Santo (v. 5) e a mediação de Jesus Cristo no verso 6.
14. Três: (Hb 10:12-15) Jesus que se ofereceu e está à destra de Deus (v. 12) e o Espírito Santo que também disso dá testemunho (v. 15).
15. Três: (1Co 2:10-12, 16) as coisas de Deus somente podem ser reveladas pelo Espírito. Esse Espírito vem de Deus e só ele conhece as coisas de Deus e nós temos a mente de Cristo (v. 16).
Muitas outras passagens poderiam ser citadas para indicar a presença de três pessoas na ação de Deus como Trindade.
O Espírito Santo não é um Anjo
Tem-se feito esforços para demonstrar que o Espírito Santo é um anjo, talvez o mais importante dentre os anjos. A idéia não é nova e já foi refutada no passado, mas persiste até hoje entre alguns. No entanto, The Theological Dictionary of the New Testament, uma das maiores autoridades na questão do significado dos termos bíblicos gregos, após referenciar as fontes, conclui sobre o Espírito Santo:
A autonomia do Espírito no judaísmo é surpreendente. Nos escritos rabínicos o Espírito é mencionado freqüentemente possuindo categorias pessoais. Há muitos exemplos do Espírito falando, clamando, admoestando, entristecendo-se, chorando, regozijando-se, confortando, etc.
De fato, o Espírito é mesmo mencionado falando com Deus. Por esta razão alguns têm pensado que o Espírito é considerado no judaísmo como uma hipóstase, um ser angélico. Mas isto é introduzir uma idéia que não é sustentável na visão judaica. O Espírito não é um ser angélico celestial. Nos escrito judaicos ele nunca está presente na assembléia diante do trono de Deus.
Ou seja, jamais, nem na Bíblia e nem nos escritos rabínicos o Espírito é descrito como um ser angélico que apresenta-se perante Deus, salvo nas interpretações mais modernas da frase “sete espíritos que se acham diante do trono” (Ap 1:4). Esta passagem, entretanto, embora alvo de controvérsias, deve ser considerada no seu contexto do simbolismo especial do livro do Apocalipse, sem esquecer que a maioria dos comentaristas tem considerado a expressão uma referência à plenitude da obra do Espírito Santo.
Era comum na literatura judaica antiga a função intercessória dum anjo, especialmente Miguel, como advogado. “Mas o Espírito não é um anjo e nem é comparado com os anjos intercessores.” Os que sustentaram tal idéia baseada na expressão “anjo do Espírito Santo” obtiveram pouca consistência com as raras referência da expressão.
Nos ditos do rabino Pinchas Chama (...) o Espírito Santo não é o maior dos anjos mas é diferenciado deles: “Antigamente você (Israel) se alegrou ao ser guiado pelo Espírito Santo, mas agora (depois do pecado do bezerro de ouro) você deve se contentar em ser guiado por um anjo”. O Espírito Santo representa a presença de Deus de uma forma muito diferente da dos anjos...
No AT ou no NT nunca se usa a referência a anjos de Deus “entrando” em alguém ou ali morando, atividade reservada exclusivamente para um ser à parte, que pode fazer tal coisa sem destruir a individualidade humana. Fora o Espírito Santo e os membros da Trindade apenas os anjos maus, demônios, “apoderam-se” e “moram” em seres humanos, mas isso implica em violência à individualidade. Daí os anjos de Deus estarem ao nosso “redor” mas o Espírito vive “em” nós.
A separação entre anjos e o Espírito Santo é tão notável que “o Espírito de Deus é a força que está por trás dos querubins. Ez. 1:12, 20.” Assim, mesmo os querubins recebem do Espírito o poder para agir e a direção que devem seguir. Neste caso, como em outros, o Espírito não é confundido com os anjos mas é diferenciado deles e os impele.
É notável que o relato de Lucas (Lc 1:11-35) deixe bem claro a operação da Trindade na qual cada pessoa desempenha um papel diferente. O anjo Gabriel apenas anuncia o nascimento de Jesus, que seria, de forma especial, chamado Filho do Altíssimo e não de um anjo. O próprio anjo é categórico em anunciar que o Espírito Santo (outra pessoa) desceria. Se Gabriel fosse o Espírito anunciado, ele declararia “descerei” ou “desci” ou ainda: “estou descendo” sobre ti. Ao excluir-se, anunciando outro personagem, Gabriel demonstra, fora de dúvida, de que ele não é o Espírito Santo.
Mesmo porque o “ente santo” seria chamado, particularmente, Filho do Altíssimo e não de um ser angelical. Esse pensamento, do Espírito Santo como o Gerador de Jesus, é apresentado de forma direta pelo texto de Mateus: “achou-se grávida pelo [gr. ek = por, procedência] Espírito Santo” e “por que o que nela foi gerado [Jesus] é [gr. estin = ser] do [gr. ek = por, procedência] Espírito Santo.” (1:18, 20 - grifos e chaves supridos). A expressão gramaticalmente “denota autor ou causa eficiente”.
A hipótese de que Gabriel, qualquer anjo ou mesmo todos os anjos juntos, sejam o Espírito Santo resulta em conferir aos anjos a capacidade geradora da vida do próprio Jesus, que não é Filho de anjo ou anjos, mas do “Altíssimo”. Felizmente, tal idéia é negada pelo próprio Gabriel ao indicar outro Personagem, o Espírito Santo, o qual, ao operar o nascimento de Jesus lhe conferiria o status de “Filho do Altíssimo” (Lc 1:32).
A distinção entre os anjos e o Espírito Santo aparece também em At 7:48, 51-53. Nestas passagens alguns personagens distintos aparecem: o Altíssimo é mencionado no verso 48 como não habitando em casas feitas por mãos humanas; o Espírito Santo sendo resistido; o povo de Israel; os profetas; Jesus, que é o outro personagem simultâneo do relato e, finalmente, os anjos que mediaram a entrega da lei (At 7: 53) que, neste caso não é uma referência específica ao decálogo mas ao Pentateuco. Aqui os anjos são distintos do Espírito Santo.
É claro que alguém poderia perguntar se a lei (as Escrituras) foi dada pelo Espírito Santo, que nesse caso seriam os anjos desta passagem. Isso não parece possível pois é dito ser Jesus também mediador das Escrituras antes da encarnação, e de ter estado nos profetas falando do Seu sofrimento (1Pe 1:10, 11) e apesar disso, Jesus não é um anjo comum como não o é a pessoa do Espírito Santo.
Moisés também foi mediador para a outorga da lei (Jo 1:17) e, no entanto, os anjos referidos em Atos não devem ser identificados com Moisés e nem Moisés como o Espírito Santo. Logo, anjos e homens foram mediadores para a outorga da lei. Todos participaram do processo da maneira como Deus determinou. Por outro lado, seria normal esperar chamar-se o Espirito Santo no plural, “Espíritos Santos” se aquele fosse “os anjos”, mas isso não ocorre. A Bíblia, todavia, prefere a designação Espírito Santo no singular embora use muitas vezes o plural para a palavra anjo.
Jeová também é chamado, diretamente, de anjo do Senhor e desenvolve todas as tarefas de um anjo criado e o próprio Cristo é identificado como o arcanjo Miguel. Não é preciso nenhum esforço para chegar a essa conclusão. Isso, contudo, não faz de Deus e Cristo anjos no sentido comum. Assim também, os anjos não são o Espírito Santo e nem Este é um anjo ou anjos. Mas Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo partilham com Suas criaturas, anjos e homens, muitas tarefas no plano da redenção de almas.
O relato de At 8:26-39 também tem sido interpretado buscando-se a identificação de pessoas entre o Espírito Santo e os anjos. A Bíblia, porém, enfatiza a participação de vários personagens na conversão do etíope: Felipe, O Espírito Santo e “um” anjo (8:26). Embora os anjos bons sejam “espíritos ministradores” é usual na Bíblia serem chamados pela denominação de “anjos” e não de “espírito”. Dessa forma o texto introduz mais um agente, distinto do Espírito Santo, para corroborar com a salvação de almas.
Não se deve esquecer que os salvos são, em certo contexto, chamados de “espíritos” (Hb 12:23) e os próprios anjos, do outro lado, são chamados em algumas aparições de “varões” (gr. Andres, Lc 24:4) ou “homens de Deus”. Seria desrespeitar os contextos e dizer que os homens são espíritos e daí anjos celestiais também, pois de anjos são chamados. Ou que os anjos, na verdade, são homens de carne e osso pois são chamados “homens”.
Assim, embora a nomenclatura se assemelhe nos casos mencionados, é preciso lembrar que os personagens são diferentes tanto no contexto imediato das passagens como no contexto mais amplo da Bíblia. E, no trecho em questão, a coerência exige que um só termo, ou “anjo” ou “Espírito” seja usado em todo o relato de At 8:26-39 para se entender apenas um personagem. No entanto, dois nomes diferentes foram usados para identificar personagens diferentes numa ação conjunta. O anjo aproximou-se de Felipe e lhe falou onde ir, mas foi o Espírito Santo quem o orientou a acompanhar o carro e arrebatou a Felipe após o batismo (v. 39).
Declara-se do Espírito Santo que ele habita com e nos crentes para sempre, como já vimos em Jo 14:16, 17 e que o nosso corpo é seu templo individual (1Co 6:19). Isso requer onipresença, para viver em cada crente simultaneamente, sempre, até que Jesus volte. Tal poder nem Gabriel e nem todos os anjos juntos possuem. Aliás, a Bíblia não informa que os anjos de Deus moram dentro dos homens. Eles, embora residam no céu, “acampam” ao “redor” dos que temem a Deus e os livram (Sl 34:7).
Além disso não poderia a presença de um simples anjo ser mais “conveniente” (gr. Sumferei = vantajoso, lucrativo, Jo 16:7) do que a do próprio Jesus. Como não poderia um anjo ser igualado a Jesus quando ele disse que enviaria “outro” (gr. Allos = outro igual) Consolador. O texto fala de alguém “igual” a Jesus, o Espírito Santo, que viria para substituí-lo.
Retornando à declaração bíblica de que o nosso corpo (individualmente) é “templo” (gr. naós) do Espírito Santo (I Co 6:19) e que “nós” (coletivamente como igreja) somos Seu “templo” (gr. naós). É importante notar que a palavra usada para templo em ambos os casos não é a palavra grega hieron que se referia a todo o complexo do templo.
Embora às vezes usadas como sinônimos, naós (1Co 3:16; 6:19) é a palavra preferida para referir-se ao lugar santíssimo do templo de Israel, o lugar da presença de Deus. Essa palavra, mesmo entre os pagãos, referia-se ao lugar onde se localizava pessoalmente a divindade. A palavra “habitar” (gr. oikei) significa “residência fixa”, “permanência”. Conforme declara Leon Morris:
Evidentemente [Paulo] via o Espírito como divino no sentido mais completo. O “templo” ou santuário é o lugar onde Deus habita. Essa é sua característica distintiva. Mas o ser que habita neste santuário é o Espírito.
Obviamente não teria sentido um santuário para anjos, o que seria idolatria. Anjos e homens podem estar no santuário mas não têm santuário para eles. Mais absurdo ainda é um santuário para uma energia impessoal, o que lembra a “adoração” do caos pagão ou do acaso materialista.
De qualquer forma a palavra para o santuário de Deus referido em 1Co 3:16 é a mesma do capítulo 6:19, referindo-se a um lugar onde uma divindade está e é adorada e, especificamente ao “santo dos santos” do santuário israelita onde a presença de Deus se manifestava. Ou seja, o Espírito Santo que não pode ser confundido com o próprio Deus Pai, pois vem “da parte de Deus” (6:19), é apresentado como Alguém que têm em nós um santuário, lugar de adoração, prerrogativa exclusiva da divindade e, portanto, não pode ser anjo criado.
A Bíblia também diz que Jesus é superior aos anjos (Hb 1:1-14) e que estes são servos dos salvos e seus conservos perante Deus (Ap 22:9). Por isso o Consolador, igual a Cristo, não é um anjo criado. Os anjos operam em harmonia com o Espírito Santo: intercedem, ensinam, iluminam, repreendem e muitas outras coisas, mas são diferentes, distintos do Espírito Santo, como a igreja que é diferente e distinta, embora desenvolvendo muito da mesma missão e tarefas.
Na Epístola aos Hebreus é feita a referência, no capítulo 1:14, aos espíritos ministradores que são os anjos. A seguir, é dito aos cristãos de origem judaica, que se orgulhavam de terem recebido grande número de intervenções angelicais nas suas Escrituras, que o ministério dos anjos é inferior ao ministério de Jesus e do Espírito Santo (2:1-4):
... se ficou firme a palavra falada por meio de anjos (...) como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo sua vontade.
Nos versos acima mencionados percebemos um contraste feito pelo autor de Hebreus entre a participação dos anjos no AT (exaltada pelos judeus) e a revelação de Jesus Cristo que foi maior do que a dos anjos por duas razões básicas mencionadas no texto:
1) O anúncio do próprio Senhor confirmado pelos que ouviram, e 2) Deus operando milagres e concedendo o Espírito Santo como não havia ainda feito antes. Ora, é sabido que, apesar de grandes milagres terem ocorrido no passado, somente com o cumprimento de Joel 2:28 em Atos 2, se manifestou a grande diferença entre o ministério no AT e no NT, isto é, com a vinda do Senhor e o derramamento do Espírito Santo.
Essa é que é a “grande salvação” superior e diferente em poder e significado à ministração dos anjos do AT. Hebreus, em outras palavras, declara: eles no passado tiveram anjos mas nós temos algo superior: o Espírito prometido. Eles tiveram Moisés, nós temos Jesus, o Filho de Deus. Ou seja, a Trindade está mais manifestada na obra da salvação agora, através do Pai, do Filho e do Espírito Santo do que no passado.
Ainda, acerca do plano da salvação, é importante lembrar que os anjos não sabem tudo sobre a redenção que o Espírito Santo anuncia (1Pe 1:12) então, estes não são o Espírito Santo, o Consolador que tudo sabe. O Espírito, porém, em Sua própria “mente” (gr. frónema = mente, intelecto, Rm 8:27) sabe todas as coisas de Deus (I Co 2:10-12) e Ele não pode ser confundido com o Pai, pois aqui, como em outras partes da Bíblia, é dito que Ele “vem” de Deus (gr. ek = procede, v. 12) e Deus se revela “através” (gr. diá = através, por meio, v. 10) dele.
Vale lembrar que a Bíblia diz que Deus é eterno e suas dádivas são eternas, mas evita chamar os anjos e os homens de “eternos” embora estes últimos receberão vida eterna.
Entretanto, para mostrar a superioridade do sacrifício de Cristo, em oposição ao “transitório” sistema judaico mediado pelos anjos, o autor de Hebreus (Hb 9:13, 14) chama ao Espírito de “eterno” (gr. aioniou). Aqui, “eterno” é uma qualidade do Espírito para mostrar a superioridade do sacrifício de Jesus com resultados sem fim, eternos. Sacrifício este que não é passageiro como os sacrifícios cerimoniais que deveriam cessar, não apenas nos efeitos, pois deveriam, neste caso, ser repetidos a cada ano (9:7) como também cessariam no “tempo oportuno da reforma” quando o verdadeiro sacrifício que é Jesus viesse (9:10).
Portanto, neste verso de Hebreus 9:14, “eterno” tem sentido pleno de eternidade e confere esta qualidade ao sacrifício de Jesus mediante o Espírito. No verso 14 aparecem as três pessoas da Trindade: 1) o sangue de Cristo, o qual oferece a si mesmo; 2) “pelo” (gr. diá = através, por meio do) Espírito eterno; 3) a Deus.
É improvável que um anjo finito e imperfeito possa ser chamado de eterno no sentido absoluto e ser mediador do sacrifício de Jesus diante de Deus. Jesus que, diz a Escritura, é mais “alto do que o céu” e é “perfeito” (Hb 7: 26-28). Assim o Espírito Santo (Hb 9:8) é diferente dos anjos porque o Espírito é, pessoalmente, eterno (Hb 9:14) como o Messias é eterno (Is 9:6).
Portanto o Espírito Santo não é um ou mais anjos. Seu ministério é diferente e superior ao dos anjos, marcado pessoalmente pela onisciência e eternidade.
Os Símbolos Não Significam Que o Espírito Santo Não Tem Personalidade
O Espírito Santo nunca foi visto pessoalmente, salvo por meio de representações. Assim, Ele aparece na Bíblia como fogo, vento, chuva e pomba. Mas esses símbolos não tornam o Espírito Santo inexistente como pessoa como era o pensamento dos saduceus que não acreditavam nem em anjos e nem em espírito (At 23:8), ou certo grupo de crentes que nem sabia que existia o Espírito Santo (At 19:2), uma das razões do seu rebatismo (At 19:1-5)
É importante lembrar que Deus o Pai, Jeová, é representado na Bíblia como fogo, luz, chuva, orvalho, rocha, etc., sem que isso signifique que o Pai não exista ou seja apenas uma energia. Jesus também, e mesmo os anjos bons ou maus são representados por símbolos diversos sem afetar Sua personalidade. Deus é espírito (gr. pneuma = vento), ninguém jamais o viu, e no entanto Ele existe e é pessoal. O mesmo ocorre com o Espírito Santo. O Consolador é espírito (gr. pneuma = vento), ninguém o viu, e no entanto ele existe e é pessoal, pois é descrito na Bíblia com as mesmas características pessoais que têm o Pai e o Filho.
Os símbolos usados para Deus, os anjos, Jesus e a igreja não devem confundir as pessoas que são identificadas pelos mesmos símbolos e nem anular as respectivas personalidades. A seguir, uma relação de símbolos bíblicos:
Fogo
Anjos são fogo (Hb 1:7; Ez 1:13, 14)
Deus é fogo (Hb 12:29)
Luz
Deus é luz (1Jo 1:5)
Jesus é Luz (Jo 1:4, 8, 9 e 8:12)
Anjo é luz (2Co 11:14)
Nós somos luzes (Mt 5:14)
Estrêla
Jesus é estrela (Ap 22:16)
Anjos são estrelas (Ap 1:20)
Satanás é estrela (Is 14:13)
Nós somos estrelas (Dn 8:10; 12:3; Ob 4)
Chuva
Deus (Jeová) é chuva, orvalho (Os 6:3)
O rei Messias é como a chuva (Sl 72:6)
Espírito, vento
O Consolador é espírito (gr. pneuma = vento Jo 16:26)
Deus é espírito (gr. pneuma = vento Jo 4:24)
Os anjos são espírito (gr. pneuma = vento Hb 1:7)
De Jesus é dito que os crentes são “revestidos” dele (Gl 3:27) sem implicar que seja uma roupa, uma coisa.
O uso de símbolos tem alcance limitado e não permite misturar anjos com o Pai, o Espírito Santo, Jesus, crentes, ou despersonalizar arbitrariamente uns e outros. Os mesmos símbolos são usados em contextos diferentes, algumas vezes com significados diferentes e para pessoas diferentes.
A palavra neutra pneuma (espírito, vento), e outras como demonstrado, são usadas para Deus, Jesus, os seres humanos salvos, anjos bons e maus sem comprometer a personalidade dos personagens.
O Espírito Santo Não é Uma Energia Impessoal
Há também a confusão feita entre o Espírito Santo e uma energia, poder, força, etc. No entanto a Bíblia deixa bem clara a diferença entre Pneuma Hagios (O Espírito Santo) e dinamis (poder, milagre, sinais, força, etc.).
Em Zc 4:6, por exemplo, na tradução grega da LXX, afirma-se que a obra de Deus não será feita por força (gr. dinamei megalou = grande força) nem por violência mas pelo meu Espírito (gr. pneuma). Isto é, o Espírito do Senhor dos Exércitos, conforme a Bíblia hebraica e a versão grega judaica, é diferente de poder, força, energia. Sua presença significa poder, mas Ele é um ser pessoal.
Em At 1:6-8 especialmente verso 8 é esclarecido que o poder (dinamis) vem com o Espírito pois Ele é o portador do poder: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” (v. 8). Note que nesse trecho, mais uma vez, aparecem três pessoas: o Senhor sendo inquirido pelos discípulos (v. 6); o Pai (v. 7) e o Espírito Santo que ao vir lhes daria poder. Uma passagem trinitária a mais que demonstra que o Espírito Santo não é apenas um nome para uma energia impessoal, porém, um Ser pessoal e Divino.
Em At 10:38 há outra passagem que dá ênfase na diferença entre a pessoa do Espírito Santo (pneumati hagio) e força, poder, energia (dinamei). Mais uma nova passagem trinitária que diz o seguinte:
Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele. (grifo nosso).
Nessa passagem percebe-se as três pessoas. Jesus é ungido com o Espírito Santo (pneuma hagio), uma alusão ao óleo da unção no AT, “e” (kai = e, conjunção aditiva) com poder (dinamei). Isto é, além da presença do Espírito Santo, Jesus recebeu poder. Se o Espírito Santo fosse sinônimo de poder, como sendo a mesma coisa, não teria sentido dizer que Deus o ungiu com “poder e poder”. As palavras, o contexto e a gramática parecem deixar claro que não é correto dizer que o Espírito Santo é apenas outro nome para energia, poder.
Várias outras passagens esclarecem mais o ponto em questão como 2Co 6:6, 7; que faz uma relação das características do ministério do apóstolo Paulo (v. 4). No verso 6 ele afirma que uma das características que recomendam o seu ministério é a presença do Espírito Santo (pneumati hagio) e no verso 7 ele apresenta outra característica apostólica: o poder de Deus (dinamei theou), portanto, diferentes.
A passagem em 1Ts 1: 3-5 especialmente v. 5, também menciona as três pessoas da Trindade e ajuda a distinguir o Espírito Santo de poder, energia. Nessas passagens aparecem Deus Pai e Jesus (v. 3) e o Espírito Santo (v. 5). Neste último versículo se declara a distinção entre poder e o Espírito Santo com a expressão “em poder, no Espírito Santo”. Poder e Espírito Santo são dois, não o mesmo, separados por “e em” (gr. kai en).
Já foi mencionado Hebreus 2:3-4 quando abordada a questão do ministério do Espírito ser superior ao dos anjos, mas seria importante destacar que a palavra milagre é a mesma palavra grega para poder (dinamis). Assim, Deus manifestou seu poder e (kai = e, aditiva) concedeu seu Espírito Santo. Hebreus 6:4-6 também dá ênfase semelhante.
O cristão se torna, pela conversão, participantes (metókous = participantes, parceiros, companheiros) no Espírito Santo (pneumatos hagiou) conforme o verso 4. Já no verso 5 é dito que provamos a “boa palavra e (kai = e, aditiva) os poderes (dinameis) do mundo vindouro”. Há uma forma diferente, segundo esta passagem, de se relacionar com o poder “provando-o” (geusoménos = como alimento, percepção, experiência) e com o Espírito sendo “parceiro” (metókous geneténtas = tornar-se participante) como sócio, amigo.
Finalmente, veja-se I Pedro 1: 2, onde as três pessoas também aparecem com ações pessoais e distintas. A presciência de Deus; a santificação do Espírito e a aspersão do sangue de Jesus. O texto lido até o verso 5 mostra neste último versículo que o poder (dinamei) é uma ação de Deus, como outros dons, para guardar o crente na fé e distinto do Espírito Santo. A expressão “poder de Deus” não significa que Deus seja impessoal, como também a frase “poder do Espírito” relacionada ao Espírito Santo não quer negar Sua personalidade.
Portanto, não há razão para confundir o Espírito Santo, o Consolador, com uma energia impessoal. Os panteístas fazem o mesmo com Deus, o Pai, usando muitos argumentos semelhantes aos que são usados pelos que tentam tornar o Espírito Santo uma mera força energética. Embora buscando expressões bíblicas, para provar o contrário, o texto bíblico deixa evidente que tanto o Pai como o Espírito Santo são pessoas.
A Questão do Uso de Pronomes Neutros e Pessoais para o Espírito Santo
Se o Espírito Santo é um ser pessoal e não uma energia, força, por que se usa uma palavra neutra e pronomes neutros em lugar de masculinos ou femininos?
Os pronomes neutros, a depender do contexto também são usados para Deus e Jesus sem comprometer a personalidade de ambos, e pronomes pessoais são usados para o Espírito Santo, ao Jesus referir-se a ele de forma direta como seu substituto.
Jesus disse que Deus “é” (gr estin = espírito, vento (pneuma, Jo 4:24), sem que isso indique um ser impessoal. Os anjos são espíritos, ventos (pneuma) e são seres pessoais. Assim o termo neutro refere-se a pessoas como o Pai, o Filho, o Espírito Santo, anjos e mesmo aos salvos, como já vimos.
O Pai é tratado em João 4:22 com pronome neutro (gr. Ho = o qual ), referindo-se a Ele como o “objeto de adoração” dos verdadeiro adoradores independente do lugar. Jesus em Mt 12:6 refere-se a si mesmo com um vocábulo neutro como “algo maior” do que o Templo (gr. Meizon = maior) e novamente em Mateus 12: 41-42, usando a forma neutra para demonstrar-se superior (gr. Pleion = maior), em Seu ministério e natureza messiânica, a Jonas e Salomão. Assim, o uso de neutros não invalida a personalidade de Jesus e do Pai como não invalida, também, a do Espírito Santo.
Assim como o Pai e o Filho são tratados com pronomes pessoais, o Espírito Santo também o é como em Jo 14:26 (gr. ekeinos = masculino, ele, o qual); 15:26 (gr. ekeinos); 16:7, 8, 13, 14 (gr. autón, ekeinos). Assim, em várias passagens o Espírito é tratado de forma pessoal usando o masculino para identificá-lo e desempenha atividades pessoais sobre as pessoas e a igreja.
Essas referências em João 14, 15 e 16 são importantes, especialmente pelo fato de serem o registro do discurso de apresentação do ministério do Espírito Santo junto aos discípulos e a igreja de Deus. Segundo Jesus, esse novo Consolador seria igual a Ele, faria um trabalho maior, seria mais vantajoso (gr. Sumferei) para a igreja; ensinaria, lembraria a verdade à igreja e convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo e, finalmente, é apresentado como “Ele” e não uma coisa energética impessoal.
Por outro lado, poderia uma “coisa” ou “força” impessoal substituir Jesus em pé de igualdade (gr. allos = outro igual, Jo 14:16) e ser conveniente e vantajoso (gr. Sumferei = vantajoso, lucrativo, Jo 16:7) para nós? (Jo 16:7, 8 e 13). Se o Espírito Santo é “outro igual”, então a atitude da igreja em relação a ele deve ser igual à que esta demonstrava em relação ao primeiro Consolador, Jesus.
É lógico concluir, pois, que, uma “coisa” não pode substituir, nem em essência, e nem em função a pessoa do Senhor Jesus. Assim, o Espírito Santo é um pessoa, e os vocábulos neutros usados, decorrentes dos símbolos, também neutros, apenas “representam” o Espírito Santo. O mesmo ocorre também com o Pai e Jesus quando representados em contextos que exigem figuras ou comparações neutras.
É o Espírito Santo que distribui os dons conforme quer (1Co 12:11, gr. bouletai = desejo, vontade) e que nomeia os bispos, dirigentes da obra de Deus (At 20:28) e que diz à igreja: “Separai-me [gr. moi = para mim], agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13:2). Como vimos esse ser, entre outras ações pessoais, exerce desejo, nomeia os dirigentes da igreja para servi-lo e os chama por nome para missão específica. Ora, Ele é, como já vimos, diferente do Pai, do Filho e dos anjos. É portanto uma pessoa distinta e também não é uma “energia” impessoal.
Conclusão
Como vimos, os temas sobre a Trindade e o Espírito Santo têm sido alvo de controvérsias, em parte devido às posturas racionalistas de origem grega e resistência aos textos que deixam clara a personalidade e divindade do Espírito Santo e, consequentemente, a Trindade.
Tais resistências produziram tentativas de identificação do Espírito Santo como um anjo, energia ou de confundi-lo com o Pai ou com o Filho. A falta de base bíblica e a exposição grandemente baseada na imaginação têm resultado na rejeição dessas idéias por parte da igreja, permanecendo vivas, lamentavelmente, em grupos que se autorizam a fazer alterações no texto bíblico ou entre aqueles que se contentam com uma abordagem unilateral do assunto.
As declarações da Bíblia não deixam dúvidas de que há uma pluralidade divina que se apresenta em três pessoas independentemente das contrafações pagãs e filosóficas e que o Espírito Santo é um ser pessoal que é tratado e age como tal nos relatos da Escritura.
Podemos exclamar com reverência e alegria, diante de Deus que enviou seu Filho ao mundo, e deu-nos o Espírito como o penhor dessa grande salvação:
Glória seja ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo; assim como era no princípio, seja agora, e sempre, sem fim, amém.
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 16:16).